Falta um novo “25 de Abril”

Democracia de Base versus Democracia de Mordomias

O povo cada vez tem de cavar mais coutos para poder manter um só novo-rico. Por esta e por outras se vai ouvindo, com veemência, por todo o lado, que falta um novo “25 de Abril”. Isto é um desabafo de impotência e desilusão dum povo que se sente encurralado!

 

Vasco Lourenço, líder da A25A, que, há 38 anos, foi um dos grandes actores da Revolução dos Cravos, disse ontem, no discurso do Rossio em Lisboa, que tanto  responsáveis políticos como Assembleia da República  “já não representam a sociedade portuguesa” e que já não estão “à altura das funções para que foram escolhidos”.  Acusa as elites portuguesas de actuarem “à porta fechada, escamoteando a realidade aos portugueses”.


Este é um depoimento importante que merecia ser analisado fora do discurso politiqueiro enquadrado no dia-a-dia português; é um verdadeiro ataque à partidocracia portuguesa que, de facto, desde a sua origem, nunca se manteve à altura do legado de Portugal nem dos interesses do Povo português. Consequentemente haveria que questionar a Constituição que privilegia os partidos e elaborar um novo sistema de representatividade.
Desde as invasões francesas a alma portuguesa encontra-se empalamada.

É um escândalo ver como suportamos parlamentos demasiado numerosos em países pequenos e como alimentamos eurodeputados insaciáveis. O mau exemplo vem das elites.

A “realidade” de políticos e da propaganda partidária não tem nada a ver com a realidade do povo. Os vencimentos de personalidades políticas e de administradores de empresas públicas e privadas são a melhor prova de que o sistema falhou e se encontra ao serviço de alguns!
As organizações partidárias portuguesas encontram-se eivadas dum espírito mafioso engravatado e culto que não dá nas vistas. Em vez da preocupação pelo povo domina o interesse pela progressão na hierarquia partidária, por vezes sem quaisquer escrúpulos. A sociedade portuguesa foi habituada e alimentada com o discurso político à custa do discurso cultural, social e económico.

A situação económica em que nos encontramos é consequência da crise cultural e moral que criámos.  É urgente que políticos e elites, em geral, se convertam por atitude de inteligência ou mesmo oportunista. Se não se converterem à honra e  à dignidade humana, o nosso futuro tornar-se-á num inferno. A partidocracia aliada aos poderes subterrâne tem desacreditado a democracia representativa e encontra-se com a colectividade a caminho da ruina.

A alternativa está numa metanóia de elites e de povo. A mudança passará da filosofia da afirmação do eu à custa do tu e do nós para uma ética de afirmação do nós onde o eu e o tu cresçam em dignidade e respeito. O nós passa a ser o ponto de partida e de chegada do nosso pensar e agir. O nós é mais que a soma do eu e do tu.

Realmente torna-se cada vez mais óbvio um novo “25 de Abril” mas não só de cravos vermelhos, no coração de cada um. Já chega de ramos de cravos vermelhos com atilhos pretos. Portugal terá de se tornar num jardim onde crescem todas as flores numa dança de cores.

 

Portugal e a civilização ocidental têm que fazer uma cura. O primeiro tratamento será o de desenvenenar o pensamento!

 

A geração mais nova e em especial as próximas gerações terão razão acrescentada para pedir contas, a nós, os da geração 68, e ao regime.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

www.antonio-justo.eu

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

2 comentários em “Falta um novo “25 de Abril””

  1. Ainda que eu seja um crítico do atual modelo de democracia (tenho bastante ressalva a esta palavra, pois não gosto de “nada ” decidido no voto, pois entendo que se mentes, razão e pensamento buscarem o que deve ser feito , o resultado deixa de ser fruto da “incerteza” e passa a ser decorrência do que de fato deve ser feito) , também vejo que Portugal (sociedade portuguesa) deva em conjunto gerar este novo “25 de Abril”.
    Ora , um país antigo, berço dos primeiros europeus, dono de forte tradição cultural , tem em sí , latente , potencial para dar a volta por cima. Se um forte movimento for criado (de forma planejada, pensada, organizada) as mudanças ocorrerão , a bem da sociedade (e não de um sistema perverso).
    Atenciosamente,
    Vilson
    in Diálogos Lusófonos

  2. Muito bem visto, Vilson!
    O caracter crítico de muitas posições, que procuram acordar Portugal para a sua consciência, só são pessimistas numa primeira olhadela. O que está em causa não é Portugal nem os portugueses mas sim a irresponsabilidade e facilidade com que algumas elites têm tratado o Estado e o Povo. Portugal tem no estrangeiro muitos cientistas e muita gente a enriquecer outros povos por não lhes ser possibilitado o enriquecimento directo de Portugal. Por todas as nações europeias que conheço tenho constatado os portugueses como povo que enriquece outros povos sem lhes criar problemas. Por isso são por todo o lado bem-vindos. Portugal envelhece ao ver sair o melhor da sua gente.
    A fraca imagem que se propaga no estrangeiro vem muitas vezes de encontro aos interesses dum turbo-capitalismo interessado em mudar as nações no seu sentido e em paulatinamente destruir a confiança na democracia. O problema não é certamente a democracia, o problema é o turbo-capitalismo e o relativismo cultural com seus acólitos nos governos. Na Europa, nas últimas décadas só se tem apostado nos “lucros” do capital e das ideologias.
    As ideologias do passado bem como o turbo-capitalismo que se serve da globalização são fruto de pensamento quadrado interessado no bem e defesa de sistemas à custa do indivíduo e da pessoa humana.
    Atenciosamente

    António da Cunha Duarte Justo

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