A Economia Nacionalista e a Europa dos Patriotas

Com a vitória da democracia na Europa em 1989, a ideia duma Europa com um rosto social e democrático ganha uma dinâmica nova. Todo o Leste Europeu se sente liberto do jugo comunista com novas esperanças de liberdade e de justiça social.

O ocidente europeu esquece os anseios do povo para pensar apenas em termos de estratégia militar e económica. Esquece os sonhos dos povos passando logo à ordem do dia, ditada esta apenas pela economia. Sem ideais aposta no liberalismo económico e nas leis do mercado como reguladores de todas as necessidades sociais e na capacidade do eixo da Europa (Alemanha, França, Inglaterra e em parte Itália) para puxar o resto da caravana. Consequentemente reduz-se o nível de vida da pequena burguesia e os direitos sociais e tarifários do operariado.

O povo dos países da periferia, que tinha colocado grandes esperanças no processo da unificação europeia, verifica que se melhoram as infra-estruturas do país mas que o melhoramento do nível de vida só beneficiou propriamente os funcionários públicos.

A Polónia dá-se conta do que se passa e protesta. Logo é vista como factor perturbador dum processo económico de carácter anglo-saxónico: fortalecimento da nação à custa do seu povo e da sua cultura transferindo riqueza do povo para as grandes empresas. Estas são a ponta de lança da nova economia na conquista do mundo. Assim nas economias fortes processa-se um empobrecimento do povo; dá-se, a nível popular, um nivelamento de dependência em direcção à plataforma dos pobres das nações da periferia. Pretende-se uma socialização da pobreza a nível internacional, um substrato comum.

À queda das conquistas socialistas no Leste segue-se no Ocidente o processo da derrocada das conquistas laborais e sociais do operariado.

Se o comunismo nunca partiu duma base democrática tendo sido sempre imposto de cima torna-se agora constrangedor passar-se ao ditado do determinismo mercantil.

A periferia é que possibilita o centro
A periferia, uma vez na União Europeia, constata que continuará periferia; não haverá processo dinâmico… As nações mais fortes continuam com o seu nacionalismo económico a vergar a Europa aos seus interesses.

Nos países de leste observa-se uma crescente resistência popular, um cepticismo perante a prática europeia em curso. Aí o povo reage surgindo movimentos nacionalistas, que escandalizam a vizinhança ordeira.

Ao nacionalismo estatal económico das nações ricas contrapõem-se as tendências nacionalistas que fervilham já no subconsciente das nações da perefiria. Nas grandes potências o povo cala porque o governo actua de modo nacionalista. Os cidadãos da Europa rica podem dar-se ao luxo de renunciarem ao patriotismo, conscientes de que os seus governantes defendem com unhas e dentes os interesses nacionais, uma economia nacionalista. Assim é fácil ser-se liberal! Nos países marginais as elites parecem mais na disposição de sacrificarem os interesses nacionais e culturais vivendo do dia a dia o que provoca descontentamentos populares.

Nacionalismo inteligentemente empacotado
Um Facto: Na Alemanha é proibido vender-se aparelhos com consumo excessivo de energia. Em Portugal comprei 3 fogões eléctricos de cozinha para a minha casa, confiando na qualidade alemã. Depois de os ter instalado verifiquei com admiração e consternação, ao ler as instruções em português que havia também um aviso só em alemão. Este indicava que aqueles fugões não podiam ser vendidos na Alemanha devido a consumirem demasiada energia. Inteligência saloia arrogante! Isto é exemplar para o modo de agir duma economia nacionalista e do comportamento dos países da periferia. E isto dá-se em plena União Europa! Para os países ainda menos desenvolvidos irá então o ferro-velho! Na Alemanha teria dado menos dinheiro por um fogão de menor consumo de energia do que dei em Portugal por aquele e com a agravante de que a energia em Portugal é mais cara do que na Alemanha. Seria de esperar dos nossos diplomatas mais atenção à tecnologia e às leis na defesa dos interesses nacionais. (Será este um serviço de Portugal à EDP?!…)

Os cidadãos europeus sentem na prática uma política europeia contra as pessoas. Uma União Europeia só interessada na economia dos mais fortes é bífida e fomentará a demagogia. No fundo temos demagogos de gravata contra os demagogos do pé descalço! Meio mundo a enganar o outro meio.

Não se constrói futuro duradouro baseado apenas numa estratégia da força das instituições europeias e de nações fortes com as outras a elas atreladas. Precisa-se de uma cooperação económica, política e cultural menos hipócrita e nacionalista. Uma Europa forte e justa não pode ser construída apenas com nações ricas e instituições fortes à custa dum povo enfraquecido. O povo paciente e mole tem-se contentado com parolen de liberdade e de mercado. Por quanto tempo? A classe média tem sido sistematicamente expropriada em favor da grande indústria e em benefício dum Estado irresponsavelmente paternalista (comunismo pela porta traseira!) e à custa duma população cada vez mais “proletária”! Não há justiça social nem interesse em dar-lhe resposta. Quer-se uma população assalariada disponível a nível nacional e disciplinada pela concorrência da imigração carenciada importada. Ao nível de Estado exportam-se os produtos industriais de alta qualidade e a nível de nação importa-se a pobreza global. Uma forma de escravidão refinada! Esta imigração barata possibilita, através das suas remessas, às elites das suas nações de origem a compra de produtos tecnológicos caros. A pobreza do patamar baixo anima o mercado! Tudo comércio legítimo, mas muito longe duma justiça humana aceitável. Tudo em nome da democracia, da liberdade, da solidariedade e do liberalismo do mercado. Para iludir o espírito crítico sobre o presente basta, para quem se julga alguém, recorrer a uma crítica apelativa e repetitiva de certos lugares comuns das vergonhas da nossa história e instituições, na omissão benigna do presente!

Na União Europeia, uma tal prática democrática começa a dar já sinais de não convencer e a dar argumentos ao populismo de esquerda e de direita, já pronto para atacar a democracia. Se compararmos o tempo e a circunscrição da democracia com a História e com o mundo bem como a realidade do que acontece fora da civilização ocidental, a democracia correrá perigo de se tornar num episódio esporádico. Além dos problemas de casa criam-se outros promovendo mundivisões alérgicas à democracia em nome da tolerância e dum internacionalismo progressista irresponsável. A ingenuidade política e social é hoje tal que não vê a trave nos olhos dos outros para se preocuparem com o cisco nos próprios olhos. As pessoas do século XXI querem felicidade, não chega o pão e a ideologia.

Não basta que à monarquia hereditária se tenha seguido a alternância partidária no governo. Se se quer uma consciência democrática no povo para lá de preconceitos e de estereótipos é preciso fomentar-se uma democracia plebiscitária em que o povo tenha de reflectir sobre aquilo que decide porque lhe toca directamente e não de abdicar do saber para seguir o patuá dum partido ou ideologia. O plebiscito obrigaria os políticos a descerem ao povoado e a viverem em discussão séria permanente com o cidadão com a consequente humanização da política e dos políticos e a responsabilização do povo. Não é suficiente ópio partidário nem tão-pouco apenas transmitir saber sobre democracia como querem muitos políticos mas de fomentar uma atitude participativa nobilitante. A representação política cederia em favor duma acção, duma consciência política de povo adulto. Porque não seguir o exemplo da Suiça?

António da Cunha Duarte Justo

Noite das Igrejas Abertas

Em Kassel, cidade com 200.000 habitantes, 55 igrejas e comunidades cristãs, à semelhança de outras cidades da Alemanha, participam na Noite das Igrejas Abertas a realizar no dia 29 de Junho das 18 às 24 horas. Esta é uma noite especial onde se pode viver novas formas de espiritualidade ou satisfazer a curiosidade aos mais diversos níveis, atendendo à variedade de programas à disposição. Entre outros: hospedagem, dança, música, gospel/pop e rock, teatro, imagens, exposições de quadros, instalações de luzes, colagens, improvisações, Open Air, instalações-video, projecções, novas formas litúrgicas, oração gestual, comida e bebida, temas de discussão, diálogo, encontro, etc.

Nesse dia toda a cidade, crente e não crente, se encontra em movimento na procura de novas experiências e descobertas. Nas cidades as pessoas vivem, por vezes, a paredes-meias com iniciativas e formas de vida alternativas sem as conhecerem. Esta celebração oferece também a oportunidade para se conhecerem os espaços e as comunidades e para se entrar em contacto uns comos outros.
Para efeito de organização e publicidade, na cidade de Kassel, há um grupo de trabalho permanente constituído por elementos das igrejas: católica, ortodoxa, evangélica e igrejas livres. Todos eles diferentes mas ligados na fé comum em Cristo formam o grupo coordenador. Os responsáveis pelos programas e organização são as respectivas igrejas.

Esta é uma maneira especial de estar presente no espaço público com bens culturais, monumentos de diversas épocas e com a vida das comunidades. A Igreja manifesta-se assim como espaço aberto do encontro, da festa, da arte, da meditação, etc.

Esta organização é apoiada por todas as instituições relevantes da cidade.

Esta forma de presença é muito oportuna, especialmente em grandes cidades onde o isolamento característico leva ao desconhecimento de muitas realidades e iniciativas existentes numa cidade viva.

Para uns trata-se de descobrir vida religiosa, para outros trata-se de a viver ou de lhe dar um novo rosto.

Também a sociedade laica se preocupa pelo facto do espírito religioso se esvair cada vez mais. Há muitas razões para se criticar certas disposições religiosas e as religiões têm muitos trabalhos de casa por fazer. Apesar de todas as insuficiências das religiões, pode-se estar seguro duma coisa: a extinção do espírito religioso pressupõe a extinção da cultura. Ideologias e formas de estado passarão mas o espírito religioso continuará. Este precisa de odres novos!

Responsáveis não podem continuar a comportar-se como a avestruz metendo a cabeça debaixo da areia, para não verem o perigo ou a adversidade. As hierarquias tornam-se cúmplices da crise ao fecharem-se na auto-suficiência como se a culpa do esvaziamento das igrejas tivesse explicações apenas externas. A crise não é apenas institucional mas também espiritual. Principalmente em regiões de frequência religiosa elevada, ainda se observa, aqui e acolá, um espírito rotineiro legalista autoritário que contribui mais para afastar do que para aproximar. O espírito religioso tudo compreende, une e não separa. Religião quer dizer religar. Moral e religião não podem continuar de sentinela a marcar passo enquanto o desenvolvimento tecnológico passa.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

O Governo Contradiz o Presidente da República

Novos Emolumentos – Emigrantes Explorados

“O Estado não pode demitir-se de resolver problemas de emigrantes!” Estas palavras do Presidente da república Cavaco Silva ainda estavam mal publicadas na imprensa e logo a acompanhá-las a publicação das novas tachas a pagar por emigrantes. Assim, para desfazer malentendidos o Governo manda o recado indirecto ao Senhor Presidente: “aqui quem manda sou eu”! É de aproveitar, aproximam-se as férias!…

Os governos dificultam a vida ao povo da província obrigando-o a emigrar. Desresponsabilizam-se e, como não há mal que não venha por bem, servem-se das remessas e dos emolumentos. O Estado português já há muito se alheou e demitiu da responsabilidade perante este povo. Mais que querer “garantir estruturas” administrativas para os emigrantes e fomentar pelouros de ocupação à disposição dum Estado partidário que tem uma grande boca, precisando, por isso, de lugares administrativos para ocupar com os seus fieis, é urgente o fomento duma cultura aberta, crítica e tolerante que valorize a figura do emigrante para Portugal.

Enquanto o emigrante continuar a ser olhado com inveja pelos bons do sítio e constituir um modo de vida para exploradores da política, continuar-se-á a manter um discurso hipócrita e mentiroso. Aos emigrantes duplamente vítimas reserva-se-lhe o papel de mordomos nas festas.

Que haja uma racionalização de meios e serviços no sentido dum melhor serviço a Portugal e aos emigrantes considerando a emigração menos coutada. Em Portugal entram diariamente mais milhões de euros enviados pelos emigrantes do que pela União Europeia. Entretanto a imprensa portuguesa não valoriza os emigrantes. Pelo contrário, alguma imprensa que publica no estrangeiro está mais preocupava em propagandear os produtos portugueses, o que seria natural se não representasse tão mal os interesses dos emigrantes perdendo-se em questões paliativas!… O vírus da mentalidade comezinha impera. Todos sabem que o povo explorado não tem remissão. Deles importa o que metem menos à boca para outros poderem capitalizar.

Quanto aos portugueses que vivem no estrangeiro ocupando melhores lugares, a administração procura infiltrar-lhes o vírus da subserviência com convites ou quejandas. É assim que uma migração, sem voz por não se interessar em organizar e manifestar, continuará a ser uma migração coitadinha nas mãos de coitadinhos.

A nova tabela
A nova tabela de emolumentos consulares publicada no Diário da República, aumenta em 63% o custo dos passaportes passados pelos consulados. O passaporte electrónico passa a custar 70 euros além dos grandes agravamentos nas custas de serviços. O passaporte para menores de 12 anos custa 50 euros e para maiores de 65 anos 60 euros. Pedidos de vistos de escala e de trânsito passam de 10 para 60 euros.

Já não bastam as deslocações a trezentos e mais quilómetros para muitos emigrantes com a perda de trabalho como a dificultação de resolução dos actos por via postal em consequência dos agravamentos de envio (custas de envio dum passaporte 35 euros).

O povo espera sempre por líderes honestos e assim desbarata a vida na desonra do aguentar sempre. E alguns a andar. ainda dão a culpa aos emigrantes estes em vez de fazerem revolução terem posto a andar.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Pornomenta ou Documenta?

A maior exposição de arte do mundo, „Documenta“ em Kassel (de Junho a Setembro), não só fomenta a devoção dos devotos visitantes como provoca e excita os ânimos de muitos outros com a apresentação de orgias de violência homossexuais, sodomia, e cenas de homens e animais a urinar durante o acto sexual… Este é porém apenas um capítulo da Documenta 12.

Trata-se de provocar choque cultural. A Documenta 12 quer ser política e então os artistas colocam o sexo num contexto político o que para outros não passa de pura sujidade. Talvez para o artista chileno arte seja provocar. Certo é que o sexo não deixa ninguém indiferente e portanto um meio cómodo para se fazer notar.

Há também “performances” acompanhantes da Documenta, entre elas, uma Domina com escravos. Muitas pessoas querem participar activamente nessas acções para assim se colocarem com os seus papéis e cenas no centro das atenções.

Assim a Documenta conquista público não só entre aqueles que procuram “o bem, o belo e o verdadeiro” mas também nos de outras esferas. O sexo é um bom condimento para atrair outros milhares de visitantes a Kassel. É o meio mais fácil para chamar a atenção.

Entre maluquices e génio consegue-se tornar a Documenta mais conhecida mundialmente. E isso é o que importa aos organizadores. Para mais, o que parece interessar hoje é encontrar estratégias para que se fale de si. Não importa já o que se diz, mas sim o discurso pelo discurso. O importante é que se fale de si, estar na boca de todos. O ideal do “penso logo existo” como queria Descartes, descarrilou; hoje o homem parece definir-se pelo “eu sou logo sou”.

A provocação foi sempre um meio que a arte usou e usa. Os artistas são pessoas que ultrapassam fronteiras que começam onde o cidadão normal acaba.

Eles querem pegar nas rédeas do povo e ao mesmo tempo colocar-nos um espelho de nós mesmos perante os olhos. Como o mundo já só se envergonha pelo que está para baixo da linha da cintura, esta zona torna-se interessante para quem quer estar à la page!

O medo e o sexo são os meios de que se apodera quem quer dominar!

Escandalizadores e escandalizados estão mais próximo uns dos outros do que superficialmente parece!…

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Arte Moderna e Pós-Moderna ao Serviço da Ideologia

Saber Lógico contra Saber Figurativo

A Documenta 12 continua a tradição duma arte intelectual que nasce e morre na cabeça. Uma arte plástica para ser explicada. Como se a explicação não tivesse outras disciplinas próprias na literatura e na filosofia. Deste modo a arte atraiçoa os próprios artistas porque se autonomiza para ser explicada pelo olhar limitado do pensamento e dos que se ornamentam com ele instrumentalizando-a em benefício do discurso político.

Assim se violam as belas artes subjugando-as ao pensamento, ao discurso. Por trás disto está o interesse em reduzir a percepção da realidade ao pensamento. Este não é tão complicado revelando-se no melhor meio manipulador das massas. O interesse em extinguir a capacidade de percepção da linguagem por imagens não é inocente. A ditadura das ideias consegue assim recalcar outras formas de abordagem da realidade.

A arte plástica torna-se escrava dum órgão selectivo, restringidor. Já Pascal sabia que o coração conhece razões que a razão desconhece! As novas elites, especialmente a partir do século XIX, estão interessadas no pensamento conceptual. O universo porém é mais que um acto narrativo a querer-se explicitar, ele é também manifestação, criação não totalmente explicável pela razão. Quem mede a realidade com o texto, com a razão, talvez a resuma mas mata-a. O pensamento é como o autopsiador, trabalha com cadáveres, sem uma referência anterior. Fazem com a arte o que tentam fazer com a religião reduzindo-as a conceitos.

O pensamento racionalista e materialista procuram acabar com o saber figurativo que é específico da religião e da arte. O saber religioso e artístico (a experiência) é imediato enquanto que o saber conceptual é mediato. Políticos e iluministas para se apoderarem do poder e da cena discriminam o saber religioso e artístico proclamando o saber conceptual como a única forma do conhecimento arrumando assim com os rivais instituindo-se eles em mediadores hegemónicos da política e da vida, declarando outros modos do conhecimento como ilegítimos. Declaram o pensamento como um absoluto para assim poderem apoderar-se do poder e do povo que não possui o saber conceptual. Dá-se um reducionismo absoluto não reconhecedor da finitude e da limitação do conhecimento. Assim o povo duma só cajadada passa a ser considerado estúpido, não lhe sendo reconhecidas outras formas de abordagem da realidade. É a ditadura das ciências naturais contra as ciências humanas que relegam outros modos do de abordar a realidade para o mundo da fantasia. As virtudes sinais no caminho não se querem num mundo proletário. Este quer-se pronto a seguir, sem energia própria, sem vontade, quando muito eclético. O povo, e os académicos, cada vez perdem mais o acesso à imagem vivendo na e da subserviência ao discurso.

O saber da arte foi subjugado ao saber conceptual e posto ao serviço da ordinarice do factual nas mãos de fanáticos do saber conceptual. Assim constroem a democracia com alicerces sobre a areia em vez de a consolidarem. Continuam a querer um povo distraído a viver apenas na ágora ao som dos seus altifalantes, sem acesso à própria vida, sem imagens interiores nem transcendentes. Muitos continuam a correr atrás das cansados foguetes da modernidade ou da Pós-modernidade, esquecendo que esta época já está a passar. Repetem-se e acabaram por se desviarem do âmago da arte, da observação viva do mundo e da sua tradução para se entregarem a apresentações da arte ao serviço da política, da sociologia e da filosofia sem reconhecer a sua essência.

A qualidade da arte passa a ser ditada por homens do intelecto e do dinheiro que se organizam internacionalmente em cartéis e organizações de interesses. É o que constata o célebre artista Dieter Asmus ao afirmar que uma casta de teóricos “vigia internacionalmente sobre uma Modernidade já morta há muito tempo”. Também acha sintomático que uma arquitectura ainda alérgica ao ornamento do estilo Bauhaus de há 90 anos “continua a valer como o Nonplusultra do avantgardismo”.

Quem não estiver ao serviço do progresso e se atrever a um estilo próprio, diferente é apelidado de reaccionário. Os nossos “doutores da lei” são muito mais perigosos que os seus predecessores; eles não só nos querem apenas obedientes mas também limitados e triviais como o seu modo do conhecimento reduzido à ordem lógica e à retórica em serviço duma mediação política própria. Naturalmente que a reflexão deve ser um acompanhante atento e pressuposto na razão do coração e que os saberes abstracto, experimental e intuitivo se complementam.
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Dieter Klaus critica a arte da pós-modernidade afirmando: “os artistas permaneceram durante um século inactivos observando como lhe foi tirada a competência de interpretação e decisão sobre as suas obras. Abri a boca!” De facto o saber do artista e do homo religiosos é imediato podendo ser auxiliado pelo saber conceptual já em segunda mão. Eduard Beaucamp afirma no FAZ: “Hoje parece faltar a força para despedir a Modernidade e descobrir de novo contra ela uma outra história da arte”.

Há iniciativas como a do “Gruppe Zebra” que já desde os anos sessenta critica a arte moderna. Muitos deles consideram a Documenta como senil pelo facto de continuar o credo da modernidade. Eduard Beaucamp refere que, apesar da vitalidade dos artistas, os especialistas têm medo do novo e da crítica maliciosa dos colegas, optando por manter a mentira da vida para não perderem os benefícios.

É preciso libertar a arte da prisão do discurso. Ela tornou-se arbitrária como se pode constatar também na Documenta 12. Chega-lhe a esperteza da interpretação à luz de interesses muito imediatos. É o problema fundamental dum sistema que se estabilizou especialmente num racionalismo materialista que só conhece o mundo das ideias adulterando assim o mundo da realidade. A arte é a única instância no hemisfério ocidental que cria sentido através dos sentidos e da forma, não apenas como ideias através do intelecto. Este problema da intelectualização observou-se também na religião. Na época das ideologias absolutas o exagero teórico, a retórica é que conta, não o conteúdo, muito menos a procura da verdade.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo