Portagens desviam o Trânsito para as Estradas Nacionais
António Justo
O Governo PS de Lisboa cedeu ao PSD determinando a introdução de portagens nas SCUT de todo o país. Com esta medida desvia-se grande parte do trânsito das auto-estradas para as vias secundárias. Em nome duma justiça saloia vem-se sobrecarregar a poluição das populações e agravar a qualidade de vida dos seus centros. Esta determinação vem tornar mais inviável o turismo e o veraneio fora de Lisboa e do Algarve.
O Governo PS começou por querer discriminar as regiões do Norte e agora ao alargar as portagens a todo o Portugal compromete também o PSD que “só” estaria de acordo se a medida abarcasse todo o país. Um imbróglio partidário para vender ao povo, como lógica, uma medida irracional e atrevida. Tal legislação só se justificaria se houvesse estradas rápidas alternativas (variantes) a passar fora das populações. Todo o Norte e Centro deveria já ter como alternativa uma variante contínua dado a antiga EN1 e outras passarem por dentro das populações. A Assembleia da República anda longe de Portugal e dos Portugueses desta maneira finta o povo, habituado a um discurso abstracto longe das realidades, a politiquices que não levam a lado nenhum.
Este é mais um golpe dos meninos bonitos da Capital e do capital contra as regiões. A zona mais atingida é a do Norte pelo facto das estradas alternativas às auto-estradas passarem pelo centro de zonas de grande concentração populacional. A sobrecarga que vai resultar do desvio do trânsito para as estradas nacionais terá, necessariamente, de chamar as populações às barricadas! A falta de investimento fora do grande centro Lisboa e os apoios da EU destinados às regiões desviados para Lisboa ou queimados em acções de fogos de vista, estão na base do endividamento da mão pública e privada. Estão à vista as consequências duma economia centralista megalómana, sem pés nem cabeça, levada a cabo por um executivo autista, que actua a olho, sem medida nem ponderação.
O povo desabafa resignado: “no Norte trabalha-se e em Lisboa gasta-se”! O povo todo trabalha atabalhoadamente e o Governo e seus comparsas gozam, num misto democrático de vaidade, má consciência, inveja e raiva.
Paira no ar português a convicção de que os “coveiros do nosso desenvolvimento, continuam a cavar mais a nossa recuperação económica, apostados em levar a ‘res-publica’ ao abismo”.
O povo protesta e como a revolta popular seria uma reacção adequada à discriminação, o bispo do Porto, viu-se obrigado a apelar à política para actuar no sentido da paz popular. Apelos não contam para uma política consciente de que os cães ladram enquanto a caravana passa. A democracia só pode ser salva a partir da pessoa e da movimentação das bases.
É estranho que o povo se tenha sentido na necessidade de ir a Lisboa “sensibilizar” os “seus”deputados para não apoiarem a introdução de chipes electrónicos para cobrança das portagens. O chumbo dos chipes pela oposição e excepções de portagens prometidas para residentes e empresas são actos insuficientes. Por outro lado, os deputados “provincianos” apanhados sós em Lisboa só se solidarizam com o partido; este é que concede mordomias e perspectivas e futuro.
As auto-estradas já são sustentadas com os impostos de gasolina pagos pelos contribuintes. Em todo o caso, antes de qualquer plano de introdução de portagens seria necessária a construção de vias rápidas (variantes) alternativas que circundem as populações. Já se torna agora insuportável a agressão da poluição sonora e do ar que as populações têm de suportar. Se estas ainda não têm sentido de qualidade de vida deveriam tê-la os que planeiam as redes de estradas e auto-estradas… Uma política falaciosa e autoritária continua a ser suportada por um povo rebanho que justifica um actuar político, estranho a sociedades com civismo desenvolvido. Em Portugal “cada ovelha vive com a sua parelha” e assim se justifica que alguns fiquem sempre com a parte do leão.
Na Alemanha não há portagens. O dinheiro que o Estado recebe do imposto da gasolina chega para construir e reparar as estradas e auto-estradas. Portagens só se introduziram, há pouco, para carros pesados pelo facto da Alemanha ser um país de passagem para o trânsito internacional. A grande afluência de camiões de transportes internacionais que estragam bastante o piso das auto-estradas e podendo eles meter gasolina fora do país não podia continuar a ser subsidiada apenas pelo contribuinte alemão, advogam eles.
A própria vizinha Espanha tem auto-estradas privadas com portagens e auto-estradas do estado sem portagens. A União Europeia concedeu grandes verbas para a construção de auto-estradas em Portugal para beneficiar as regiões, como foi o caso da A 28, e agora vem o governo, com uma simples leizita contrariar a política de promoção regional da EU e acentuar as dissimetrias regionais. E isto para arrebanhar contribuições para poder continuar a governar levianamente à custa do suor de alguns, sem uma política séria que envolve também os ricos na tarefa de impedir a falência do Estado português. Como em Portugal o abuso é lei aceite, já se prevê a sobrecarga das populações que ficam na trajectória da EN13 e da antiga EN1. E estas que aceitem o jugo, à maneira árabe, sem tugir nem mugirem. Não imaginam a qualidade de vida perdida, a desvalorização das casas à beira de estradas que passarão a ter de suportar um peso enorme devido ao trânsito que passará a ter de evitar as auto-estradas.
Já é tempo de dizer “chega de politiquices”
Assembleias das juntas de freguesias, assembleias paroquiais, e iniciativas ad hoc, unidas, poderiam dar expressão à insatisfação popular e organizar a desobediência civil com iniciativas da base em defesa do povo e das regiões. Podiam-se formar iniciativas de impacto cívico que motivem o povo para acções concretas, para iniciativas políticas e jurídicas a nível nacional e da EU, para bloqueios de estradas, chamada à responsabilidade dos deputados regionais, para a necessidade de organização da divisão do estado português em três regiões, com certa autonomia de impostos, ensino, etc. Doutro modo os explorados continuarão na posição de ovelhas ranhosas de que os lobos de Lisboa se riem!
A Nação não tem cor nem tem donos. Ela é um jardim colorido onde todas as cores se esvaem no ânimo dum povo arco-íris.
É inaceitável que os elefantes da política pateiam o jardim para o tornarem monocromo, ao jeito dum espírito partidário antinacional e contra o povo. Portugal encontra-se cada vez mais desfocado da realidade, e mais fossilizado no brilho da cor de ideologias alheias ao país e ao povo.
È triste a discussão a que se assiste em Portugal em torno das portagens. Uma discussão estéril, típica de portugueses: muito floreada e intelectual, de encosto a uma ou outra ideologia, de alguns para alguns, sempre à margem da realidade, da coisa em si, e à margem do povo, do meio geográfico e da nação. Onde não há povo não há nação e então surge o Estado autoritário com parasitas e abutres sobranceiros sempre com os olhos nas fundeadas da nação.
A incompetência política e económica graça entre agonia e accionismo. A política despreza a realidade cultural e geográfica das diferentes regiões portuguesas. Onde falta a competência diminui a autoridade aumenta o autoritarismo (já pior que no tempo de Salazar) e cresce a subserviência do povo. A pobreza material e espiritual aumentam de maneira assustadora.
Os do areópago querem o mundo só para eles, ou quando muito a servi-los. Não permitem que o Homem honesto sonhe com um mundo mais equilibrado e mais justo. Contra o atrevimento e a irracionalidade política que já não respeita democracia, povo nem nação, terão que se levantar as mulheres e os homens honestos de todos os partidos e da religião, juntarem-se a nível de freguesias e de paróquias, em acções conjuntas e começar com a remodelação de mentalidades e estruturas encrostadas que nos conduzem à ruína e à desonra. A salvação não vem das montanhas mas dos vales. Os cedros são um impedimento até para as ervas que asfixiam à sua sombra. Já Horácio admoestava para a realidade de que quando as montanhas dão à luz só nasce um ratinho ridículo.
Quem se lamenta ou é fraco ou aguenta… Há que redescobrir o lema de S. Paulo: “Não sou conduzido, conduzo” (Non ducor, duco)
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com