Um Rito Simbólico para Toda a Humanidade da União de Matéria e Espírito
A festa do Corpo e Sangue de Cristo celebra a instituição do sacramento da Eucaristia. Esta celebração tem suas raízes na tradição da Páscoa judaica, quando Jesus reuniu seus discípulos na véspera da sua morte na cruz e designou o pão e o vinho como sinais duradouros da presença divina na comunidade humana. A hóstia divina é símbolo da união de céu e terra.
A “Ceia do Senhor”, instituída por Jesus (1 Cor 10:16-17) e continuada na celebração da Eucaristia, realiza de forma real e simbólica a interação divino-humana. Para os cristãos, essa interação cotidiana simboliza e testemunha uma humanidade que caminha para o desenvolvimento e realização do Cristo cósmico. Mesmo para os não crentes, a festa do Corpo de Cristo pode ser vista como uma metáfora do corpo de Cristo numa compreensão cósmica e mitológica, onde a paz escatológica pode ser experimentada antecipadamente. “Pois onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18:20). “Mas vocês são o corpo de Cristo e seus membros” (1 Cor 12:27).
No rito da consagração e da transubstanciação, manifesta-se de maneira visível e para todos o que outros ritos de iniciação operam de forma oculta e apenas para alguns. Assim, anuncia-se à humanidade que o dentro e o fora fazem parte da mesma realidade. “Seja o que você vê e receba o que você é!” (cf. Carta de Paulo aos Gálatas 6:15 e Lumen Gentium). O Filho de Deus e do Homem redimiu o ser humano e a própria criação, transformando a natureza humana numa nova criatura, uma criatura humano-divina a que todos estão chamados a ser de maneira consciente.
Neste sentido, não há medos que nos impeçam e desqualifiquem. Todos fazemos parte de uma realidade transcendente que engloba as quedas de Jesus no seu caminho do Calvário, culminando na ressurreição onde a vida e tudo é transfigurado. O rito da transubstanciação faz parte da fórmula trinitária, onde a realidade trinitária é pura relação amorosa e, como tal, protótipo de toda a humanidade e de toda a realidade.
Os cristãos procuram seguir o projeto de Deus para a humanidade, tornando-se um signo visível do que celebram na Eucaristia. Ao celebrar e concelebrar a Eucaristia, manifestam de forma ainda não consumada o sinal de Deus na humanidade. Assim, concretiza-se de forma ritual a vida de Deus em nós e na terra. O Corpo de Deus na Eucaristia gera amor que tudo eleva.
A presença de Deus também se manifesta na sociedade civil através das tradições das procissões grandiosas. Estas procissões tornam visível a realidade de toda a humanidade peregrinando: a Igreja, a humanidade e o mundo a caminho de Deus (1).
Na celebração litúrgica, realiza-se de maneira mística a participação intuitiva e emocional de toda a humanidade num só corpo místico. As numerosas procissões do Corpus Christi expressam publicamente a fé dos fiéis na presença duradoura de Jesus nos dons eucarísticos, que resumem nele criação e divindade. O pão (humanidade) convertido no corpo de Cristo é levado pelas ruas com cantos e orações.
A incorporação ritual expressa a ideia da igreja como corpo de Cristo, significando a pessoa inteira – corpo e espírito sem separação (Jesus+Cristo como protótipo da realidade do humano e do divino).
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(1) Igreja como mistério e sinal de Deus e da realidade: https://www-vatican-va.translate.goog/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_ge.html?_x_tr_sl=de&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc
Naquela noite, tudo é comovente. Jesus, sabendo tudo o que iria acontecer-Lhe, parece que não conseguia como expressar aos discípulos tudo o que faltava dizer-lhe, sobretudo quanto os amava e a maneira de lho dizer para eles entenderem. “Desejei muito comer esta Páscoa convosco ….”, a lavagem dos pés, “agora vai haver um tempo em não Me vereis, . . . . depois ides voltar a ver-Me . . […] estarei sempre convosco até ao fim dos séculos.” A instituição da Eucaristia é, sem dúvida, a maior prova do amor de Deus por toda a humanidade.
Muito obrigado pela partilha!!!
Adorei ler… e compreender o que ninguém nos explica assim com tanta clareza e simplicidade…
A transfiguração, a consubstanciação, arrepia, é algo que nos empolga e emociona, pq ultrapassa completamente a simples vivência quotidiana…
António Cunha Duarte Justo, lembro da extinção das Ordens Religiosas, como sinal dessa tão longínqua perseguição e que se estende de tantas outras formas até aos nossos dias!
Manuela Silva , sim então surgiu o alvorecer da maçonaria no alojamento do Estado! A história está cheia de tais testemunhos no âmbito secular, religioso e político.