Não somos educados a acreditar, mas movidos a fazê-lo!
Por António Justo
A paz mundial só pode conseguir-se numa cooperação dialogal comum entre religiões, e entre religiões e Estados seculares, no reconhecimento e respeito recíproco de instituições, crentes, ateus e agnósticos.
Alguns tecnocratas do globalismo (da política, da economia, da ciência e da filosofia) têm dado a entender que, para se estabelecer a paz mundial, é preciso implantar uma ética secular sem culturas nem religiões (uma espécie de patriotismo/crença do Direito). Trabalham no sentido de criar uma nova consciência e, para tal, secularizar a ética e implementá-la de modo a que a Razão-ciência ocupe o lugar da consciência. Querem, para isso, assenhorear-se do conhecimento (um património público da humanidade), calando que este (como ciência, filosofia e religião) é mais complexo e se encontra sempre em processo inacabado, não podendo, como tal, ser petrificado num sistema dogmático exclusivista, seja ele materialista ou espiritualista, nem tão-pouco numa mundivisão fechada, mesmo com o pretexto de servir uma nova ordem. De facto, os fins não justificam os meios e na realidade orgânica tudo cresce de baixo para cima (do elemento para o complexo) e a solução para que, na floresta, todo o solo tenha sol não seria natural optar-se por arrancar as folhas às árvores. Querem criar um mundo unívoco sob a rasoura de uma razão que aposta num pensamento unívoco ao serviço da ciência e da política.
Partem, para isso, do pressuposto que as pessoas e as instituições na procura da liberdade e do bem se orientam só por princípios racionais. Um outro equívoco dos construtores da polis, a nível mundial, é atribuir um caracter “divino iluminista” à razão/inteligência, pensando que a razão é, por si só, capaz de penetrar nos enigmas do mundo e do ser humano apenas com os instrumentos da observação, experimentação e cálculo, próprios do método da ciência positiva, sem contemplar a espiritualidade transcendente.
Uma tal tentativa levaria a um totalitarismo materialista servido pela absolutização de uma razão prática, que se quer como directriz ao serviço da eficácia utilitária e pragmática, não só para uma eficiente orientação e controlo da humanidade, mas também como orientação da interpretação do mundo.
Esquece-se a advertência do filósofo Pascal que constatava que a vida e o Coração têm razões que a Razão desconhece.
O que acho mais preocupante é ter de constatar, nalgumas teses do Dalai Lama apresentadas no livro “Um Apelo ao Mundo”(1), onde, também ele, serve os propósitos da luta cultural marxista.
No meio de muitas frases edificantes e cativantes encontram-se algumas teses fundamentais que passam desapercebidas, mas que servem o intento referido, com a cobertura e a embalagem do Zeitgeist.
O Dalai Lama é um ilustre budista que faz tudo pelo budismo e, a partir dele, empenha-se na construção da paz mundial. Pelo que observo de algumas suas teses, serve-se da filosofia existencialista europeia e de Feuerbach, que tem muito de comum com o budismo, para propagar a criação de uma ética secular universal, uma espécie de decálogo da razão de caracter imanentista e materialista (Em jogo está a negação da capacidade humana para a transcendência, a negação de Deus para assim se atirar com as religiões e se poder criar um tipo de religião secular universal de “espiritualidade” materialista no sentido de um futuro governo mundial-ONU). Este artigo é a sequência do texto “O Dalai Lama no Barco do Mainstream” (2).
A sociedade do “pensar politicamente correcto” cria os seus tabus para melhor implementar os seus objectivos, e aproveita-se da boleia de ícones e personalidades que, pelo respeito que gozam ou merecem, não são questionadas. Neste sentido ressalta à vista a esperteza como ONGs se aproveitam do Dalai Lama no sentido dos seus objectivos (Isto é legítimo e não minora os galardões do Dalai Lama, tornando-se, porém, mais eficiente, quando ninguém nota o que acontece por trás dos bastidores; isto sem excluir o direito à dúvida e ao erro que nos faz avançar!). A iniciativa da criação de uma Assembleia Parlamentar Mundial também não pode ser rejeitada de princípio e como tal justifica muitas diligências no sentido de o preparar.
A pretexto da razão e da ciência comercializa-se uma ideologia com os pré-requisitos para, no meu ver, uma transformação socialista da sociedade (A China manda cumprimentos!…). Nem em nome de uma sociedade aberta, nem de um racionalismo crítico (3), nem, tão-pouco, uma alegada necessidade de se estabelecer uma supraestrutura mundial para a paz, podem legitimar uma organização superintendente da inteligência e da história da humanidade (mesmo em nome de uma ética secularizada em nome da razão!).
Naturalmente que o Homem é ele com as suas circunstâncias não podendo ser reduzido às circunstancias, por muito importantes que elas sejam para o seu desenvolvimento. Em nome do bem geral da sociedade não se deve passar à sacarificação dos diversos “biótopos” culturais e do indivíduo…
Uma atitude meramente mecanicista que prescinda da transcendência, nas mãos de uma superorganização, corre o perigo de considerar o argumento acima das consciências individuais e nacionais (exemplo do estalinismo, maoismo, nazismo, teocracia do Irão, etc.). Não chega mudar o mundo é preciso fazê-lo interpretando-o.
O Dalai Lama afirma a ética contra a religião como se só fosse possível uma posição exclusiva dizendo: “as religiões conduzem à guerra, a religião é algo aprendido, enquanto a ética é inata”! Fala no sentido de algumas ONGs (4) em torno da ONU, aplanando-lhes o caminho, afirmando:” Seguindo princípios de uma ética puramente secular tornar-nos-emos pessoas mais descontraídas, solidárias e sensatas”. E, para confundir, questiona a transcendência das religiões monoteístas dizendo:” vejo cada vez mais claramente que o nosso bem-estar espiritual não depende da religião, mas da nossa natureza humana inata”. Naturalmente, como tudo não passa de matéria adiante, tudo começa e acaba nela!
Em vez de procurar uma via inclusiva e de esclarecer a relação entre religião e moralidade, o Dalai Lama opta, em termos de poder, pela exclusão da religião, para se pôr ao serviço de uma ideologia materialista secular sob o pretexto de uma ética natural da racionalidade.
(Não quero aqui desvalorizar a laicidade, nem o papel da relação razão-ciência nem o aspecto também positivo que a discussão materialista tem desempenhado em relação a um espiritualismo desencarnado. De facto, se dou uma vista de olhos pela natureza, pela cultura, pela sociedade e até pelo indivíduo, reconheço que tudo neles é complementar, o que, na relação com o Homem e com a sociedade, fala a favor de uma estratégia de inclusão das diversas partes e a isto encoraja-me também o Vaticano II na sua preocupação pela conexão da heteronomia!)
Segundo o Dalai Lama, na continuação da filosofia materialista e da sua religião (que propriamente ele não considera religião), religião seria um constructo social e o bem-estar espiritual é natural (produto da natureza) não tendo nada a ver com uma qualidade religiosa inata nem com um re-ligar (religar o Homem a Deus, o humano ao humano, numa relação transcendental), no sentido das religiões monoteístas. (Chega-se a ter a impressão que aqui o Dalai Lama segue as mesmas pegadas da agenda Gender que quer reduzir características humanas, provenientes de diferenças biológicas, a meros resultados da aprendizagem adquirida através da cultura, no percurso da História.)
O filósofo Wittgenstein advertia:” Os limites da minha língua significam os limites do meu mundo”! Uma adequada paráfrase poderá ser: os limites das minhas perguntas são os limites da minha inteligência (Como esta é de natureza aberta, deixa sempre, a nível intelectual, uma porta aberta para a dúvida metódica).
Hoje mais que nunca precisamos de uma crítica à ideologia. Se muitos se queixam que na Idade Média tudo circulava em torno das catedrais e no mundo árabe tudo circula em torno de Meca, não têm a distância suficiente para notar que hoje na sociedade secular ocidental tudo circula em torno das catedrais da Banca e da ideologia do “politicamente correcto”.
O Dalai Lama serve aqui o plano marxista anti-cultura ocidental na sua luta contra os fundamentos da cultura ocidental e em especial contra o cristianismo, que circula todo ele em torno da filiação divina da pessoa humana e numa visão linear da História.
Na discussão filosófica e científica encontra-se também “provado” o caracter inato (congenital) da religião e não apenas o da ética, como advoga o Dalai Lama.
Já Charles Darwin, no seu livro “A Descendência do Homem e a escolha sexual de reprodução” descreveu uma evolução biocultural bem sucedida da religiosidade e das religiões para um monoteísmo.
Investigações sociológicas, antropológicas, psicológicas e filosóficas demonstram que a religiosidade é inata. A inclinação religiosa é inata e a fé pertence ao Homem, como se observa nos primórdios da humanidade (animismo, rituais ao sol, ao fogo, ao vento, etc.) não podendo ser reduzida apenas a algo adquirido culturalmente.
Tal como mostram muitos estudos sobre o fenómeno religioso, o diretor de um projeto de pesquisa (com 57 eruditos de 20 países), Dr. Justin Barret, do Centro de Antropologia e Mente da Universidade de Oxford, conclui, como resultado do mesmo, que “ religião é um aspecto (5) comum da natureza humana e o pensamento humano está “enraizado” em conceitos religiosos. Isso sugere que as tentativas de suprimir a religião tendem a ter vida curta, uma vez que o pensamento humano parece estar enraizado em conceitos religiosos, como a existência de deuses ou agentes sobrenaturais, a possibilidade de vida após a morte, e de algo anterior a essa”.
Outros investigadores do fenómeno religioso e ético dizem ter observado manifestações desses fenómenos até em grupos de primatas. Há macacos que ao pressentirem tempestades fazem a dança da chuva ou quando morre o semelhante ficam em silêncio, de olhar perdido e “pensativo” perante o morto (Naturalmente que estes comportamentos em parte semelhantes a humanos não permitem conclusões apressadas (6).
O facto de a religião proporcionar a visão mística e treinar a capacidade de sair do “aqui e agora” estimulou no Homem a possibilidade da passagem da inocência comum da apatia animal do paraíso terreal, para um estado dialogal de ouvir e dar resposta (Adão e Eva desenvolvem a personalidade numa relação inicialmente medrosa com um Tu transcendente – mais tarde Jesus Cristo destruiu o medo repondo a dignidade no Homem ); daqui surge o assumir responsabilidade no pensar próprio e fazer erros (a capacidade da culpa e do erro, num processo de chamamento – do Adão, onde estás? -, torna-se no motor do nosso desenvolvimento, numa aventura de “erro e tentativa”; esta dinâmica é consagrada no encorajamento da “culpa feliz” que passou da liturgia da Vigília pascal também para o pensamento secular (7). A luz e o chamamento divino levaram-nos a voar em vários mundos (emocional e mentalmente).
A religiosidade dá relevo à capacidade humana de se maravilhar e de conseguir sair do “aqui e agora” sem deixar de se empenhar responsavelmente pela polis!
Numa sociedade que se quer, cada vez mais só aqui e agora, de um relativismo e utilitarismo aferido ao mercado, a espiritualidade parece só vir complicar e distrair do negócio da construção de uma polis que se quer só mercado sob um só poder. Não questiono aqui a ONU/NU, a Carta das Nações Unidas, a Declaração dos Direitos Humanos, (8) nem as Convenções, motiva-me apenas raciocinar sobre o espíritos que se aninham em torno delas. (Também não pretendo justificar os males e erros dos poderosos que, muitas vezes, se usaram do medo e da religião como meio de educação e disciplinação do povo, como também hoje é de reprovar o uso dos medos e de leis (do “politicamente correcto”) que tenham como mero objectivo controlar e domar o cidadão, quer por poderes seculares quer por poderes religiosos). Cada tempo tem o seu movimento e mesmo dentro do espaço tempo é essencial não só viver no aqui e agora, mas contemplar também o horizonte que nos leva a levantar o rosto e a viver a existência à luz de uma esperança que chama toda a natureza à imagem do que faz o Sol em relação ao planeta.
Num romance que li há muitos anos, conta-se que um humano foi cruzado com um macaco. Alguém matou aquela criatura que é meio humana, meio macaco. A questão ética que se põe no caso é: aquele que matou este ser assassinou uma pessoa ou matou um animal? Em retrospetiva sobre a sua vida chegaram à conclusão que era um ser humano porque o tinham observado a sacrificar num altar um bocado de carne, ficando assim claro que se tratava de um ser humano porque revelava sentimentos religiosos. Assim o que o matou foi um assassino…
Num mundo necessitado de paz, a estratégia para se resolverem os problemas individuais e sociais, não pode seguir a via da destruição da diferença e da variedade, mas sim o caminho da aceitação e da tolerância mútua, numa consciência de subsidiariedade e complementaridade.
© António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
“Pegadas do Tempo”
Caro Antonio da Cunha Duarte Justo, gostei muito do seu artigo. Entretanto queria apenas dar uma achega de actualizacao ao assunto, o qual para mim e’ fundamental para o futuro da raca humana. estamos de acordo que todos os males adveem dos procedimentos dos Bancos Centrais mundiais, sobretudo porque ao logo dos seculos essa gente nao se contentou com o chorudo negocio da banca, tendo gradualmente investido o seu papel, nos ramos mais lucrativos, sempre na busca de controlar o monopolio dos paises ditos civilizados. A causa maior da falta de paz no mundo, na minha analise, usa as religioes, como usa as diferencas etnicas, a pobreza versus riqueza, o racismo entre as distintas sub-racas humanas ou seja branca contra amarela, negra, ou arabica ou outras diferencas mais locais. Para conseguir enriquecer cada vez mais, sobretudo apos a segunda guerra mundial, esta gente apostou nos complexos militares industriais usando a guerra como fonte de receita primaria. Para isso era necessario controlar a opiniao publica, entao compraram a baixo preco todas as televisoes, radios, jornais, revistas, impressao de livros desde que tivessem alguma expressao no mercado. Quem controla a impressao de dinheiro, tambem controla a quantidade de massa m,onetaria nque e’ posta ‘a disposicao de cada pais, e com isso criam as crises monetraias e finaceiras, chamando-lhe ciclos de negocio. Logo comecaram a apostar na “compra” de politicos pagando as suas campanhas e outros bonus, interferindo nas eleicoes ditas “democraticas” e fazendo com que cada campanha custasse cada vez mais, ate’ chegarmos ao ridiculo 1 biliao de dolares para quem quizer realmente ganhar a presidencia dos USA. Claro que tudo vai parar ‘a eleicao de dois actores principais e quando esta’ claro que o favorito nao e’ quem lhes convem, ha’ sempre um terceiro actor com uma mensagem semelhante ao favorito para dividir o voto e fazer a vontade aos Bancos Centrais, que entretanto estao a pagar a ambos os lados, portanto eles nao podem perder nunca. Ha’ muita discussao nos congressos e senados e assembleias, mas na hora da verdade, os que recebem “el contado” sempre acabam votando nas resolucoes que lhes conveem a eles bancos centrais. (Porque sera’ que em Portugal, todos os crimes do codigo penal perscrevem …menos os crimes contra a banca?) De posse dos politicos nos seus bolsos…e de posse da media, de posse dos complexos militares industriais, teem tido todas as armas necessarias ‘a fomentacao, producao de armamentos, financiamento, portanto teem brincado aos Deuses Caseiros, finaciando ambos os lados de cada guerra, as quais achamos estupidas e inuteis, menos para esta gente claro. Quando resolvem acabar o conflicto, controlam quem ganha a guerra, a seu bel prazer, pois basta cessar o financiamento ou envio de armas a uma das partes. No final dos conflictos ficam credores de ambos os lados e la’ vao de novo “comprar” barato as empresas dos ditos paises que lhes interessam para fazer o monopolio. Extremamente simples o processo e sempre controlando o que cada lado politico diz em publico, sob pena de lhes tirarem o tapete e o autofalante. Adicionaram ainda praticas mais sinistras como uma religiao Satanica com rictos de abuso sexual em miudos e miudas para onde guiam muitos dos politicos mais proeminentes e depois usam esse conhecimento para chantagear quem quer mover-se na politica. Essas praticas dao lugar ao trafico humano de menores de ambos os sexos, e criam centros de prazer e negocio, em Washington, Hollywood, Londres, Vaticano e finalmente acabam por ser vendidos na Arabia Saudita pelo maior valor, em leiloes de escravos. Pensavam que a escratura tinha acabado em que seculo? Estas praticas incluem o sacrificio rictual de criancas para lhes beberem o sangue e consumirem certos orgaos que, creem eles, prolonga a vida a quem os consumir, ou seja, canibalismo no Sec XXI. De salientar que o modelo dos Bancos Centrais tem sempre um fim temporal que pode calcular-se matematicamente, ja’ que o objectivo claro e’ a criacao sistematica da Divida (quanto deve Portugal aos bancos?) No final de cada ciclo, esta’ provado historicamente que foram criados conflictos regionais ou mundiais, para culpar as guerras. Os roubos de riqueza que estavam acumulados em bancos…e que sempre passam para as maos dos bancos centrais Globalistas. Todos estes cenarios estao a ser combatidos ferozmente pelo presidente Trump, e e’ por essa razao que os media nao param de insultar, a mentir sobre as realidades americanas e mundiais de hoje, com as suas narrativas de propaganda. Caso a menina Hilaria tivesse ganho as eleicoes, por certo ja’ estariamos imersos na Terceira Guerra Mundial, pois esse era o plano…e com detalhes de requintes de malvadez, que nao cabem aqui. Ha’ uma revolucao em curso, patente a quem vive na America e segue estes temas de perto. Ate’ esta semana ja’ lhe foram feitos 17 atentados, o ultimo dos quais no fim de semana de Martin Luther King, (missil AT4 contra a Casa Branca) com avisos claros e publicos de alguem importante do partido Democrata…o qual esta’ a ser pago para lutar ate’ ‘a morte contra este presidente. Provavelmente vai ser a sua morte como partido. Claro que nao sao so’ democratas, pois os Globalistas como definido acima, sao de ambos os partidos havendo republicanos a juntar-se aos democratas nesta revolucao, contra os Patriotas. O Globalismo e’ a aplicacao deste sistema ao mundo inteiro. Quem nao concordou tem ou teve guerra em casa. Estamos a entrar na fase final desta revolucao, e as prisoes de Cuba Gitmo e outras no territorio continental estao prontas a receber, “clientes” de outro nivel…pois para tal foram preparadas. E’ uma revolucao em curso contra os bancos centrais, que serao em breve eliminados mundialmente, sob a batuta do Presidente Trump que tem mais inteligencia a dormir que estes politicos da treta devidamente acordados e cheios de cafe’ forte. No ambito dete forum, e’ o que se pode dizer.
Walter D. Gameiro
Caro amigo Walter D. Gameiro, os meus parabéns por tão lúcido texto. Seria bom que o colocasse noutras páginas, também na minha, pois seria de recomendar que todos o lessem! Penso como o amigo porque e a primeira lição que tive neste sentido, foi no seminário, ao estudarmos no 7° ano de escolaridade os deuses gregos e em especial o mito de Prometeu; então acordei um pouco da sonolência em que vivemos e pouco a pouco fui vendo como a realidade social, em que somos levados a viver, mais não passa do que a luta dos deuses do Olimpo contra o povo que mantêm na incapacidade e na ignorância. Obrigado, caro amigo!
O Mito de Prometeus sera’ mesmo mito? Talvez sim, mas tambem talvez nao! Ha’ trabalhos publicados que deixam incidir alguma luz sobre esse tipo de materias.
Walter D. Gameiro
Para mim, quando falo de mito entendo-o tal como sendo algo que é mais real do que o real factual porque pode ser constatado ao longo da História em diferentes contextos, podendo apontar para matrizes também para além do lógico racional. Isto independentemente do caracter histórico dele.
O artigo aborda uma questão que me inquieta há muito tempo.
Trata-se de um tema muito atual e interessante.
A abordagem é feita de forma abrangente, clara e profunda, que muito me enriqueceu.
Levanta muito bem as questões, apresentando os prós e contras dos diversos pontos de vista.
E conclui, se interpretei bem, no sentido de a ética secular e as religiões se complementarem e não conflituarem, conclusão com a qual naturalmente concordo. Porém, parece-me que caminhamos inexoravelmente para uma ética universal, face à globalização nos diversos domínios.
Zéaz
O teu último parágrafo aponta para o ideal de uma ética e de uma moral a nível global. Esta foi a ideia iniciada por Hans Küng. Ele constata no Welt-Ethos que as religiões e diversas filosofias humanistas têm muitos valores fundamentais em comum.
No meu texto procurei abordar o tema de maneira crítica em relação a tendências globais que pretendem uma ética meramente materialista ou em contraposição com as religiões do livro. Há uma grande discussão mas uma esquerda extremista procura assenhorar-se do tema de uma maneira discriminadora. A base da ética foi formada através de religiões, filosofias, antropologia, história do pensamento e da vida etc. A comunidade global necessita de elaborar um fundamento para uma coexistência construtiva para todas as comunidades humanas partilharem mais conscientemente de valores fundamentais sem perderem certas características próprias e sem que em nome da globalização se opte por uma ética apenas amarrada à matéria, à ideologia e ao racional meramente medível. Um consenso básico sobre valores e normas, fundamentais para um comportamento humano que transcenda culturas, religiões e países é cada vez mais urgente. Não devemos porém tropeçar na própria História e se o decálogo surgiu da experiência do divino torna-se importante que a sua adaptação não tenha de ser demasiadamente determinado pelos da outra freguesia! O globalismo encontra-se num momento em que precisaria de um momento de pausa para reflexão para não ser só determinado pela política e pela economia.
Os vossos textos, lidos com gulodice mal abri o computador, foram a base da minha meditação de hoje e que me atrevo a compartilhar convosco.
Não querendo eu cair num pessimismo shopenhaureano em relação ao mundo (proveniente da tal vontade metafísica maligna), mas, uma vez que as religiões apresentam cada vez mais divergências na interpretação do conceito dos valores fundamentais que poderiam ser aglutinantes, restaria às filosofias e às ciências humanas, sobretudo, a ingente tarefa de criar, de facto, os pilares da “coexistência construtiva” de carácter universal. Para algumas forças há, +e verdade, necessidade absoluta, para continuarem a existir, de ir “arrumando” para fora do caminho percorrido pela Humanidade os valores e conceitos/princúpios filosóficos e religiosos positivos e mais abrangentes, e não só estes, para, como por vós é dito, deixar o caminho livre à matéria (eterna, segundo o postulado de Marx), às ideologias interesseiras, ao racionalismo, numa palavra, ao domínio absoluto sobre os outros e das mais variadas maneiras. Saberão mesmo o que querem?
Concordo, é lógico, com a necessidade urgente de se elaborar, com carácter de universalidade, os fundamentos que tornem a nossa existência verdadeiramente humana, começando por ultrapassar, definitivamente, conceitos e princípios religiosos, filosóficos, culturais…, anquilosados e negativos (malignos).
Esta tarefa é que me deixa um tanto “pessimista”, talvez não pela sua impossibilidade, mas, sobretudo, pela sua dificuldade e demora em se concretizar. Mas, as utopias também são dinamizadoras e desafiantes, e poderão, até, deixar de ser utopias.
Como eu aceito que são as ideias que levam aos factos (Ortega y Gasset), e há muito que andamos, de candeia na mão, a tentar orientar-nos no mundo das ideias, ainda muito confuso, tem de haver um dia em que os factos (realização), de maneiras variadas, comecem a surgir, se é que não existem já. Ou estaremos no constante devir de tese – síntese – tese… “ad infinitum” de Heráclito, modernizado por Hegel, sem nunca se atingir a meta almejada, por utópica?
EvMig
Em biologia verifica-se que a necessidade cria o órgão.
Para se chegar ao momento de uma ética universal pressuporia o caminho de uma antropologia e de uma sociologia universal. Neste sentido o caminho é ainda infinito e resta a questão se mesmo a natureza e a sociedade se deixam equacionar apenas por linhas gerais (à margem da diversidade) e se não corresponde a um certo orgulho iluminista pretender-se tal (Naturalmente sem utopias não se vai longe!). O centralismo como a descentralização condicionam-se entre si numa dinâmica de afirmação e selecção .
No nosso planeta há várias mundivisões. Um ética tem sempre por base uma mundivisão e uma mundivisão comporta várias filosofias dinâmicas e até concorrentes entre si. Na própria civilização ocidental encontram-se diferentes filosofias em debate concorrente. Utopias correspondem a necessidades mas até que se criem os correspondentes órgãos passam-se centenas e mais anos.
A pressa (e um certo activismo em determinados meios) em estabelecer-se uma ética universal, corresponde, infelizmente quase exclusivamente, a forças do capitalismo global liberalista e de uma ideologia política demasiado altaneira que as acompanham (e esta corresponde a uma mundivisão materialista).
Deixar o trabalho da instituição da Ética universal a uma mentalidade centralista em torno da necessidade de um governo global é tão perigoso como continuar no status quo das religiões.
Penso que o primeiro caminho deveria ser iniciado ao mesmo tempo pelas religiões, trabalho em que o papa Francisco está empenhado como demonstrou com a ida ao Dubai. O direito internacional tem um papel importante mas os valores precisam sempre da sua roupagem religioso/cultural. Querer, em nome da universalidade querer uma Ética de forma materialista e marxista seria enquadrá-la numa mundivisão estranha àquelas que lhe deram a origem. Penso que uma solução eficiente necessitaria de um diálogo inclusivo em que participem civilizações, religiões, filosofias e estados, para que o produto se processe globalmente mas de forma orgânica. Para mim, o modelo cristão, sem as implicações de “folclore religioso”, seria o modelo de consistência global. Em parte, o catolicismo poderia ser o protótipo.