O DILEMA DA ALEMANHA É O IMPASSE DA UNIÃO EUROPEIA

Paradoxo do Centralismo francês versus Federalismo germânico

Por António Justo

O dilema da EU resume-se no confronto de dois sistemas de organização político-administrativa e na dualidade de interesses de uma Alemanha que é demasiado grande para ser só nação e demasiado pequena para ser império! A Alemanha como fulcro da Europa teria de estar, por natureza, virada para leste (Rússia) e para o ocidente (países latinos), o que implicaria a consequente implementação dos seus interesses económicos nos dois sentidos e consequentemente uma certa desquitação europeia dos EUA, o que inquietaria a França e outros países da EU. Devido à sua situação geográfica e social-histórica, a Alemanha, a longo prazo, não poderá deixar de oscilar entre o expandir da sua influência no sentido do Leste e no sentido do ocidente (e sul). (A mudança da Capital de Bonn para Berlim é também consequência da sua resposta à fidelidade histórica). Um outro aspecto que, no meu entender, a opinião publicada na praça pública tem menosprezado é o facto de a Alemanha resumir federalmente nela a grande ideia europeia de Carlos Magno, “o pai da Europa”. A Alemanha federal já realizou de maneira exemplar o caminho que a EU terá de realizar, não por convicção, mas por força das circunstâncias económica e estratégicas mundiais (o afirmar-se de novas constelações concorrentes, como China e grupos supranacionais).  

A atual filosofia centralista de Bruxelas corresponde a uma violação dos seus próprios interesses e do seu génio pois quer amarrá-la definitivamente aos romanos e por outro lado despreza os processos de desenvolvimento da independência histórica das diversas soberanias europeias.

Os países latinos, de pensamento mais abstrato e centralista, não estão dispostos a aceitar a realidade da influência económica germânica nem a compreender a dicotomia dos interesses de um país forte no centro e norte da Europa.  A União Europeia, fora de sentimentalismos bairristas, para ser construída com equidade, terá de ser construída a partir da Alemanha e, para já, no sentido de uma confederação de Estados.

O Brexit é um aviso e terá de constituir para a Alemanha, um grande momento de reflexão crítica sobre o constructo da EU até agora artificialmente produzido. Consequentemente, a EU que temos, precisa de uma substancial remodelação a nível de concepção e de modelo de realização (repensar a organização política de vários Estados num „Estado federal” que, a nível internacional, perdem autonomia, porque as constituições estatais se teriam de se subjugar a uma constituição central). De considerar que o que hoje a inteligência não vê, amanhã a necessidade obrigará.

Trump que joga com o dilema germânico, também dilema da Europa, tenta cativar o Reino Unido no sentido do império anglófono e ao mesmo tempo enfraquecer a Europa, debilitando a Rússia, com o aumento da presença militar da NATO na sua fronteira e com a implementação de sanções económicas. De notar também a agressividade do governo dos USA contra o atual empreendimento russo-alemão de construir um gasoduto entre os dois países. As guerras são sempre de base económica e ideológica no sentido de formar hegemonias…

O problema alemão não resolvido historicamente será o de se decidir por expandir no sentido leste ou oeste. Os USA e a França farão tudo por tudo para que a Alemanha se vincule exclusivamente ao Ocidente europeu. Forçar a Rússia a unir-se à China constituirá, porém, um erro europeu histórico que adiará o natural processo de desenvolvimento e definição europeia.

A EU tem de arredar caminho na sua estratégia de desautorizar nações membros e de se armar em juiz sobre os países a ponto de os humilhar, como tem acontecido a membros que se manifestam ainda adolescentes nas suas atitudes e exigências. A estratégia de fomentar oposições ou de se castigar grupos rebeldes num país membro corresponde a uma estratégia de guerra e não de paz, ao contrário do que se pretende defender com a criação da EU como espaço de paz. A Europa, atendendo à sua História e à história dos diferentes países, está vocacionada a tornar-se antes numa confederação de Estados e não primeiramente numa apressada federação em que estes teriam consequentemente de renunciar à sua soberania, historicamente alcançada depois de muitos séculos de lutas.

O Presidente francês Emmanuel Macron disse na TV suíça (11.06.2019) que daria o seu voto a Ângela Merkel para Presidente da Comissão Europeia, embora a chanceler alemã tenha já excluído essa hipótese. Mácron disse aí que a “Europa precisa de personalidades fortes que tenham uma credibilidade e competência pessoal para preencher as posições” (Talvez sob esta proposta se encontre a esperança de uma mulher germânica amarrar mais a Alemanha aos interesses da Europa do Sul!). A concretização dessa proposta resolveria o empasse da escolha em via para tal posto, mas não resolveria a questão de fundo da EU. A questão a resolver consistirá em transformar o constructo EU numa instituição orgânica europeia. O Povo a acordar não quer que Zeus desvie a Europa para fora dela… Segundo a mitologia grega a Europa era uma princesa fenícia que deu o nome ao continente Europeu. O Deus Zeus apaixonou-se por ela e para passar desapercebido aos ciúmes de sua mulher transformou-se num touro misturando-se nos reses de touros do pai de Europa e como era brilhante e manso seduziu a princesa Europa, que ao colocar-se no seu dorso se viu transportada rapidamente para Creta onde desfrutou dela, abandonando-a mais tarde.

Nos últimos 70 anos, o crescimento económico tem garantido a Europa pacífica… agora que “outros valores mais altos se levantam” como a (China) e em que o povo se começa a intrometer no processo da EU instam grandes transformações. Um aparelho burocrático a que falta a alma (povo), se não arrepia caminho, corre, cada vez mais o perigo de se transformar numa ilusão…

O centralismo exagerado foi o coveiro de grandes civilizações. O que está em jogo na EU é a velha luta europeia entre o centralismo francês e o federalismo germânico e entre a hegemonia americana na Europa e uma Europa que possa olhar de olhos nos olhos os EUA, além da falta de realismo de que grande parte da Rússia é europeia (ao contrário de uma Turquia que já o foi e cujo movente é puramente económico).

A experiência feita dos nacionalismos como fonte de guerra e o seu ressurgimento atemoriza muitos bons pensantes europeus (de momento, porém, tais movimentos não expressam mais que a necessidade de correpções num conceito de EU talvez demasiado capitalista-socialista).

A EU como a Europa encontram-se em contínuo processo de mudança tendo, depois da II Grande Guerra, criado vários laços circunstanciais (1).

A EU tem estado a ser construída em contradição com a dinâmica da formação natural orgânica das estruturas de um Estado. Daí o Brexit e os movimentos nacionalistas surgentes como sintoma de um problema maior: o da oligarquia burocrática de Bruxelas atrelada a um globalismo liberal anónimo e sem limites. Tem-se feito muito trabalho louvável, mas falta a coesão que lhe daria vida e esta chama-se povo.

A EU tem de ser refeita; o permanente estado de crise de Bruxelas vem principalmente do facto de os seus actores terem querido fazer do cume da pirâmide a sua base ao ignorar povo e a tradição. A oligarquia transforma-se assim numa espécie de Olimpo longínquo em oposição aos terráqueos. Tudo seria mais fácil se não fossem as duas almas da europa a terem de ser metidas num só corpo (EU): o génio federalista alemão ligado à terra e o génio centralista francês mais um parto de cabeça e por outro o génio católico latino em confronto com o protestantismo nórdico. 

Não admira que o Presidente francês Mácron esteja a avançar com o seu desejo de liderar o discurso sobre a reorganização de uma UE (2) a fim de a modelar no sentido centralista do tipo francês (3); é também compreensível que os alemães se mostrem reservados, embora uma verdadeira União Europeia possa ser mais bem acomodada, posteriormente, num molde federalista à semelhança do alemão.

A hora dos alemães só chegará depois de alguns erros economicistas e de alguns exageros latinos. Os movimentos nacionalistas, que se encontram de vento em popa apesar das anticampanhas da classe estabelecida nas capitais europeias, são a melhor prova de como tem sido mal encaminhado o discurso sobre a Europa: um discurso demasiadamente orientado no sentido autoritário e autocrático provoca o desrespeito nos relegados a espectadores. A agressão que durante anos se cultivava contra Angela Merkel e o seu Ministro da Economia, nalguns estados latinos, pode considerar-se em parte equivocada ao querer reduzir o espírito alemão ao aspecto económico.

Objecto de uma discussão séria seria o discurso sobre a elaboração de um superestado central ou de uma confederação, e assim se ultrapassar um discurso público reduzido ao economismo. A observação das duas mentalidades pode ser constatada no partido francês de Le Pen que luta no sentido de uma soberania nacionalista centralista e no partido alemão AfD que centra o seu discurso mais num contexto europeu cultural que colmataria numa EU – uma confederação de estados que respeite a gene de uma europa das nações. Uns e outros metem o pé na poça, como é natural em movimentos reagentes.

Que seria dos bons se não houvesse os maus e que seria dos maus se não houvesse os piores nem os melhores! Do desprezo recíproco surge a energia alimentadora da guerra que descrita na perspectiva do discurso de uns e dos outros só pretende o bem, o desenvolvimento.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (História e Português)

In Pegadas do Tempo

 

  • (1) A crise do carvão na França levou a França a aproximar-se da Alemanha em 1950, através da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, considerada por Robert Schuman como a “primeira etapa da federação europeia”, a criação da OECE como resposta ao Plano Marshall (1948), a criação da NATO em 1949 sob gerência dos USA e que culmina no reconhecimento dos USA como a grande potência mundial, relativizando os tradicionais potentados nacionais internacionais vigentes até à primeira guerra mundial).
  • (2) ALEMANHA FEDERALISTA CONTRA FRANÇA CENTRALISTA NA REFORMA DA UNIÃO EUROPEIA? https://antonio-justo.eu/?p=5353
  • (3) MACRON QUER A REFORMA DA UNIÃO EUROPEIA QUE OS PAÍSES NÓRDICOS NÃO QUEREM https://antonio-justo.eu/?p=4764

 

 

PORTUGAL FAZ 840 ANOS – PARABÉNS

A 23 de Maio de 1179 o Papa Alexandre III, com a bula “Manifestis Probatum” (1), reconheceu Portugal como Reino.

O reconhecimento da nacionalidade pelo Papa era naquele tempo como hoje o reconhecimento da ONU.

Portugal ficou independente de facto, a partir do momento em que foi celebrado o Tratado de paz de Zamora a 5 de outubro de 1143, por Afonso VII, que reconheceu Portugal como Reino (a partir deste acontecimento faria 876 anos em Outubro).

Facto é também que D. Afonso Henriques já se considerava rei a partir da Batalha de Ourique em 25 de julho de 1139 (faria em Julho 880 anos).

Parabéns Portugal, não te esqueças da Ordem dos Templários que, nos momentos mais gloriosos e mais importantes da tua História, foram decisivos para o teu desenvolvimento! Foi-o na origem do Portugral (Porto do Graal) e depois na preparação dos Descobrimentos.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://pt.wikipedia.org/wiki/Manifestis_Probatum

 

DA URGÊNCIA DE UMA ÉTICA GLOBAL PARA A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

1° Projecto de Orientações éticas da UE para o Desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA)

António Justo

A China está a estabelecer um “sistema de pontos de crédito social” (1) para recompensar e punir o comportamento social de seus cidadãos com pontos; no sistema é registado o comportamento das pessoas; por exemplo:  quem usa a bicicleta como meio de transporte, quem pagou as facturas, quem visitou os pais, etc. Quem não se comporta bem ou tem uma má pontuação social não recebe empréstimos, nem bilhetes de comboio, de avião, etc. Nos USA há um sistema de crédito bancário que com o tempo poderia também ele ser desenvolvido para controlo generalizado. Na Europa também há países em que se nota uma tendência para controlar o cidadão através dos dados bancários e das finanças. Já hoje, os algoritmos decidem quais os anúncios e a propaganda aferida às tendências da pessoa e que se recebe no Facebook/Smartphone.  Naturalmente não há comparação entre estes países e a ditadura de informação técnica (IT) chinesa, mas a sociedade corre o perigo de caminhar nesse sentido: vigilância completa por poderes anónimos.

O projecto de orientações éticas da UE (2) para lidar com a Inteligência Artificial (IA) foi agora (7.05.2019) apresentado por 52 especialistas de universidades, empresas e da sociedade civil na intenção de garantirem regras que desenvolvedores, aplicadores e usuários da IA devem observar para não fugirem aos direitos humanos e princípios fundamentais.

A criação de sistemas de armas autónomas, automóveis sem condutor, medicina computorizada trazem consigo a preocupação de quem é que decide e até que ponto são respeitados os valores humanos e uma humanidade equilibrada. É preciso criar-se regras para que o controlo exercido pela pessoa não passe para segundo plano ou se abdique dele.  Os drones podem decidir por si mesmos sobre vida e morte. A indústria prefere, a nível mundial, fazer adiar decisões (28 nações já assinaram tratado contra o desenvolvimento de tais armas (a Alemanha não).

A IA não pode poder tudo nem determinar tudo…. Com ela está em jogo o lugar da pessoa humana na Criação. De acordo com os especialistas da UE, também se deveria impedir a criação de uma consciência artificial com sentimentos humanos (Coisa propriamente impossível: uma inteligência artificial alienada da humanidade e fora do controle humano poderia até destruir os seres humanos).

No caso de sistemas inteligentes poderem criar uma utopia restaria a questão se essa utopia não seria só para uma elite. Será difícil de evitar a criação de massas proletárias e de pessoas carenciadas a viver na dependência total. O saber tecnológico e de assistência a tais sistemas será tão elevado que levará a criar poucos centros de apoio com uma burocracia tecnológica de difícil acesso e deste modo monopólios que virão dar razão a algumas teses de Karl Marx, só que numa outra perspectiva de um totalitarismo comunista sócio do capitalismo de Estado (talvez no sentido de um modelo chinês).

O seu emprego também poderá ser fonte de maior justiça, mas é necessária uma atenção especial dado, em geral, serem os investidores e produtores que determinam a comportamentos e a consequente aceitação da oferta; o mercado obriga, como se vê no Google e Facebook.  A velocidade do desenvolvimento e dos grandes capitais que o fomentam levarão tudo o que é pequenada (aquilo a que chamamos povo!) a ser arrastada pela sua aragem e especialmente pelo poder normativo do factual. Quanto mais inteligentes e complexas as máquinas ou robôs, mais indolente se pode tornar a inteligência humana da generalidade, ficando reservado só para alguns o conhecimento e sua determinação.

Quanto a possíveis erros dos sistemas, há que distinguir entre os erros humanos (juiz) que são individuais e como tal situáveis e limitáveis e os erros de um sistema ou programa IA, onde uma decisão de um sistema de algoritmos poderia tornar-se num problema viral.

Segundo críticos do documento elaborado, o texto fala demasiado do deve-se e da minimização de perigos parecendo exagerada a precaução de uma ética que não se quer empecilho ao desenvolvimento.  Pessoas que criam esses sistemas de IA pretendem renunciar à sua responsabilização pelas consequências, de algoritmos complexos que avaliam enormes quantidades de dados para o sucesso e fracasso de uma decisão.

A China, que não se sente sujeita a standards ocidentais cristãos da dignidade da pessoa humana e seus direitos, pode tecnicamente distanciar-se e ganhar a corrida na concorrência. Daí a necessidade de uma ética abrangente e universalmente aceite.

Na discussão relativa à concorrência de quem conquistará os mercados com novos produtos, há grupos progressistas que consideram as ideias cristãs de defesa da personalidade humana como um atraso e um impedimento ao desenvolvimento da ciência. Também por isso o materialismo a espalhar-se mundialmente através de agendas luta tanto contra a tradição ocidental devido à sua liderança na filosofia de defesa da dignidade e dos direitos humanos.

Também por isso há movimentos contra a ideia cristã de o Homem ser considerado a coroa da Criação; é o caso de árias ONGs a atuar no Ocidente. Ele é, porém, sujeito e ao mesmo tempo objecto de uma ética humana que o defenda e obrigue a ser responsável também perante toda a criatura e responsável em relação ao futuro.

Uma Inteligência Artificial muito forte e dominante, se ficasse apenas nas mãos de interesses económicos e ideológicos, produziria rapidamente uma pequena elite privilegiada e uma maioria de “humanos inúteis” em que, num futuro não distante, o seu tratamento com dignidade poderia ser considerado um estorvo (isto num Zeitgeist em que certos parâmetros de qualidade de vida parecem querer sobrepor-se à vida!).

Todos se encontram a aprender, mas as pessoas que criam tais tecnologias, no momento da sua aplicação deverão estar conscientes de serem responsabilizadas pelas consequências – incluindo o pagamento de indemnizações.

 

Programar também a ética

Será preciso programar nos sistemas IA também planos de valores. As pessoas também usam as tecnologias para explorarem os outros. Por isso é de grande importância não perder o controlo sobre elas e sobre o seu uso.

A ditadura chinesa tem mais trunfos na mão do que os sistemas democráticos ocidentais apesar das suas lóbis contaminadas. Isto terá como consequência a elaboração de uma moral permeável no Ocidente. Quem determina o ritmo da música é o capital e a indústria. Tudo se está a formalizar em termos de viabilidade; as ideologias vão mudando e surgindo conforme as necessidades.

Em todo o discurso sobre a ética é, muitas vezes, esquecido que só é possível ética onde houver diversidade. As tendências igualitaristas, hoje em voga, correspondem a princípios antiéticos e antinatureza e correspondem ao suborno da liberdade e da natureza.  Os padrões éticos e morais nunca são universais, são sempre culturalmente determinados e profundamente enraizados nas pessoas. Não é possível em pouco tempo a integração global de padrões éticos universais como podemos verificar em relação aos direitos humanos. A ética de que se fala aqui destina-se a proteger a pessoa humana da dependência total de interesses anónimos da indústria e de robôs.

Os sistemas de inteligência artificial correspondem a um poder computacional a que falta a alma humana.

Se na nossa sociedade já a maioria dos cidadãos não tem uma ideia do porque pensa como pensa, devido à distância intelectual para com os criadores de consciência social, então com a IA só uma reduzida percentagem da população poderia pensar por si mesma. Se não se estiver atento nem nos precavermos, teremos uma sociedade de alguns gigantes e uma massa de pigmeus! No sistema atual ainda vamos tendo a ilusão de que a maior parte das coisas são determinadas por nós mesmos, mas com a ainda utópica IA descontrolada até essa ilusão desapareceria.

Como simples princípio de orientação ética poderiam ser as Leis da Robótica (3) ou princípios idealizados por Isaac Asimov em 1950: (a) um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal. (b) um robô deve obedecer às que lhe são dadas por um humano – a menos que tal ordem colida com a regra um. (c) um robô deve proteger a sua existência desde que esta protecção não colida com a regra um ou dois. (d) um robô não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal.

Em princípio, na automatização, a deliberação deve ser sempre da responsabilidade humana e não anonimizada. A comissão ética europeia também se tinha pronunciado neste sentido (4).

A ficção torna-se realidade num futuro previsível. Torna-se especialmente amedrontadora no sector militar e em certos sectores um risco para a soberania do Homem!

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

DAS CONQUISTAS GEOGRÁFICAS PARA AS CONQUISTAS IDEOLÓGICAS

Líder muçulmano exige ao Rei de Espanha que peça Perdão pela Reconquista

 

Por António Justo

O pior inimigo da Verdade é a ignorância, mas esta é, por outro lado, o melhor meio para fortalecer o poder e os poderosos.

Jihad, presidente da comunidade islâmica Mesquita Ishbilia, em Sevilha, escreveu a Filipe VI (26.03.2019) pedindo que peça perdão pela Reconquista iniciada há cerca de 1300 anos (em 718 e terminada em 1492 pelos Monarcas Católicos com a conquista de Granada ( a subordinação ou expulsão dos muçulmanos de Espanha depois de estes terem invadido e ocupado a Península Ibérica no sec. VIII).

O líder islâmico pedia, além disso, a concessão da nacionalidade espanhola para os muçulmanos descendentes dos expulsos, que hoje deveriam ser alguns milhões, com direito a voto (1). Muitos dirão que isto é impróprio de hóspedes atrevidos, outros que é fraqueza de hospedeiros acomodados e ainda outros dirão que a atitude é própria de uma cultura que ainda sabe o que quer! (A noticia não seria relevante se não manifestasse, de uma maneira geral, a atitude muçulmana em relação aos “infiéis”!)

Revisionismo revanchista nacional e internacional ao Serviço da Domesticação do Povo ocidental

Isto aconteceu alguns dias depois do presidente do México, López Obrador, ter enviado uma carta ao Rei de Espanha e ao Papa Francisco, pedindo-lhes que pedissem desculpa pelo que infringiram aos nativos no momento da conquista (2).

Tudo isto é certamente mais um ponto das agendas ideológicas a atuar através de várias ONGs ideológicas mundiais e que também fazem parte da implementação do pensamento politicamente correcto de uma Agenda internacional ideologicamente ultraprogressista.

Quanto à concessão de naturalização, em termos de oferta de nacionalidade, não se pode comparar os muçulmanos com os judeus, porque estes onde imigraram entraram pacificamente e integram-se nos países, não havendo, passadas gerações, a exigência de se formarem enclaves judaicos, ao contrário do que acontece com os muçulmanos que, quando atingem uma determinada percentagem na população de um país, exigem independência, como aconteceu p. ex. : Kosovo, Albânia, Índia-Paquistão, etc., e como acontece hoje em várias regiões do mundo.

Encontramo-nos numa época desorientada e, por isso, favorecedora do revisionismo revanchista nacional e internacional; quem mais alto levanta a voz mais direito tem, segundo a sabedoria popular, “quem não berra não mama”! A guerrilha da palavra, a desinformação e a criação do sentimento de culpa, são meios muito comuns para se moverem sentimentos reivindicativos de forma gratuita.

O grande benefício árabe em relação ao Ocidente, é o petrodólar e uma Agenda materialista internacional como aliada, na sua luta contra a cultura ocidental clássica, seguindo eles uma estratégia comum de, pouco a pouco, instalarem um ideário da demagogia e da ignorância até poderem implantar uma monocultura latifundiária (islão e comunismo) universal: indirectamente parece uma preparação para o predomínio de uma certa mundivisão ou maneira de estar asiática no mundo. Tudo isto é naturalmente legítimo porque o poder e a política não é dos que dormem e a História está sujeita a contínua mudança não podendo ser abarcada por uma vida humana mesmo longa de 100 anos. Muita gente, mais sensível na Europa sente-se preocupada com uma política só orientada pela economia na preocupação de tapar os buracos causados na população pela menor fecundidade europeia. Uma política de imigração desregulada provoca reações populares preocupantes e revela irresponsabilidade política.

Isto acontece porque uma elite fraca aceita dos reivindicadores imigrados direitos especiais. “O fraco rei faz fraca a forte gente” constatava Camões ao repassar a História de Portuga (2)! Devido à fraqueza das nossas elites, acomodadas e acobardadas em relação ao marxismo modernista que tomou, em grande parte, posse de grande parte do espaço social público, na era pós-guerra, a nossa história passa a não ter suporte e a decadência avança em Estados sem consciência nem defesa cultural.

Os árabes, ao contrário dos ocidentais, são unidos no bem e no mal pois consideram-se primeiramente como comunidade, como povo, a afirmar-se perante um Ocidente feito de comunidades rivais; fazem uso, para isso, da dupla estratégia do falar positivo sobre si e do calar sobre as próprias negatividades, enquanto os europeus, dentro da mesma sociedade, constroem a sua dominância na base do desdizer uns dos outros e do transformar a excepção em regra: é-se mais pelo partido, pela tribo, pelo grupo do que pelo todo; assim passa a não haver povo!  Os muçulmanos e os agentes da agenda marxista, atendendo aos seus objectivos de luta contra a tradição ocidental, não podem ser criticados pelo seu agir arguto; não se identificam com a civilização europeia e fazem por eles, apoiando-se uns aos outros, independentemente das pequenas diferenças que têm entre eles! Como seguem a matriz natural do poder, mais tarde virão a ter a razão que a história lhes dará: de facto, “dos vencidos não reza a História”.

Como os países da União Europeia se encontram divididos e agrupados em famílias de partidos já não é de tanto interesse, para eles, a acção partidária aferida aos interesses do país, mas sim às agendas das famílias partidárias europeias e universais (A ideologia passa a assumir o papel que, politicamente, antes tinham as confissões religiosas!). A ideologia também é subvencionada pelos correspondentes governos que criam certas cadeiras universitárias para assegurarem a propagação da “ciência” e da verdade sociológica (a verdade das estatísticas) como substracto e legitimação da própria ideologia. A ideologia subvencionada actua também nas universidades a nível global, através de agendas e iniciativas a realizarem-se ao mesmo tempo em todos os países de cunho ocidental. O poder de ONGs, por um lado necessário, chegará, com suas iniciativas e acções populares, a ameaçar os próprios Estados.

Antigamente faziam-se as conquistas através da Espada, agora na Europa os povos e as regiões já se encontram estabilizadas, pelo que a conquista a fazer-se passa a ser entre subculturas e com a palavra; os ideólogos actuam dentro da sociedade na luta contra costumes e instituições (em vez de inclusivamente ajudarem a renovar as existentes, seguem a tática marxista da luta) ; por outro lado, os países dos blocos (USA, Rússia, China e Europa) vão fazendo a guerra económica que se usa de guerrilhas e sublevações civis (uns a pretexto de valores democráticos e outros a pretexto de zonas de influência económica ou dos dois). A guerra que antigamente era militar e orientada pela conquista de terreno (conquistas geográficas) hoje é feita através da conquista do pensamento (conquistas ideológicas); daí, quem mais conquista os pensadores e os Média, mais determina o pensar e a vontade popular (a soberania controlada e dirigida)!

Pedir perdão

Quanto à exigência do pedir perdão torna-se uma questão complicada, pois: quem terá de pedir perdão a quem? Por outro lado, na História comandam os factos; a conversa sobre eles já pertenceria a um romantismo histórico ao serviço de grupos em despique que pretendem assumir o poder.

O   imã da mesquita, certamente, não pedirá desculpas ao povo espanhol pelas barbaridades que os maometanos fizeram na Espanha de 711 a 1492 (3)   nem pela pirataria que fizeram e amedrontou a Europa de tal modo, durante séculos, mesmo depois da sua expulsão e que criou nos europeus um sentimento de culpa que permite ao islão o sentimento de superioridade e a ideologias ascendentes aplainar os caminhos da decadência de uma grande civilização.

Se não fosse a desinformação e o não saber, todo o poder teria problemas de legitimação. Cada vez se encontram mais ventríloquos ideológicos desfazedores da história europeia porque notam que têm sucesso com as suas teses e exigências e encontram acólitos intelectuais que abusam de um moralismo egoísta como único meio de interpretar e fazer história (ocupam as mentes de oportunistas e de incautos, num ocidente fraco que perdeu o sentido da vida de um povo e o sentido da História). Têm, porém, razão porque esta é-lhes dada por um povo “inocente” e impreparado e quem está à frente encontra-se mais iluminado!

Como a asneira é contagiosa e agendas aliadas dos Soros e do petrodólar têm grande força nos governantes do ocidente, torna-se fácil o uso de armas ideológicas para a conquista do terreno real. “Os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz!” (Bíblia). Partem do princípio que a vida é resolução de problemas, por isso há que criá-los no sentido das suas oportunidades.

Como se sentem sistematicamente superiores (5) e acham natural a construção de mesquitas e a pregação do Islão àqueles a quem é proibida a construção de igrejas e a pregação do Cristianismo, não têm pejo em fazer exigências descabidas. Invadiram a Península Ibérica e agora já se sentem fortes a ponto de exigirem que o Ocidente lhes peça perdão (6)! Dado nas mesquitas não se diferenciar entre política e religião, estão conscientes da vantagem de sustentabilidade que estrategicamente têm. Esquecem, porém, que toda a ideia e toda a instituição que não sirva a pessoa estará com o tempo destinada a desaparecer.

Como João Paulo II, no ano 2000, numa atitude religiosa, pediu perdão geral pelos pecados históricos da Igreja, pensam que o pedir perdão iliba os outros da culpa e não implica um acto recíproco. Esquecem que teriam de pedir perdão por terem demolido a Basílica de San Vicente para construírem a Mesquita de Córdoba. Teriam de pedir perdão por terem destruído o reino visigótico e cultura romana ao invadirem a Hispânia no século VIII d.C. e sujeitarem todos os cristãos a vassalagem vergonhosa e a terem de pagar impostos especiais aos “ocupantes” durante quase oito séculos. Porque não pedem perdão por terem arrasado o que restava do cristianismo do Norte de Africa depois da passagem dos vândalos? Porque não pedem perdão pelas conquistas muçulmanas na terra Santa, Constantinopla e outros territórios outrora cristãos. Tudo isto não passa de areia levantada ao ar para melhor levarem o seu projecto adiante.

Os extremismos políticos e religiosos têm assento num espírito perturbado que liga o Homem ao tempo da pedra. Nas ruínas da humanidade é de encontrar as sombras da parte má do Homem que encontra guarida nas cavernas de toda a pessoa!

A história é dura e dá sempre razão aos vencedores; num ocidente decadente, a sua história de outrora é unilateralmente condenada pelos que querem ser os vencedores de hoje (Só falam dos podres da Igreja, de cruzadas e outras barbaridades descontextuadas como se as maldades do passado pudessem encobrir as do presente. Num tempo em que não querem que se saiba quem é quem, os aliados na luta sabem que esta é a sua hora num tempo em que a democracia não tem fundamentos de identidade capazes de unir os partidos na defesa do povo e da sua cultura para melhor procederem a uma inclusão respeitadora de uns e de outros; parece corremos o perigo de nos encontramos num momento histórico de regresso ao tribalismo. Um espírito crítico, mas acolhedor e sabedor de que o outro ou o adversário também é irmão, pode ajudar-nos ao encontro, no sentido de juntos se elevar a esperança de uma convivência fraterna.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

O MELHOR PROFESSOR DO MUNDO EM 2019

Exemplo de Inclusão pedagógica

António Justo

Global Teacher Award (1) premiou o pedagogo Peter Tabichi, do Quénia, com um milhão de dólares. Ele foi considerado o melhor entre os 10.000 professores nomeados de 179 países.

O monge pedagogo ensinava 58 alunos numa escola de uma aldeia Queniana e dá 80% do seu ordenado para os alunos mais pobres; deles, um terço são órfãos ou só têm pai ou mãe. A vida de seus alunos era muitas vezes caracterizada pelo abuso de drogas, gravidez na adolescência, desistências escolares e suicídios.

Naquela escola só havia um computador e uma ligação de internet, que nem sempre funcionava. Apesar disso o padre fundou um clube de computador. Criou também um clube de talentos tendo com eles ganhado um prémio da Academia Real para Química; além disso dirige um grupo pela paz onde se encontram representadas as 7 tribos da região.

Peter Tabichi (1) “e quatro colegas também dão aulas particulares de Matemática e Ciências a alunos com fraco aproveitamento, fora da sala de aula e nos fins-de-semana, onde Peter visita as casas dos alunos e encontra as suas famílias para identificar os desafios que enfrentam.  Ao fazer seus alunos acreditarem em si mesmos, Peter melhorou dramaticamente o desempenho e a autoestima de seus alunos. As matrículas dobraram para 400 em três anos, e os casos de indisciplina caíram de 30 por semana para apenas três. Em 2017, apenas 16 dos 59 alunos foram para a faculdade, enquanto em 2018, 26 alunos foram para a universidade e para a faculdade. O desempenho das meninas, em particular, foi impulsionado, com as meninas liderando agora os meninos em todos os quatro testes estabelecidos no ano passado”.

O melhor caminho para sair da pobreza é a formação. Esta foi a missão que muitos padres e missionários levaram a terras por onde passavam e passam: um bem à humanidade de que ninguém fala (Tenho colegas que admiro porque trabalham em países da lusofonia (3), oferecendo a sua vida e seu usufruto às populações com o mesmo espírito deste monge). Peter Tabichi considera o sucesso de seus alunos como seu estímulo pessoal; confessa: “ver como meus alunos adquirem conhecimento, habilidades e confiança é minha maior alegria. Quando eles se tornam criativos e produtivos na sociedade, isso também me leva a uma grande satisfação”. Faz lembrar a pedagogia salesiana de Dom Bosco.

O Presidente da República de Quénia, Uhuru Kkenyatta, elogiou o empenho do monge franciscano e disse: “Peter, sua história é a história da África, um jovem continente cheio de talento”.

O sacerdote, no seu discurso de agradecimento, prognosticou: “A África produzirá cientistas, engenheiros e empresários cujos nomes serão um dia famosos em todas as partes do mundo. E as raparigas serão uma grande parte da história.”

O padre acrescentou humildemente que só estava ali devido aos seus alunos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,