O PAPA FRANCISCO COMEÇA A PREPARAR A SUA RENÚNCIA E O SEU LEGADO

21 novos Cardeais no Vaticano dos quais 4 de Língua portuguesa e Canonização de dois Beatos

O Papa Francisco nomeou 21 novos cardeais (1), provenientes dos cinco continentes no sábado 27 de Agosto (2) . Cardeais são as pessoas mais importantes na Igreja Católica depois do Papa ao serviço da igreja universal e cuja missão principal é eleger o Papa. Dos novos cardeais apenas 16 terão direito a voto na eleição do novo papa; cinco dos cardeais nomeados recebem a dignidade cardinalícia honorária pois não podem participar no conclave (eleição de um novo papa) devido à idade (80 anos). Após a cerimónia, Francisco e os novos cardeais visitaram o Papa emérito (em 2013) Bento XVI na sua residência no mosteiro Mater Ecclesiæ no Vaticano. No total, o Colégio dos Cardeais é de 226 purpurados, dos quais 132 são possíveis eleitores no próximo conclave (eleição de um papa). Mais de 60% dos cardeais com direito a voto foram nomeados por Francisco (112 cardeais).

Depois da cerimónia de nomeação dos cardeais procedeu-se à votação da canonização (declaração de santos) do beato salesiano laico Artemide Zatti e do beato Juan Bautista Scalabrini, fundador de los Scalabrinianos!

Há quatro novos cardeais de língua portuguesa: D. Filipe Néri António Sebastião do Rosário Ferrão (69 anos), arcebispo de Goa e Damão; D. Virgílio do Carmo da Silva, arcebispo de Díli (55), e dois brasileiros – D. Leonardo Ulrich Steiner (71), arcebispo de Manaus e D. Paulo Cezar Costa (54), arcebispo de Brasília.

O Pontífice convocou também um consistório (reunião do colégio cardinalício) para 29 e 30 de agosto. Aí, os cardeais do mundo inteiro vão refletir sobre a reforma da Cúria romana na base da nova Constituição Apostólica do Vaticano, “Proclamai o Evangelho” (3). Será também uma ocasião para os cardeais se conhecerem mutuamente e poderem trocar ideias.

De notar que neste consistório participam tantos cardeais (eleitores) portugueses como alemães! Os três cardeais-eleitores portugueses são:  D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino e do lado alemão são D. Rainer Maria Woelki, D. Reinhard Marx e D. Gerhard Ludwig Müller

A nomeação dos novos cardeais revela a preocupação pela evangelização “no terreno”, sobretudo nas periferias e pequenas comunidades minoritárias que nunca tiveram cardeais (exemplo Timor), merecendo especial atenção a Ásia. Na nomeação dos novos cardeais estão representados 4 novos países: Mongólia, Paraguai, Singapura e Timor Leste. Assim passam a estar representados 89 países.

O cardeal agora nomeado mais jovem tem apenas 48 anos de idade e é o italiano Giorgio Marengo.

O Santo Padre dirigiu-se à cidade de L’Aquila celebrando missa na catedral (28.08) onde está sepultado o Papa Celestino V que resignou em 1294. Bento XVI, também visitou este lugar quatro anos antes de resignar. Este facto simbólico dá consistência a especulações de Francisco também tencionar resignar.

Sobre a sua renúncia, Francisco disse: “A porta está aberta… É uma opção normal… Sinceramente, não é uma catástrofe. Podeis mudar o Papa”. A experiência do pontífice com a última operação não o entusiasma a nova operação devido a efeitos secundários que a última anestesia deixara: “Não se brinca com anestesia”… “Todo o problema é a anestesia”.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

(1) Novos Cardeais: https://www.katholisch.de/artikel/39475-das-sind-die-21-neuen-kardinaele

(2) O bispo de Wa, Ghana, Richard Kuuia Baawobr, não pode estar por doença.

(3) Sobre a reforma da Cúria: https://antonio-justo.eu/?p=7236).

 

DEPOIMENTO DE DOIS MILITARES SOBRE A GUERRA

Guerra da Ucrânia: “Demasiado para morrer, demasiado pouco para viver”
O Coronel Markus Reisner (Viena, 17 de Agosto de 2022) faz um balanço interessante sobre a guerra:. “Na guerra, que tem sido travada como uma guerra de informação desde o início, é cada vez mais difícil acompanhar a situação. Novos acontecimentos, tais como o confronto entre a China e os EUA sobre Taiwan, dominam as primeiras páginas. As entregas de armas ocidentais que chegaram até agora significam que as forças armadas ucranianas têm “demasiado para morrer e demasiado pouco para viver”. Se os 16 lançadores múltiplos de foguetes do tipo HIMARS entregues a partir dos EUA obtiveram até agora um sucesso compreensível, coloca-se a questão: Porque é que os EUA não fornecem mais? Drones para reconhecimento de artilharia ou em operações “kamikaze”, aplicações de controlo de fogo de artilharia, mísseis de cruzeiro de precisão ou mísseis de médio alcance, reconhecimento por satélite e rádio apenas escondem o facto de que a guerra ainda está a ser travada com extrema brutalidade.
A guerra moderna é acima de tudo uma guerra para as mentes…. Os militares chamam a esta abordagem “guerra cognitiva”. Para o lado russo, o ponto decisivo do ataque é, portanto, a vontade do Ocidente de continuar a apoiar a Ucrânia. A Rússia está portanto a tentar enfraquecer esta prontidão em todos os domínios disponíveis (especialmente no espaço cibernético e de informação). A retirada de matérias-primas e as ameaças de armas nucleares são as armas aqui utilizadas para obter um efeito. O Ocidente, por outro lado, está a tentar atingir a coesão da sociedade russa. Os pacotes de sanções e as medidas económicas punitivas são concebidos para exercer pressão. A economia russa já está a sofrer grandes impactos. A questão é: irão ou não provocar uma mudança de comportamento? De momento, o sucesso decisivo não pode ser medido nem no campo de batalha nem em casa, o que torna claro que as armas na Ucrânia não ficarão em silêncio durante muito tempo.” O Artigo encontra-se completo em alemão em https://www.bundesheer.at/cms/artikel.php?ID=11511
Para se chegar a uma observação mais abrangente é necessário ver-se o que os nossos media propagam e o que outros também propagam. Neste sentido é interessante também o ponto de vista do Major-General Carlos Branco que procura referir o contexto que levou à intervenção directa russa:
“Esta guerra é fundamentalmente consequência de a obstinação de Washington querer integrar a Ucrânia na NATO, parte integrante do seu projeto hegemónico. Chamem-lhe autocracias, imperialismos, inventem as narrativas que quiserem. Mas é neste ponto que reside a coisa. Este conflito estava anunciado há décadas. Não por mim, mas por Kissinger, Mearsheimer, Stephen Walt, Keagan, muitos outros. Como, aliás, alguns setores liberais da elite russa que não se revê em Putin. “… A guerra na Ucrânia é uma condenável violação do Direito Internacional. Como são quase todas as guerras, tendo como referência a Carta das Nações Unidas. Como foram a invasão de Grenada (1983), o ataque à Jugoslávia (1999), a Guerra no Iraque (2003), a guerra na Síria (2011). O leque de violações não acaba aqui, curiosamente perpetradas sempre pelos mesmos… Iraque, em 2003.”…” A presente crise em que a humanidade se encontra, à beira de um confronto mundial, entre os EUA, Rússia e China, começou com o golpe de Estado de 2014, patrocinado pelos EUA (hoje Washington assume isso. Victoria Nuland e o embaixador americano andaram a distribuir sandes aos revoltosos em Kiev. A Sr.ª Nuland gastou cinco mil milhões de dólares na preparação do golpe. Na altura de escolher os ministros para o governo, mandou a Europa à fava) que substituiu um presidente democraticamente eleito, que defendia uma política de neutralidade (non block policy), por outro que abrisse as portas à entrada da Ucrânia na NATO, e voltássemos à estaca zero. Podia falar-lhe do dilema de segurança, das zonas de influência (teoria Monroe), segurança para uns, segurança para todos….” … a lei de 1.7.2021, “sobre os povos indígenas da Ucrânia”, disponível em https://zakon.rada.gov.ua/laws/show/1616-20#Text, que consagra uma política baseada na pureza racial da nação ucraniana em nome da superioridade genética dos ucranianos puros sobre os russos, considerados “sub-humanos”.
Sou do parecer que ouvindo uns e outros nos vamos preparando para sermos menos manipulados num sentido ou no outro e deste modo não nos tornarmos em propagandistas de um ou outro polo económico-político! Naturalmente, saber mais faz doer!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo

PARA DESENFASTIAR!

Recebi, enviado por e-mail  este texto de que não conheço o autor:

TENHO SAUDADES DOS TEMPOS EM QUE HAVIA GORDOS

“Tenho saudades dos tempos em que no Liceu havia ‘burros’, ‘gordos’, ‘caixa de óculos’, ‘sem sal’, ‘pretos’, ‘chineses’, ‘indianos’, ‘artolas’, ‘maricas’, etc. Os ‘burros’ chumbavam, não se tornavam doutores como hoje em dia. Mas a fasquia era definida pelo marrão da turma, não era nivelada por baixo como agora. Somos todos iguais diz-se.

Antes não parecia que fossemos, mas o ‘gordo’ também tinha notas brutais e ninguém sabia como, talvez porque não jogasse à bola, o ‘caixa de óculos’ tinha um sentido de humor inigualável mas não fazia corridas pois tinha medo de cair, o ‘preto’ jogava à bola como ninguém e fazia umas fintas inimagináveis, tinha um físico fora do comum, o ‘chinês’ tinha vindo de outra escola sabia à brava inglês, e tinha histórias que não lembravam a ninguém. Cada um tinha um «defeito», até uma alcunha, mas tinha ou lutava por ter também outras qualidades. Hoje não. Dizem que somos todos iguais. Agora, tudo ou é bullying, ou racismo, ou xenofobia, ou opressão, ou assédio, ou violência. Antigamente quando se era mesmo racista, levava-se um chapadão na tromba e aprendia-se logo que o ‘preto’ era como nós outros, apenas tinha côr diferente. E não era bullying. Era ‘aprendizagem on job’. Aprender assim era duro pois dói e não se esquece mais. E às vezes em casa com os pais também se ‘aprendia’.

O menino ou menina ‘sem sal’ passava despercebido(a) e sentia-se sozinho(a). Ter uma alcunha diferente era fixe. A diferença era vista com bons olhos.

E aprendia-se uma coisa importante: rirmos de nós próprios. E não chorarmos porque alguém nos chamou isto ou aquilo. Assumia-se a gordura, o ‘esquelético’, a ‘caixa de óculos’ e tudo o mais que viesse. Mas quando não se estava bem, quando não se gostava da alcunha, fazia-se uma coisa importante: mudava-se, lutava-se por acabar com ela. Não se culpava os outros nem a sociedade. Não se faziam ‘queixinhas’. E falhava-se. Muitas vezes. Mas cada vez que se falhava ficava-se mais forte. E sabíamos que era assim. Que havia uns que conseguiam, outros ficavam para trás, que havia quem vencia e quem falhava.

Agora não.

Todos somos iguais, há mesmo a chamada igualdade de género, todos somos bons, todos merecemos, todos temos as mesmas oportunidades, todos devemos até ganhar o mesmo, todos somos vítimas, todos somos oprimidos e todos somos parvos …. porque aceitamos este ambiente do ‘politicamente correcto’ sem dizer nada….. e até devemos dizer que somos ‘normais’.

Segundo o novo paradigma social, devem ter muito cuidado comigo, porque:

– Sou velho, tenho mais de 70 anos, o que faz de mim um tolo, improdutivo, que gasta estupidamente os recursos do Estado;

– Nasci branco, o que me torna racista;

– Não voto na esquerda radical, o que me torna fascista;

– Sou hetero, o que me torna um homofóbico;

– Possuo casa própria, o que me torna um proprietário rico (ou talvez mesmo um latifundiário);

– Amo foie gras, carne de caça, peixe do mar e cordeiro de leite, o que me torna um abusador de animais;

– Sou cristão, e embora não praticante, sou um infiel aos olhos de milhões de muçulmanos;

– Não concordo com tudo o que o Governo faz, o que me torna um reaccionário;

– Gosto de ver mulheres bonitas bem vestidas (ou despidas), ou super decotadas, o que me torna um tipo capaz de assediar;

– Valorizo a minha identidade portuguesa e a minha cultura europeia e ocidental, o que me torna um xenófobo;

– Gostaria de viver em segurança e ver os infractores na prisão, o que me torna um desrespeitador dos direitos “fundamentais” protegidos;

– Conduzo um carro a diesel, o que me torna um poluidor, contribuindo para o aumento de CO2;

Apesar de estes defeitos todos, acho que ainda sou feliz …era mais antes da pandemia…. mas mesmo assim e considero-me um ‘gajo normal’!!…”

 

DESTA VEZ A REVOLUÇÃO É GLOBAL E GEOESTRATÉGICA

Ministérios da Felicidade para Pobres e Carenciados

Num mundo em processo de ser dividido entre USA e Rússia/China já se faz sentir as consequências amargas para os povos e que se manifestam já na carestia dos produtos para o consumidor! Nos mercados, os preços já chegaram a duplicar. Os políticos da União Europeia, em vez de se manterem independentes e de defenderem o bem-comum do próprio povo decidiram abdicar da Europa e prejudicá-la em troca da dependência só dos EUA; isto equivale a um encarecimento brutal de todos os produtos dado o mercado começar-se a confinar aos próprios grupos fechados. Na Europa encontramo-nos no início de uma revolução provocada pelas elites político-financeiras em favor dos EUA e de multinacionais que operam a nível global. Desta vez a Revolução vem camuflada, vem das cúpulas da sociedade e o povo não reage porque os meios de comunicação social se transformaram em altifalantes das elites que nos regem.

 O cúmulo da catástrofe para o povo europeu seria se os EUA conseguissem da UE a mesma atitude perante a China que conseguiram dos políticos europeus em relação à Rússia. Indícios disso já se encontram na política americano-chinesa em torno de Taiwan. Encontram-se lá na mesma dança em que se encontravam Russos e Americanos na Ucrânia especialmente desde 2007.

Ai dos vencidos“, mais concretamente, “triste sorte aquela reservada aos derrotados”! Nesta guerra, entre as superpotências, os vencidos são o povo abandonado de todo o lado. Este mesmo povo que é incitado, dos dois lados, a ser, por decisão e condição, contra o outro povo irmão.

Porque não se criam gestores da felicidade da pobreza? Revela cinismo o sistema democrático que se limita a estruturar a riqueza e a gerir a pobreza num circuito em que o mais forte é compensado de forma desmedida com o que tira ao mais fraco e o tema da pobreza e do sofrimento humano é desviado dos holofotes dos interesses públicos.

Andamos a ser distraídos com narrativas da guerra e tudo a ver quem ganha à custa dela.  A opinião pública transmite-nos a sensação de nos encontrarmos do lado certo, independentemente da realidade factual. Essa satisfação, porém, impede-nos de ver os que de um lado e do outro não têm perspectivas, aqueles que não podem sair do circuito da pobreza e do sofrimento.

Aos pobres foi-lhes tirada a consciência do seu ser e do seu viver! Eles também não incomodam porque são arrumados de maneira a viverem, entre si, na periferia das cidades rodeados de mercados descontentadores e de burocracias cobertas de compaixão cínica. Num sistema que considera as pessoas irrelevantes precisamos de criar gestores da felicidade para os pobres!  Precisamos de muitas arcas de Noé que salvem o povo do dilúvio dos preços e da ganância das elites; precisamos de uma cultura, com lugar para pobres e crianças, onde a má sorte não se torne em fadário aceite (vive-se num sistema em que o bem estar de uns é conseguido à custa do mal-estar de outros quando um sistema justo deveria preocupar-se com o bem e o mal-estar repartidos. A cadeia do declínio social torna-se cada vez mais abrangente.

É verdade que não é fácil governar, mas uma democracia, que mereça o nome, não se poder permitir ver os seus cidadãos cada vez mais polarizados entre perpetradores e vítimas.

No nosso universo social reina a escuridão e, apesar de haver alguns luzeiros, a sombra da frustração escurece grande parte da população que não consegue passar a fronteira da pobreza. Muitos refugiam-se no reino da fantasia onde não haja o “em cima” nem o “em baixo” na procura de uma rota que navegue fora da frieza e da órbitra da crueldade. Embora na escuridão as sombras da realidade pareçam maiores do que são, é preciso resistir pois só na sociedade onde haja luta haverá desenvolvimento.

Precisamos de um ministério que junte os carenciados para que juntos construam um novo planeta com um novo percurso. Uma vez juntos sai-se da cidade em direcção ao interior onde juntos possam construir a própria aldeia onde a fraternidade teça mantos que a todos cubra. Longe da autocomiseração, é mais fácil conquistar o mundo; é preciso construir um novo planeta nem que seja só por algum tempo, doutro modo ficaremos prisioneiros da própria pobreza (material e espiritual) num planeta dos outros. É preciso fazer dos muros da masculinidade e das forças militares, planícies e vales femininos onde jorre a fertilidade e a fraternidade; vamos construir uma aldeia onde a feminilidade não emigre para as cidades ao preço de se tornar masculina. Temos vivido num planeta inflexível, na polis dos homens, longe das árvores e dos campos. Não chega perder-se no sentimento grato de se ser necessário socialmente…

A paisagem precisa de solo fértil, fora do alcatrão e do cimento, onde as plantas possam lançar raízes e as crianças não se firam no asfalto. A crença na própria força precisa de espaços com oxigénio onde o verde das árvores nos deixe pairar.

Ao deixarmos as ruas da cidade, onde as lanternas só deixam ver as sombras de pessoas envoltas em mantos escuros de silêncio, notaremos que nas aldeias as estrelas brilham mais.

No vazio da cidade o clochard (vagabundo) caminha à luz da iluminação do natal que no seu sobretudo cintila de maneira especial ao passar ao lado de vidas reunidas em família por trás das vidraças; ele passa a caminho da gruta onde, coberto de cartão de embalagem, vive com o cão sem máscara! O emigrante não segue as regras rígidas da cidade, ele aspira a viver sob o céu livre onde as estrelas alumiam os sonhos de vida, sonhos mais reais que a existência!

Há muitas máscaras na sua porta de papelão, que devem ser deixadas lá fora porque são sinal de domesticação. Dentro da sua gruta não há para-bocas.

À beira da Europa, à janela de Portugal avisto a saudade do mar e nela procuro ver o meu sonho a pairar! A Europa envelheceu e a vista da vidraça encontra-se embaciada!…

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo,

TURISTAS RUSSOS PARA PEQUIM EM VEZ DE PARIS E PORTO?

Falta um Painel de Política Europeia própria

Andrea Lindholz (vice-presidente do grupo parlamentar União CSU) declarou ao jornal alemão “Bild”: “Os destinos de férias, na Rússia de Putin, já não deveriam ser Paris nem Porto, mas sim Pyongyang e Pequim “. Já há países da Europa a boicotar turistas russos!

A impressão que se tem ao observar-se o activismo leviano dos nossos políticos em relação à Rússia e aos EUA é a de nos encontrarmos orientados por jacobinos ao serviço de poderes anónimos. A EU em vez de tentar resolver os problemas actuais, como interesseiramente faz a Turquia em relação à Europa e à Rússia, parece apenas estar interessada em humilhar a Rússia e os russos e em prejudicar a Europa.

Seria fatal impor uma proibição de visto aos turistas russos. Na Europa, (UE) pós ataque de Putin na Ucrânia, observamos uma política governamental que é principalmente ideológica em vez de se basear na ciência e nos factos.

Nas análises e na narrativa ocidental observa-se massivamente a defesa da perspectiva americana (escondida a pretexto da OTAN) notando-se a ausência completa de uma perspectiva europeia.

Os incidentes na Ucrânia e o boicote económico devem ser colocados num contexto completo e correto, ao contrário do que tem acontecido até agora. A unilateralidade apenas leva a uma escalada da violência e a indignação ritual celebrada pelos media concorre para o emburrecimento das populações indefesas. A União Europeia transformou-se em moça de recados dos americanos e esqueceu-se de formular uma política sob o ponto de vista europeu, naturalmente com interesses próprios, e em questões de geoestratégia até possivelmente contrárias aos dos EUA. A opinião pública ocidental tem sido orientada no sentido dos interesses dos EUA faltando a perspetiva europeia. Infelizmente também a Alemanha parece agora mais virada para o militarismo prussiano (ao serviço da OTAN e não da Europa), o que se revelará numa catástrofe para a Europa porque a Alemanha e a França seriam os únicos países capazes de levar a Europa a uma posição de defesa dos interesses europeus perante os interesses americanos. Os políticos americanos sob o ponto de vista dos EUA estão a fazer uma política inteligente na Europa em seu favor, instrumentalizando para isso também a OTAN.

O filósofo e escritor francês já previa a triste situação em que nos encontramos hoje: “A Europa aspira visivelmente a ser governada por uma comissão americana. Toda a sua política se dirige nesse sentido”. Bruxelas é de facto, cada vez menos europeia!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo