O pensamento está de férias em tempos emocionais

De um Lado a Ideologia “santificada” e do outro a Ideologia “correcta”

António Justo
Em tempo escuro, a sociedade moderna, ao luar da sua razão e da sua fé, só parece conhecer pecadores e puros.(1) A paixão pelo preto e branco deixou de reconhecer as cores do arco-íris conduzindo a sociedade à loucura.Vivemos numa sociedade caricata a viver de meias-verdades e a vendê-las como verdades inteiras.

A pressão do pensar politicamente correcto (2) é hoje de tal ordem que até gente académica, quando ouve falar das barbaridades, cometidas por extremistas islâmicos logo reage referindo a violência praticada pelos cristãos através da “Inquisição” como se, no caso, o que estivesse em causa fosse o cristianismo ou o islão, como se os problemas inerentes à governação pudessem ser desculpados com a religião, ou com histórias dum passado não evoluído. Colocam-se as religiões como centro do furacão, quando o problema mais que religioso, no que diz respeito ao islamismo em via nos países europeus, é um fenómeno social consequência das políticas sociais, económicas e de imigração assumidas pelos Estados depois da segunda guerra mundial e ao mesmo tempo um problema acentuado com a queda da União Soviética.

A política falhada, o jacobinismo de ideologias combativas na opinião pública, a situação miserável de bairros sociais degradados são cenários que preparam uma sociedade minada. Os jovens que iniciam uma carreira terrorista e se deixam recrutar para a guerra islâmica fazem-no porque se sentem fazer parte de um grupo socialmente desfavorecido e porque têm a percepção pessoal de injustiça na política. Sentem-se vítimas da sociedade e como tal, ao não fazer parte dela, não encontram motivos para se identificarem com ela. Vêm geralmente de famílias débeis e de bairros de segregação social. Os jihadistas são produto da nossa sociedade que é secular; discriminação social fomenta o fanatismo. A luta por uma causa grande dá-lhes personalidade e respeito. Quem não tem nada a perder encontra na luta uma perspectiva ou uma saída para a vida.

Desde 2011, os terroristas adoptaram a tática de alvos de assassínio específicos conseguindo atingir o nervo da sociedade de modo a provocar nela mais agressão contra os muçulmanos e deste modo levar os muçulmanos a fanatizar-se e assim a identificarem-se mais com os terroristas.

Por outro lado os crentes do pensar politicamente correcto consideram o islão tabu bem como os temas de imigração e se alguém colocar perguntas legítimas sobre os guetos muçulmanos e o fundamento do terrorismo islâmico logo é apedrejado com o burgau de racista, intolerante, nazista. Há que distinguir entre as tendências estratégias da cultura árabe por hegemonia e os conflitos de origem religiosa e secular que se originam no meio das sociedades ocidentais.

Na opinião pública encontram-se muitos orientadores de diálogo inter-religioso, vítimas do “pensar correcto”, que parecem sofrer do complexo de paternalismo ou de inferioridade no diálogo com o islão, ao encararem o parceiro dialogante com desculpas de mau pagador (como se houvesse a proibição de pensar um pouco mais além do que a delicadeza permite), ou por razões de ofício e ao equacionar os problemas inerentes à sociedade como problemas religiosos sem tocarem a auto-compreensão subjacente à filosofia islâmica, a luta entre as civilizações, as diferentes sociologias e antropologias.

Querer hoje desculpar as barbaridades dos terroristas islâmicos com as barbaridades da “inquisição” onde Estado e Igrejas lutavam contra ideias novas, é subestimar o que acontece hoje com as barbaridades islâmicas não só pelo desfasamento histórico mas pelo facto de então não poder ser ninguém condenado sem primeiro ser submetido a um processo do tribunal da “inquisição„ o que, apesar das barbaridades da inquisição, significou um progresso para o tempo, em termos de desenvolvimento do Direito, dado o indivíduo passar a ter direito a um processo com julgamento. O islão é hoje tão responsável pela violência que acontece em seu nome, como o foi a antiga cristandade pelos crimes que operava com a inquisição.

Como a religião não deve justificar o terrorismo, a instituição religiosa deveria reinterpretar frases do Corão e das Adith (numa linguagem compatível com os tempos modernos e sem bajulação da modernidade) para ninguém poder argumentar que o que faz em nome de Alá. No máximo poderia fazê-lo em nome do seu Alá mas não em nome ou defesa do Islão. (Aqui é bom mencionar a atitude exemplar de Francisco I, também em relação a outras religiões; o Papa coloca, a nível social, como primeira prioridade das religiões fomentar a paz social e internacional, mesmo correndo o perigo de descontentar pessoas orientadas por princípios dogmáticos).

O recurso directo ao Corão ou às Hadith / Hadiz do profeta para justificar, a guerrilha torna-se compreensível numa estrutura muçulmana religiosa, que prescinde de um organigrama institucional central responsável e, como tal, incontrolável e presente em todo o lado, sendo inviolável a nível global.

Num ambiente de desorientação e de incapacidade, uns argumentam que falta um papa ao islão, e uma interpretação teológica geral e por isso cada líder ou grupo pode declarar guerra em nome do Corão. É porém também um facto que os protestantes, não tendo organização central, não se servem da guerrilha; o mesmo se diga do judaísmo ou do budismo. Os muçulmanos fundamentalistas, na falta de estruturas centralizadas do poder, mais afincadamente se agarram às escritas do Corão, às Hadiz e à sharia. Muitas vezes não será tanto a crença que os move mas a vontade de um poder incapaz que, ao não encontrar refúgio na fé, se apoia, desesperadamente, na violência da guerrilha (3). Também pode encontrar-se na motivação o reconhecimento que na luta, a nível de argumentos perderiam, pelo que importa apostar na violência.

Um estado moderno não se pode defender do terrorismo porque a única maneira de o combater seria a ditadura. Por outro lado o islão é um sistema completo (não separa o poder secular do poder religioso) e encerrado em si, vê-se confrontado com uma sociedade aberta de governo democrático mas mais decadente e como tal sem resposta para um islão inseguro.

A sociedade islâmica precisa de muitos grupos que reconheçam, “Nós devemos revolucionar a nossa religião”, como apelou o presidente egípcio Al-Sisi at Al-Azhar .

A sociedade ocidental também se encontra num estado crítico e precisa de grandes correcções. Os valores ocidentais não se deixam reduzir à vontade de maiorias democráticas, como demonstrou o final da República de Veimar, nem tão pouco a assombrosas manifestações sobrecarregadas de sentimento, como a de Paris. O princípio da maioria deve ser acompanhado e sempre corrigido pela consciência da liberdade em conexão com outros valores e dos direitos humanos individuais inalienáveis. O estado secular, sem se tornar religioso, deveria redescobrir os fundamentos da sua civilização e deixar de os combater.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

(1) Também muitos jornalistas sentem a pressão do pensar correcto, além de, como profissionais, sentirem responsabilidade social não tocando determinados temas para não correrem o perigo de serem utilizados no sentido de apoiarem movimentos populistas que muitas vezes generalizam e não diferenciam.
(2) Um exemplo de tabus do pensar politicamente correcto: Se uma pessoa disser “na Arábia Saudita prevê-se a pena de morte para quem for apanhado com uma bíblia, e também quem se converter a outra religião está sujeito à pena de morte”, o argumento motivador do diálogo em pensar correcto será “sim, mas na idade média havia pessoas condenadas à fogueira por razões de apostasia. Uma simples informação provoca o medo de saber.
(3) Muitos jovens muçulmanos encontram-se na parte sombria da vida sem perspectivas de futuro material e humano, vendo por isso a oportunidade de dar sentido à própria vida dedicando-se a uma missão considerada nobre como a de fundar o Estado Islâmico. A UE tem mais de 4000 jhiadistas a combater pelo Estado Islâmico, quando o Egipto não gera sequer a metade.

FALÊNCIA DO MODELO RELIGIOSO E DO MODELO SECULAR?

Republicanismo e Terrorismo em Luta contra a própria Descrença
Atentado de Paris – Cultura árabe e sua Ficção em Efervescência

António Justo
O mal é como o cuco; procura ninhos alheios onde coloca os ovos que outros chocam.

Não nos encontramos num conflito religioso como a república, o cinismo ou a ingenuidade da ‘correcção política’ nos quer fazer entender; trata-se, por um lado, de um confronto de culturas em que uma cultura árabe, através da religião, quer afirmar a sua supremacia geoestratégica contra outras supremacias e mundivisões; trata-se da falência de uma política ocidental de estratégica errada que tem desestabilizado o mundo árabe e as sociedades ocidentais e trata-se por outro lado dos paradigmas da ciência (razão) e da religião (sentimento) falidos que se confrontam num estado secular vazio e desautorizado.

Estados malcomportados recusam-se a encarar as consequências das suas ideologias, políticas económicas e realidades sociais por elas criadas, pensando que os problemas com que se debatem se podem iludir e adiar, bastando para isso qualificar o efervescer da sociedade como conflito religioso ou como uma questão de estrangeiros, extremistas e racistas descontentes. Isto não passa de uma impostura fraudulenta, de que a república secular se serve, para jacobinamente desacreditar a religião dos seus cidadãos para melhor poder continuar a desobrigar-se num modo de vida ad hoc.

O cerrar fileiras da classe política europeia e o sucesso da “marcha republicana” de Paris, não nos pode iludir do facto que os modelos da religião, da ciência e da política falharam, encontrando-se a sociedade no início de um caos de guerrilha e de asilo interior. Profanaram o templo do povo e agora andam à procura dos cacos!

O Ocidente perdeu o sentido, não me refiro ao religioso; perdeu o seu tecto metafísico, abusou de si e dos outros; agora colhe os frutos do que plantou.

A alienação ideológica, religiosa, secular, científica e política, em que se tem vivido, demole todos os padrões acabando na autodestruição. Na falta de sentido e visão global da vida, resta a guerrilha da opinião em nome de não importa o quê. Uns combatem em nome da república contra Deus, outros em nome de Deus contra a república, cada qual atrás da sua bandeira, sem contar com o próximo. Chega a ter-se a impressão que um estado ou uma religião que prescindisse de combater perderia os seus heróis e os seus santos/mártires.

Numa sociedade moderna estressada, tudo passa a ser soldado num campo de batalha em que todos se provocam; os caricaturistas lutam pela liberdade, os islamistas combatem pelo seu Maomé e os tolerantes lutam contra a intolerância dos intolerantes. Na nossa luta pelas verdades republicanas tudo se julga bom sem notar que justifica a luta pela luta e procura o sentido nela.

Se se observam as coisas mais de perto, pode chegar-se à conclusão que o combate é o mesmo e tem a mesma fonte: islamistas e caricaturistas combatem a própria incredulidade. Os radicais da república, da liberdade ou da religião têm problemas de balance, faltando, na sua personalidade, o equilíbrio entre sentimento e razão, passando assim a um estado de recalcamento, nuns da religiosidade (afecto), noutros da racionalidade. E como racionalidade e afectividade não se juntam o homem combate-se a si mesmo.

Na Europa o povo sente-se inseguro; não se sente levada a sério pela classe política e tem medo de falar espontaneamente porque o seu falar pode não corresponder ao pensar politicamente correcto que determina o que é opinião boa ou opinião má e isto tem consequências drásticas imediatas no seu ambiente de convívio, porque, de repente, pode ser deitado ao ostracismo, pelo simples facto de pensar diferente da manada ou dos seus diferentes pastoreios. O pensar politicamente correcto, tem medo do pensamento diferenciado e, para manter a sua hegemonia, logo coloca uma opinião não conforme, na esquina ou cena dos extremistas de direita ou de esquerda. Isto acontece na escola, entre colegas docentes, entre amigos ou conhecidos e em meios sociais como Facebook, etc. Deste modo se evita uma maneira de estar racional e humana porque evita o pensamento logo à partida e impede a prática da tolerância.

Por todo o mundo há incêndios e incendiários mas a sociedade encontra-se à chuva e o busílis é que ninguém sabe onde abrigar-se. O que a sociedade civil critica na sociedade árabe, como a prática do gueto, pratica-o ela mesma, na medida em que cria os seus guetos de opiniões e mentalidades cerradas (partidárias, religiosas, ideológicas) numa sociedade declarada aberta mas com carris ideológicos que determinam o desencontro das pessoas.

Por vezes tem-se a impressão que, na opinião pública, estados laicos se servem do islão e da religião para segundas intenções. Onde se procuram culpados não se procura solução; ao poder interessa manter as massas distraídas e em filas para que uns se contentem com o ter razão e outros com ter o poder.

A classe política, em muitos sectores, brinca com o fogo, contentando-se com o rumor do ventre da sociedade que se expressa em posições antagónicas de grupos, por vezes direccionados, que se desqualificam uns aos outros e deste modo ilibam os governos de responsabilidades. Além de não saberem lidar com sentimentos só sabem enquadrar a realidade em termos alternativos de sim-não e de ou-ou.

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António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

SALÁRIO MÍNIMO NA ALEMANHA

Não há regra sem excepção

António Justo
Com o início de 2015 passou a haver em toda a Alemanha um salário mínimo de 8,50 euros ilíquidos por hora. A lei que regula o salário mínimo geral na Alemanha, encontra-se em http://www.gesetze-im-internet.de/bundesrecht/milog/gesamt.pdf.

A lei é favorável, para muitos trabalhadores até agora desprotegidos, porque não havia uma lei do salário mínimo que os defendesse e é desfavorável, para certas empresas que não podiam ou não queriam pagar mais. Segundo investigações recentes 13% dos trabalhadores recebem salários que estão abaixo de 8,50 €.

A lei comporta algumas excepções porque a Alemanha é muito diferenciada em regulamentos não só tarifários como também regulamentações de estado para estado e em certos sectores até de comarca para comarca.

 

Exceptuam-se desta regra trabalhadores que vêm do estrangeiro segundo a lei AentG (1) e alguns acordos colectivos com ordenados inferiores aos 8,5€/hora bem como certos casos específicos.

Estão exceptuadas também da lei do salário mínimo, pessoas menores de 18 anos sem diploma profissional (assim se pretende motivar os jovens a tirar uma profissão ou a estudar); excluem-se também da regra os desempregados de longa duração, estes, durante os primeiros seis meses, não têm direito ao salário mínimo (isto, segundo o legislador, para estimular patrões a dar emprego a quem se encontra desempregado há mais de um ano); exceptuam-se do salário mínimo também os voluntários e estagiários em formação. Também quem faz um estágio voluntário que não ultrapasse os 3 meses, não tem direito ao salário mínimo (cf. http://www.mindest-lohn.org/).

A partir de 1 de Janeiro de 2017, o salário mínimo legal passa a não comportar nenhuma restrição em toda a Alemanha. Quem se desejar informar mais concretamente pode telefonar para o Ministério do Trabalho para o número de telefone 030 60280028. Sobre o assunto informam também as Câmaras municipais, a Caritas, Consulados, Câmaras do Comércio e da Indústria, Sindicatos e outros.

A lei parte do princípio de que quem trabalha deve receber um salário pelo seu trabalho que chegue para cobrir as despesas do que precisa para viver com um mínimo de dignidade humana.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo

(1) Como constato bastante desinformação sobre o assunto no Facebook, resolvi escrever este e outros artigos sobre o assunto e similares. Quem vem para a Alemanha deveria saber antes o que o espera, além de já ter algumas luzes em alemão. O domínio da língua é o pressuposto para a independência e sucesso.
ASSISTÊNCIA A PESSOAS IDOSAS ENCAMADAS: Passo a referir um caso de empregadas que vêm do estrangeiro por um tempo determinado trabalhar para a Alemanha para assistir a pessoa idosas a viver na própria casa. Num caso em que me empenhei tratava-se de uma família com casa geminada pertencente a duas pessoas idosas (uma delas encamada). Contactei uma organização especializada em arranjar pessoas da Polónia e da Chéquia preparadas para a referida assistência. No caso a pessoa tinha um quarto na casa e cuidava de tudo, tendo direito a estadia e alimentação e a receber 1700 €. Se se tratasse de uma só pessoa a ser assistida seriam 1500€ mensais. Na Alemanha muitas pessoas não querem ir para o lar de idosos e socorrem-se desta medida. O Seguro de Assistência a idosos ajuda a suportar os custos. Devo dizer que a organização era séria e legal.

2014 O ANO DA VIRAGEM PARA O INCERTO – UM ANO DE CRISES MÚLTIPLAS

Guerra na Europa – Terrorismo do Estado Islâmico pior que o Nazismo

António Justo
Se passarmos em revisão o ano 2014 notaremos que foi um ano de surpresas e mudança. A guerra também voltou à Europa.

Neste centenário da primeira guerra mundial com 18 milhões de mortos dá-se início aos vícios do século XX: Kiev, Krim, o inferno da Síria e do Iraque são o melhor exemplo disso e preparam uma nova era também na cena política internacional. Países fronteiriços da Rússia revelam-se como palco para motejo entre a Rússia e o Ocidente.

No Iraque e na Síria instala-se um estado de terror ainda pior que os de Hitler e de Estaline. Fenómeno novo preocupante e indicativo da globalização do terrorismo revela-se o facto de os terroristas islâmicos serem recrutados também das cidades de Estados de direito como a UE.

A Turquia (membro da nato) torna-se mais islamista e dá cobertura ao terrorismo sunita na Síria e no Iraque, a que os curdos resistem com a esperança de a História lhes vir a fazer justiça e lhes reconhecer posteriormente o direito à sua nacionalidade, ao estado do Curdistão. (Este será o próximo conflito!). A política internacional aceita a destruição de um estado antes multicultural como era a Síria, e em conivência com a facção muçulmana sunita (turca e saudita) contra a facção xiita (iraniana) aceita dividir a região em território sunita e xiita deixando também o problema do Curdistão para as calendas gregas. O ocidente apenas reage mas sem um conceito integral; a liga árabe não está interessada em consenso. A ONU reflecte a divisão dos estados e dos interesses.

A Alemanha prefere dedicar-se ao negócio económico e falar da solidariedade dos outros países europeus no que toca à distribuição dos refugiados. Entretanto cresce na Alemanha o desejo de participar mais activamente nas intervenções militares de conflitos mundiais. Isto significará o acréscimo de poder também militar não só da Alemanha mas também da Europa. Em 2014 cria-se a necessidade de intensificar o armamento. A Alemanha inicia uma nova política e a NATO forma uma nova tropa de reacção; a polícia e os serviços secretos de informação preparam-se para piores tempos ao constatar o terrorismo extra e intra muros. Por isso a Alemanha cala os casos de espionagem dos EUA na Europa.

O apoio russo aos separatistas do leste da Ucrânia (invasão) e a sua anexação da ilha krim na Rússia criam uma nova situação na Europa. A Ucrânia que tinha entregado as armas nucleares à Rússia em 1994 pensava, com isso, adquirir a sua independência e integridade territorial. A Rússia sente-se ferida nos seus interesses fronteiriços com a NATO e parece encetar um caminho imprevisível.

Sansões contra a Rússia provocaram uma crise económica na Rússia com consequências negativas também para a economia ocidental.

Putin considera a queda da União Soviética como “a maior catástrofe geopolítica do século XX”. Não aceita que as fronteiras da NATO se tornem as fronteiras da Rússia, o que vai levar a NATO à corrida às armas. Um caso bicudo de resolver também devido à falta de entendimento entre os países europeus.

Os EUA espionam os amigos, porque consideram prioritários os interesses políticos, económicos e de defesa. A crise da UE vai-se arrastando.

Milhares de refugiados da guerra e da miséria morrem no mediterrâneo e muitos milhares encontram refúgio entre nós.

A sociedade não se encontra preparada sequer para reconhecer os perigos e conflitos que ela mesma anda a chocar. Tem medo de imaginar e analisar cenários possíveis porque muita da nossa inteligência política foi formada numa mentalidade polar ou da guerra fria.

Os cristãos tornaram-se nas maiores vítimas da modernidade; em cada cinco minutos que passam é morto um cristão. Hoje tornou-se moda atacar os cristãos. Até quando surge um comentário sobre o terrorismo árabe logo surge uma resposta desculpante ou desviadora do assunto para canto, com o argumento de que os cristãos também já perseguiram com a inquisição ou caça às bruxas. 400 milhões de cristãos encontram-se ameaçados e 100 milhões sofrem violência directa (massacres, aprisionamento, marcação das casas onde vivem cristãos com o nome nazareno, pagamento do imposto de cabeça – por cristão, como era costume durante a ocupação muçulmana da Península Ibérica, etc.) . As igrejas do ocidente não reagem porque se encontram preocupadas com problemas de umbigo e sob o pensar correcto que domina a imprensa e a política ocidental.

O Ano 2014 não será para esquecer pelas consequências das tragédias nele iniciadas ou acentuadas a nível internacional.

Portugal encontra-se ainda em estado de excepção dado estar submetido a um regime especial de poupança; a confiança do cidadão na política está de rastos, o combate à corrupção encontra muita resistência por parte de poderes enredados e instalados.
2015 não parece prometer muito, resta-nos a esperança.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

Pegida é uma manifestação popular contra a islamização da Europa

A Alemanha sai à Rua com Medo do Islamismo – uma Iniciativa que pode fazer Escola na UE

António Justo
Em muitas cidades alemãs reúnem-se, às segundas-feiras, milhares de manifestantes protestando contra a “islamização do Ocidente”. Sob o nome Pegida (Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente) são regularmente organizadas manifestações; entre outras, a de 15.12.2014, em Dresden contou com 15 mil manifestantes, cidade onde o movimento tem mais expressão.

Fenómeno novo é o facto de a organização e participantes advirem do centro da sociedade. Há um medo difuso que a “Alemanha se abula a si mesma” (Jardins infantis que deixaram de festejar o S. Martinho e lugares em que os tradicionais “mercados de Natal” mudam o nome para “Mercados de Inverno” supostamente para não ferir os sentimentos islâmicos). Desde que a Alemanha também começou a produzir islamistas (550 a combater pelo Estado Islâmico), a sociedade tornou-se mais inquieta, embora a polícia alemã tenha tido até agora conseguido impedir casos de terrorismo interno. É um facto que os extremistas islâmicos têm interesse em dividir as sociedades porque assim torna-se mais fácil para eles motivar e recrutar prole para as milícias terroristas do Estado Islâmico.

Segundo dados oficiais das estatísticas alemãs, em 2013 viviam na Alemanha 16,1 milhões de imigrantes (e descendentes) o que corresponde a 20,5% da população. Cerca de 4,3 milhões são muçulmanos, sendo de origem turca 2,5 milhões. 9,7 milhões de estrangeiros têm nacionalidade alemã ou dupla nacionalidade. Em 2013 imigraram 465.000 para a Alemanha. Além disso em 2013 entraram 110.000 solicitantes de asilo. Em 2014, até novembro, foram registados 155.427 solicitantes e destes foram reconhecidos como refugiados 26.842; muitos dos não reconhecidos continuam a viver na Alemanha.

Embora os alemães façam muito pelos refugiados, o povo começa a insurgir-se contra a islamização do país, também porque este é o grupo que mais exigências especiais apresenta e porque não é propriamente possível ter-se conhecimento sobre a sua vida nos guetos. Radicais salafistas apoiam o Estado Islâmico enviando extremistas alemães para a “guerra santa”.

Paralelamente às manifestações de Pegida são organizadas contramanifestações de outras organizações. Um conflito de potenciais imprevisíveis! Segundo um inquérito 49% dos alemães mostra compreensão pelas manifestações de Pegida.

A classe política está preocupada pelo facto de se poder organizar uma corrente desestabilizadora da política e dos partidos. Por enquanto, estes apelam a que não se deixem infiltrar por forças da extrema-direita. A política tem dormido e permitido a formação de verdadeiros guetos que, também devido à criminalidade entre solicitantes de asilo leva muitos a questionar-se se entre eles não há terroristas. Para complicar, também há alemães que vivem em certas regiões e se sentem como estrangeiros no próprio país. Por outro lado a Alemanha, devido ao trauma da guerra, tem muito medo e com razão, de movimentos populistas.

Razões para preocupação causam também os neonazis que se podem sentir estimulados com manifestações do género (numa casa prevista para refugiados deu-se um fogo com prejuízo de 700.000€ e que se presume ter sido fogo posto). Medos difusos e o medo dos guetos islâmicos parecem justificar a expressão popular de uma sociedade que até ao presente não se preocupou com uma política de imigração séria e em que as muitas mesquitas (na Alemanha há 326 mesquitas e cerca de 2.600 casas de culto, bem como inúmeras chamadas “mesquitas de quintal”) não têm uma panorâmica sobre os seus frequentadores. Os políticos terão de pensar mais sobre a política de imigração se querem servir melhor os imigrados e a população em geral.

A Alemanha tem um problema que a política e os meios de comunicação social reprimiram pois contentavam-se com a designação de racista para quem se manifestasse criticamente contra certas protuberâncias sociais. Com o surgir de Pegida, esta receita, tal como fazer tabu de temas não chegará. Agora que surge uma inflação de manifestações em muitas cidades, admoestando para o perigo da infiltração islâmica, a sociedade-bem envergonha-se sem saber como reagir.

Parte da sociedade maioritária sente-se ameaçada pelo desenvolvimento e pela acção de grupos extremistas muçulmanos. Tipicamente, os vários grupos sociais, em vez de encarar objectivamente o problema, no sentido de dialogar em vez de julgar, opõem-se uns como manifestantes e outros como contramanifestantes, uns contra os outros, com se cada grupo quisesse, à sua maneira, salvar a nação. Este encontro na rua de grupos contrários pode contribuir para a escalação de uma potencial de violência latente há muito reprimido, devido principalmente ao facto de a política ter dormido sem dar resposta para problemas pendentes. Seria irresponsável desqualificar as manifestações como resultado do medo perante culturas estranhas. Este é um processo que, a não ser encarado objectivamente atingirá toda a Europa e simplesmente pelo facto de antes ser um problema reduzido à classe desfavorecida e agora se tornar num problema da classe média, isto é, do centro da sociedade. O medo dos retornados da “guerra santa” excita o espírito de muitos que querem, em paz, conservar os bens e os direitos adquiridos.

Parte dos manifestantes querem ajudar os refugiados muçulmanos, outros têm medo deles devido à sua quantidade e coesão social e outros ainda da extrema-direita e da extrema-esquerda e de permeio Hooligans e fanáticos querem desacreditar as manifestações; entre eles também os há que se misturam entre os manifestantes com a única intenção de fazer barulho e desestabilizar o Estado. Expressões infelizes de representantes islâmicos onde se afirma que a Alemanha é contra o islão juntam mais fogo à chama da irracionalidade. De facto a Alemanha respeita o direito a manifestações e muitos manifestantes da Pegida são cidadãos conscientes e pessoas de boa vontade. De facto, muitos dos manifestantes em algumas cidades fazem parte do resto da sociedade, e o que move muitas pessoas é o medo do seu futuro dado este mostrar-se cada vez mais incerto para muitos e a Alemanha não ter uma política de imigração definida como acontece nos USA e no Canadá. Outros ainda não percebem a razão por que os pretendentes a asilo se dirijam sobretudo para a UE e não em direcção aos países ricos árabes.

Pegida é um fenómeno muito complexo para poder ser equacionado em sentenças políticas. Trata-se, na sua maioria, de ”cidadãos preocupados”; muitos sentem-se estrangeiros na própria terra, ou não vêem as suas preocupações tomadas a sério pela política. Todos os grupos sociais deveriam entrar em diálogo e não só para fazer reivindicações. O facto de em Dresden ter havido 15.000 manifestantes na última segunda-feira preocupa a chanceler alemã que não quer ver “arremetidas” ou propaganda contra estrangeiros que são bem-vindos à Alemanha. Por parte da opinião pública alemã, das igrejas, partidos e organizações há grande apreensão e receio sobre as consequências de um tal movimento que pode servir grupos extremistas.

Deste modo, os terroristas conseguem, com a sua estratégia, em nome do Islão destruir estados africanos e ao mesmo tempo começar a desestabilizar uma sociedade europeia tradicionalmente consensual.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu