O ATENTADO NA CATEDRAL DE NICE “NÃO É LUTA DO ISLÃO CONTRA O CRISTIANISMO”!

Da necessidade da mudança de uma política multicultural para uma política intercultural

Por  António Justo

Esta é a terceira vez que terroristas muçulmanos, desde 2015, atacam a França causando um total de 270 pessoas mortas.

Desta vez o atentado islâmico não teve como objetivo atingir a Escola francesa, mas sim a Igreja: Dois símbolos importantes da civilização ocidental, odiados pelo radicalismo islâmico! O assassino tunisino de 21 anos, Brahim Aoussaoui, chegado à Europa a 20 de setembro através da ilha italiana de Lampedusa, realizou um ataque à Catedral de Nice (pelas 9 horas, 29.10.2020). . Esfaqueou várias pessoas e vitimou mortalmente, duas mulheres e um homem (uma das mulheres, Simone Silva, era uma brasileira imigrada há 30 anos); uma das mulheres foi degolada; o assassino gritou várias vezes “Alá é grande”!

No mesmo dia à noite, no Hermannplatz, Neukölln, em Berlim, cerca de 150 pessoas, na sua maioria homens fizeram uma manifestação contra políticos acusados pelo presidente turco de islamofobia.

O atentado de Nice aconteceu na sequência de o Presidente turco, Erdogan, ter difamado o presidente francês (e acusado políticos ocidentais de islamofobias) e ter ainda apelado aos seus correligionários para boicotarem produtos franceses (1).

Na sua crueldade, o acto lembra um ataque numa igreja em Saint-Etienne-du-Rouvray na Normandia em julho de 2016, pelo qual o “Estado Islâmico” Terormiliz tinha assumido a responsabilidade. Nessa altura, um assassino cortou a garganta do clérigo Jacques Hamel, de 80 anos, na igreja.

No dizer do bispo do Porto “o atentado, na catedral de Nice, não é luta do Islão contra o Cristianismo”! O bispo quer assim impedir que haja cristãos que desenvolvam agressões contra o islão e afastar a ideia que alguns poderiam ganhar de que haja guerra entre religiões.

Trata-se, porém, de um atentado contra a cultura ocidental, em nome do Islão com o grito “Alá é grande „e, como tal, supera também o significado religioso. Estamos numa era de passagem da luta territorial entre nações para a luta de guerrilha entre culturas e ideologias (isto também no sentido de uma perspectiva globalista favorecida já não pela guerra, mas pela guerrilha). O atentado, ao ser perpetrado numa catedral, é também contra o cristianismo, dado este ser tomado como o símbolo da cultura ocidental! Os islamistas lutam aqui pela supremacia da cultura árabe e incomoda-os profundamente certos valores ocidentais (“valores republicanos”). Também há responsáveis muçulmanos que acusam o Cristianismo de ser conivente com um Estado secular que consideram antirreligioso. Aqui será de todos, independentemente do aspecto secular ou religioso de cada um, se erguerem contra a barbaridade que persiste em ameaçar a Europa e nela todos os seus habitantes. Seria lamentável se grupos oportunistas se aproveitassem para justificar o caso, com comparações de outrora que não têm nada a ver com o caso.

A postura de Macron relativamente aos cartoons controversos sobre Maomé, por um lado foi boa na medida em que defendia valores humanistas ocidentais e a necessidade dos muçulmanos se integrarem, mas não foi cautelosa ao ser feita de maneira a ferir ou ofender os sentimentos religiosos dos muçulmanos! Que a nossa liberdade se tenha habituado a ridicularizar Jesus Cristo, o Papa e outros símbolos cristãos, isso deve ser visto como abuso e também como tolerância/indiferença dos cristãos em relação à ofensa dos seus símbolos, mas não justifica o hábito de ridicularizar os símbolos ou crenças de seja quem for! Também Macron terá de aprender que religião não é igual a religião! Como chefe de Estado deve cumprir o dever de defender a república e os cidadãos de um extremismo islâmico que é sistémico! Este dever está em falta na União Europeia! Respeitem-se os muçulmanos, mas ponham-se as rédeas ao Islão que é uma religião essencialmente política (religião pacífica nas suras escritas em Meca, e religião radical e do poder político manifestado em muitas passagens (suras) do Corão escritas a partir de Medina ano 622).

Este é o terceiro ataque em dois meses, em França. Na sequência do ataque o primeiro-ministro francês, Jean Castex, elevou o nível de alerta terrorista em todo o país, para o nível “emergência atentado”. A segurança de edifícios, transportes e locais públicos foi elevada de maneira a serem colocados 7.000 militares nas ruas!

A política europeia multicultural, até agora seguida, manifesta-se como falhada, ao defrontar-se com uma cultura de tendência hegemónica. Daí a necessidade de uma política intercultural para se evitar a preparação de guerrilhas resultantes de um multiculturalismo desregulado num determinado biótopo cultural. Interculturalidade, complementaridade, bilateralidade e transversalidade são os elementos possibilitadores de paz e de futuro sustentável

Desta vez como de outras a culpa não será do electricista!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

  • (1) O PRESIDENTE TURCO DUVIDA DA SAÚDE MENTAL DO PRESIDENTE FRANCÊS, em Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=6167

 

 

CONCEPÇÃO MATERIALISTA DA HISTÓRIA NO GOSTO DO TEMPO (ZEITGEIST)

Amarrados à Corda do Tempo passado e futuro (Divididos pelo Tempo cronológico)

António Justo

A Ideologia do Progresso é uma concepção materialista da história, que tem consequências enganosas para a prática social e individual; na sua concepção política, segue a estratégia, de criar uma consciência revolucionária de classe socialista materialista, incidindo para isso, sobretudo, no âmbito dos pelouros da Justiça, da Educação e dos Media. Para se tornar mais acessível às pessoas, a consciência revolucionária de classe é embrulhada num idealismo internacional militarista de fervor quase religioso, tendente a substituir qualquer metafísica por um panteísmo imanente (de oceano em que a pessoa passa a ser apenas gota)! Também o capitalismo segue a ideologia do progresso tecnológico e de um consumismo fomentador de sempre novas necessidades num ser humano que se quer sobretudo cliente e consumidor!

Quer-se que o medo substitua a esperança, dado este ser mais adequado ao projecto de construção de uma sociedade funcional de progresso técnico-materialista que reduz a pessoa humana a uma peça ou ao nível dos instintos.

Pouco a pouco e sem se notar, a sociedade passa a ser transformada numa mera classe de consciência marxista-leninista de embrulho socialista, a ser movida num contínuo clima de insegurança e de medo. Fomenta-se a consciência de um presente querido ausente e, como tal, indesejado e não vivido, para que seja apenas sentido como grandeza de transição (uma espécie de purgatório da sua utopia da História: um estado de mudança pela mudança que dê a impressão de que o futuro, se torne em utopia condutora suficiente (meio e fim em si) numa atmosfera niilista criada pela própria ideologia mas de que esta paradoxalmente promete libertar-se. Neste estádio intermédio, as novas necessidades consequentes da insegurança e do medo promovido passam a querer ser saciadas por uma esperança de tipo internacionalista que justifica a intervenção de poderes anónimos cimentados também eles pela crença devota de um capitalismo globalista unido a uma supraestrutura de culto socialista.

Neste sentido, uma esquerda radical, inteligentemente organizada, com uma eficiente estratégica com ONGs, redes e agendas internacionais, apodera-se dos factores (ideais) político-sociais de “desenvolvimento” colocando-se à frente de campanhas portadoras de uma dinâmica de mudança e exigências de transição, que se torna óbvia pelo direcionamento e controlo dos temas que ocupam e dirigem a opinião pública.

O direito à diferença natural, cultural e existencial é substituído por um igualitarismo de tipo legal (direito positivo) que chega a não respeitar a lei natural e orgânica da diferença que pressuporia uma tolerância existencial e não apenas uma tolerância cultural de meros efeitos funcionais, utilitários e imediatos de conveniência humana e social.

Ao contrário de movimentos político-sociais moderados e de direita, que indolentemente se contentam com o movimento de inércia do desenvolvimento histórico, uma esquerda coerente e esperta aposta num eco-socialismo de autopoder participativo, lutando consequentemente pelas pretensas reformas eco-sociais (a mobilização do autopoder participativo é usada como meio oportuno para atingir o seu indeclarado fim, a saber,  uma sociedade comunista); no igualitarismo tudo se quer funcional, passando para segundo plano o aspecto relacional humano: o que conta é o aspecto funcional no que respeita à satisfação da necessidade social e pessoal, seja a satisfação adquirida através de uma pessoa ou de um gato…

Se a sociedade tradicional chegava ao Homem através de Deus numa tentativa de transformar a natureza e o Homem, a sociedade progressista quer chegar ao Homem através da natureza amarrando-o à ideia materialista dela (por outro lado prescindem dela para explicarem o ser humano apenas como produto da cultura). A cultura torna-se numa pastilha elástica que legitima, por si mesma, a ideologia também ela não mais que fruto da cultura (ver ideologia do género): assim a pessoa passa a ser mero produto de informação, e que se resume na estratégia formação = informação (uma sociedade concebida com o Homem em termos abstratos, legitima a hegemonia já não dos iniciais latifúndios agrários nem dos posteriores latifúndios citadinos – latifúndios bancários – mas sobretudo a “evolução” para os latifúndios de ideias (ideologias) e suas pastagens onde os rebanhos irmanados pela necessidade pastarão.

Uma necessidade legítima de mudança pessoal e social notória parece, nos termos do Zeitgeist criado, favorecer a luta de agendas e ONGs contra a matriz cultural ocidental (cujo maior equívoco tem sido ser demasiado dualista como queria o poder e a filosofia e não trinitária (dualismo é o contrário do que a teologia e a fé anunciavam no princípio).

Os conservadores mais ligados ao processo económico e às leis da natureza perdem-se, por vezes, na resposta ao presente e descuidam o princípio (axioma) bíblico “no princípio era a palavra, a informação”! No desenvolvimento está a Palavra, a in-formação de que a esquerda se tem apoderado com maior sucesso vendo o ideário da Europa ser cada vez mais transformado no sentido de uma esquerda zelosa de futuro; dos zelotes do templo passou-se aos zelotes do tempo! Estes negam a afirmação do futuro espiritual para a substituírem pela afirmação do futuro no sentido marxista da história (como utopia): os marxistas-leninistas caem no mesmo defeito que criticam, embora defiram nas perspectivas (confiar na vida do além à custa da vida presente ou confiar na utopia de uma sociedade futura mediante a renúncia ao presente, nas duas sacrifica-se o presente); de facto a ideologia do progresso socialista repete de maneira invertida a matriz de esperança religiosa, substituindo a esperança transcendente pela esperança imanente; esta ideologia nega assim o presente, reduzindo-o a mero momento do processo revolucionário, tornando-o instrumento alienatório. Se uns esperam num futuro depois da morte os outros esperam num futuro depois do presente. Há que evitar tanto preconceitos ideológicos como religiosos. Para tal seria oportuno apostarem uns e outros num tempo qualitativo Cairos. Para isso a civilização ocidental teria de entender melhor a fórmula trinitária como processo dinâmico (não a relegando para a vida conventual) e não como algo estático que só pode desaguar no dualismo de um tempo Cronos, um tempo só quantitativo porque fruto e expressão da experiência materializante. Compreender a fórmula trinitária da realidade (humano-divina) pressupõe a consciência do tempo e da realidade como processo, num tempo Cairos de sentido qualitativo, um tempo eterno (transcendendo o tempo), que é o tempo presente sem dimensão. Se fossemos introduzidos na vivência do tempo Cairos, adimensional superaríamos a mentalidade dualista do verdadeiro e do falso, do certo e do errado, da direita e da esquerda, do materialista e do espiritualista; então deixaríamos de viver dependurados na corda do passado e do futuro própria do tempo Cronos.  Cairos é o tempo dinâmico-criativo, o tempo espiritual (processo) e Cronos é o tempo estático medível e como tal materializado. (Somos seres espirituais feitos de céu e terra, num processo inicial dinâmico de estado sólido-líquido-gasoso e como tal com asas que nos possibilitam deixarmos de confinar a nossa existência à qualidade de um viver de mexilhão fixado na rocha.)

No estado da consciência social atual, aqueles, que melhor se apossam do princípio bíblico – Palavra=in-formação=energia=Espírito – não hesitando em abusar dele para os seus fins materialistas (de uma nova sociedade a implantar), serão os que mais sucesso epocal terão, como já se vai constatando na revolução da geração 68. De facto, a realidade divina, a realidade inicial é Palavra, informação, isto é, processo = “in-formação”! Infelizmente quem se apodera da energia in-formada e em formação formatando-a à medida de formatos sociais ganha a dianteira superficial a nível do ter mas não no processo de ser – diferença entre Cronos e Cairos)! (No governo do Covid-19, se observamos as medidas dos governos com a atitude dos cidadãos, dá para entender a dinâmica que se encontra por trás do poder de quem se assenhoreia da palavra/informação como dado estático e isto independentemente da formação do cidadão: a reacção ao medo e a consciência gerada manifestam-se transversais a nível social embora muito longe do meio termo de ouro).

A estratégia socialista, na sua primeira fase (época da industrialização), foi dedicar-se à apropriação dos movimentos dos trabalhadores (proletariado da industrialização) e agora (época da tecnologia e dos serviços) apodera-se dos meios de informação e do movimento ambientalista de modo a legitimar-se através de uma consciência que se quer ver adaptada e concretizada num eco-socialismo. Esta tem sido também uma jogada inteligente da esquerda abrilista portuguesa, internacionalmente bem planeada e depois executada no seu sentido com os saneamentos de início efectuados a nível de docentes de universidades, escolas, administração e dos jornalistas nos meios de comunicação social (o nosso Prémio Nobel também se empenhou activamente neste sentido!). Na sociedade portuguesa predomina uma visão esquerdista na maneira de observar e equacionar o dia-a-dia social-político e económico (não haveria nada a dizer contra se ao mesmo tempo houvesse uma verdadeira discussão intelectual controversa sobre a situação vivida). No regime de Salazar não havia espírito crítico e no regime de Abril também não o há. A esporádica crítica que há não se encontra integrada no sistema, faz parte apenas de comentários indesejáveis, mas sistemicamente úteis porque dão a impressão de nos encontrarmos em verdadeira democracia. Ontem como hoje, à margem de alguns suspiros de protestos, os governos atuam como se não houvesse povo e o que se nota em marcha são hordas bem alinhadas do regime.

Como bem conseguiram incutir no pensar politicamente correcto (mainstream)  querem ver, de futuro, o ser humano reduzido a produto da natureza bruta e de uma cultura desenraizada negando-lhe a qualidade cristã para possibilitar a elaboração de um ser humano em função de.  No sentido maçónico e muçulmano combatem a crença num Deus pessoal que legitimaria a responsabilidade social e pessoal, preferindo apostar apenas em energias (espécie de imanentismo) que justificam o poder da energia (força) mais forte a aplicar-se na sociedade. Já outrora o escritor Dotojewski alertava para o perigo modernista que queria acabar com Deus e ameaçava a Rússia. Segundo ele a consciência humana sem Deus deixaria de ter porteiro e consequentemente a chave dela passaria para a política! Deus é o princípio criador e ordenador, num processo inclusivo de conservar e inovar ao mesmo tempo; hoje dá-se ainda mais importância ao princípio diabólico = princípio divisor interessado em destruir (desordenar, desconstruir) a ordem natural e humana inicial.

Uma educação para a humanidade pressupõe o acento da formação na dignidade humana individual e inalienável com caracter de verticalidade e transversalidade e implica por isso, alteridade, tolerância e respeito; respeito também pelo adversário; respeito por tudo o que é humano e pela natureza! Não é lícito, em nome do indivíduo abstracto, ou de uma sociedade abstrata, meramente funcional com funcionários e cidadãos funcionais, subjugar tudo ao serviço da máquina estatal; nesse sentido, porém, as estruturas de formação identitária são consideradas disfuncionais. A soberania da consciência individual, a família, a religião, os partidos, os órgãos constitucionais e o biótopo cultural são co-determinantes que em conjunto delimitariam o bom funcionamento orgânico de um Estado. O reconhecimento da diversidade também assume mais relevância no contexto da globalização e da internacionalização da economia e consequentes efeitos migratórios.

 

O respeito que se deve ao Estado e suas instituições pressupõe a reciprocidade de comportamento do Estado para com as outras instituições (O ser humano, já no nascimento, não subiste sem a família, sem comunidade; comunidade e indivíduo são realidades complementares não podendo subsistir uma sem a outra e menos ainda uma contra a outra.)  As instituições (na qualidade de órgãos) estão primeiramente chamadas a servir o indivíduo para que este subsista na comunidade natural e social no seguimento de um sentido teleológico (a necessidade cria o órgão!). O cidadão não pode tolerar que o Estado se possa tornar cativo de qualquer elite económica ou ideológica.  Na árvore da instituição quer-se cada um em seu galho seja ele político, ideológico ou económico. 

Não é suficiente colocar-se o problema da educação só num contexto político ou administrativo. O necessário debate político levantaria muitas questões numa sociedade que embora arrebanhada tem muitas mansões.

Numa sociedade em que a população cada vez tem mais a impressão de não ser senhora da sua cultura e do seu país torna-se óbvio um olhar crítico a todas as questões sensíveis relativas ao poder, às hegemonias e aos novos dinossáurios globais. Não é legítimo combater o poder nem dogmatismos passados e abafar os que atualmente se querem afirmar descaradamente enquanto se fala dos seus antepassados. Um construto social de categorias interdependentes pressupõe uma perspectiva interdependente de cooperação institucional.

O primeiro problema está na velocidade que se quer imprimir à imposição da mudança, uma mudança não estrutural nem orgânica que se pretende ideológica e mecanicista! Quer-se reduzir o Estado a uma máquina de produzir indivíduos clientes, consumidores funcionais, numa sociedade a funcionar desnaturadamente: por isso abaixo com a religião, com a nação, com a família com a pessoa soberana! Uma sociedade sem pai parece ansiar agora por um Estado autoritário que lhe ofereça segurança…

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

  • (1) O vaticínio de  Nikita Khrushchev , Secretário-geral do PC, a 29 de setembro de 1959 na sede das Nações Unidas:  “… Os filhos de seus filhos viverão sob o comunismo. Vocês, ocidentais, são tão crédulos que não aceitarão o comunismo de uma vez, mas continuaremos a alimentá-los com pequenas doses de socialismo até que você finalmente acorde e descubra que já tem o comunismo para sempre. Não teremos que lutar com você. Ambos enfraqueceremos sua economia até que caiam como frutos maduros em nossas mãos. A democracia deixará de existir quando eles tirarem aqueles que estão dispostos a trabalhar e entregarem aos que não estão. ”  Concluindo: O SOCIALISMO LEVA AO COMUNISMO

 

DIA MUNDIAL PARA A SUPERAÇÃO DA POBREZA

O 17 de Outubro é o dia mundial para a superação da pobreza. É também o dia em que se presta homenagem às vítimas da fome, da ignorância e da violência.
“A pobreza não é uma vergonha” , como diz um provérbio alemão!
É celebrado por iniciativa do padre francês Joseph Wresinski desde 1987 e foi reconhecido pela ONU após a sua morte em 1992.
Wresinski partilhou a sua vida desde 1956, com os sem abrigo numa zona de Paris. Aqui experimentou as dimensões da pobreza: por exemplo, falta de controlo sobre a própria vida, o sentimento de impotência, desvantagem social ou falta de acesso à educação.
Na sua opinião: “onde quer que as pessoas estejam condenadas a viver na pobreza, os seus direitos são violados. Trabalhar com as forças unidas pelo seu respeito é um dever sagrado. ”

De facto, a comemoração do Dia dos Pobres, deve ser um aviso e uma lembrança, um chamamento à luta contra a pobreza. A pobreza rouba a dignidade humana, é fonte de todo o mal … Até os ricos viveriam muito mais sossegados se não houvesse pobreza.

António da Cnha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

ATAQUES ÀS IGREJAS

DO QUE OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL NÃO FALAM!

Em 2018, o Ministério do Interior francês contabilizou mais de 1.000 “actos anticristãos”, 541 actos antissemitas e 100 actos islamofóbicos.

Em França todos os dias, são, em média, duas igrejas católicas besuntadas, destruídas ou profanadas. Cálices de missa são roubados, mas também quadros, e até cadeiras, como relata “Welt am Sonntag”.

Curiosamente a imprensa não costuma falar de actos criminosos contra cristãos?

Já pensaram porquê?

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

REUNIFICAÇÃO ALEMÃ – A OPORTUNIDADE PERDIDA

Afirmação dos Polos contra a Transversalidade do Meio (Centro)

Por António Justo

Recordo com nostalgia a revolução iniciada na noite de 3.10.1990 pelo povo da Alemanha socialista. Nesse dia (a sessenta Km da Alemanha socialista) senti a Europa e a Rússia a pulsar num só coração. Nas ruas de Kassel, a abarrotarem de gente, sentia-se a euforia de desejos e esperanças de povos a encontrar-se em abraços; era a festa das fronteiras abertas, um mundo todo que se reunia num só abraço! No ar misturava-se também um cheiro da gasolina dos Trabant (Trabis) com um borburinho de alegria e fraternidade que ressoava a humanidade.

 Foi uma revolução pacífica, verdadeiramente socialista no sentido democrático (os de baixo a libertarem-se dos de cima).  Socialistas corajosos acabaram com o socialismo de Estado.

A intrepidez de alguns, num sistema político fechado (com uma Igreja aberta), apoiados pela luz de velas e orações, possibilitaram a queda de um sistema armado até aos dentes. Michael Gorbatchov tornou possível o raiar de sol nesse dia. A RDA com o socialismo real passou à História.  O socialismo perdeu e o capitalismo ganhou; e isto apesar de um e outro se encontrarem nas mãos dos alemães!

As duas Alemanhas reúnem-se, mas a fenda continua na sociedade: enquanto a Alemanha ocidental buscava a reunificação, a Alemanha oriental procurava liberdade e autodeterminação. O alemão de leste sente-se privatizado e responsabilizado, experimentando a falta da solidariedade e da coesão que a necessidade criara nele numa RDA onde faltava quase tudo. O povo que lutou pela liberdade sente-se levado na corrente do Marco.

A revolução feita por um povo à procura de liberdade foi rapidamente interrompida pelas cúpulas socialistas e capitalistas que optaram sobretudo pela liberdade material renunciando em parte à liberdade interior. O povo sente-se assim na banalidade do mal da luta normal do dia a dia. É de admirar, porém o êxito conseguido a nível económico pelo Estado alemão, tendo conseguido, com as contínuas transferências de grandes verbas de solidariedade para a Alemanha de Leste, um nível de vida social equiparado nas duas zonas.

A Alemanha, entre Oeste e Leste, no meio do Oriente e do Ocidente não optou por ser o meio dos polos (a intermediária interpolar), preferiu continuar polar, adaptando o seu leste ao oeste (assimilando o polo socialista no capitalista). A Alemanha inteira perdeu assim a oportunidade de ser fiel culturalmente a si mesma (medianeira, transversal) e de se afirmar e  dar resposta à sua posição geográfica entre Leste e Oeste. (A posterior transferência da capital de Bona para Berlim – em direcção ao Leste – revela-se apenas como um tranquilizar da alma alemã a nível exterior do consciente).

Em vez de conciliar os dois polos de maneira transversal, no sentido da inclusão, da complementaridade, atraiçoa a sua vocação histórica de se reunir no meio, no centro dos polos (de unir a Europa com a Rússia). Em vez disso assistiu-se, com a queda do muro de Berlim, ao acentuar-se da política real (liberalismo económico) em desfavor da política ideal (unir a Europa à Rússia); optou-se pelo globalismo liberalista e consequentemente pelo acentuar-se do novo muro (cortina de ferro) em que se está a tornar a NATO. A Alemanha abdica assim de si mesma, da sua posição geográfica intermédia para apoiar a afirmação da posição anglo-saxónica no mundo. Abstém-se da liderança política para viver na ambivalência da materialidade socialista e capitalista.

Mais explicitamente: A Alemanha que parecia ser chamada a tornar-se culturalmente a balança do Oriente e do Ocidente para equilibrar o movimento das forças entre os dois polos (blocos) contraentes, desaproveitou a grande oportunidade que teve em 1990 de criar uma terceira via (a via do meio termo – interpolar), que teria sido possível através da união do seu polo socialista (RDA- Rússia) com o polo capitalista (BRD-Europa). Em vez disso a reunificação fortaleceu a luta polar (via capitalista) num globalismo que se afirma também ele por princípios dualistas de contradição polar. Deste modo revigoram-se as forças da masculinidade sobre as da feminilidade criando-se um desequilíbrio cada vez maior entre o material e o espiritual, o afirmativo e o criativo (O ideal de uma visão trinitária da realidade cedeu, novamente à luta dualista de afirmação das polaridades!). A mentalidade polar (de caracter masculino), expressa tanto no capitalismo como no socialismo, não deu lugar a uma reflexão possibilitadora de uma mentalidade inclusiva e transversal centrada na criatividade e na transformação com um substrato de motivação espiritual. A reunificação da Alemanha oriental com a ocidental tornou-se por um lado num projecto de sucesso económico e por outro numa traição à Alemanha no seu todo, no âmbito de uma possível missão cultural histórica.

Vive na ambivalência entre ocidente e oriente numa tensão entre espírito e matéria que practicamente se expressa na continuação da politização da narrativa socialista e da narrativa capitalista.

Nos novos desafios, Covid-19, globalização, alterações climáticas, migração, o medo parece tornar-se senhor de uns e meio de domínio para outros.

Precisamos de pontes que unam e não muros que separem. Esperam-se sempre os filhos da unidade e depara-se com os irmãos da divisão: matéria/espírito, capitalismo/socialismo.

Uma lição da história fica na nossa lembrança: Nem fascismo nem comunismo! Só a liberdade e a autodeterminação tornam o futuro possível!

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo