UMA MUÇULMANA EXEMPLAR – SEYRAN ATES

A Fundadora da primeira Mesquita inovadora: “Mesquita Averróis-Goethe”

 

António Justo

Seyran Ates, nasceu em Istanbul (1963); aos seis anos emigrou para a Alemanha; frequentou os estudos de direito em Berlim, especializando-se em direito penal e em direito de família. Já, durante os estudos, apoiava mulheres vítimas de violência caseira.

Como advogada defende vítimas de “crimes da honra”, mulheres casadas à força ou maltratadas pela família. Em 1984 um marido matou uma sua cliente no seu consultório; Ates ficou gravemente ferida e teve uma experiência de quase-morte. Apesar disso, Seyran Ates continuou a empenhar-se na defesa de mulheres oprimidas, conseguindo trazer para a opinião pública alemã um aspecto escuro de muitas mulheres que sofrem em silêncio devido à pressão patriarcalista.

Em 2006 abandonou a sua carreira de advogada, por algum tempo, devido a ameaças.

Depois de ter publicado o livro “O Islão precisa de uma revolução sexual” recebe contínuas ameaças de morte e e-mails transbordantes de ódio e ideias de abuso sexual, o que a levou novamente a abandonar a carreira de advogada em 2009.

A ativista de direitos humanos “vive em constante perigo de vida” porque se dedica à defesa da liberdade de outros. A muçulmana encontra-se sob proteção policial, dia e noite, com vários polícias.

 

Na luta por um rosto feminino para o Islão

 

A 16 de Junho de 2017, Seyran Ateş abriu a “Mesquita Ibn Ruschd-Goethe” em Berlin (um projecto de ligação da cultura árabe à cultura ocidental, daí o nome “Mesquita Averróis-Goethe”). É a primeira mesquita progressista na Alemanha; está aberta às correntes islâmicas sunita, xiita, alevita e sufi. O uso do nicab e do xador são proibidos por serem expressão de submissão ao homem e símbolo de um islão anacrónico (1).

Seyran Ates, quer uma mesquita onde o Corão não seja interpretado à letra e, assim, tornar possível uma interpretação moderna que  possibilitae uma educação para a liberdade, para a responsabilidade individual e para a paz universal.

As mesquitas na Alemanha não perdoam a Seyran Ates, ser a cofundadora da mesquita liberal Ibn-Rushd-Goethe-Mesquita onde rezam mulheres e homens uns ao lado dos outros e onde às vezes uma imã orienta a oração ritual.

Na imprensa da Turquia, Ates é apostrofada de “traidora da pátria e de terrorista”. “A repartição turca para os Assuntos Religiosos (Diyanet) incita a plebe mafiosa turca na Alemanha” (HNA) e  acusa Ates de querer modificar e reconstruir a religião.

Ates chama a atenção para a hipocrisia que, muitas vezes, se apresenta com duas caras:” Eles sorriem para ti e mentem-te na cara”.  É contra o uso do lenço islâmico (Hijab), contra os casamentos forçados e contra os crimes de honra. Também, devido à sua experiência amarga, desabafa: “Onde a Religião só serve a demarcação/separação, revela-se contra a democracia”.

A atitude de Seyran Ates torna-se numa ousadia promissora para o Islão (e para a paz na Europa) na medida em que lhe possibilita, por um lado,  a saída do gueto, o abandono do acorrentamento aos costumes da Arábia do século VII e, por outro, a abertura à pessoa, à feminidade,  à História e a outras culturas. No seu projecto, “Mesquita Averróis-Goethe, é apoiada por muçulmanos liberais de todo o mundo (2).

Entre outros louvores foi-lhe atribuída a condecoração Cruz Federal de Mérito, pelo Estado alemão.

 

Conclusão

 

A “Mesquita Averróis-Goethe é uma iniciativa válida e digna de imitação para tornar o islão compatível com a Europa e com outras culturas. O Islão só será reformado pela acção das mulheres. Nelas há que apostar para que não continuem a fomentar um estilo de cultura arcaica aliciante de instintos de homens árabes e doutras culturas! Só elas poderão trazer ao Islão um rosto feminino e recuperar a feminilidade que ele reprime e assim dar-lhe um rosto mais equilibrado e mais humano!

Também no surgir da Europa houve tempos em que a autoridade do grupo ou da instituição atafegava a personalidade individual e em especial a mulher (hoje isso acontece de maneira mais subtil e suave). Embora o ocidente tenha defendido sempre a dignidade de toda a pessoa humana, independentemente de ela ser mulher ou homem, os costumes e tradições reprimiam a mulher em relação ao homem. É importante que mulheres de cultura árabe, em contacto com a cultura ocidental, ganhem força e sejam motivadas a provocarem um desenvolvimento antropológico do islão de maneira a criar mais justiça, solidariedade e igualdade de trato entre homens e mulheres de modo a possibilitar, a cada qual, redefinir a sua ipseidade para agir a partir de uma liberdade responsável e humana porque individualizada.

Encontramo-nos todos no mesmo barco e se o islão não se muda toda a humanidade será retardada e se a sociedade ocidental não se mudar também, a personalização do indivíduo passará a ser abusada no sentido de o desumanizar, transformando-o novamente em mero objecto ou instrumento da instituição e da ideologia ad hoc. Cabe ao Cristianismo e à sociedade ocidental, que deram origem aos direitos humanos, à democracia e à tolerância do Homem como tal, tornar-se consciente do processo em via num momento em que as constelações de poder mundial se redefinem. Cada povo, cada cultura tem o seu valor específico a integrar na construção de sociedade mais justa e pacífica. Por isso todos devemos estar gratos quando uma mulher como a muçulmana Ates procura fazer com que o islão reconheça a feminidade como um vector do desenvolvimento, tal como o vector da masculinidade que se tem afirmado desequilibradamente! Não só a sociedade religiosa, mas também as sociedades seculares são responsáveis pelo que acontece: na Europa tem-se afirmado o islão do lenço e as estruturas governamentais colaboram com instituições muçulmanas duvidosas  interessadas apenas no poder e na hegemonia das mesquitas turcas na Alemanha (na colocação de professores de religião islâmica em escolas do Estado os Ministérios da Educação da Alemanha colaboram com a federação das mesquitas turcas (Ditib) que é apoiante de Erdogan e não apoia iniciativas que fomentem a integração ou impliquem renovação do islão; de maneira geral, apoiam o islão do lenço, e não dão  apoio aos defensores de um “protestantismo muçulmano”.

De facto, o ser humano, antes de ser membro de uma sociedade religiosa, étnica, política ou cultural, é Homem e como tal traz em si a ferocidade selvagem mais ou menos escondida, tal como a gene divina. O problema é que todos cheiramos a Homem e não queremos reconhecer a maldade latente que em nós trazemos e depois procuramos justificá-la ou desculpá-la para passar o assunto ad acta! A discussão é importante e mais importante é ainda o testemunho que Ates mostra.

 © António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

  • (1) Há dias , no fim de uma aula, um simpático muçulmano trintanão, dirigiu-se a uma colega professora de alemão, dos seus 50 anos, e disse-lhe: porque é que pinta os lábios e se veste assim, se já é casada? Na sua mentalidade genuína até tinha lógica a sua pergunta! Porque precisa uma mulher casada de se arranjar de maneira atractiva se já tem um homem a quem pertence?! Porque traja assim, se isso é uma manifestação de liberdade e como tal uma provocação aos homens que, por natureza, andam à caça e mais à solta?!
  • (2) As mentalidades relativas a matrizes religioso-culturais formadoras de identidade (individual e cultural) não se mudam em poucas gerações. Durante a Idade Média a sociedade e cada indivíduo (de uma maneira geral) vivia, em grande parte, de maneira inconsciente no ventre da comunidade pois a individualidade ainda se encontrava em gestação. Houve, naturalmente, muitas excepções que tinham a ver com a posição e papel social de elites, que possibilitaram uma burguisação da consciência da pessoa. A Idade Média no renascimento (processo de emancipação) deu à luz o indivíduo como personalidade com autoridade própria (autonomia que só a sociedade industrializada concretizou a nível político com a democratização). Como se vê a pessoa “autónoma” é parida no século XV-XVI e demorou cinco séculos a produzir a pessoa autónoma de extremismos egoístas que hoje exagera em relação à comunidade tal como antes a comunidade (instituição) exagerava em relação ao indivíduo. O Islão ainda se mantem hoje nos princípios da sua Idade Média, quanto ao seu ser antropológico. O contacto íntimo dos muçulmanos imigrados com a Europa leva as pessoas mais sensíveis a descobrir-se como pessoas: a iniciar um processo que não poderá ser de renascimento porque a filosofia muçulmana não possui nela o factores que provocariam um renascimento, mas a capacidade de se abrir a outras mundivisões sociológicas e antropológicas; foi isto o que aconteceu a Ates. Ela estaria com alguns poucos no princípio do “protestantismo” muçulmano – a época propícia para produzir hereges e protestantes! Por isso, a nossa missão é dupla: apoiar as pessoas ousadas que, ao descobrirem-se como pessoas, descobrem os direitos humanos e apresentar uma análise crítica à doutrina muçulmana. Esta teima em oprimir a mulher e em afirmar-se e definir-se pelo contra em relação a outras culturas. Esta matriz fundamental, que parte do princípio que só uma sociedade do homo religiosus é legítima, terá de ser reestruturada num modelo de mundivisão que permita uma nova concepção de Homem e de sociedade, o que pressuporá uma opção pela inclusão e o distanciamento de uma mundivisão baseada nas estruturas mentais e sociais “árabes” do século VII. É triste ver como uma sociedade ocidental se comporta em relação ao Islão dos imigrantes: hipocritamente fecha os olhos e não quer saber porque saber (e não só levianamente opinar) tornar-nos-ia mais responsáveis e levar-nos-ia a ajudar mais as mulheres a libertarem-se da sua situação de escravizadas e de transmissoras dos padrões patriarcalistas islâmicos;  também não deixaríamos os imigrantes muçulmanos abandonados a si mesmos e tomaríamos medidas para que a colonização interna entre os muçulmanos, que se processa no ocidente, não ficasse entregue a mesquitas e grupos radicais apoiados pela Arábia Saudita, Qatar ou um islão de lenço turco. Infelizmente a esclarecida Europa continua interessada em cobrir a ignorância porque dela vive melhor a “boa” gente.

O CONTO DAS FADAS DAS LABAREDAS DOS FOGOS

 

A Política é inocente – A Responsabilidade é do Mexilhão

António Justo

De Pedrógão Grande ressoa o eco da voz dos 64 mortos, dos 254 feridos e dos animais queimados sem conta – todos a bradar por compaixão que abrace a sua dor. São vozes que se elevam aos céus à procura daquela consolação que em vão se encontra num Estado antiquado, porque orientado para os interesses de corporações onde se não reconhecem as necessidades do cidadão nem da população rural e urbana.

Pelo que se observa nos Média, os grupos políticos, do governo e da oposição, procuram fazer o seu aproveitamento político à luz do clarão de Portugal em chamas.

Já não chega o cheiro e o fumo dos pinheiros e dos eucaliptos, a ele vem juntar-se o fumo da tocha de cada agremiação, para iluminar a própria capelinha e distrair do adro que se encontra a arder! Há gente bravia mais interessada no fogo social, e para atear mais o fogo, serve-se até do papel de jornais que antes eram da sua estimação. Em épocas de eleições quem põe o dedo nas chagas da nação não escapa sem ser chamuscado como porco na fogueira do vizinho.

 

 

Porque incriminar governos ou partidos se o culpado é quem vota?

 

O que interessa já não parece ser a realidade dos factos, mas sim a discussão postfactual destinada a alentar as lógicas de cada ideologia. Nesta, o devoto do partido padroeiro queixa-se da luz da capelinha vizinha onde o fogo que queima também ilumina.

Entrementes, nos montes e vales da Pólis, ventos de fervores e fervuras queimam também o possível verde que ainda resta nalguma terrinha ou em capela perdida.

Ao lado, embrulhados nos cobertores do seu narcisismo, parlamentos e governos vão dormindo o sono dos eleitos, na segura consciência habitual de que nem o fogo da corrupção nem a fuligem das queimadas da sociedade chegam ao parlamento. A firma encontra-se em concurso, basta distribuir os dividendos.

Controle-se o Parlamento que não controla os governos nem faz leis que defendam a floresta nem ataquem o fogo da corrupção. A responsabilidade está em quem vota e entra no jogo de culpar ou desculpar governo ou oposição em vez de se ocupar dos factos, da realidade, das pessoas e da nação. Enquanto cada um e cada grupo continuar no jogo de aplaudir o jogo do seu clube favorito aceita implicitamente que o país é relvado e o povo é quem perde porque não tem claque nem joga. Aceita-se um Estado faz de conta, reduzido a duas equipas de jogadores que apostam no barulho da assistência, de um lado a gritar pénalti e do outro a gritar fora de jogo.

O trágico da tragédia está na habitual conversa pegada, no discurso da culpa da desculpa culpada que, como força autónoma, distrai das vítimas, dos factos, da natureza e da irresponsabilidade de governos sucessivos sustentados pelas bocas do mundo e desculpados pela culpa das craques apenas interessadas em ver o jogo e em satisfazer os sentimentos de desdém e de apreço.  Os jogadores vão ganhando o seu; o avanço do país não importa, o que ele produz chega para os poucos e o povo mete-se no atrelado da União Europeia.

No meio de tudo isto, o povo tornou-se imune e independente dos jornais que não lê, pois, acredita apenas na percepção sensorial, guiada pelo instinto de que os jornais de referência discutem os interesses doutros polos que se servem deles como ilustração. Se Portugal continua a arder desta maneira deve-se à incúria de todos os governos, partidos e povo distraído. O Estado tem poupado à custa das regiões do interior e dos mais fracos e agora discutimos todos sobre o sexo dos anjos ou sobre a culpa dos jornalistas e do adversário. Tudo isto não interessa à floresta nem ao povo porque serve para atear outras labaredas na cuca da lenha que fica dos fogos.

Na Alemanha a política também fez erros ao não calcular os perigos em torno da G20, mas teve vergonha pelo que aconteceu nas ruas de Hamburgo e logo o Estado colocou 40 milhões de euros no fundo de ajuda para indemnização dos danificados, e isto independentemente das verbas que os seguros têm de pagar. A nossa sociedade, pelo que se vê nos Média, não pode ir à frente porque em vez de nos preocuparmos com os factos e com a realidade, preocupamo-nos em desculpar ou em acusar alguém: o centro do interesse e da preocupação não está na resolução objectiva do problema, mas na atribuição da culpa. Pelo que consta, o povo inocente conseguiu juntar já 13 milhões de euros enquanto o Estado esfrega os olhos na esperança de os factos servirem de bombo para atrair povo para a sua festa! Em política o povo é uma miragem, apenas presente na ideologia! O poder das corporações em volta do Estado é demasiado forte tornando-se nos eucaliptos do Estado não deixando crescer nada ao lado.

Em questão de Jornais, partidos e de opiniões observa-se o fenómeno generalizado de “cada macaco em seu galho” defender de olhos fechados o seu próprio interesse. Cada um tem o seu público e a sua clientela numa sociedade não acostumada à réplica. Cada um só lê um jornal por questões de segurança (Porque não ler os jornais dos deuses e dos diabos para abrir as perspectivas, andando mais desinformados!). Por isso em vez do discurso controverso sobre a coisa pública opta-se pelo discurso da má língua e do maldizer de uns e de outros; o ditado da opinião faz parte do argumento de um ter sempre razão numa lógica construída nos parâmetros de serviço a um clubismo em que tão regaladamente se vive.

Muitas vezes, no discurso público tenho a impressão de nos encontrarmos em becos sem saída num discurso de beco sem saída que apenas reage tornando-nos a todos reacionários com rosto de progressistas. Estaríamos todos tramados com tanta trama se não fossem uma nova mentalidade da juventude que começa a surgir

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

CASAMENTO GAY SOB O VISOR DA CIÊNCIA E DA IDEOLOGIA

Biólogo aponta para o possível Problema de Padrastos

António Justo

Casamento para todos já não é casamento, é casamento para ninguém! A gota só o é enquanto não se transforma em nuvem ou enquanto não cai no mar!… No momento em que tudo é um, só a autorrestrição imposta a si mesmo pode reconhecer o outro.

Um contributo para a discussão

 

Na Alemanha o Parlamento aprovou o “casamento para todos” independentemente de os pares serem heterossexuais ou homossexuais. Em reacção ao facto, o Prof. Dr. Ulrich Kutschera  da universidade de Kassel, tematizou três aspectos: “O contexto do novo casamento universal com a Ideologia do Género, a base biológica do ser humano e a pedofilia”.

Kutschera receia, no sim do Parlamento ao “casamento para todos “, pedofilia subvencionada pelo Estado e grave abuso infantil no futuro”.

Segundo ele, no casamento gay fortalece-se “o problema dos padrastos”, que constituiria um risco acrescido para as crianças: um padrasto que vive em casa com uma filha adoptiva, sem ligações genéticas, poderá ter uma maior possibilidade de abuso, embora haja muitos padrastos bons.

Para o biólogo, casamentos gay com filhos adoptivos não possuem a herança genética de imunização contra o incesto. Em casamentos heterossexuais, pai e mãe são em 50% parentes genéticos de seus filhos, e a consanguinidade produz um efeito inibidor do incesto.

A probabilidade de inclinação para pedofilia segundo investigações citadas pelo cientista é 10 vezes maior em casos de padrastos e de madrastas (estudo de Regnerus M 2012); refere também que resultados de investigações mostram que filhos sem pais biológicos sofrem mais de depressões e se tornam mais frequentemente criminosos e dependentes da assistência social.

Argumenta biologicamente contra o direito de adopção de crianças por Gays “dizendo que “crianças são moldadas inteiramente pela voz da mãe biológica durante o desenvolvimento pré-natal”. Considera “inaceitável uma troca voluntária desta importante pessoa de referência por pessoas estranhas.” Defende que na biologia, desde 1735, “Sexo” corresponde à reprodução bisssexual (fertilização) enquanto para a ideologia Gender, sexo, desde 1876, significa o desenvolvimento de animais sexualmente maduros”; insurge-se contra a erotização infantil precoce (que a ideologia do Género implementa nos programas de todas as escolas), uma vez que a pessoa só é capaz de actos sexuais depois da puberdade.

A visão do investigador contempla a ideia que homens e mulheres nascidos homossexuais não devem ser discriminados. Efectivamente, o problema vem do facto de o casamento Gay implicar o direito a adopção e de o matrimónio implicar heterossexualidade e a possibilidade de procriação.

 

Indagação ministerial: autoridade institucional contra autoridade individual

 

O Ministro da Ciência do Hesse (Boris Rhein) insurgiu-se contra Kutscera que defende a teoria de que o “casamento para todos” aumenta o perigo de abuso de crianças”. Boris Rhein diz que estas declarações do Professor são “tão absurdas” que a reitoria da Universidade deve examinar as declarações e verificar “se o professor feriu os seus deveres de funcionário, pelo facto de ter falado prejurativa e depreciativamente contra os gays”.

A universidade retorquiu ao ministro com o argumento da liberdade académica e da liberdade de opinião do professor.

O ministro solicitou então à Universidade que examinasse se através das convicções do professor com as suas declarações terá prejudicado o local da ciência da universidade e do Hesse.

A universidade respondeu não poder fazê-lo porque questões legais pessoais são estritamente confidenciais e que a universidade está consciente dos direitos e deveres dos seus funcionários.

A reitoria da universidade distancia-se de Kutschera e parte do parecer que a maioria pensa diferente, mas que o princípio da liberdade da ciência e de opinião não podem ser postos em questão pela Universidade. Nas respostas a universidade mostra-se consciente de que a ciência está dependente da atribuição de fundos económicos do Estado, mas também da criatividade e de um mínimo de independência dos seus professores….

A Universidade de Kassel mostrou coragem ao não aceitar, no caso, subjugar-se ao sistema, ao neutralizar as intenções do Ministro no seu intuito de perseguir um cientista que parece não se submeter ao pensamento politicamente oportuno (o mesmo espírito que levou à inquisição na Idade Média manifesta-se hoje na tentativa de funcionar o saber no sentido dos interesses da instituição contra o indivíduo).

Na tradição do Renascimento, a liberdade de opinião também deve cobrir opiniões que não correspondam ao pensar do politicamente correcto ou das massas. Em casos como este, a ideologia do género, e os partidos não estão interessados em discussões científicas; importa-lhes uma sociedade alheia e alheada, sem discussão objectiva, onde mais facilmente se consegue capital para os respectivos sequazes; deste modo destrói-se, quer a nível de maiorias quer a nível de minorias, o princípio nobre distinguidor da cultura ocidental de todas as outras: a relação de tensão entre autoridade institucional e autoridade individual.

O princípio do uso de sanções contra apóstatas ou renegados através da instituição continua hoje presente nas nossas instituições democráticas com a vantagem de que, no nosso tempo, a própria impreceptível inquisição é melhor que a do outro e que a do passado. Instituições do Estado que subvencionam, com dinheiros públicos, a ideologia gender nas universidades também têm de suportar a opinião de cientistas que chegam a outras conclusões mesmo que estas não sejam oportunas a interesses estabelecidos. A sociedade é muito diferenciada, com diferentes necessidades e gostos, não podendo, por isso, ser alimentada por uma só caçarola.

As posições críticas do biólogo Kutschera em relação ao casamento gay com direito a adopção, incomodaram muita gente. Uma entrevista sua na “kath.net” em que de forma pregnante designa pares homossexuais como “estéreis duos de sexo sem potencial reprodutivo” afirmando, ao mesmo tempo, não querer “ofender ninguém”, mas apenas trazer para a discussão uma “perspectiva da ciência biológica”. Segundo o resultado do seu trabalho científico as “crianças precisam dos seus pais biológicos para se desenvolverem de forma optimizada” (HNA 20.7.17) e “em primeiro lugar deve estar o bem-estar do protegido. O egoísmo dos pais não deve dominar”.

O grau da tolerância de opiniões diferentes ainda é muito baixo: em vez de se reagir a argumentos com argumentos reage-se emocionalmente contra pessoas, sem se discutir os prós e os contras dos seus actos. Por vezes confunde-se o tom da voz com o que se diz.

No exercício de uma cidadania cada vez mais emotiva e apostrófica, em vez de meros cães de guarda de ideologias contra pessoas ou contra grupos, precisamos mais de pessoas e grupos com um discurso público de argumento contra argumento ou de argumentação inclusiva, como era tradição desde há muitos séculos com o método do discurso da controvérsia que incluía o advogado do diabo. Neste sentido na praça pública seria necessária a incrementação de simpósios entre cientistas de posições contrárias alargados ao público em geral.

 

Conclusão

 

São naturalmente legítimas as aspirações de pares homossexuais querem ver aceites na sociedade e nas leis as suas uniões afectivas e sexuais. Questionável é a sua exigência ao direito a terem filhos adoptivos. Tal como uma política ocidental contra a família tradicional e de fomento do aborto leva à necessidade de maior imigração de povos biologicamente mais férteis para os menos férteis, também as leis de adopção poderá vir a criar problemas de identidade a filhos adoptivos em casais homossexuais. Daí a necessidade de uma disputa séria sem desprezar ninguém; doutro modo conduzem-se as leis vigentes ad absurdum.

Todo o contributo para o saber corre naturalmente o risco de ser usado e abusado no sentido de fortalecer as trincheiras dos monopólios da opinião que tendem a generalizar os factos no sentido de se glorificarem ou de prejudicarem minorias. A discussão constitui também ela uma afronta a pessoas que querem viver despreocupadamente na zona confortável da fachada da sociedade, e, como diz um ditado alemão, para quem basta “paz, alegria e panquecas”.

A Europa mostra também aqui o busílis em que vive: um modelo que surgiu da luta da autoridade do indivíduo (renascimento) contra a autoridade da instituição; isto aconteceu no Ocidente devido à legitimação divina do ser humano como imagem de Deus e como tal imbuído de personalidade com autoridade perante as autoridades institucionais; portanto, já não súbdito, mas sujeito.

Com a morte de Deus morre o sujeito em nós e com ele morre a personalidade, dando lugar à chegada dos deuses de um domínio de poderes anónimos a viver de ideologias ad hoc que apregoam a força do destino hoje com o nome de força da conjuntura. Neste sentido tanto a instituição como o indivíduo nas suas legítimas reivindicações não devem esquecer o velho princípio de que só se ganha dignidade na medida em que se dá dignidade aos outros.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

A LIÇÃO DA G20 EM HAMBURGO – PRÉ-ANÚNCIO DA RADICALIZAÇÃO DE TODA A SOCIEDADE?

Poder de cima e Poder de baixo no Ajuntamento

 

António Justo

A Cimeira G20 congregou em Hamburgo os chefes de Estado dos 20 países industriais mais importantes e de países emergentes para tratarem dos temas clima, comércio, migração, luta contra o terrorismo; teve 10.000 participantes, dos quais cerca de 5.000 eram jornalistas. O custo da cimeira G20 foi de 130 milhões de euros .

 

Poder contra poder

 

Hamburgo juntou 70.000 manifestantes , vindos de toda a Alemanha e do estrangeiro, para protestar contra a exploração do Homem e da natureza e contra os excessos do capitalismo financeiro.

Em acção estiveram 19 helicópteros, 3.000 veículos, 20.000 polícias e não conseguiram proteger a cidade. Resultado: 476 polícias feridos, 144 militantes aprisionados e 51 detidos na prisão (entretanto já 13 em liberdade), carros incendiados, lojas devastadas e roubadas, corpos explosivos e pedras atiradas dos telhados, habitantes desorientados. Os manifestantes do G20 do campo do Bloco Negro e da Esquerda Autónoma castigaram os habitantes da cidade e estragaram a festa.

Uma das táticas dos autónomos foi o disfarce,  organizar-se em pequenos grupos e mudar de roupa para não serem identificados. O excesso de brutalidade de muitos demonstrantes (pelo menos, 1.500 radicais violentos) levou o ministro do interior a dizer:” Não eram manifestantes. Eram anarquistas criminosos”. Apesar de tudo, o Prefeito da cidade já pediu desculpa à população por a política não ter estado à altura de poder impedir tanta violência da rua.

O ministério das finanças avançou que as vítimas dos extremistas serão indemnizadas. A polícia organizou centros de reclamação para os cidadãos; A polícia criou uma comissão composta por 110 investigadores de Hamburgo e 60 de fora para avaliarem milhares de vídeos e fotos.  Muitos danos serão suportados pelas companhias de seguro em consequência de vandalismo (possuidores de autos só com “seguro de responsabilidade civil” (Haftpflichtversicherung) não teriam direito a indemnização porque este seguro só cobre danos causados pelo próprio; por outro lado em casos de força maior os seguros costumam cobrir os estragos.

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Extremistas de esquerda e de direita na Alemanha

A G20 juntou em Hamburgo, os poderosos do mundo e a cena da esquerda militante: uma sociedade atrevida e uma agremiação de atrevidos.

Segundo afirma a Polícia de Proteção Constitucional, na Alemanha há 28.500 extremistas de esquerda, e destes 8.500 são dados à violência, especialmente os Autónomos. A mesma repartição calcula em 22.600 extremistas da direita e em 12.100 o número de extremistas com semelhante potencial de violência.

A revista de tendência esquerda DER SPIEGEL, n° 27/1.7. 2017 já previa a violência e fornecia ao mesmo tempo o logo dos extremistas de Hamburgo apresentando na primeira página, em letras garrafais, o seguinte: “Globalização fora de controle!  ATREVEI-VOS!   Pensar radical, agir com decisão – só assim o mundo pode ser salvo”. Embora a humanidade, a política, a ciência e a economia precisem de repensar e de mudar de atitude para resolver os problemas da humanidade nada justifica um título que pode ser considerado um apelo indirecto ao radicalismo à maneira do islamismo.

Simpatia clandestina no que toca ao radicalismo de esquerda

Na opinião pública é cultivada uma certa ingenuidade perante o extremismo de esquerda e por isso a estratégia de defesa não esteve à altura da cena da esquerda que se sentia em casa.

A violência de esquerda tem sido banalizada. O Estado e a sociedade terão de estar tão atentos à violência dos radicais de esquerda como à dos radicais de direita. Na sociedade há uma “simpatia clandestina”, supõe o político Wolfgang Bosbach, e por isso os Estados europeus não têm os mesmos instrumentos e táticas contra as maquinações da esquerda radical como têm na luta contra as maquinações da extrema direita.

 “Flora Vermelha” o epicentro do extremismo de esquerda

Hamburgo tem no seu centro há 28 anos a Rote Flora – um centro cultural dos autónomos que funciona como catedral da oposição da esquerda radical contra o poder do Estado; o mais curioso é que desde 2014 a Rote Flora tem o estatuto de fundação da cidade.

O advogado porta-voz de Rote Flora (Flora Vermelha) disse que não puderam ter mão nos tumultuosos porque os “os militantes estrangeiros” não seguiriam ordens (uma desculpa barata porque é próprio dos autónomos não aceitarem jerarquias!). ” Nós, como autónomos e eu, como porta-voz dos autónomos temos certa simpatia por tais acções, mas por favor, não no nosso próprio bairro onde vivemos. ”

 

Conclusão

A G20 dos chefes de Estado em Hamburgo teve sucesso em relação à abertura dos mercados, a mais dinheiro para África, ao encontro bilateral de Wladimir Putin e Donald Trump com o acordo de cessar-fogo no sudoeste da Síria e às alterações climáticas (os USA não aprovaram este ponto).

Há quem considere eventos como os de Hamburgo desnecessários, quer para os chefes de Estado quer para os demonstrantes. Os encontros de chefes de Estado poderiam tornar-se mais eficientes se se reunissem em pequenos grupos do que num grupo de mamutes. Em tempo de internet e de videoconferências e com o movimento de protesto já expresso na internet, talvez já esteja atrasada esta maneira de se demonstrar o poder de cima e o poder de baixo.

 

Em Hamburgo revelou-se um fenómeno explosivo que revela o estado doentio da política e da sociedade; o Estado deixa de ter o monopólio do poder: ao extremismo de fora vem juntar-se o extremismo de dentro. A Alemanha demonstrou que não consegue dominar o extremismo de esquerda como não consegue dominar o extremismo muçulmano: uma “cortina de fumo” impede a visão.

Grande parte da população pensa baixinho que já vai sendo tempo de os Estados deixarem de educar para a esquerda, descuidando o centro, de que vive.

Em Hamburgo a extrema esquerda mostrou que precisa das mesmas medidas do Estado como as que existem contra a extrema direita; doutro modo proporcione-se-lhe um estágio na Coreia do Norte. No seu fulgor parecem confundir justiça social com igualdade social. Para não se brincar com a inveja haverá que ter em conta que as pessoas são desiguais face aos seus talentos, habilidades, competências e motivação. Importante é impedir as fontes de desigualdades estruturais e fomentar possibilidades aos mais débeis; se o Estado não garantir isto dar-se-á lugar a situações de guerrilha nas cidades.

Em Hamburgo tudo pôde e pode; podem os governantes da G 20, podem os radicais da extrema esquerda, pode a polícia e, no meio de tanto poder, para o confirmar, só não podem os habitantes que querem paz. A violência passou nua; uma vergonha para a Alemanha e um aviso para outros países. Apesar das razões que haja para demonstrar contra cimeiras (violência sub-reptícia presente nas estruturas económicas e políticas) nada justifica a violência brutal praticada nas ruas de Hamburgo.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

ANIVERSÁRIO DE PORTUGAL CAMPEÃO EUROPEU 2016

Ronaldo – O Anjo da Equipa Nacional

Por António Justo

Hoje, 10 de Julho, faz um ano que a Seleção Nacional venceu o campeonato da Europa, na final contra a França (1-0).

A selecção nacional começou o Europeu 2016 fraca, mostrou-se moderada no meio do torneio e revelou-se eficiente no fim.

Apesar da coesa seleção ter Ronaldo, a imprensa internacional e as claques não acreditavam em Portugal. Como Portugal tinha perdido no Mundial 0-4 contra a Alemanha, os alemães pensavam que Portugal não chegaria às finais do Europeu.

Durante o torneio, Portugal viu-se sozinho a acreditar nele mesmo: é o caso para dizer Portugal porque, com a equipa, jogava Portugal inteiro.

O futebol português já tinha chegado muitas vezes às meias-finais e uma vez à fatídica final em que perdeu em casa.

Portugal que fazia parte do grupo F iniciou o jogo 1-1 contra a Islândia, recém-chegada ao campeonato 2016.

O 0-0 contra a Áustria e o 3-3 contra a Hungria mostrava que Portugal, tal como na política, andava atrás das suas possibilidades. Nestes jogos, tinha jogado sozinho, sempre contra a sorte. Demonstra que não chega o jogo para se chegar à victória. Sem victórias a selecção consegue o terceiro lugar de vencedor nas eliminatórias das oitavas finais. A equipa de Ronaldo esforça-se mais que o tempo lhe permitia, conseguindo, no prolongamento, o 1-0 contra a Croácia.

O jogo foi um exercício de paciência para os portugueses que desesperadamente aplaudiam. O aplauso e a esperança conseguiram as quartas de final contra a Polónia onde, além das” horas extraordinárias” teve de recorrer à disputa dos penáltis, vendo aí premiadas a vontade e o esforço. Depois do 1-1, com os penaltis, chega-se ao resultado Portugal 5-Polónia 3.

Segue-se depois o dia em que o Sol brilhou no gramado das meias-finais: dois para Portugal e zero para o País de Gales.

Portugal sentado no banco  com o seu anjo a sofrer

No Final contra a França, que jogava em casa, Ronaldo é ferido logo no início do jogo; então a equipa do treinador Fernando Santos, passa a lutar por Ronaldo e por Portugal. O mestre Eder consegue a proeza da victória metendo um golo no prolongamento: 1-0 para Portugal. Portugal, apesar de muitas voltas sentimentais, consegue com honra e com mérito ganhar o campeonato.

Lágrimas correram nas faces de Cristiano Ronaldo: umas de amargura e outras de tristeza, durante a final.

Neste longo dia, o Euro 16 tornou-se na coroação das três vezes em que Cristiano Ronaldo foi o melhor jogador do mundo.

O homem decisivo para os momentos decisivos foi ferido no 8° minuto por Dimitri Payet e chora de dores e de desespero por ter de deixar a equipa no momento em que ela mais precisava dele. Teve de deixar o seu palco, levado numa maca.

Todos fomos testemunhas das lágrimas a correrem-lhe na cara e as dores no rosto e como com Ronaldo no banco, todo o Portugal desespera.

A equipa portuguesa, consciente de que em momentos decisivos não é só boa a nível individual, mas também como equipa, pega no jogo com a cabeça e com os pés consciente que só juntos por uma causa se conseguirá vencer; então um por todos e todos por um (Ronaldo) combatem como leões numa arena de grandes.

Ronaldo, agora na Zona de treino ao lado do treinador e na linha lateral encoraja os colegas em campo. No 109° minuto Eder marca o Golo e no rosto de Ronaldo correm agora lágrimas de contentamento.

Portugal consegue a meta gloriosa.

Enquanto Portugal jubila, a equipa francesa, chorava incontidamente  com Blaise Matuidi e Antoine Griezmann.  No rosto de França via-se a dor do “Cruel e terrível” xeque-mate na própria casa.

Na Arena de Paris, Portugal deu o exemplo de Portugal unido, e de um Portugal não perdido nas divisões de interesses corporativos e de partidos (Foi um momento da união só também tido no passageiro 25 de Abril e no apoio ao povo de timor!).

Precisamos de um Portugal verdadeiramente português que se sinta ele e acredite nele; precisamos de políticos nacionais à altura dele!

Portugal tem muitíssimos “Ronaldos” e muitos “Fernando Santos” sentados no banco dos suplentes e da assistência, impedidos e sem hipótese, sofrendo, até ao desespero, com a falta de espírito de serviço e de equipa dos nossos Governos e Parlamentos.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo