PORQUÊ LISBOA E NÃO PORTO OU COIMBRA NA CANDIDATURA PARA A EMA?

Urge fomentar o Regionalismo

A Assembleia da República, aprovou, por unanimidade a candidatura de Portugal à sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA) para Lisboa, que por razões do Brexit terá de passar para a EU.  Foi pena os deputados dos partidos não terem optado pelo Porto ou por Coimbra.

É também lamentável, o facto de os partidos depois de terem votado por Lisboa virem para a rua contradizer-se, defendendo outras opções. Depois de parido o voto no parlamento (em Maio), vêm agora cá para fora retalhar o parto, com o apoio dos meios de comunicação social (famintos de barulheira emocional entre um povo a distrair). Porque não houve a discussão antes da decisão no parlamento? Democracia à portuguesa republicana?  

Torna-se difícil de compreender que em Portugal todas as instituições relevantes portuguesas se encontrem em Lisboa. Os tribunais administrativos, do trabalho e outras instituições deveriam ver as suas sedes distribuídas por outras cidades portuguesas. Em questões de regionalização somos um país subdesenvolvido com um centralismo favorecedor da solidariedade na corrupção.  

Na Alemanha pratica-se a solidariedade equitativa entre as regiões, tanto a nível de redistribuição de riqueza, de instituições como de tarefas. Deste modo mantem-se um certo equilíbrio entre as regiões. Pratica-se mais a democracia política, institucional e administrativa. Por isso, a Alemanha é um país rico com relativo equilíbrio em relação a outros países europeus (vejam-se os transferes financeiros das regiões mais fortes para as menos fortes).  

Portugal, com o seu centralismo obsoleto em Lisboa continuou na República o que o espírito monárquico tem de criticável. A sociedade portuguesa, com os seus representantes, contenta o seu narcisismo em alfacinhas com brilho artificial! O mesmo se diga no centralismo do MEC com um comportamento de patrão absoluto que mantem o professorado e as escolas atrelados ao jugo de Lisboa.  

Por vezes tem-se a impressão que os nossos ministérios se tornam albergues de aldeões antigos envergonhados, mas bem engravatados, que compensam uma certa pequenez numa Lisboa megalómana! Atendendo à necessidade de democratizar na europa as concentrações económicas e à megalomania provinciana concentrada em Lisboa, seria de recomendar a transferência da sede da EMA da Inglaterra para Portugal e possivelmente para o Porto ou para Coimbra!    

© António da Cunha Duarte Justo  

Pegadas do Tempo

PORTUGAL EM 3° LUGAR NO ÍNDICE GLOBAL DA PAZ

Países Lusófonos a Caminho – Europa: a Região mais pacífica do Globo

António Justo

O Instituto para Economia e Paz (IEP) apresentou o Índice Global de Paz (IGP 2017), baseado na análise de 163 países e coloca Portugal em terceiro lugar no Ranking das nações mais tranquilas.

Países Lusófonos

A classificação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é encabeçada com o 3°. lugar para Portugal, seguida do 53°. para Timor Leste; 61°. para Guiné Equatorial; 78°. para Moçambique; 100°. para Angola; 108°. para o Brasil; 122°. para Guiné Bissau.

Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe não entraram na análise.

Segundo IEP Portugal passou do quinto para o terceiro lugar, ultrapassando a Áustria na classificação da posição mundial, devido, sobretudo, a uma recuperação constante na sua crise financeira, o que levou a uma maior estabilidade interna para o país.

Critérios para a classificação dos países

Como factores para a classificação dos países, os cientistas servem-se dos seguintes grupos de indicadores: 1. Os conflitos no país e no exterior: número e duração de conflitos com outros países, e o número de mortes por violência organizada; 2. Segurança Social: instabilidade política e probabilidade de manifestações violentas e do número de detidos nas prisões; 3. Militarização: quanto dinheiro disponibiliza o país para as suas forças armadas, número de soldados disponíveis e se tem armas nucleares.

Os 10 países com mais paz e menos violência

1.Islândia, 2. Nova Zelândia, 3. Portugal, 4. Áustria, 5. Dinamarca, 6. República Checa, 7. Suíça, 8. Canadá, 9. Japão, 10. Irlanda.

Entre outros: 16. Alemanha, 23. Espanha, 38. Itália, 41. Reino Unido (ainda sem o recente ataque terrorista), 51. França, 137. Índia, 151. Rússia, 161. Iraque, 162. Afeganistão,163. Síria.

Na carta apresentada pelo IEP a Rússia encontra-se com a cor vermelha tal como a Síria; até o Egipto tem um melhor índice de paz que a Rússia, o que parece questionável.

O relatório coloca a Europa como a região mais pacífica do mundo. O projecto União Europeia tem sido, certamente, um factor de garantia de paz. Apesar da guerra na Jugoslávia e do bombardeamento da Sérvia, nos anos 1990, a paz tem-se estabilizado, apesar de certos indícios de insegurança e medos a aumentar.

Apesar do cancro da guerra em muitos países e do terrorismo islamista a esperança é maior que o medo!

O facto de alguns se afogarem na praia não justifica que se traga colete salva-vidas na banheira.

O importante é assegurar a paz sem que isso aconteça à custa da exploração de outros. O Estado, as instituições e os indivíduos terão de se empenhar no grande projeto de criar uma cultura de afirmação pela paz.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A DIGNIDADE HUMANA É O ALICERCE DOS DIREITOS HUMANOS

União Europeia – Uma “Comunidade de Valores” sem Sustentabilidade?

António Justo

Não é a autonomia da pessoa que fundamenta os direitos humanos, mas sim a dignidade humana que fundamenta a sua autonomia. O Homem é um ser situado e como tal feito de eu, tu e nós, de espaço e de tempo (é mais que as suas circunstâncias). Nele a transcendência dá perspectiva e continuidade à chama da realidade (1).

Querer basear os Direitos humanos apenas no Direito político (no direito e na moral), como tenta a União Europeia, quando se procura identificar e definir como “Comunidade de Valores” (por ordem decrescente a nível de popularidade: “direitos humanos”, “democracia”, paz, “estado de direito”, “solidariedade” “respeito por outras culturas”, “respeito pela vida humana”, “igualdade”, “liberdade do indivíduo”, “tolerância”, “autorrealização” e “religião”), significaria um encurtamento, uma regressão no processo do desenvolvimento (humano, histórico e sociológico). Ao mesmo tempo corresponderia ao abdicar da sua função teleológica (das causas finais ou finalidade – propósitos e motivos que estão por trás do viver e do agir) e a conformar-se com o fim da História. Implicaria uma amnésia da história passada e consequentemente uma renúncia ao futuro (em vez de sujeito assumiria o papel de ser apenas  objecto da História: ser um objecto entre outros; renuncia à própria consciência de sujeito para viver oportunisticamente numa posição hipócrita de igualdade artificial com outras culturas: relativismo cultural!).

Pretender reduzir a tradição europeia ao iluminismo sem reconhecer que este só foi possível na continuação da Idade Média e do Renascimento e da doutrina cristã e grega corresponderia a desfamiliarizar-se à imagem do filho pródigo. Os valores da comunidade não a justificam por si mesmos; com o tempo tornar-se-iam numa roda de hamster sem missão nem sentido e sem objectivo abrangente.  Ontem como hoje legitimam-se guerras e injustiças em nome da defesa de valores e direitos individuais, religiosos e políticos. Os direitos e interesses das partes concorrentes determinam o agir à custa da dignidade humana (2).

Entre o imperativo categórico da razão e o imperativo integral do divino

Nessa “Europa dos Valores”, o barómetro da validade dos valores dependeria, pontualmente, do sentimento expresso em determinada época ou tempo.

O desejo corre atrás da falta. O mimetismo das leis e costumes na luta pela sobevivência que cria esperanças não dá sentido nem pode satisfazer a Esperança. O bem-comum e a democracia são demasiado circunstanciados para poderem ser apresentados como garantes de futuro ou como princípio ético global (Exemplo de do filósofo Sócrates e de Jesus Cristo que foram mortos em nome da lei por defenderem a dignidade humana que transcende a própria lei e moral: ao não seguirem a moral da massa ficaram fora da lei e da sociedade). A polis, a democracia, em nome do povo,  legitima a morte do indivíduo pela lei embora este, como testemunha Jesus e Sócrates, seja fiel a uma consciência ética individual e social superior à da massa; numa perspectiva da polis, ao indivíduo fica reservado o mal se não segue a masssa. Na consequência podemos concluir que não chega o reconhecimento do grupo ou da sociedade como prémio ou como saisfação de uma necessidade para legitimar um acto ou uma lei geral. O facto de se pressupor um ideal absolto e de ele ser impossível no tempo, devido à falta, não justifica a sua negação ou sentido.

O desejo realizado apenas no âmbito social  reduziria a vida a uma mera necessidade de autoafirmação presente na natura e na cultura mas sem perspectiva de sentido final. A liberdade e a dignidade humana são  mais do que a lei produz. A esfera da moral é criada pela lei mas esta deve deixar margem para poder ser secundada pela consciência.

A vontade da lei – expressão do momento – seria determinante independentemente do sentido e da finalidade do Homem, da história e da natureza, que apontam seguir no sentido de uma meta e de uma caminhada de aperfeiçoamento comum (a natureza e o desenvolvimento antropológico e sociológico seguem na peugada de um chamamento). A teleologia explica a realidade em termos de causas finais e a teologia explica a realidade em termos de primeiro motor e de causas finais, na perspectiva humano-divina.

O imperativo categórico da razão não pode obstar ao imperativo integral do divino, que é uma constante a manter-se; a ética da responsabilidade é um bom orientador para regular a vida da pessoa na cidade (sociedade) mas não é suficiente, precisa também da virtude moral pessoal (convicção) que assente num imperativo divino (esfera mística e ideal já apresentada por Platão na alegoria da caverna). Não é suficiente a narrativa da comédia e da tragédia da vida para a explicar; a vida humana necessita-se também da filosofia e da espiritualidade como procura da verdade. (Naturalmente que aqui falo como cristão, mas como cristão consciente de que todas as doutrinas e éticas se interrelacionam e se necessitam na caminhada comum de realização e descoberta do mistério).

Substituir o olhar de Deus pelo do Estado secular seria condicionar o cidadão irremediavelmente à polis (cidade) tal como em tempos anteriores o servo da gleba tinha sido condicionado à agricultura. Seria dar o passo da Religião para a Ciência de maneira irreflectida, porque esta não aceita reconhecer nem ver a ideologia que a sustenta. Nesta via reduzir-se-ia tudo a educação, psicologia  economia e sociologia, fazendo dos professores os novos sacerdotes ao serviço de uma subalternidade que humilha a pessoa.

A dignidade humana (de gene divina) ultrapassa o estatuto da moral e do direito; ela é que os fundamenta e garante: neste sentido, todo o Homem é filho de Deus independentemente da sua crença e mundivisão. Com a morte de Deus, a Europa perderia o seu passado e com ela o sentido do seu futuro. Seria antieuropeu e anti-cultura-ocidental, se os seus representantes continuassem a negar o Deus dos cristãos (o Cristianismo fonte do seu ser e projecção e sentido da missão no mundo de se dar “a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”) porque ao matar Deus matam a cultura e negam a continuidade da história. Todo o Homem ocidental consciente da cultura europeia, independentemente de ser ou não crente, reconhece a importância do cristianismo como matriz da cultura ocidental que soube integrar nela  o espírito grego e romano numa dinâmica de aculturação e inculturação com outras culturas; de facto são instituições como o Catolicismo e outras comunidades que, na abertura, permitem garantir a sustentabilidade de uma civilização que herdou delas a dignidade humana e os direitos humanos numa dinâmica de se reinventar e refazer continuamente.

O direito é algo externo e como tal não tão vinculativo como a dignidade humana porque, mesmo o Estado de direito que se entende justo, tem um sistema jurídico fruto da força dos mais fortes e que os beneficia, com maior ou menor desvio, de cultura para cultura: a dignidade humana essa é uma constante acompanhada por valores (direitos e deveres) variáveis. A dignidade humana, por mais ultrajada que se encontre num sujeito, transcende o direito (quando este dispõe do homem como objecto); a dignidade humana responsabiliza o ser humano no foro externo e interno; não se subjuga à ponderação de interesses imediatos (individuais ou grupais) que a determinem.

A instituição e o órgão não se podem sobrepor à pessoa (dignidade humana). O Estado embora promova o direito é ao mesmo tempo seu objecto e a vontade do povo é legitimadora das leis na medida em que as condiciona à dignidade humana. Doutro modo temos uma sociedade de direito, mas de legitimidade muito limitada.

De que me valeria ser justo se a minha justiça contribuísse para a sustentabilidade de um estado de injustiça?

Para Aristóteles o fim da acção é a felicidade (fim teleológico)

 

Na vida individual e social, a uma força biológica causal junta-se uma força intencional (um objectivo a longo prazo, impossível de ser observado num momento determinado dado o observador fazer parte do processo).

Sem uma visão teleológica da realidade e da própria história, os valores e os direitos humanos (e um possível catálogo de princípios éticos acompanhantes) careceriam de sentido e propósito, não podendo por si sós tornar-se em motivação de acções e de valores.  Um agir motivado apenas pelo direito teria como consequência um utilitarismo egoísta ad hoc porque até o princípio ético da justiça não passaria de um argumento para se produzir um contínuo estado de guerra desesperada contra quem tem ou é mais ou até incrementar um estado de guerrilha de indivíduos e de grupos na sociedade (à imagem dos jhiadistas muçulmanos).

Se observamos, o ser humano, a natureza (biologia) e a História na sua caminhada (antropológica e sociológica) verifica-se não só a caminhada mas que o caminhar se orienta para uma meta (força motivadora e intencional; o argumento de uma possível lei de adaptação é insuficiente por excluir o fim aberto da metafísica; não chega a força da necessidade para justificar a criação do órgão nem o salto das espécies para explicar o desenvolvimento nem tão-pouco uma ordem; por trás da necessidade há um impulsionador que possibilita a própria ordem, a orienta e a satisfaz e a que se poderia chamar felicidade ou perfeição – realização final (dinâmica da trindade). (Nesta perspectiva torna-se óbvia a colaboração das várias ciências como achegas complementares na tentativa de desvendar o mistério da vida e do mundo que é maior do que o âmbito que cada sector abrange: não chega ficar-se pelo materialismo nem pelo espiritualismo como modo de explicar o mundo e o Homem (sua origem, composição, finalidade e sentido; também não é suficiente perder-se em explicações); um e outro têm de se dar as mãos para solidariamente servirem a Humanidade. Com efeito, uma autoafirmação no ser contra e através da negação do outro (alteridade) corresponderia a um impulso primitivo de elementos inconscientes, sem ipseidade própria nem sentido.

A Dignidade Humana é a   logomarca da história intelectual e mística europeia

A dignidade humana dá consistência à autonomia dos direitos humanos, legitimados por uma convicção moral. De facto, não chega a tentativa de um enquadramento da consciência europeia em variáveis jurídicas e morais para fundamentar o valor de uma cultura ou fundamentar a dignidade humana; a moldura é variável, como se verifica ao longo da História e na comparação das culturas. (Uma fundamentação e explicação meramente ética procura a sua origem na filosofia Kantiana, em concepções utilitaristas ou relativistas). São, porém, insuficientes. O acto político humano circunstancial (democrático), expresso na elaboração de uma Constituição, não é suficiente para fundamentar um direito vinculador do comportamento, porque não reflecte o ser do Homem, o Homem todo, a sua ipseidade de caracter divino.

Não chegam conceitos morais para fundamentar os diretos humanos; uma ética responsável é sempre pessoal; como referi, a “dignidade humana”, de identidade cristã e de filiação judaico-geco-romana precisa de manter instituições que preservem a memória e a vivência a ser transmitida de geração em geração (cristianismo e seus desafiadores como guardiães do direito natural, do direito positivo e do direito espiritual). A Dignidade Humana é a   logomarca da história intelectual e mística europeia e baseia-se na” Imagem de Deus” apesar das mais diversas expressões e ao abuso do mais forte; abuso sempre presente na história religiosa e profana pelo facto de estes não deixarem de ser portadores dos males inerentes ao ser humano.

Embora o cristianismo não tenha elaborado um catálogo específico sobre os direitos humanos e o seu fundamento na Dignidade humana, toda a sua espiritualidade (ser-humano feito de terra e céu, o protótipo Jesus Cristo, o embutindo na relação pessoal trinitária, as bem-aventuranças, tudo isto cria um uma relação substancial de elevação natural da dignidade humana. O cristianismo é mais que uma religião, por isso, a dignidade humana é definida independentemente da religião…e como tal global e válida para toda a crença e descrença.

A dignidade humana é mais que um direito; ela é a rainha de todo o direito! A honra humana é inerente ao Homem independentemente do estado social e da sua avaliação ao longo do tempo. Para Paulo não há grego nem romano. O Homem deve velar pela sua dignidade perante si, perante os outros e perante Deus implicando isto o seguimento de um chamamento de perfeição.

A dignidade humana e a admiração por todos os seres prestam-se como alegação universal para o direito e a moral de todos os povos.  A dignidade humana é o fundamento religioso e filosófico mais apropriado dos direitos humanos; uma tentativa de colocar os direitos humanos como fundamento leva ao equivoco, dado o direito e a moral que os assistem serem demasiadamente localizáveis, condicionadores e condicionados ao lugar e ao tempo, para poderem servir de fundamento último de mundividências ou atitudes. A mera lei como orientação mata as asas do sonho, aquilo que nos torna Homem.

Pena de morte – Um Direito contra a Dignidade humana

 

Consequentemente, a dignidade humana não é compatível com a legitimação da morte de embriões nem de pessoas em estádio último, muito embora o direito se expresse diferentemente em circunstâncias diferentes. Tentar definir a dignidade humana corresponderia a equacioná-la e condicioná-la em termos de sistemas ideológicos ou mundivisões ela é o valor em si porque, o valor a priori anterior à formulação do direito público e do direito privado.

 

Corre-se o perigo de haver uma degradação da orientação baseado num processo de transferimento do pensar da filiação divina, para o pensar racional e ultimamente para o pensar utilitário-financeiro. De facto, na formação dos juízos de valor deparamo-nos com a influência da economia em termos de câmbios correspondentes a trocas de valores equivalentes a produtos em igualdade

Basear os direitos humanos apenas na acção de legislação política corresponderia à elaboração de um sistema social com pés de barro como na predição de Nabucodonosor . Com o tempo o homem deixaria de ser sujeito e senhor para passar a objecto e escravo.

A Dignidade Humana e o respeito perante a vida (todo o ser) são os garantes da paz e do desenvolvimento dos povos.

A lei da pena de morte, vigente nalguns países, é o exemplo mais acabado de como uma determinação legal, embora democrática, transgride a dignidade humana e o respeito pela vida ao conferir a uma instituição o direito de colocar a sua norma acima da Dignidade humana.

©António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Faço esta reflexão que provem de uma observação do agir e legislar da União Europeia, consciente de que muitos dos seus timoneiros não estão à altura de perceber a matriz da cultura europeia e do seu sentido e significado para os cidadãos e para o mundo. Em vez de viverem a própria cultura, incorrem num zelo jacobino masculino de imporem a outros povos a sua “democracia”, com um constructo dos “valores europeus” em que os valores da pessoa, da família e da comunidade deram lugar aos valores do mercado que para se tornar absoluto aposta no egoísmo humano, longe de Deus e do povo. Não me preocupa a crença; o que me preocupa é uma Europa só corpo que perdeu a alma e que por isso não parece saber o que quer nem o que faz.

(2) Hoje torna-se óbvia, mais que nunca, uma discussão desemperrada sobre a cultura europeia atendendo ao seu caracter aberto e à afirmação crescente da cultura árabe no seu meio como gueto. Neste sentido não é suficiente uma Constituição dado se afirmarem à custa da cedência de bens culturais europeus sem que eles cedam também nos seus; de facto, a abertura cede ao fechamento sem nada em contrapartida.

QUE SERIA DOS ESPERTOS SE NÃO FOSSEM OS BURROS!

A Inteligência e a Burrice da Nação espelham-se nos Governantes e vice-versa

António Justo

Quando se desce à rua, seja em África, Venezuela, Brasil, nas alas do governo ou da oposição, tem-se a impressão de vivermos numa sociedade doente e de atmosfera infectada. Nela, frequentemente,  a alegria de uns constitui a tristeza de outros e o que sobressai na população é a tosse da acusação e da queixa.

Em sociedade o que mais conta é a luta de interesses de grupos numa estratégia de afirmação de uns contra os outros.  O povo é o tapete onde os interesses se jugam e realizam. Cada grupo organizado puxa na corda a que se agarra e o que passa a valer é a corda e o que ela arrasta, por isso a sociedade, como todo, pouco adianta.

Uma mentalidade cultural baseada em vencidos e vencedores legitima o direito do vencedor a desrespeitar o vencido que se encontra sempre na massa anónima, que é povo repartido!

O povo repartido na perspetiva da sua parte acusa a injustiça que vê da outra parte. Daí não poder haver revolta popular contra o sistema político que apenas se reveza na luta da insatisfação repartida e na consequente distribuição da presa à clientela vencedora (Esta parece ser, por enquanto, a lei do progresso!).

É legítima a exigência de que se mudem as regras de jogo na luta social e política, mas ineficiente porque o poder vive do princípio da divisão “Divide se queres imperar” e isto porque o todo é feito de partes (grupos que se afirmam numa dinâmica do contra, de interesses contra interesses e por isso não ganha o todo, mas sim o interesse da parte mais forte).

A alternativa seria diminuir a burrice de maneira à esperteza se ter de transformar em inteligência. Mas também a inteligência pressupõe ver mais longe e como tal passa também ela a viver e usufruir do privilégio do avanço que a caracteriza e que o povo, numa das suas partes, legitima.

A parte que ganha vive do benefício da posição da força de interesses maioritários que a legitimam a explorar o grupo perdedor e ao grupo que perde resta-lhe o apelo à moral e ao barulho da praça. (Cada um parece só ter para dar e receber o que é do outro sem pensar nem prover pelo que é nosso!) Em termos reais o povo é que paga a conta.

Às vezes fica-se com a impressão que o povo (grandeza anónima) funciona para muitos espertos como uma offshore.  Um exemplo perfeito do que acontece a nível de economia temo-lo nas Offshores (Panama Papers: aprender a roubar em cinco minutos) onde o profissionalismo da corrupção e do roubo é institucionalizado pelos bancos, com a bênção da política (onde se lava o dinheiro, se cria anonimidade e os vestígios dos criminosos são safados).

O sistema favorece os espertos e os corruptos, mas esse sistema é fruto de um povo que gera o governo e o possibilita do nível de corrupção ou de transparência que merece (por isso também há grande diferenca entre os povos e os governos das diferentes nações!).

Para a prática da corrupção pressupõe-se a existência de energia criminosa mais ou menos latente em cada pessoa. Em geral, a corrupção de cima é mais evidente e mais execranda que a de baixo, mas a caracterização da diferença depende também do caracter e da possibilidade que o grau do posto proporciona. Também “a oportunidade faz o ladrão”! A diferença qualitativa do corrupto de baixo da do corrupto de cima vem do grau de consciência, da necessidade e das consequências que provoca (um talvez roube para matar a fome e o outro para esbanjar, com a fome dos outros).

Em nome da generalização se condenam as acusações placativas aos políticos e em nome do povo enriquecem os predadores da sociedade. O político corrupto além de corrupto é traidor… além do compromisso de servir o bem-comum e de ser exemplar, ele tem o poder e o dever de mudar as coisas a um nível que a pessoa privada não tem.

 

As regras de jogo são feitas por espertos para os espertos que as usam sendo justificados por um povo plateia que estimula o jogo. Eles têm o proveito e o povo fica com a satisfação de ir vivendo ao sol do debate sobre moral. A esperteza junta-se à burrice na anonimidade! Que seria dos espertos se não fossem os burros!…

Na “matilha„ não importa a dignidade humana o que conta é o osso.

O problema não está na carroça, mas sim nas “bestas”! “Ai dos vencidos”!

 

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

Fátima: Lugar de Oração e de Meditação

Maria acentua o lado feminino da Devoção

António Justo

Fátima e a reza do Terço proporcionam, a muita gente, um acesso especial a Deus: um acesso que se poderia classificar de via natural ou feminina (Cf.: Curar é Santificar: https://antonio-justo.eu/?p=1350  ; Meditação e Respiração: https://antonio-justo.eu/?p=1354; Fátima Lugar do Encontro: https://antonio-justo.eu/?p=4244 ); Fátima: Técnica contra a experiência sensitiva?: https://antonio-justo.eu/?p=1330).

 

Na devoção a Maria e na reza do Terço mistura-se o céu e a terra, junta-se o Pai-nosso à Ave-maria e em Fátima verificam-se também ligações subcutâneas anteriores ao cristianismo. Na devoção mariana, expressa em visões e aparições, encontra-se o homem todo: a fé unida à superstição.

 

Em Maria, a feminidade, assume um caracter divino que incardina nele também a parte humana da Redenção; é uma espiritualidade própria, uma via para chegar a Jesus.

 

Em Fátima, observam-se cenas não edificantes, como joelhos sangrentos a rastejar, o que provoca compaixão, arrepios e até crítica por parte de círculos mais esclarecidos ou elitistas.  O agradecimento, de um pedido-promessa a Maria em Fátima, torna-se, muitas vezes, numa abstracção onde a transcendência diminui a dependência de uma situação existencial e social carente. A situacao é espiritualmente sublimada numa visão transcendente que não humilha nem julga a condição de necessitado; por outro lado a condição do pedinte é dignificada pela nobreza do interlocutor espiritual (Maria).

 

Isto não pode, porém, legitimar, socialmente, uma devoção em que transmite a impressão de que Deus parece ser tornado num comerciante que proporciona uma troca de mercadorias e interesses: dou para que tu dês. Esta seria uma visão tão pobre como a daqueles que se julgam superiores desprezando e condenando os peregrinos, sem compreenderem a sua ipseidade nem lhes darem chance para se explicarem. O facit da crítica não passa muitas vezes de autoafirmação e definição à custa dos outros.

 

Deus é amor transbordante e por isso não precisa de entrar no negócio; quem precisa, porém, ao encontrar-se numa situação sem saída e de emergência, recorre aos meios que lhe são próprios e que tem, como meio para se ajudar a si mesmo a chegar ao lugar do amor, onde, fora do julgamento, das contas e da física, experimentará o reconhecimento e a admiração, numa contemplação de amor em hosmose do “eu estou aqui e Tu estás aí”!

 

Na Terra não há nada puro, não há corpo sem alma nem alma sem corpo, por isso a tolerância também será aqui chamada, seja ela de índole mais masculina ou feminina; como na natureza há coisas, pessoas, costumes e culturas mais ou menos puras.

 

Fátima faz parte de um povo e de uma cultura com diferentes nuances e de uma devoção com muita expressão simbólica; há que reconhecer que não se pode ter simultaneamente, no mesmo organismo social ou numa pessoa, ao mesmo tempo, os diferentes estádios (infância, adolescência, juventude e adulto). Independentemente da fase em que se encontre a pessoa, o mais importante a descobrir nela é a sua procura e o desejo de transcendência, independentemente da sua expressão. “Não julgues e não serás julgado”. Em Fátima expressam-se atitudes nossas, do nosso povo que oferecem à Igreja uma oportunidade privilegiada para evangelizar.

 

Muitas vezes fiquei surpreendido ao encontrar na fé simples de minha mãe e na sua reza diária do terço, uma fonte de sabedoria e critério (clarividência, simplicidade e tolerância) que, por vezes, não se encontra em pessoas doutoradas. Com a reza do terço em conjunto acabavam-se as animosidades do dia.

 

Um certo elitismo masculino, intelectualista e iconoclasta revela-se, muitas vezes como antimariano e como tal desconhecedor de uma via importante de acesso à realidade.

 

Em Maria o céu e a terra uniram-se de forma que só o mistério se revela como chave da vida. O sim de Maria é um sim à terra e ao céu, um sim à esperança como germe de vida (masculinidade e feminilidade); em Maria realiza-se de forma prototípica o compromisso e a capacidade livre de dizer sim a Deus e à existência no rio da vida. Maria tornou-se no domicílio da divindade; com ela e nela a mulher continua a concretizar a esperança da humanidade.

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo,