“Militares de Abril” boicotam Comemorações Oficiais do 25 de Abril

MILITARES DE ABRIL QUEREM SAIR DE NOVO PARA A RUA Protagonismo político camuflado na A25A

António Justo

A “Associação 25 de Abril” (A25A) fiel à ideologia inicial do seu “Abril não desarma” declara que “não participará nos actos oficiais nacionais evocativos do 38.º aniversário do 25 de Abril” mas sim em comemorações populares; isto traduzido em texto claro significa: participará em comemorações arruaceiras. A A25A quer ver os seus militares abrilistas na rua a fazer barulho antes que sejam chamados a responsabilidades de acções antipatrióticas outrora praticadas. Nestes festejos, a sociedade portuguesa deve estar atenta não só aos que comemoram a oficialidade como também aos mais populistas, aos que agora afirmam ser “conscientes das obrigações patrióticas que a nossa condição de Militares de Abril nos impõe…”, aos que, oportunamente abandonam as bancadas, como faz agora Soares. Só assim, os portugueses poderão concluir do conluio entre irresponsabilidade política e popular para se poder tornar imune contra o oportunismo da ideologia e da rectórica alienante.

Aproveitando-se do mal-estar português, a A25A torna-se porta-voz de recalcados anseios dos seus “Militares de Abril” por um novo Golpe Militar. A A25A apoia descaradamente a opção militarista como solução para os problemas de Portugal, como se Portugal fosse uma república das bananas interessada na solução árabe para Portugal. De facto, a A25A, no seu manifesto, confessa, para quem lê nas entrelinhas:declaramos ter plena consciência da importância da instituição militar, como recurso derradeiro nas encruzilhadas decisivas da História do nosso Portugal”. Portugal “nosso” deles…

Continua-se com a mesma oratória de há 200 anos para cá, como se os problemas políticos e sociais das sociedades modernas pudessem ser solucionados com uma rectórica partidária irresponsável. Têm ainda a insolência de afirmar: “a nossa atitude não visa as Instituições de soberania democráticas”, como se esta acção demagógica não partisse de pessoas ligadas às instituições de soberania como é o caso de Militares e não fosse apoiada por pessoas como M. Soares.

Afinal, quem são os “Militares de Abril”? Uma aparição salvadora? O protagonismo político, que a A25A cobre, é irresponsável, num momento em que Portugal ferve e deveria reflectir sobre si mesmo e sobre estratégias isentas para sair da crise. Fala-se do Militares de Abril como se na terceira república não tivéssemos também os militares de Novembro. Será que as forças militares se sentem obrigadas a ideologias ou estará a facção abrilista interessada em criar o caos em Portugal?

Os interesses da facção dos “Militares de Abril” e seus aliados, em tempos de crise, descobrem a rua e muitas autarquias locais como campo de acção, para, à custa do mito de Abril (Primavera) poderem continuar a vestir a pele de cordeiro e poderem, no ribeiro popular, afirmar que quem “suja” a água não são eles mas os outros, os maus. Camuflados dos ideais de liberdade, justiça e libertação enganam o povo dizendo “A A25A participará nas Comemorações Populares e outros actos locais de celebração do 25”. “Abril não desarma”! Que armas têm estes militares?

É cinismo verificar como “Militares de Abril”, que, com os seus cúmplices de partido, atraiçoaram os interesses de Portugal, a nível internacional, se querem agora aproveitar da crise e das insatisfações do momento bem como correspondente descarga de culpas no estrangeiro. A culpa morreu solteira, sabia também o povo de antigamente! Em nome de Abril, a terceira república meteu a carroça da nação na lama e os seus beneficiados querem-se agora ilibar, armando-se em libertadores da nação. Oportunos, falam agora mas não quando deveriam ter falado! Coisa semelhante aconteceu na primeira república que depois deu origem à do Estado Novo. A Nação portuguesa já está habituada a ser o bombo da festa de oportunistas à espera do momento para assaltar o Estado. Quem provou os seios do Estado foge do povo para se alimentar dele. Da situação de Portugal somos todos responsáveis, a não ser que pretendamos a  confusão dum estado para mamar e doutro para acusar!

Na sua ética e moral jacobínias atiram pedras escondendo-se por trás de palavrinhas mágicas como liberdade, cidadania, etc. Do alto do barranco do protagonismo político da A25A, pretendem a sua “Integração plena na sociedade portuguesa” como se eles não se tivessem de integrar na sociedade portuguesa. Esta mentalidade tem sido o cancro da nação: em vez de se pretender integrar as partes no todo pretende-se reduzir o todo à parte!

Que as condições mercantilistas impostas a Portugal devam ser contestadas é lógico mas que o movimento republicanista se lave as mãos da lixeira por ele criada, ultrapassa os limites do tolerável.

O que falta em Portugal é o sentido dum trabalho produtivo, um voltar à terra e ao povo deixando a ideologia que apenas serve os privilegiados, os tais de “corpo inteiro”, já que turbo-capitalismo e esquerdismo só valorizam o trabalho à custa da dignidade humana. Os quadros da ideologia e da economia, esses, os senhores da ética (que enriqueceram à custa do 25 falam agora de “ética como “palavra vã”) são os novos-ricos alimentados à custa da exclusão social e de dinheiros da UE. Senão observe-se a excrescência que o 25 de Abril tem produzido: gente esfomeada do dinheiro e da ideologia a viver em nichos e uma pobreza cada vez mais envergonhada no povo. Enriqueceram à custa da revolução e à sombra da revolução atiram pedras sabendo bem que quem paga a crise não são eles, os encostados à Nação mas sim o povo que a alimenta.

Construíram um Portugal dos oportunos (somos dos países com mais cargos em instituições internacionais e vêm agora queixar-se que “Portugal não tem sido respeitado entre iguais”. Precisam dum Portugal vítima para não terem de ser chamados à responsabilidade. Os delinquentes são sempre os de fora! Para si só importam o marisco!…

Falam de barriga cheia porque sabem que a crise, seja ela qual for, só ajuda os das margens da esquerda e os das margens da direita. A terceira república fomentou, entre coisas boas e más, a irresponsabilidade, o medo sub-reptício, o conformismo e o oportunismo; tudo isto em nome do combate ao fantasma de Salazar, pensando que se pode viver à custa do trabalho dos outros. Lavam os seus erros nos erros de Salazar. O povo não come moral nem ideologia e neste momento o que tem é fome, fome de justiça e de trabalho digno e de honra ganha com o próprio esforço.

Os Militares revolucionários de Abril queriam-nos um protectorado de Cuba, Pequim e Moscovo e, agora, no seu camuflado de libertadores abrilistas, acusam-nos de sermos um “protectorado”. Protectorado não é porque Portugal conhece bem o sol do oportunismo e a sua situação de terra maninha, a terra do que é mais forte. A nossa História dos últimos séculos só dá razão aos fracos no momento em que servem de plinto para os mais fortes subirem.

No manifesto da A25A, incapazes (a situação em que nos encontramos é disso a prova) acusam Portugal de ter “dirigentes sem capacidade autónoma de decisão” como se não tivessem sido eles, também, quem na altura abdicou de Portugal para se deixar ir na corrente mais forte.

O regime da terceira república configurou a Constituição Portuguesa e o povo na afirmação dos seus ideais e valores ideológicos e numa estratégia de derrube de tudo o que cheirasse a tradição ou a ética da responsabilidade pessoal e institucional. O povo dançou e dança nele ao toque das bandas políticas deles e da moda; agora sofre as consequências e os organizadores da festa têm o desplante de se armarem em homens bons. Porque “Abril não desarmou”, Portugal chegou onde chegou. Há 38 anos os militares de Abril na “convicta certeza „ de só eles serem os porta-vozes do povo, quando, o que fizeram foi substituir um regime autoritário por outro, e permanecer na sua “convicta certeza” de só terem certezas para oferecer, esquecendo que o que faz um povo crescer é a dúvida metódica. Se “Abril não desarma” o povo encontra-se em guerra: a guerra do oportunismo só serve os tais que sempre vivem encostados à “convicta certeza” como quer a A25A.

Ontem como hoje os portugueses gritaram e gritam por liberdade; ontem como hoje os responsáveis falam da culpa dos outros e o mesmo povo entra no jogo não notando que está sempre a canto! O que Portugal precisa não é de revolução, o que o precisa é de responsabilidade. Quem aposta na culpa dos outros precisa de um inferno para eles! Esquece que o paraíso que tem para oferecer é o inferno dos outros também!

“Viva Portugal”, termina o manifesto. Os mercenários internacionalistas de outrora camuflam-se agora de patriotas e gritam a palavra oportuna do momento: Viva Portugal!

António da Cunha Duarte Justo

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25 de Abril – O Despertar duma Ilusão (1)


Geração 68 – Revolução Política e Religiosa

António Justo

A revolução começa no espírito para só depois ganhar expressão política. Já antes do 25 de Abril andávamos todos à procura de bilhetes para a liberdade.

Em 1959, João XXIII responde à ânsia do mundo por inovação e emancipação convidando todo o mundo ao “aggiornamento”, à mudança. Dos USA surgiam rajadas de ventos anunciadores da ânsia de emancipação expressa na música Pop, Rock, Blues, Rolling Stones, Beatles, etc. no movimento hippie e no desejo de emancipação sexual.

O mapa do tempo e dos sentimentos públicos eram determinados pela baixa pressão soviética e pela alta pressão americana. Na altura o mundo encontrava-se todo em ebulição. Sob o cenário da “guerra fria”, proliferavam os cenários das fronteiras ideológicas. As palavras de ordem da altura eram: “Proibido proibir”, “abaixo o Estado”, “seja realista, peça o impossível”, “não confie em ninguém com mais de 30 anos”.

Este clima, além de fomentar ânsias e aspirações, favorecia a constituição de redes revolucionárias desde Moscovo, Cuba, Ásia, América latina, Argélia até à MPL (Movimento Popular de Libertação de Angola), à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e ao Movimento dos Capitães, depois MFA (Movimento da Forças Armadas portuguesas).

O movimento revolucionário servia-se também da arte para conseguir atingir a juventude e a burguesia pós-guerra. Fermentavam a massa social de então como os WikiLeaks, os Piratas, o Facebook , mainstream, a Internet e a ofensiva cultural árabe no Ocidente fermentam a de hoje.

Manifestava-se a reacção a uma jerarquia repressiva adversa a um novo sentimento de vida. Era o espírito proletário contrariador do estilo burguês a afirmar-se; os filhos da segunda grande guerra formam então uma geração contestatária, a geração 68.

Na sua fuga à culpa e aos ressentimentos provocados pela segunda guerra mundial, a nova geração manifesta-se extremamente sensível à paz, à liberdade e a tudo o que lhe é próprio; inicia uma verdadeira revolução de emancipação que envolve todas as camadas sociais e se manifesta no desenvolvimento tecnológico, na revolução sexual, pílula, droga, etc. Arrumam também com Deus pois não querem reconhecer pai nem mãe.

Neste ambiente o mundo fervia, subindo ao céu, por todo o lado, um grito fumarento de libertação contra a intolerância dos outros. O Maio quente de 68 em Paris torna-se o símbolo duma autêntica revolução cultural em marcha (apesar disso, nesse ano foi assassinado Martim Luther King e falhou também a revolução checa a favor dum socialismo humano).

Movimentos jovens de contestação política vão surgindo por todo o lado, enquanto, paralelamente, os activistas iniciavam uma corrida às instituições instalando-se nelas. A ideologização do movimento levou também à criação de movimentos subversivos que viam em Guevara (assassinado em 1967) o símbolo da resistência.

O movimento dos Capitães de Abril catalisa nele as forças revolucionárias de esquerda, então bem organizadas por todo o mundo, e também o desejo emancipatório febril da juventude num tempo de mudança. A nível político, os espertos da ocasião viam no movimento das forças armadas portuguesas o melhor instrumento para transpor para a Europa (Portugal) a realidade cubana. Na altura, a nossa geração queria mudar o mundo, seguindo ingenuamente os “sinais dos tempos „ propagados e apostando no “efeito borboleta” das pequenas iniciativas. Nesta atmosfera é de compreender os erros cometidos pelos homens de Abril na esperança dum lugar ao sol e o envolvimento do povo desejoso duma sociedade mais livre e justa.

Ventos frescos nos Corações e nas Instituições

(Um testemunho pessoal)

Na altura (66-71) encontrava-me no seminário de Manique do Estoril onde, Hippies, Beatles, Concílio Vaticano II (1) e personalidades pacíficas faziam florir, também nos seus pátios, as melhores rosas e os melhores cravos de esperanças virgens de liberdade e irmandade com todo o mundo. Era o tempo da teologia da libertação, das comunidades de vida,  de novas ideias e iniciativas, a era duma nova educação, a germinar por todo o lado. Era um tempo jovem!

Lembro-me de, então, organizar no seminário de Manique do Estoril cursos de alfabetização para pessoas adultas da região e, nesses cursos, seguir devotamente o método de Paulo Freire. No ar havia uma simpatia pela revolução cultural de Mao Tsé-Tung e por tudo que cheirasse a inovação (Não se imaginava que ele seria um dos maiores ditadores e aniquiladores de povo). Fiquei com a ideia de que Portugal não era tão hermético como se cria, quando em 1969 mandei vir da China “O Livro Vermelho” de Mao, tendo tido a precaução de, ao encomendá-lo, escrever apenas como remetente: Justo, Instituto, Manique do Estoril. Cerca de um ano depois recebi da China vários exemplares com o meu nome e o endereço completos. Então, fiquei estupefacto com o caso.

O processo revolucionário da geração 68 pensava-o então, numa perspectiva conciliar de religioso, como a continuação genuína da grande revolução iniciada por Cristo (JC) com a diferença que o JC não pretendia como o nazismo, o socialismo, o turbo-capitalismo e o maometanismo impor uma forma de vida à humanidade. O que observava lá fora via-o como consequência do espírito revolucionário pelo bem e pelo bem-comum que se encontrava dentro dos muros do seminário. Este espírito, aliado a um espírito de amor e justiça, impregnava a nossa contestação interna que se expressava em iniciativas teatrais como o “Bom Humor”, o “Festival da Canção” e os “Telejornais”. Na altura rebelavamo-nos contra hábitos e autoridades eclesiásticas legalistas e contra hábitos como a vestidura da batina em iniciativas e teatros engendrados pelo nosso “Grupo do Bom Humor”. O grupo actuava em festas da comunidade e noutras ocasiões com teatros, festivais da cancão, telejornais em que a vida do seminário, acontecimentos, atitudes, superiores e personalidades eram passados a pente fino pela crítica humoral.

A título de exemplo: Numa festa pública de vestidura da batina, em Manique do Estoril, onde estavam presentes, também, os familiares dos seminaristas que iam receber a batina, o “Grupo do Bom Humor” actuou e na peça teatral ridicularizou tal acto, o que provocou o desconsolo e a reacção da ordem estabelecida. Esta tinha confiado no “bom senso” do “Bom Humor” para abrilhantar a festa. Depois do espectáculo, o director do Instituto chamou a contas o Padre Conselheiro, que era o ponto de ligação institucional com o “Grupo do Bom Humor”. O sacerdote lá se desenfiou como pôde perante o Reitor e tomou a iniciativa de chamar o grupo a contas. Interessado em descobrir quem era o responsável do grupo e para poder estatuir um castigo exemplar, chamou a si, um a um, cada membro do grupo. Mas, como no grupo eram todos por um e um por todos, cada qual declarou ser o responsável do grupo. Deste modo foi conseguido, com humor e responsabilidade, estoirar com um princípio de toda a autoridade institucional que é: castigar um por todo o rebanho, para que o medo açaime a manada. Assim o superior não pôde castigar nem o grupo nem ninguém. A solidariedade dum grupo arrasa montanhas. Uma instituição que conseguira acordar o sentido da rebeldia bem canalizada e mantida dentro duma ordem conformista, sente-se agora impotente perante o espírito da responsabilidade que ela mesma propagava. O espírito de liberdade e de respeito pela pessoa, transmitido à imagem da pessoa do protótipo JC era o mesmo que questionava as incrustações de regras, autoridades e instituições. A liberdade da experiência do JC dava-nos força e legitimidade para toda a contestação. Era uma contestação vinda de dentro, não de fora. Perante o JC encontrávamo-nos, superiores e subordinados na mesma plataforma do Seu seguimento. Este espírito, ajudado pelos novos ares davam-nos força para quebrar com as correntes do hábito e de obediências cegas a que grande parte dos superiores se encostava regaladamente.

Os mesmos ventos da mudança eram comuns dentro e fora dos muros, embora com diferentes motivos e objectivos. Pessoalmente, mais tarde saltei o muro e na procura de mais liberdade e menos teias de aranha ingressei em partidos diferentes de Portugal e da Alemanha. Uma coisa constatei, o espírito de rebanho e de manada é muitíssimo maior nas instituições seculares do que nas religiosas. Dentro dos muros dos conventos há mais liberdade que fora deles, porque nos conventos, apesar de tudo a pessoa é rei. Quem liberta o espírito e vive dele não conhece o medo da autoridade nem o cálculo da oportunidade!

Os oportunistas da Revolução

Veio depois a enxurrada da “revolução” do 25 de Abril e nela entra a arraia-miúda e a arraia graúda, numa viagem paradisíaca, não atenta ao destino nem aos motivos da viagem. Era querida uma orientação monocolor e pretendia-se meter a liberdade em uniformes ideológicos.

O autocarro de Abril partiu e o povo continuou na esperança de chegar a melhor. Sentíamo-nos todos passageiros da liberdade, provindos dos mais diferentes meios, mas querendo construir uma sociedade com lugar ao sol para todos. Portugal estava todo inteiro, a caminho da liberdade, a caminho dum viver por viver. Então, na rua, nas estações olhos confidentes se trocavam numa atmosfera que se abria para um futuro risonho de espaços abertos e na sequela dum chamamento de libertação.

Por alguns momentos fomos um povo unido e especial que atraía grupos das esquerdas dos mais diversos países; Portugal era a Roma do turismo político de esquerda tal como era e continuou Cuba depois.

No horizonte, aqui e acolá, nuvens de estragos se vão acumulando. O espírito que motivava os actores da revolução era apenas político sem contemplar o Homem todo nem Portugal no seu todo. Por isso o que a princípio parecia uma revolução revelou-se, com o tempo, ter sido apenas um golpe de Estado com os benefícios das mudanças que na altura, noutros Estados europeus acontecia na normalidade. O egoísmo de grupos e “personalidades” da nossa praça, sem escrúpulos, vai-se servindo da nação, deixando para o povo o sacrifício da abnegação; mandam os santos para o deserto para se porem a si no nicho da reputação. Os abrilistas ocuparam o céu português e hoje ainda têm o descaramento de desculparem a crise da nação na culpa dos outros. E o mesmo povo continua a ir na fita pensando que a culpa está neste ou naquele quando ela é bem nossa que continuamos a dar paleio aos que encurralaram a esperanças para si. Aquela alegria, aquela esperança e liberdade da rua que se julgava pública, passaram a ser reservadas para os cínicos do poder que ocuparam o lugar que pertencia ao povo no dia-a-dia, na TV e noutros Meios de Comunicação social. Foi um sonho de pouca dura mas que levou o povo inocente e bom a interiorizar uma superficialidade libertina e a abdicar da dignidade, da honra e do respeito que provinham duma ética de cunho responsável.

O povo confiante acorda agora molhado. Também deixou de ser família universal com o coração no mundo e nos povos ultramarinos para se tornar num canto europeu, num povo de dançarinos de alma na rua saltando ao som de interesses anónimos e ao ritmo da mesma cor. Cconstruiu-se uma liberdade que guarda a oportunidade para o mais forte, uma liberdade amarrada a ideologias e a interesses alheios e não uma liberdade de visão integral e responsável do não só mas também!

Organizaram-se então campanhas revolucionárias de libertação e de reeducação do povo. Tudo bem-intencionado e preparado para atrair a inocência de crenças nobres. Para se responder ao desejo de inocência procura destruir-se a vergonha. Organizam-se, até em recônditas aldeias, sessões de desflorações virginais em grupo; quer-se o comunismo, tudo maninho, querem-se as meninas, menos as que têm o dono presente; procede-se à queimada de livros de “fachos”, etc. O que não serve a ideologia de alguns deve queimar-se ou arrumar-se. À hora da direita segue-se a da esquerda e vice-versa. Esta é a liberdade confinada aos que agora querem ter razão, como se também esta não fosse processo e só pertencesse a alguns. Agora assistimos ao instinto da inocência a vingar-se na resignação. (A geração de agora tem de reparar os estragos, tem de granjear-se a honra e o respeito que lhe foi roubado).

A liberdade desencadeada deixa no ar o som de cadeados caídos numa revolução descontrolada de libertinagem bárbara que se satisfaz no andar na vida por ver andar os outros. Não há respeito por si mesmo nem pelos outros. Tudo à própria disposição. Uma liberdade adolescente, irresponsável, que não conhece nada nem ninguém; toda ela em nome duma culpa passada. Egoísmo puro que faz do outro cliente do próprio sentimento. A droga é propagada, desinibe e o sexo ajuda a ideologia. Quem trabalhava e fazia pela vida era designado de “facho”. Professores exigentes eram saneados e organizam-se os exames colectivos. Uma das causas da crise portuguesa de hoje está nesse espírito leviano de então que levou os estudantes formados, com as notas do grupo, a ocupar os lugares de responsabilidade das nossas administrações.

Uma revolução que prometia tanto, com tão boa música e fanfarra que abria as portas ao progresso desembocou no beco sem saída duma gula de marcha limitada a ritmos de esquerda direita; meteu assim a terceira república nos caminhos da bancarrota, tal como aconteceu na primeira. Heróis da revolução, que o povo ainda canta, vivem com ordenados mastodônticos e injuriosos, como nunca na História houve, enquanto muito do povo vegeta com ordenados de miséria que não dão para viver nem para morrer. Tudo acontece  e se legitima à sombra duma democracia que querem prostituta.

Partidos, sindicatos, grupos organizados, etc. instalam-se no aparelho do Estado. Numa guerrilha ímpar de aumentar o próprio lucro e “honra” agregam-se à volta do estado como chulos à volta do bordel. Por todo o lado se encontram guardiões da revolução, cães de guarda duma liberdade oferecida não conquistada mas em benefício de adeptos e adversários. Privilegiados da revolução agarram-se todos ao vermelho da ideologia ou da parceria perdendo o sentido pela riqueza das cores.

A consciência da liberdade partidária negligencia a liberdade pessoal e a descoberta da força das próprias possibilidades. Um na ilusão á espera de Gudot, outros na letargia virados para D. Sebastião; tudo se alinha nas ordens de marcha de grupos e de organizações secretas enlaçadas em coutadas de compadrio e na burocracia. Compra-se o indivíduo para se afirmar a jerarquia.

A caminhada para o futuro viu reduzido o seu horizonte ao 10 de Dezembro de 1910 e aos resquícios liberais napoleónicos. Um tradicionalismo obediente e a fé nas razões do poder não conseguiram quebrar o bolor dum liberalismo mafioso e dum republicanismo ultrapassado, guardados na nação a sete chaves em gavetas intelectuais seguidoras dos excessos do Marquês de Pombal. A visão ideológica impede o olhar pessoal e regional. Nas pistas dum futuro em liberdade esbarramos connosco, repetiindo os erros da 1. República.

No comboio da história, numa alternância de cor, continuam os mesmos lugares reservados para os da nova oportunidade; o povo continua em bicha e sempre à chuva, sempre à espera nas estações, sempre na ânsia dum comboio com carruagens para ele. Esperar na desesperança é a sua condição independentemente da cor da governação. Para se entrar no comboio dos donos da razão e do arrazoar, é preciso um compartimento, um vagão do partido, do sindicato, do compadre, do mação. A História, sem heróis, deixa-se conduzir pela banalidade do quotidiano e afasta-se cada vez mais da arraia-miúda. Esta, por sua vez, revela-se massa, sem consciência, sempre à espera dum revisor que lhe cobre o bilhete. Uma elite à trela dum Estado dominado pela insuficiência partidária e grupal não gera civis livres nem sequer heróis. Produz acomodados e mercenários, gera políticos da capitulação a ideologias e à subserviência boçal, não tolera heróis nem homens bons. Um povo unido tornou-se num povo humilde sempre vencido. Povo, sempre ao toque de caixa dos oportunos e que então aplaudia e agora lamenta.

(1) O Concílio Vaticano II foi anunciado pelo Papa João XXIII a 25.01.1959, iniciado em 1962 e concluído em 1965. Com este encontro global queria-se renovar as estruturas encrustadas e fazer-se um agiornamento de ideias e práticas em todo o mundo. Por todo o mundo se organizaram iniciativas de mudança que as igrejas nacionais através dos padres conciliares levariam a Roma. O movimento de 68 foi uma versão de estilo secular a uma revolução que o Concílio iniciara antes no sentido espiritual da renovação do Homem todo, no sentido de metanoia de corações e instituições, no sentido de o “Homem” se tornar Homem.

António da Cunha Duarte Justo

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Dia internacional da Mulher uma Oportunidade para a Inteligência emocional

Correcção duma Sociedade máscula de Via única

António Justo

As mulheres são, também socialmente, mais macias que o homem. Este é mais arisco e por isso consegue levar melhor a brasa à sua sardinha.

Há uma centena de anos o movimento internacional das mulheres luta por direitos iguais, por iguais oportunidades e pelo mesmo salário que os homens.

Ideal e realidade continuam a afirmar-se na divergência; para se contrapor esta tendência muitos chegam à conclusão de se introduzir um tratamento especial para a mulher em questões laborais e para tal introduzir por lei quotas de mulheres em lugares relevantes.

A União Europeia está a pensar numa iniciativa legislativa que pretende introduzir na Europa a quota de mulheres. Na Alemanha o partido SPD já reagiu com um projecto de lei que pretende até 2015 atingir 40% de mulheres em conselhos de supervisão e membros de directorias de empresas. Este plano divide os ânimos da nação. O governo é de opinião que haja uma quota flexível que empresas e indústria se autodeterminem. Na realidade, segundo a OECDE, na Alemanha apenas 4% de mulheres ocupam posições de directoria e a nível europeu 10%. Também, segundo o relatório da OECDE, as mulheres alemãs ganham menos 22% que os homens.

Naturalmente, numa sociedade masculina, a introdução duma quota é discriminadora pois coloca no cimo da carreira mulheres devido à quota e não tão sujeitas às leis masculinas mercantis da concorrência. Numa meritocracia isto pressupõe um factor contra. Talvez este factor implique já um elemento de sensibilidade feminina a querer mitigar uma sociedade que fede a suor de homem.

Muitas vezes as mulheres aceitam, na entrevista para emprego, condições que homens não aceitam. Enquanto uma mulher quer ser amada o homem quer ser respeitado.

A maior inteligência emocional das mulheres revela-se, por vezes, prejudicial numa sociedade máscula porque se orientam mais por critérios humanistas e não apenas pelo lucro da firma, o que constitui um obstáculo ao currículo. Os homens sobem até mais alto na escada da carreira porque não sofrem de vertigens ao interessarem-se mais pelo sucesso da firma do que pelo sucesso dos trabalhadores. O pensar masculino tem em conta o próprio interesse e este é premiado pela firma e não pelos empregados.

Segundo estudos feitos na Alemanha, a mulher despede empregados dois anos mais tarde do que o fariam homens e isto incomoda os accionistas das firmas. As firmas querem pessoas de temperamento forte e assertivo com cotovelos robustas para afastar o que não lhe passe no goto. Mais justiça para a mulher significaria, num primeiro momento, que por lei auferissem pagamento igual ao dos homens pelo mesmo trabalho houvesse maior protecção para o trabalho e saúde.

Importante é que a mulher assuma maior responsabilidade social sem ter de abdicar do seu caracter feminino em favor duma sociedade totalmente masculina. A sociedade máscula tem muitos aspectos problemáticos porque afirma quase exclusivamente as qualidades masculinas em detrimento das qualidades femininas. O pensar e o agir do homem é mais selectivo e para chegar além não olha a quem. O pensar da mulher é mais colegial, pessoal mas não tão individualista; o instinto maternal mitiga o egoísmo.

Resumindo o dito e o por dizer: O dia da mulher é uma boa oportunidade para se começar a elaborar uma sociedade com base na complementaridade de masculinidade e feminidade. Por vezes faz doer constatar-se movimentos reivindicativos femininos que fomentam a masculinidade da nossa sociedade ou exigem um currículo para a mulher ditado pela sociedade máscula que obriga a mulher a ter de se comportar como o homem para ter alguma oportunidade neste tipo de sociedade de via única. Seria doentio se a sociedade fizesse das mulheres viragos e dos homens afeminados.

Torna-se uma missão nobre para homens e para mulheres, construir uma sociedade diferente; uma sociedade um pouco mais feminina e um pouco menos masculina. Vai sendo tempo de se juntar e equilibrar o princípio masculino da selecção natural ao princípio feminino natural da colaboração.

António da Cunha Duarte Justo

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Investigação sobre Imoralidade na Riqueza


A Honra do Rico é a sua Toalha

António Justo

Ricos mentem mais e têm menos consideração por outros, ensina o preconceito e confirma uma investigação.

Segundo uma investigação levada a efeito nos USA a riqueza atrai a violação da lei.

Nos USA condutores com carros de prestígio são considerados como impiedosos e atrevidos. Um estudo feito veio comprovar que isso corresponde à realidade. Pessoas ricas em autos ricos transgridem mais as leis do que pessoas com carros médios ou pequenos. Os cientistas da Universidade da Califórnia (Berkeley/US-Staat K.) chegaram também à conclusão que membros da camada social superior mentem mais que membros da camada social inferior. A ganância, para os mais ricos testados, não constituía, duma maneira geral, problema moral. Nas elites é prevalente a concretização dos próprios interesses. Naturalmente que não se pode generalizar porque também nas camadas superiores há muito boa gente que se orienta por fins superiores.

Ricos não têm consideração por muitas regras porque sabem que não sofrem as consequências directamente no pelo, porque partem do princípio que o dinheiro pode comprar quase tudo. O preconceito de que os ricos não tomam a sério a moral é apoiado por esta investigação. Não é fácil manter o equilíbrio entre os próprios interesses e os da comunidade.

Na nossa sociedade contorna-se a moral com muita facilidade. A usura praticada por especuladores da Bolsa (ordenados de banqueiros, de futebolistas e de muitos parasitas de empresas, Estado e instituições), fazendo o seu negócio com a insolvência de firmas e Estados à custa dos trabalhadores e dos cidadãos brada aos céus.

Não se trata de condenar quem é rico mas de lembrar que riqueza implica sempre uma componente e um dever social. Se mandássemos fazer uma investigação sobre a proporção de pessoas do crime registado, certamente que as encontraríamos muito mais nas camadas baixas. Isto apenas revela a mobilizaç1bo da agressividade latente em cada pessoal desde que se encontre em determinada situação.

Com investigações poder-se-iam fomentar ainda mais preconceitos dado a virtude e o mal espreitam em cada humano. Há muita gente rica com consciência social. O problema está mais nos super-ricos, que afirmam o seu negócio com agressividade tal como acontece na condução na estrada. A honra do rico é a sua toalha mas o pobre não deve ser privado duma toalha honrada a que se possa limpar.

Riqueza um Perigo ameaçador de Estados

Muitas vezes não se nota nos pequenos a sua corruptibilidade porque se limitam a pouca. A corrupção dos ricos usa uma medida e a dos pobres usa uma outra.

O que se possui deve provir, duma maneira geral, do próprio trabalho.

O Estado deveria intervir regulando a usura escandalosa. Quem ganha mais de 25 vezes do que o salário mínimo deveria ser condicionado a empregar o excedente em instituições de caracter cultural e social. Cada pessoa quer ser orgulhosa por algo, o que é legítimo. Uma igualdade de cemitério seria catastrófica como se demonstrou nos estados socialistas; uma desigualdade vistosa e imoral, como se observa no turbo-capitalismo destrói qualquer ética de coesão social.

A sociedade em que vivemos, atendendo à sua insegurança, não favorece o desprendimento. Por isso muito boa gente se vê obrigada a precaver-se do futuro, acumulando riqueza para si e para os filhos. Uma sociedade cada vez mais contra instituições morais, cada vez mais egoísta aposta na diferenciação exagerada. Disto sofre a humanidade.

Necessita-se uma cultura da dignificação da honra no oferecer. Uma maneira gratificante no oferecer seria ajudar directamente pessoas necessitadas ou prestar ajuda através de ordens e congregações onde vivem pessoas (sem ordenado material) que entregam a sua vida ao serviço do próximo sem olhar a quem.

O mérito social, a virtude, o cultivo do bem e do belo terão de ser tomados a sério pela sociedade, doutro modo, a riqueza de alguns torna-se num perigo público.

António da Cunha Duarte Justo

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Quatro Milhões de Mulheres violadas pelo Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial


Requinte alemão nos seus Bordeis para Soldados e para Prisioneiros

António Justo

Segundo o jurista e publicista Heinz Nawratil, quatro milhões de mulheres e jovens foram ” vítimas de crimes sexuais praticados pelo Exército Vermelho e seus aliados”. Só em Budapest calcula-se terem sido violadas 50.000 mulheres. Nos territórios libertados dos nazis, os soldados do exército vermelho comportavam-se como bárbaros, tal como faziam nos Estados Bálticos, e nos Balcãs.

Fazia lembrar a crueldade das antigas hordas mongóis, como refere o historiador Jörg Friedrich. Roubavam, violavam, massacravam e expulsavam. (16,5 milhões de alemães foram expulsos da Europa Oriental, tendo sido mortos cerca de dois milhões).

Mulheres e crianças eram violadas por grupos de soldados a ponto duma mesma jovem/mulher ser violada no mesmo dia por vários soldados. Isto não constituía excepção. Em quase todas as famílias dos refugiados e das famílias da zona de administração russa se regista, pelo menos, uma vítima de violação por família (“Die Rote Armee” von Liddell Hart). Também Hannelore Kohl, a falecida mulher do ex-chanceler alemão Helmut Kohl, foi violada, aos doze anos, por soldados russos.

O povo russo sofreu imensamente sob as abomináveis atrocidades dos exércitos alemães. (Segundo a Wikipedia,  5,7 milhões de soldados do Exercito Vermelho foram aprisionados pelos exércitos alemães, 3,3 milhões dos prisioneiros não sobreviveram. Dos 3,15 milhões de soldados alemães sob custódia russa não sobreviveram 1,11 milhões). Estaline não olhava a meios, como demonstra o seu comando n° 0428 de 17 de Novembro de 1941. Nesta instrução ordena aos partisanos russos que se vistam de uniforme alemão e incendeiem e liquidem a população russa civil “40 a 60 km atrás da linha principal de combate”. Incentivava assim o ódio contra os alemães invasores sacrificando o próprio povo para fins propagandísticos. Isto para se ter uma ideia da barbaridade dum lado e do outro. Se num povo governava o diabo no outro governava o Belzebu.

O ultrajo e a dor infringidos às mulheres durante as guerras são considerados, muitas vezes, como prejuízos colaterais das guerras e como tal de menor menção. Interesses políticos nas relações bilaterais internacionais (os tabus políticos) e a vergonha das mulheres estão, também, na base do silêncio do crime de violação. Para a mentalidade de então uma pessoa violada era pessoa desonrada. Nas Televisões alemãs não há dia sem um filme num canal a documentar as atrocidades dos alemães na guerra. Sobre o sofrimento de inocentes alemães só há poucos anos se começou timidamente a tematizar o problema das violações das mulheres alemãs.

Nas investigações de Bárbara Johr em “Befreier und Befreite” são mencionadas dois milhões de mulheres e meninas alemãs violadas por soldados do Exército Vermelho. Estes dois milhões de vítimas distribuem-se por 1,4 milhões de mulheres/jovens nos territórios da Prússia Oriental, Pomerânia Oriental, Brandenburg e Silésia, 500.000 na zona de ocupação soviética e 100.000 mulheres em Berlim. 10% das violadas terão sido assassinadas de seguida.

Este agir barbárico ainda assume maior gravidade pelo facto de ser usado e apoiado pela oficialidade. O genocídio dos alemães contra os judeus também assume uma gravidade acrescida na história pelo facto do holocausto aos judeus ter sido ordenado e organizado sistematicamente pelo Estado (Hitler). (De referir que Hitler para tornar o seu aparelho facínora mais eficiente, se serviu também de estudos sobre a maneira eficaz como a Turquia tinha efectuado o genocídio a cerca de dois milhões de arménios, em 1915).

Aos soldados alemães era proibida a violação e a prostituição incontrolada. Também se registaram violações por soldados alemães mas devido à diferente estratégia seguida não pode ser comparada no mínimo ao comportamento russo. Soldados alemães, tal como americanos violadores eram julgados e condenados. Isto não desculpa nem um bloco nem o outro atendendo à desumanidade subjacente aos dois sistemas e que espreita em cada ser humano colocado em determinadas situações. Nas zonas ocupadas pelos alemães, em 1942 havia na França e na Europa do Leste mais de 500 bordéis das Forças armadas alemãs.

Bordeis das Forças armadas alemãs foram regulados por decreto de 9 de Setembro de 1939 que apelava à autodisciplina dos soldados em questões sexuais (especialmente aos casados) e criava bordeis para soldados, insurgindo-se contra a prostituição selvagem que provocava doenças nos soldados. Estes estavam sob o controlo da inspecção sanitária das forças armadas. Estas controlavam as mulheres que trabalhavam nos bordéis e os soldados. Eram recrutadas prostitutas que se candidatavam. Num relatório do médico comandante da zona francesa ocupada de Angers, de Novembro de 1940 constata-se: “Os bordéis foram visitados em 14 dias por 8.948 soldados, dos quais 2.467 tiveram relações sexuais” (Vikipedia). (Tenho um vizinho que no tempo de soldado, como paramédico, tinha o trabalho de pincelar o pénis dos soldados com desinfectante em bordéis para se evitar a transmissão de doenças.) Prostitutas e soldados eram examinados por médicos tendo muitos dos soldados de receber uma injecção antes do acto sexual. Para se ter uma ideia da dimensão daquele empreendimento basta dizer que só em França, num terço da zona francesa ocupada pelos alemães havia mais de 143 bordéis onde trabalhavam 1.166 mulheres para satisfação dos soldados. Na Rússia, era difícil recrutar mulheres para os bordéis militares porque lá não havia prostituição oficial. Com estas medidas o exército satisfazia as necessidades dos soldados, evitava doenças e impedia que eles ganhassem amizades com mulheres das zonas ocupadas que poderiam influenciar politicamente os soldados.

Mais tarde foram também criados oficialmente Bordeis para prisioneiros nos maiores campos de concentração. Esta medida tinha a finalidade de motivar os prisioneiros a maior produtividade laboral. Junta-se a exploração sexual da mulher à do Homem. Prisioneiros com maior desempenho laboral tinham como maior prémio a permissão de ir ao bordel, no máximo, uma vez por semana, durante 15 minutos. Está provado que em  10 bordeis  se encontravam encarceradas 190 mulheres em serviço (Robert Sommer in “Das KZ-Bordell”).  Eram mulheres alemãs “a-sociais” primeiramente recrutadas com aliciamentos, mulheres prisioneiras polacas, ucranianas, russas, e “ciganas”. Muitos prisioneiros repudiavam os bordéis por razões morais considerando-os também obra do cinismo. Era proibido frequentar os bordéis a prisioneiros judeus e russos. Entre 1940 e 1942 terão sido forçadas ao trabalho sexual, pelos nazistas, cerca de 35 000 mulheres (Cf. Helga Amesberger, Katrin Auer, Brigitte Halbmayr: «Sexualisierte Gewalt. Weibliche Erfahrungen in NS-Konzentrationslagern»).

Muita gente procura cavalgar na culpa dos outros

Esta era uma guerra ideológica (aniquilação de raças, bolchevismo e fascismo) ainda mais perversa que outras guerras.

Não é legítimo cavalgar em cima da culpa alemã nem em cima da culpa russa para, assim, poder lavar a própria fachada e esconder atrás dela uma satisfação de bonzinhos na lavagem de agires menos dignos do dia-a-dia. Assim evitamos assumir responsabilidade pelos crimes que acontecem hoje no mundo. Em nome de culturas e de interesses económicos ou ideológicos ataca-se geralmente uma parte para, como Pilatos, se lavarem as mãos sujas da própria culpa. É fácil, a quem tem a graça ou desgraça de viver hoje, condenar os de ontem tal como os que terão a graça de viver amanhã terão a oportunidade de nos condenar a nós pelo que fizemos e deixamos de fazer. Isto não pode justificar a miopia que acompanha a contemporaneidade na sua necessidade ingénua de branquear o seu presente.

Hoje cortam-se os clitóris a meninas, apedrejam-se mulheres infiéis e o politicamente oportuno leva-nos a aceitar isso como sendo um bem cultural a respeitar, até no meio da nossa cultura. Suportamos a exploração da mulher maometana e até criamos nichos onde o patriarcalismo possa ser respeitado. Suportamos famílias com ordenados de misérias e energúmenos com riquezas mastodônticas fruto da especulação. Usamos dois pesos e duas medidas em nome duma democracia açucarada e duma política aberta à exploração. É fácil a quem tem a graça ou desgraça de viver hoje condenar os de ontem tal como os que terão a graça de viver amanhã terão a oportunidade de nos condenar a nós pelo que fizemos e deixamos de fazer. Isto não justifica porém a miopia que acompanha a contemporaneidade e a sua necessidade ingénua de se branquear. As pessoas fracas precisam da culpa dos outros para melhor anestesiarem uma consciência que não deve ver o que se passa agora.

Mentalidades massificadas de ontem, personalizadas em grupos e em pessoas mascaradas de soldados abusaram das pessoas indefesas. Hoje pessoas fardadas de opinião oportuna condenam povos e grupos sob a apóstrofe de alemães, russos, comunistas, conservadores ou progressistas. Há sempre uma responsabilidade individual e colectiva. A lavagem cerebral feita ao povo e aos indivíduos facilita a prontidão para a subjugação e para o agir irresponsável. Para onde quer que se olhe, depara-se com gente uniformizada com uma maneira de pensar e julgar igual, não diferenciada e correspondente à mentalidade apregoada e tida por bem na opinião publicada. É assustador o pensamento em massa e em blocos hoje em voga. A pobreza é tanta que, por vezes, basta saber o jornal ou revista da leitura do interlocutor para conhecermos o seu pensar. O pior disto é que atrás duma opinião massificada se encontra uma trincheira. Naturalmente cada um escreve e pensa segundo a própria ciência e consciência…

Quem se orienta pelo seu julgamento segundo o prisma da simpatia ou da antipatia sentida ou pelo simples afirmar ou negar de factos segue um mau conselheiro e prepara a guerra.

Não se pode bagatelizar nem compensar os crimes e a dor dum lado com os crimes e a dor do outro. Este erro de lógica perpetua a injustiça e a maldade. Só quando as nossas lágrimas correrem sobre a nossa culpa e sobre a culpa dos outros nos poderemos compreender a nós e aos outros. O sangue dos nossos antepassados grita mas só o grito da nossa consciência poderá interromper a avalanche da violência e da injustiça de agora.

Cada guerra, como cada ideologia, procura tirar o melhor de cada pessoa para si e o pior para os outros. O mesmo se diga da escrita da História que pressupõe sempre um historiador com uma ideia dela.

A barbaridade, a violência não é um acto específico dum povo, raça ou pessoa, ela repousa na sombra de cada pessoa e de cada grupo. A violência não se torna melhor nem mais justificada se exercida pela direita ou pela esquerda. Seria cinismo com o sofrimento de pessoas querer glorificar a própria ideologia.

O tribunal de Haia constitui hoje um aviso para o respeito que se deve às vítimas e como tal um primeiro passo em direito internacional para se diminuírem os crimes e os incendiários económicos, religiosos ideológicos e intelectuais.

Em tudo isto se vê como o pobre povo sofre e ao mesmo tempo é usado para fazer outros sofrer.
A guerra ainda não acabou. Em nome da paz continua a faz-se a guerra, em nome da paz vive-se da guerra.

O respeito deve-se às vítimas!

António da Cunha Duarte Justo

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