POLÍTICA EUROPEIA A CAMINHO DE “GERINGONÇAS”

A INSTABILIDADE DA CLASSE POLÍTICA CHEGOU À ALEMANHA

António Justo

Desenham-se novos cenários políticos para a Europa. Os tradicionais partidos populares ou “partidos do povo” (1), que faziam parte do arco do poder, encontram-se em decadência por já não poderem contar com a fidelização popular.

A Alemanha construiu, num equilíbrio federal de centralização e descentralização (regionalismo), um Estado social forte com alto padrão de vida, e do qual depende em grande parte o desenvolvimento da Europa; numa tal situação os objetivos, que o partido SPD originariamente tinha para o operariado, encontram-se em vias de realização ou com falta de aferimento social; hoje existem desafios que ultrapassaram o SPD porque não esteve atento à mudança da realidade social e do grupo alvo. Um motivo do mau resultado nas eleições estará na desunião dos dirigentes do SPD e dos adeptos rebeldes que pensam o bem-estar criado pelos tradicionais partidos de governo como natural, e ao mesmo tempo expressam exigências de uma juventude europeia que não se sente, devidamente, tomada a sério nos seus temas prediletos (2).

Uma sociedade, cada vez mais diferenciada e determinada por critérios de eficiência imediata, exige das elites e das centrais de pensamento maior atenção aos sinais dos tempos para a consequente celeridade na adaptação à mudança. O povo está educado para ser adepto e seguir estrelas, o que implica, nos partidos, grande capacidade de reagir às tendências em curso, e, para isso, pôr na linha da frente representantes jovens e carismáticos (em Portugal Sócrates fez o que fez, em grande parte devido ao seu charme narcisista, aquilo que hoje se consome muito!).  Por outro lado, o Zeitgeist da sociedade já não considera como prioritário o tema da justiça social: as preocupações são primeiramente clima, imigração, digitalização…; os partidos que tematizarem convictamente estes assuntos têm maiores probabilidades de ganhar eleições.

Numa sociedade cada vez mais descontextuada, em que a velocidade é determinante, desenraíza as pessoas a mudar-se, e a sentir-se até em fuga, sem saber para onde; e o problema é que, nesta fase histórica de transformações rápidas, a quem não muda acontece-lhe como à figura bíblica de Edite (mulher de Loth) que ao olhar para trás é convertida em estátua de sal.

O carrossel dos povos, puxado pela globalização, atingiu tal velocidade que as populações tripulantes perderam a visão do que se passa ao lado e ao longe, sendo condicionadas a agarrarem-se ao cesto que as transporta e deste modo a reagir de modo mais emotivo que racional. O imediato torna-se o óbvio e o factual destrona o pensamento. A reacção substitui a acção passando a chamada inteligência emocional a ter a soberania sobre o entendimento intelectual; o eleitorado reage criando novas situações de governos, um facto fruto da desconfiança num partido ou num sistema que tem ignorado muitos problemas essenciais e esse dado factual mostra que o partido já não serve e, para se tornar necessário, terá de se mudar radicalmente mas isto não é reconhecido pelos lideres devido ao próprio envolvimento no que fazem e que os torna míopes para uma realidade que se encontra sempre em processamento.

O recrutamento de membros do pessoal júnior para altos cargos de responsabilidade num partido já  não poderá ser orientado por perfis de fidelidade e mérito numa carreira longa dentro do partido; isso impede a resposta adequada ao Zeitgeist com pessoas carismáticas e fomenta  o abuso de carreiristas de longa duração que criam subserviências prejudiciais ao desenvolvimento do partido e da sociedade política (Veja-se o anacronismo do que acontece com o PSD e a maneira ainda antiga de um PS no seu jogo das escondidas com a sociedade).

Hoje juventude é trunfo e as pessoas desgastam-se rapidamente, o que exigirá novas estratégias na política do pessoal representativo dos partidos.

A líder do SPD (Andrea Nahles), devido às críticas na sequência do mau resultado do partido (15,8% nas eleições europeias), e segundo o princípio do bode expiatório, declarou a sua demissão da presidência do partido e da Fracção. Talvez se tenha empenhado demais pelos interesses da Alemanha e menos pelos do partido! (Em Portugal dá-se o contrário porque os governantes fazem mais política partidária militante, coisa que o povo não nota e são, consequentemente, premiados pelos votantes; o facto de em Portugal o sistema da geringonça ter aparentemente resultado, dever-se-á ao pouco peso da economia produtiva portuguesa para o andamento da europa!).  Na hora dos rebeldes é castigado um partido como o SPD que tem gastado demasiado tempo de discussão consigo próprio e não esteve atento ao desenvolvimento social (3); como diz o politólogo Prof. Dr. Jürgen Falter o SPD esqueceu que “o trabalhador clássico se tornou numa ocupação minoritária, no passado eram mais de 50% e hoje nem sequer 25% são”. Hoje, o sector dos salários baixos está a ser ocupado por muitos migrantes, que, frequentemente, não têm direito a voto.

Os partidos precisam de união e de novos conteúdos para poderem convencer o público. A chefe do SPD no governo de coligação (CDU/CSU e SPD, ao demitir-se das suas funções, (4) confessou: “o apoio necessário para o desempenho das minhas funções já não existe” (especialmente o dos deputados da sua Fracção no Bundestag!) e terminou a declaração de resignação com um recado aos membros do partido: “Espero sinceramente que consigam reforçar a confiança e o respeito mútuo e assim encontrar pessoas que possam apoiar com toda a vossa força”. O problema do SPD é também, de momento, não ter pessoas carismáticas.

Como se verifica no SPD a política é um negócio cruel que apenas conhece companheiros, mas não amigos e o espaço entre os partidos cada vez é menor.

É verdade que a grande coligação alemã (GroKo) irá sofrer alguns sobressaltos, mas manter-se-á porque nenhum dos tradicionais partidos de governo quer praticar haraquíri.

Atendendo à vertigem do desenvolvimento tecnológico e social, vão deixando de existir os partidos tradicionais em que as pessoas se ligavam de pais para filhos já no lar materno e em que escolhiam a filiação partidária como família alargada; hoje é mais visível a dinâmica dos interesses e estes mudam continuamente. Às ideologias dos sistemas ou de uma classe dominante, sucede-se uma sociedade de boys, estrelas e ONGs que reagem prontamente ao desenvolvimento do mercado e por isso não deixam lugar para descanso em posições cómodas nem em pensamentos adquiridos. O dinheiro é rei como podemos ver bem documentado também nas pessoas mais socialistas.

As novas tecnologias, com a digitalização do mundo laboral mudarão mais radicalmente a situação de trabalhadores, empregados e funcionários e com ela aumenta a exigência de transformações a nível de pessoal e de conteúdos nos partidos que pretendam interferir no futuro. Em política tudo é possível e os interesses e as circunstâncias é que determinam o agir (5).

Apostar num partido como algo imutável ou no Zeitgeist (pensamento politicamente correcto do regime do momento) implica pôr em risco o próprio desenvolvimento! Naturalmente o pertencer a um partido ou outro, além do mais, pode trazer vantagens pessoais que constituirão argumento para não pôr em risco um futuro ou uma vida beneficiada!

Em Portugal, na classe política, ainda domina o pensamento antigo tornando-se propriamente impossível mudar a situação de fundo porque Portugal, mais que uma democracia de cidadania vinculada ao povo, é uma República em que os corporativistas se apossaram do Estado, com a agravante de se desvincularem do povo! As pessoas agarram-se a pessoas bem-intencionadas, mas não notam que estas pouco podem fazer, devido a um sistema que, por natureza, as impede porque não está virado para o cidadão. O PS tem gozado ainda do carisma de alguns de seus lideres e também do facto de a sua ala social-democrata emparelhada com a ala ideológica de caracter marxista conseguirem o apoio nas urnas, muito embora 70% da população eleitoral não tivesse votado nas eleições europeias, de que o PS saiu maioritário. A crise dos partidos também está a chegar a Portugal em situação enviesada. (Com o tempo, apesar da constituição favorecer a esquerda, teremos um PS dividido à imagem do PSD e à imagem do que acontece hoje ao centro-direita: os egoísmos individuais são cada vez mais fortes.). Uma das consequências de uma sociedade cada vez mais diferenciada cria a necessidade de novas expressões de poder. O desenvolvimento social e a política atual trazem como consequência a dissolução das fronteiras entre os partidos. O factor osmose que outrora era lento torna-se hoje mais rápido porque a sociedade também, é mais rápida.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo https://antonio-justo.eu/?p=5477

  • (1) Partidos do Povo em decaída: no dizer de politólogo Jürgen Falter, deixou de haver uma base eleitoral fixa de pelo menos 20, mais provavelmente 30%. Para o politólogo “um partido do povo tem um público bastante equilibrado socialmente e é um partido que maximiza os votos, visando todas as camadas da população”. No início do SPD o partido compreendia-se como partido dos operários. Desde há meio século, o SPD considera-se como o partido dos empregados e um partido de pessoas menos favorecidas e da justiça social (HNA).
  • (2) Não será de descurar o facto de o partido os Verdes (que conseguiu quase duplicar os votos em relação às eleições europeias de 2014, para 20,5% (https://www.bundeswahlleiter.de/europawahlen/2019/ergebnisse/bund-99.html ) beneficiarem dos votantes que viraram as costas ao SPD que só conseguiu 15,8% e à CDU (22,6%). Isto, aliado à boleia do Zeitgeist, está a tornar os Verde num “partido do povo” (O princípio orientador da política verde é a sustentabilidade ecológica, económica e social).
  • (3) Outrora o SPD tinha mais de um milhão de membros com forte representação da juventude (350.000 Jusos) e hoje os Jusos têm 70.000 membros num SPD com 440.000 membros (2): Desenvolvimento dos número de membros: https://de.statista.com/statistik/daten/studie/1214/umfrage/mitgliederentwicklung-der-spd-seit-1978/
  • (4) A líder do SPD (Andrea Nahles), demitiu-se das suas funções de presidente do partido e de chefe da Fracção no Bundestag devido às críticas, na sequência do mau resultado do partido (15,8% nas eleições europeias). Segundo a DPA Andrea Nahles não sai economicamente de mãos a abanar. Caso ela se demita também do Bundestag receberia da administração do Bundestag o vencimento de 9.780€ durante 14 meses (a partir de Julho o vencimento dos deputados é de 10.083€ mensais).Como esteve 18 anos no Bundestag e 4 anos como ministra federal, Nahles tem direito a uma pensão de velhice por cada ano do Bundestag de 2,5% do vencimento mensal dos actuais deputados, o que corresponderia a 4.537€ mensais. Segundo o Steuerzallerbund, também tem direito ao pagamento de uma pensão de reforma do período ministerial, o que corresponde aproximadamente ao montante da pensão de deputada. Segundo as minhas contas aproximadas, Andrea Nahles teria direito a 108.000 € anualmente.Os deputados que se encontram na fonte não se servem mal!
  • (5) Sou do tempo em que na Alemanha se considerava o partido comunista um perigo para o Estado e os Verdes eram difamados pelo politicamente correcto da altura (coisa que então eu não podia compreender!) e tudo mudou: hoje os Verdes são os candidatos a substituir o SPD no governo. Tudo muda!

DEUSES DO OLIMPO POLÍTICO QUEREM CENSURAR O PENSAMENTO LIVRE

 

Plataformas YouTube, Twitter e Facebook obrigadas a substituir o Poder judicativo?

António Justo

Na mitologia antiga (o eterno hoje), no Olimpo, o Deus Júpiter castigou Prometeu por este ter dado o fogo dos deuses à humanidade.

Como outrora, a posse do fogo constituiu um passo decisivo para o desenvolvimento e independência da humanidade, o acto de Prometeu ter roubado o fogo do Olimpo abria perspectivas para os humanos se tornarem independentes dos deuses e a sua posse constituía uma ameaça ao poderio dos deuses; consequentemente Prometeu foi severamente punido por eles.

Também hoje o acesso do povo ao pensamento livre e a sua liberdade de expressão parecem constituir ameaça ao domínio da classe política que, embora de fraco pensamento, quer controlar a opinião e para isso castigar o novo Prometeu (Facebook, YouTube, etc.), vulgarizador de ideias e opiniões.

Hoje os “deuses” do nosso Olimpo político querem proibir-nos de pensar e de expressar o pensamento, com pseudoargumentos que escondem segundas intenções.

Até a ilusão do fraco povo de desejar pensar por cabeça própria é percebida como ameaça por parte de uma elite débil tão encarneirada nas filas do mainstream, como o povo que dirige.

Os detentores do domínio político, em vez de se dedicarem a uma melhor democratização da economia e da informação, não suportam a democratização do pensamento, arranjando para isso motivos falsos para censurarem as opiniões expostas. Naturalmente que há gente mal-educada que abusa desses meios virtuais tal como a classe dirigente abusa dos Media; também a manifestação emocional popular, muitas vezes, é injusta, mas para isso há leis para castigar os infractores e a elite não precisa de reagir como a Princesa deitada sobre a Ervilha!

As Plataformas YouTube e Facebook estão a ceder à pressão da política no sentido de censurarem previamente mensagens a postar. A “clerezia” e “fiéis” do politicamente correcto querem aos utilizadores menos felizardos lhes seja permitida uma expressão de indignação educada em seu favor, como se não houvesse leis para castigar os infractores. Pode considerar-se sintomática a reacção imediata da plataforma YouTube à influência que o YouTuber Rezo teve no desfecho das eleições na Alemanha em desfavor da CDU.

O Ódio e a má-educação nos meios digitais sociais

A procura de influência é cada vez mais agressiva numa sociedade de concorrência de interesses cada vez mais repartidos. Trata-se de Poder! Assiste-se à radicalização da linguagem política, à falta de nível, por nos encontrarmos cada vez mais distantes das convenções culturais e a responsabilidade social parecer estar a tornar-se numa palavra estranha.

Também é verdade que uma só pessoa, o jovem youtuber Rezo (1), à última hora, conseguiu influenciar as eleições na Alemanha em desfavor de Ângela Merkel. Isto não legitima, porém, o medo exagerado perante os influenciadores que usam da polarização e da emocionalização, para conseguirem o aplauso de pessoas não preparadas.

A intenção agora declarada pela plataforma YouTube (5.06.2019) é impedir “extremismo violento” e “proibir e eliminar vídeos que discriminem alguém pela sua idade, raça, cor de pele, religião ou orientação sexual” (2). A religião política de cariz tecnocrata e democrático pretende uma liberdade vigiada por um clericato laico que excomungue do seu reino (Democracia) quem não professar o credo do politicamente correto; para isso estabelece que sejam jogados para fora dos muros da cidade os denominados “islamófobos”, “xenófobos”, “extremistas”, “populistas” enfim, quem não siga o estatuto dos deuses e não professe uma verdade encarneirada.

Numa perspetiva do cidadão, será de pôr a pergunta: Quem discrimina quem? – a criança que berra para ter a sensação de ser ouvida ou o “irmão maior” que tudo quer sob o seu controlo? O propósito dos temas a censurar é de tal modo abrangente que esconde a soberania e arbitrariedade de interpretação em favor da censura e torna-se num criado de políticos que cinicamente querem ser confundidos como defensores da liberdade. Estamos a chegar a um ponto em que a indignação popular chega a ser considerada crime por não corresponder aos interesses de poder de quem dirige. Porque não se recorre ao poder legislativo? A missão de governar é cada vez mais difícil, mas não se pode deixar o comando superior à técnica e suas plataformas.

 À espionagem global através de Google e de outros segue-se a censura globalizada. Naturalmente que tudo o que incita ao ódio, ao assédio, à discriminação e à violência deve ser chamado à responsabilidade e até multado. Para isso há leis e tribunais; doutro modo passamos o foro jurídico da democracia para empresários ao serviço de interesses anónimos. Twitter e Facebook, que foram grandes beneméritos na democratização da informação, estão a tornar-se, devido a pressões políticas e a abusos organizados, em censuradores da liberdade de expressão e a discriminar uns usuários em nome dos interesses de outros!

Os representantes da democracia querem-se legitimar através do povo, mas não parecem querer ser confrontados com a indignação popular desordenada. Cada vez se observa mais que a classe política instalada num Olimpo de deidades intocáveis quer determinar como crime o pensamento não correcto, para tudo o que se encontra abaixo da sua nuvem. É naturalmente necessário prevenir, mas sempre no sentido da defesa da pessoa e da dignidade humana.

Também é de compreender a impaciência dos nossos políticos, em democracias cada vez mais complexas e com ideias à deriva e, como tal, mais difíceis de governar; a democracia sente-se ameaçada e o sistema democrático ocidental encontra-se em rivalidade directa com o sistema ditatorial chinês que se gaba de conseguir mais desenvolvimento, em pouco tempo, do que o que as democracias estão a conseguir agora! Daí não é de admirar que os detentores da democracia se encontrem cada vez mais em apuros e façam dela uma religião!

© António da Cunha Duarte Justo,

In “Pegadas do Tempo”

 

VOTAÇÕES PARA AS EUROPEIAS EM PORTUGAL

A Abstenção de 68,6% não prova Consciência europeia

António Justo

O PS ganhou as eleições europeias com 33,38% dos votos (9 eurodeputados), o PSD 21,94% (seis deputados), a CDU (PCP) 6,88%, (dois deputados), o BE 9,82% (2 deputados), CDS: 6,19% (1 deputado), o PAN 5,08% (1 deputado), Brancos e nulos 2,1%, a Aliança 1,86% e outros 7,8% (1). Portugal tem 21 eurodeputados (a).

Houve 6,54% (brancos e nulos) que deste modo demonstram indignação, protesto ou desconfiança destes eleitores na classe política. Estes como os outros votantes revelam consciência de cidadania.

A abstenção de 68, 6% constitui um problema para a democracia, mas os partidos vivem com ela segundo a fórmula: o que conta é quem é eleito (b).

Com tal abstenção os prognósticos tornam-se difíceis em relação às votações futuras e deveria constituir um quebra-cabeças para a democracia partidocrática!

Talvez quando todos os partidos colocarem nos seus programas de eleitorado o combate à corrupção e se empenharem na defesa das causas ambientais e dos portugueses em geral certamente o eleitor terá mais interesse em votar. Culpar os absentistas por não votarem não é recomendável tal como o culpar o adversário, porque isso ainda é fruto que alimenta a viver à sombra da bananeira cómoda do não pensar. A fadiga eleitoral e falta de educação política das massas revelam-se como erros do sistema, tornando-se descabida a crítica generalizada contra o povo abstencionista.

Se é verdade que a abstenção não elege, pelo menos, deveria fazer pensar: não será que corremos o perigo de sob o nome de democracia abusarmos da partidocracia a ponto de não termos legitimidade para agir em nome do povo?!

No jogo em campo da democracia, abstenção é, para alguns, uma rasteira e uma tentativa de colocar os representantes dela em fora de jogo! Quem está descontente e a quem os programas dos partidos não agradam, deveria votar em branco ou voto nulo. Assim demonstraria o descontentamento e consciência de cidadania!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

  • (a) https://observador.pt/especiais/eleicoes-europeias-os-resultados-pais-a-pais/
  • (b) Como Abílio Lousada bem resume em relação a Portugal, “a matemática não engana, porque, de facto: Eleitores Recenseados: 10.600.000
    Eleitores Votantes: 3.328.400
    ° ABSTENÇÃO – 68,6% [7.271.600]
    2. ° PS – 10,5% [1.111.650]
    3.° PSD – 6,9% [728.900]
    4.° BE – 3,1% [326.100]
    5.° BRANCOS/NULOS – 2,1% [230.000]
    6.° CDU – 2,1% [229.650]
    7.° CDS – 1,9% [206.350]
    8.° PAN – 1,6% [169.750]
    9.° Restantes Partidos (11) – 3,1% [326.000]”

 

A EUROPA VOTOU E ACORDOU MAIS VERDE E VARIADA

No Carrossel das Nações e das Culturas a Europa revela já tonturas

António Justo

As eleições europeias revelaram que está em curso a fragmentação e polarização das paisagens políticas europeias e a necessidade de implementação de políticas do ambiente. Com as eleições, os Verdes e os partidos pequenos começam a ter maior representatividade nos parlamentos, apesar do sistema favorecer os partidos grandes.

Em parte, a Alemanha está para os países europeus como a América para a Europa. Na Alemanha já se verifica o tempo de viragem dos partidos estabelecidos: a CDU também perdeu eleitorado embora continue à frente (28,9%), os Verdes (20,5%) conseguiram atrair a esquerda liberal do SPD, que viu reduzidos os seus eleitores de 27,31 para 15,8%.  A História não para, ela é de quem a acompanha e a muda. De momento tudo procura e ninguém encontra! Na Alemanha, a juventude marcou presença nas urnas e a afluência geral do eleitorado foi de 61,5%.

Um outro fenómeno a manifestar-se é o facto de artistas conhecidos começarem a candidatar-se como pessoas individuais e conseguirem assento no parlamento. Ver em nota os resultados dos partidos na Alemanha (1) e noutros países (2). Verdes e pequenos partidos registam as maiores subidas (3).

Constata-se que, na consciência popular, avança o proteccionismo de Trump, não só na praça pública, mas também através de um populismo domesticado dentro dos próprios partidos, o que denota uma certa adaptação aos novos ventos. De facto, mesmo os chamados populistas AfD lutam por domar o seu populismo (expressão emocional popular) para que, com o tempo, possam afirmar-se como populismo civilizado à imagem do que acontece nos partidos já estabelecidos no sistema. Com o desmoronar dos grandes partidos populares, como a CDU e o SPD, os populismos de esquerda e de direita ganhará mais expressão.

De notar que embora esteja a dar-se um tornado a nível dos chamdos partidos populares, permanece um equilíbrio nacional da cidadania de esquerda e de direita, na forma de estar política dos diferentes países, apesar de aqueles se encontram em navio a afundar-se; só na península ibérica, onde o discurso ideológico tem mais peso nas actividades governamentais, é que não. Na Alemanha, o partido os Verdes encontra-se a caminho de se tornar num partido popular e prestes a substituir o SPD nas rédeas do poder; outros partidos minúsculos também marcam presença.

O facto da fragmentação e polarização das paisagens políticas europeias obrigará os partidos a mudar a estratégia de conversações   em formações de governo mais complexas e, por outro lado, a um acentuar de identidades partidárias com a consequência de, em vez de dialogarem, rivalizarem; também isto significará uma mudança de atitude   na relação entre os tradicionais partidos formadores de governos na Europa central e norte e terá consequências a nível da EU na procura de consensos menos fáceis.

A acompanhar a greve do clima na paisagem juntou-se a greve das escolas a apoiá-lo, tentando assim irromper contra um cepticismo governamental ainda distanciado. O motor de arranque para a mudança sistémica da classe governante nos países europeus é movido pelas mudanças climáticas e pela imigração descontrolada e um certo desrespeito pela própria cultura.

A juventude, desta vez mais participativa, quer que o futuro lhe pertença, tendo emprestado, para isso, a sua voz aos partidos e movimentos verdes e não aos negociantes do hoje! A Europa encontra-se agora mais dividida entre os que puxam a corda em direcção ao futuro e os que a puxam em direcção ao passado. Um encontro de pausa para voltar ao meio seria o mais adequado.

A situação da EU não é boa e sofre de vários desalinhamentos e  exigorá paciência para a construção de coligações multipartidárias com novas plataformas de conversações na gestão da coisa pública; na consequência  teremos regimes políticos mais instáveis como tem acontecido com a Itália.  Isso tornar-se-á já visível nas discussões para a substituição de Jean-Claude Juncker na escolha do novo presidente da Comissão.

Numa sociedade cada vez mais diferenciada também se torna compreensível um certo desconsolo nos monopólios dos Media e o descontentamento na classe política estabelecida.  A velhice não perdoa e a juventude, se não é burra, aproveita-se.

Conclusão: uma loucura comum do globalismo económico avassalador, sem respeito pela natureza, movimenta o eleitorado de modo a substituir o partido social democrata pelo dos Verdes e a loucura de uma política de portas abertas irresponsável fomenta o chamado populismo de direita que instabiliza os centristas, como mostra o exemplo do AfD alemão.

Para cá dos Pireneus os eleitores hesitam ainda na vontade de mudar o sistema de partidos clássicos, mas os partidos defensores de programas verdes e ecológicos já se encontrem a iniciar os primeiros passos para pisar a arena pública; são ainda demasiado fracos mas o exemplo da Europa central encoraja-os. A variedade de partidos eleitos em Portugal já aponta para uma sociedade pronta a deixar de sonhar com maiorias absolutas.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

  • (1) Resultados: CDU 28,9% (29 deputados), Verdes 20,5% (21), SPD 15,8% (16), AfD 11% (11), Die Linke 5,5% (5), FDP 5,4% (5), Die partei: 2,4% (2), Freie Wähler: 2,2% (2), Tierschutpartei:1,4% (1),ÖDP 1% (1), Piraten 0,7% (1), Familie 0,7% (1), Volt 0,7% (1). https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=wahlen+ergebnisse
  • (2) Na França Le Pen consegue com 24,2% do eleitorado, mais votantes do que La République en Marche, do presidente da República (22,4%). Na Polónia os conservadores conseguem 42,2% enquanto a oposição conseguiu 39,1%. Na Grécia os conservadores ganham com 33,5% enquanto o chefe do governo Tsipras só consegue 25%. Na Úngria o partido de Viktor Orbán consegue 56%. Na Dinamarca vencem os sociais democratas com 22,2% e os populistas de direita descem para 11,8%.
  • (3) https://observador.pt/especiais/eleicoes-europeias-os-resultados-pais-a-pais/

845 POTUGUESES VOTARAM PARA AS ELEIÇÕES EUROPEIAS NOS CONSULADOS PORTUGUESES NA ALEMANHA  

Como informa o “Correio Luso”, nas 4 mesas de voto (Embaixada de Berlim, e nos Consulados Hamburgo, Düsseldorf e Estugarda) existentes para emigrantes portugueses na Alemanha, o eleitorado português absteve-se de o fazer nelas.

Em Berlim votaram 318 portugueses, em Hamburgo 138, em Düsseldorf 182 e em Estugarda votaram 207.

Ao todo 845 votantes dos 80.000 recenseados. Os partido mais votados foram PS com 194 votos, Bloco 146, PSD 135, PAN 129, Livre 80 votantes.

Estes resultados relativizam o trabalho político dentro da comunidade portuguesa.  Muitos queixam-se das distâncias a percorrer para poderem votar. Isto revela  um sintoma da falta de empenho político no meio dos emigrantes. Torna-se incompreensível que os políticos não apostem no voto electrónico!

Na Alemanha vivem 138.890 portugueses (em 2018). Segundo as estatísticas oficiais alemãs em 2016 viviam 136.080  portugueses, em 2017 eram 146.810 e em 2018 eram 138.890.

E segundo a Vikipédia, em Berlim vivem 14.905 portugueses (10,1 % da comunidade portuguesa na Alemanha, Em Hamburg 9 390 (6,4 %), em Estugarda 4470 (3 %), em Frankfurt 4170 (2,8 %) e em Colónia 3675 (2,5 %).

Na França dos 386.916 inscritos votaram 1200. As isenções e votações foram porcentualmente semelhantes às da Alemanha! (1)

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://lusojornal.com/ps-ganhou-nos-consulados-em-franca-e-votantes-foram-multiplicados-por-4/?fbclid=IwAR0wwhq89Bn8cL-VYw1mGvw20p89jJrLpaVR5wehZyGz4lW_I_TSKAiKO6Q