O SONHO DA EURÁSIA MORREU NA UCRÂNIA

O sonho da Eurásia morreu e o da Europa também! A Europa, que no mapa geográfico mais parece ser uma península asiática vê o seu destino nas próximas gerações ligado à sorte da OTAN na Ucrânia.

A Europa encontra-se traumatizada e em estado depressivo por se tornar refém do acaso (ao trauma europeu veio juntar-se o trauma dos países do antigo Bloco de Leste!).  Com as duas grandes guerras na Europa, os estados europeus foram obrigados a abdicar do seu estatuto mundial de grandes imperialistas para o cederem aos Estados Unidos da América e se submeterem aos seus interesses. A Alemanha ficou subordinada aos Estados Unidos da América e com uma Alemanha aliada, toda a Europa ficou subordinada aos EUA e deste modo definitivamente impossibilitada de criar a própria história e de assumir papel mais relevante na geopolítica.

A Alemanha, devido ao vínculo do “Tratado Dois-Mais-Quatro” respeitante às condições para a sua reunificação, ficou sujeita ao condicionamento dos quatro vencedores e sobretudo aos Estados Unidos da América que têm na Alemanha 20 bases militares que funcionam quase como um Estado dentro do Estado alemão e que perpetuam o domínio americano na Europa (No caso de um conflito atómico a Alemanha seria a primeira a ser atingida).

Daí a política do partido de Willy Brandt e do partido de Ângela Merkel de aproximação discreta da Alemanha à Rússia e de aproximação da Rússia à União Europeia ter sido um projecto de cunho europeu, mas contrariado pelos EUA.

A ex-chanceler Ângela Merkel ainda iniciou uma política com a Rússia que contemplava interesses alemães, russos e europeus, mas os EUA com a ajuda de alguns estados europeus rivais bloquearam e sancionaram uma política europeia de visões largas de um dia poder vir a construir a grande “casa europeia” de Lisboa a Moscovo.

Com o exemplo de um Reino Unido virado só para ele e para os EUA (Brexit)  e uma Polónia a querer substituir a Alemanha nas relações EUA-Europa, a Alemanha (teoricamente livre mas de facto ocupada por não poder agir sem o aval dos EUA) viu-se obrigada a fazer uma virada política de tipo militarista (Zeitenwende) deixando de pensar em termos europeus (como Willy Brandt-Kohl-Merkel)  para pensar em termos militares de OTAN: um passo dúbio mas fatal contra a possível Casa Europeia. O irmão grande (EUA) pensa em termos de poder e não desvinculará a Alemanha do tratado Dois-Mais-Quatro (ver nota em https://antonio-justo.eu/?p=8718).

Por outro lado, com a imigração descontrolada muçulmana ressurge no povo europeu o trauma e os medos antigos dos corsários norte-africanos na Europa. De acordo com Robert Davis, entre os séculos XVI e XIX, foram capturados por piratas bárbaros (corsários otomanos, berberes) entre 1 milhão e 1,25 milhões de europeus e vendidos como escravos no mundo árabe. Os piratas só levavam os jovens e aqueles que apresentavam boa forma física. Todos os que ofereciam resistência eram mortos, e os mais velhos eram colocados dentro de uma igreja que depois era queimada (1).

Os povos da Europa sabem, no seu subconsciente que a política que os orienta é política de autossabotagem ao criar obstáculos à realização de metas e objetivos próprios que estariam no interesse da Europa.

Depois da queda da União Soviética e da união das Alemanhas e com o início da União Europeia teria chegado a hora de se construir uma nova Europa que ajudasse a superar os extremos do socialismo e do capitalismo. Uma Europa, penitenciada dos seus erros passados, poderia tornar-se na medianeira e fomentadora de uma relação mais justa entre os povos.

A Europa, ao identificar-se com a OTAN, descarta-se do jogo geopolítico multipolar para se reduzir a província americana onde conflitos internacionais fervilharão no seio da sua sociedade.

Valha-nos Deus e o sonho!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) A partir do século XVI   corsários bárbaros, ou corsários otomanos escravos usados como remadores em galé Escravidão branca refere-se à escravidão de brancos europeus por norte-africanos ou muçulmanos da região do Magrebe. Os piratas da Barbária e dos comerciantes de escravos, que representavam uma ameaça constante para as embarcações comerciais e inclusivamente as cidades costeiras do Mediterrâneo Os piratas bárbaros (berberes) eram piratas e corsários que operavam desde o Norte de África https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89poca_Dourada_da_Pirataria

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CIMEIRA EUA-COREIA DO SUL E JAPÃO

A situação crítica na Ucrânia e em Taiwan leva países de interesses comuns a cooperarem entre si criando novas medidas de defesa no sentido de reforçarem a presença do Ocidente na Ásia.

Para Antony Blinken, secretário de Estado americano a cimeira (18/08/2023) significa uma nova era na cooperação trilateral”.

Neste sentido deu-se a cimeira precisamente em Camp David entre EUA, Japão e Coreia do Sul para ser expandida a cooperação nas áreas da economia e segurança. Superam-se assim o contencioso entre Japão e Coreia do Sul, um grande trunfo para os EUA na região.

A cimeira é ao mesmo tempo uma mensagem e um aviso à China e à Coreia do Norte.

Pelo que se observa, atualmente, o mundo encontra-se em especial movimento.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) Veja mais em https://www.bol.uol.com.br/noticias/2023/08/18/biden-quer-reforcar-lacos-de-seguranca-com-toquio-e-seul-em-mensagem-clara-para-pequim.htm?cmpid=copiaecola

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XI PRESIDENTE DA CHINA E PUTIN PRESIDENTE DA RÚSSIA NÃO PARTICIPARÃO NA CIMEIRA DO G20 NA ÍNDIA

Xi não participará na cimeira G20 no próximo fim de semana em Nova Delhi, fazendo-se representar pelo primeiro-ministro Li Qiang; também Putin será representado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.

O presidente dos EUA, Biden, ficou desapontado com o cancelamento e o chanceler alemão Olaf Scholz lamentou tal decisão.

É a primeira vez que um chefe de Estado chinês cancela uma reunião do G20, o que pode ser interpretado como uma bofetada no anfitrião Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia. Rivalidades fronteiriças entre China e Índia poderão estar na base do cancelamento e ao mesmo tempo pode-se interpretar a ausência do presidente como um apoio indireto a Putin. Deste modo impossibilitam-se encontros de líderes mundiais à margem da cimeira na Índia, em 9 e 10 de novembro.

O Grupo dos Vinte (G20) reúne os chefes de estado e de governo dos 20 principais países industrializados e emergentes (19 países: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos) e a União Europeia.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

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A GUERRA DA UCRÂNIA É A CÓPIA DA GUERRA DO PELOPONESO

Uma Guerra entre dois Modelos de Valores com previsíveis iguais Resultados

Para quem se lembra da História, na Ucrânia realiza-se em termos geopolíticos, uma guerra muito semelhante à do Peloponeso (século V a.C.) entre os dois poderes rivais (cidades-estados Atenas e Esparta).  Entre eles desafiavam-se interesses económicos, políticos, militares e de vias marítimas, também eles disputados entre dois modelos políticos de cidades-estados em que ambas queriam impor o seu domínio sobre os gregos; no caso da Ucrânia estão em causa, de maneira camuflada, o modelo capitalista e o modelo socialista que pretendem impor o seu domínio sobre os povos do mundo.

À imagem do que se deu no Peloponeso, as disputas de interesses entre a Federação russa e os Estados Unidos da América (NATO) provocaram a guerra na Ucrânia. Outras encenações e tentativas de explicação ou de ordenamento de factos ronda a   tentativa de enganar povo inocente para melhor se atingirem interesses dúbios! Na guerra do Peloponeso o domínio ateniense perdeu seguindo-se as invasões macedónicas. Na hipócrita guerra ucraniana a disputar-se entre ocidente e oriente tudo leva a crer que o Ocidente perderá em grande parte a guerra e as consequências serão a curto prazo os EUA perderem a hegemonia mundial seguindo-se um tempo de alinhamento mundial de povos para posteriormente se passar a equacionar uma geopolítica de tipo multipolar mais equilibrada e mais justa para os povos e para os Estados (isto independentemente de se entrar numa discussão de que valores).

Seria de esperar que a guerra geopolítica da Ucrânia se resolvesse na mesa de conversações e  que a Ucrânia se tornasse na última aventura americana fora da sua terra e que a sua perca, (tal como aconteceu no Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia), se torne num aviso à China para que respeite Taiwaneses e renuncie às suas aspirações sobre Taiwan. Uma mesa das conversações de paz da Ucrânia poderia ser uma oportunidade para que as nações de preponderância universal (NATO, Rússia e China) se entendessem moderando os seus desejos de poder expansionista. A organização do bloco Brics poderia também ela tornar-se num elemento moderador de aspirações hegemónicas geopolíticas contribuindo para a construção de um mundo multipolar. Os governantes europeus parecem não estarem conscientes dos desenvolvimentos dos povos ao tentarem branquear a própria política desvalorizando o esforço dos Brics como “política do ressentimento”!

A situação dos Brics ou dos Brics+ (1) é sobretudo uma reacção à actual ordem mundial e por isso também haverá Brics + a “várias velocidades”, tal como se imagina fazer-se para a União Europeia. Uma das consequências do crescimento do G Brics será um acentuado encarecimento da vida no Ocidente com sublevações sociais, o que pode provocar maior aproximação (mistura) no estilo de governo de regimes democráticos e de regimes autoritários; por outro lado a existência do G Brics provocará grandes mudanças especialmente em África e encorajará governos e povos a juntarem-se para se poderem erguer!

O “mito” do risco de uma guerra na Europa e de que o sangue dos ucranianos defende a liberdade europeia conseguiu mover a veia nacionalista fomentada pelos Media que descontextualizam a situação ucraniana   com a ideia de que um país pequeno luta contra um país gigante quando em jogo estão dois gigantes em luta num cavalo de troia que é a Ucrânia; deste modo se converte desinformação em informação como se se tratasse de uma luta entre o bem e o mal, deixando de parte os verdadeiros interesses em jogo já bem equacionados na guerra do Peloponeso. A meia informação e a confusão infantilizam um povo que se deixa ir na onda da meia-informação que elites interesseiras dos lucros económicos imediatos e do poder geopolítico espalham através de canais televisivos financiados por taxas quebradas aos cidadãos.

A provocação de Bucareste feita em 2008 pelos EUA e pela OTAN à Rússia de que a Ucrânia e a Geórgia se iriam tornar membros da aliança atlântica afastou toda a ilusão da construção conjunta da “casa europeia” e deu gás à confrontação por obra e graça dos EUA.

Depois seguiu-se a Revolução Maidan que culminou na eliminação da neutralidade internacional da Ucrânia. Depois do alargamento da área militar da NATO em direcção à fronteira da Federação russa, o último reduto do preço da paz entre oriente e ocidente seria a manutenção do estado de neutralidade da Ucrânia. O conflito geopolítico a decorrer depois na guerra civil ucraniana onde foram mortos 13.000 civis e 4.000 soldados atingiu o seu auge na intervenção directa da Rússia na Ucrânia em 2022. A partir de 22 de fevereiro o conflito entre os EUA/EU e a Federação russa até então a decorrer na Ucrânia foi apresentado na opinião pública europeia como mero conflito entre a Rússia e a Ucrânia e como iniciado pela Rússia.  A partir daí procurar a verdade tornou-se criminoso. Pessoas que não seguem a opinião oficial dos Media ou que a questionam são declaradas como pessoas non gratas ou como contaminadoras do próprio ninho; no meio da sociedade surge um trato social agressivo semelhante ao tratamento dos que com razão negavam a qualidade da “vacina” anti-Covid ou problematizavam a prepotência das medidas ordenadas. Aqui governos e Media aliaram-se em tipo de campanha contra direitos fundamentais dos cidadãos e toda a multidão que seguiu sem tugir nem mugir e se armou em escudo capanga (faz-tudo) das autoridades passando-se depois à ordem do dia sem sequer pensarem no mal que socialmente provocaram. A responsabilidade foi declarada anónima e a irresponsabilidade política amnistiada por ela mesma. Observei fenómeno social semelhante contra os que em 2003 eram contra a invasão do Iraque liderada por EUA e Reino Unido contra Saddam Hussein e que levou o país ao caos. Na altura os EUA mentiram dizendo que o Iraque tinha armas de destruição em massa e era uma ameaça à paz internacional. Enquanto as coisas se dão seguem-se políticas enganosas e depois de terem acontecido embora os críticos tenham tido razão não se estabelece justiça porque a “razão” fica sempre do lado do poder e da população obrigada a segui-lo e não podendo por isso retratar-se.

Um dia, Zelensky, por razões óbvias, perderá a guerra e alguns factos serão, a posteriori esclarecidos (uma vez renovado o arsenal militar faltará um dos factores implementadores da guerra!); haverá uma transfiguração de maneira a justificar-se a derrota ou pelo menos a explicá-la. Seria de esperar que então a Europa acordasse para si mesma e descobrisse também o lado bom da Rússia, para juntas construírem a “casa europeia” numa política comum de Lisboa a Moscovo própria para dar resposta a uma geopolítica pluripolar mais séria e mais justa! Pessoas críticas que, por conhecimento do emaranhado e da futilidade do conflito defendiam conversações e compromissos de paz não verão reconhecida a precisão de sua posição crítica e passarão ao esquecimento oportuno porque ao regime continuará a ser conveniente a afirmação de meias verdades e o que os porta-vozes históricos do sistema deixam nas narrativas dos acontecimentos.

O que está em jogo são interesses económicos míopes e o assegurar-se das vias de tráfico como no caso do Peloponeso. O General Raul Luís Cunha refere que “as multinacionais americanas Cargill, Du Pont e a Monsanto (empresa germano-australiana, que tem capital americano) compraram à Ucrânia (Zelensky) 17 milhões de hectares das férteis terras negras da Ucrânia e por seu lado essas empresas têm como accionistas Vanguard, Blackrock e Blackstone, ou seja, as mesmas 3 empresas financeiras que controlam quase todos os bancos do mundo, bem como todas as grandes empresas de armamento do globo”. Há também empresas alemãs e doutras nações da NATO na Ucrânia muito empenhadas no mero capital que a rica Ucrânia contem.

A Europa encontra-se numa fase de empobrecimento da sociedade por fora e por dentro. Urge a contensão da mente nas ideologias, domar os oligarcas e a fome dos falcões de guerra quer liberais quer progressistas. Então as nossas gerações futuras terão momentos mais pacíficos e mais humanos.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) BRICS PLUS significa mais “Cooperação Sul-Sul” e “Desdolarização” do Comércio mundial : https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/o-mundo-reorganiza-se-com-um-brics-plus-a-margem-do-conflito-sistemico-socialismo-capitalismo ; comentários em https://antonio-justo.eu/?p=8741

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A POLÓNIA SUBMETE O COMPROMISSO DE ASILO DA UNIÃO EUROPEIA A REFERENDO

 

No início de junho, os ministros do Interior da UE concordaram numa reforma da política de asilo para que a aceitação de refugiados fosse obrigatória em toda a Europa. Os países que não queiram acolher refugiados serão forçados a assumir pagamentos de compensação.
Na Polónia as eleições gerais de 2023 estão programadas para 15 de outubro de 2023 e nelas os eleitores irão pronunciar-se sobre algumas questões referendárias.
Com grande desagrado alemão, o governo da Polónia resiste alegando que a Alemanha está interessada numa “política de migração absurda”… O Ministro da Educação Przemyslaw não se contem e chega mesmo a dizer: “Vocês querem que as mulheres na Polónia sejam violadas como em França, Bélgica ou Alemanha”.
Outra questão do referendo é o aumento da idade da reforma e a fortificação na fronteira com a Bielorrússia.
António CD Justo
Pegadas do Tempo

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