ELON MUSK DESAFIA E INOVA A TRADICIONAL CULTURA DO DISCURSO POLÍTICO

Resumo dos principais Temas do Diálogo transmitido no X Spaces

A Iniciativa do bilionário Elon Musk convidar a política alemã Alice Weidel para um debate público de caracter global manifesta não só o seu decisivo empenhado em inovações tecnológicas, como também na mudança básica da cultura política.  O acesso à informação através das redes sociais incomoda principalmente aquela elite que, distanciada das populações, tinha a correspondente rede na mão e agora sente concorrência e toma medidas de censura antes nunca sonhadas em democracia. Quem poderia imaginar que um capitalista de topo pudesse contribuir para a democratização da informação! A condução do discurso público, até agora baseada em táticas e reservada às centrais dos partidos políticos e às empresas jornalísticas envolventes, passa, deste modo, a ter um cunho pessoal de efeito mais democrático através de plataformas globais, por muito contraditório que pareça. Será de desejar que uma sociedade com menos crivos de informação se torne mais transparente e mais próxima do cidadão. Um próximo passo poderá facilitar um estilo político de votação eletrónica directa, por temas e menos por partidos, nos assuntos que toquem com a vida do cidadão.

O filósofo R.D. Precht constata: “Vivemos hoje numa ditadura da tática sobre a estratégia”. De facto, uma política selecionada de palavras contra palavras conduz o público a um caminho errado que pouco tem a ver com a realidade política e os interesses que esta encobre.

O contexto político na Alemanha é sombrio e em desafio, atendendo a uma sociedade, que se começa a definir mais pelo âmbito político-militar e estava habituada a viver em segurança económica e na bonança de certezas ideológicas.  A sociedade alemã vê-se cada vez mais confrontada com a instabilidade marcada por políticas ideológicas impulsionadas pelos Verdes na coligação do governo em Berlim, pela imigração caótica que frequentemente se manifesta agressiva perturbadora da ordem pública e pelos reflexos da guerra na Ucrânia e em Gaza e se encontra ainda no rescaldo das medidas relacionadas à pandemia de COVID-19.

Em tempos pré-eleitorais (23 de fevereiro, depois do voto de desconfiança no “governo semáforo”) surge na Alemanha uma nova controvérsia após a entrevista de Alice Weidel (AfD) e Elon Musk no X Spaces (9.01.2025), onde Musk declarou que o partido AfD é “o partido do senso comum” e “a única salvação da Alemanha”. Isto provocou um terremoto na arena política alemã com ecos em toda a Europa.

Os principais temas discutidos na transmissão em direto no X Spaces (1) podem ser embaraçosos, por tocarem pontos fulcrais e incómodos aos governantes mas que são muito importantes para o futuro da Alemanha e da Europa.

Weidel designou Merkel de chanceler “verde” por permitir a imigração descontrolada e desligar as centrais nucleares, o que teria prejudicado a política energética alemã.

Musk apoiou a política energética proposta pela AfD e criticou a burocracia alemã, destacando desafios enfrentados por sua fábrica Tesla em Berlim.

Weigel tem como ponto comum com Musk o controlo da imigração, a redução da regulamentação estatal, uma estratégia energética equilibrada com ênfase na energia nuclear.

A líder da AfD, Alice Weidel, não está contente com a política de impostos alemã. Ela parte da realidade estatística que “o empregado alemão médio trabalha metade ou mais de metade do ano para o Estado”. A Associação de Contribuintes alemã calculou que, em 2024, uma família média trabalhadora terá pago 52,6% do seu rendimento ao estado. De cada euro de rendimento auferido, restam 47,4 cêntimos, 31,7 cêntimos são para contribuições para a segurança social e o restante é para vários impostos e taxas.

Musk apoiou a posição de Weidel no que respeita a política energética e de reformas económicas e referindo-se à sua fábrica Tesla em Berlim criticou a burocracia alemã que impede desenvolvimento económico. Disse também que nos EUA o governo dá dinheiro para os refugiados sem documentos.

Em questões de polarização Weidel rejeitou a caracterização do AfD, por parte da esquerda, como extrema-direita, alegando ser um partido conservador-libertário.

 Em defesa referiu-se a Hitler como “socialista-comunista” e criticou ideologias socialistas de género. De facto, a acusação de a AfD ser racista torna-se abstrata quando Weidel co-presidente da AfD vive numa relação com uma mulher estrangeira.

Musk mencionou a influência do bilionário George Soros na política e Weidel referiu também as influências políticas de fundações como a de Bill Gates, apontando um viés em favor de partidos de esquerda.

A esquerda que se sentia tão bem embalada pelas agências de informação europeias e pelos governos da EU encontra-se em turbulência e especialmente agora que um “mostrengo” Musk oferece à direita o palco internacional X Spaces para dar visibilidade global.

O que está em questão não são os valores porque estes se entrecruzam na esquerda e na direita, mas sim mundivisões e a rivalidade pela detenção do poder e não se olha a meios para o manter ou adquirir. Além disso está a preocupação de a informação cada vez escapar mais a quem tradicionalmente a possuía na mão.

A função dos governantes é governar e não substituir a tarefa dos jornalistas como ainda fazem e evidenciaram no apoio directo às manifestações das “Avós contra a Direita”. No meio de tudo isto sente-se um misto de rebeldia e de idealismo, condimentos necessários num mundo por um lado demasiadamente regulamentado e por outro que não conhece regras.

Foi unânime e manifesta a preocupação perante os censores da liberdade de expressão porque não somos um Estado cliente, temos pessoas com as suas próprias opiniões. Também Hitler começou por abolir a liberdade de expressão.

Musk critica o excesso de regras e de burocracia e referiu que na Califórnia, apenas 3% de infratores são apanhados e os roubos inferiores a 1000 dólares não são punidos… por isso, o roubo é propriamente considerado legal. Existem leis, mas falta a vontade da sua aplicação.

No que respeita a questões internacionais Weidel desejou o fim da guerra e conversações entre a Rússia e a Ucrânia (NATO) e defendeu Israel, mas admitiu não ter soluções para o Oriente Médio.

Musk destacou a importância da paz no Oriente Médio, mencionando Trump como figura central para alcançar tal objetivo.

Nos últimos 15 minutos Musk fala sobre a sua visão de uma espécie multiplanetária onde se nota o efeito do filósofo Douglas Adam que o influenciou na sua infância.

Musk falou sobre o seu projecto de colonização de Marte como uma estratégia de sobrevivência da humanidade frente a ameaças como guerras nucleares. A proposta de Musk para uma humanidade multiplanetária reflete o desejo de transcender os problemas terrenos.

Sobre a questão do sentido da vida, respondeu que “a vida é mais fácil do que a pergunta”.

À pergunta de Weidel se Musk acredita em Deus, ele responde: “Estou aberto a todos os sistemas. A minha opinião depende do que aprendo.  Weidel, por sua vez, disse que era curiosa, que era agnóstica.

Constata-se que Muk está a ajudar o partido da AfD mas outros partidos e comentadores não entram no âmago dos problemas buscando desviar a atenção do público para consolidar o próprio poder. O discurso de Weidel e Musk provocou acusações de que a entrevista seria uma forma de donativo ilegal ao AfD.

A esquerda europeia, acostumada ao apoio de grandes media e governos, sente-se desafiada pela plataforma internacional oferecida por Musk à direita.

Governantes e jornalismo em geral desviam-se do debate central para criticar a forma e a linguagem, reforçando a dicotomia “nós somos bons, eles são maus”.

Na disputa pelo Poder, os partidos rivais recorrem a estratégias que buscam desviar a atenção do público para consolidar ou conquistar poder.

O importante é que as coisas mudem para melhor num intercalado de influências e interesses quer dos partidos do arco do poder (governo e oposição que se alternam no poder) quer dos que olham para o arco.

Afirmações de Weidel de que Hitler era socialista é talvez exagerada no tom, mas a verdade é que o nacional-socialismo e o comunismo têm muito em comum, mesmo que o próprio nacionalismo seja de direita; certamente o fascismo de Mussolini era mais de direita do que o do nazismo.

A acusação de imiscuição de Musk na política interna alemã é hipócrita; de facto políticos alemães manifestaram-se na Europa e nos USA a favor de Harris e contra Trump. Merz, provavelmente futuro chanceler alemão, fez campanha por Lasconi na Roménia por ela ser candidata amiga da UE.  Governantes desviam-se de suas funções, focando-se na manutenção de poder em vez de servir ao interesse público e respeitar a liberdade democrática de outros povos.

A entrevista sugere uma nova dinâmica política na Alemanha e na Europa, com a direita ganhando visibilidade internacional.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://twitter.com/i/status/1877445582576562374

 

 

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

12 comentários em “ELON MUSK DESAFIA E INOVA A TRADICIONAL CULTURA DO DISCURSO POLÍTICO”

  1. Obrigado, Justo. Como sabes, nem a política nem a sua análise são a minha praia. É por isso que dou as boas vindas a reflexões como estas duas. Já as partilhei.
    Abraço agradecido.

  2. Obrigado amigo!
    Fazes bem em te não meteres nas bagunças da política. Esse é realmente a missão desfazante. Precisaríamos de católicos nos quadros altos da política. Os seguidores de Marx e da maçonaria fazem-no descaradamente e com o sentimento de que têm o rei na barriga!
    Escrevi o artigo sobre Musk e Weidel porque na imprensa considerada séria só se fala mal da entrevista sem tocar nos temas importantes, de conteúdo, que falaram. Partem do princípio que a população só precisa de opinião e argumentação colocá-los-ia a eles nus!
    Os detentores do poder comportam-se como medíocres e fazem uso da censura e de influências para impedir a concorrência no poder. Sofro ao ver que, especialmente o povo alemão e nele Von der Leyen (EU) e Pistorius (Ministro das forças armadas principalmente com os Verdes e a CDU) se encontram num caminho militarista no sentido de tempos passados. Perante o que me é dado observar não me admiro nada que outrora o povo se tenha entusiasmado pelas ideologias de Hitler!
    Um forte abraço

  3. Claro, ela tinha que se dizer agnóstica. A definição nunca soube.
    Ele está aberto a todos os sistemas, mas deles pouco conhece a não ser o seu próprio.

  4. Mohamed é o nome mais popular, entre os bebés nascidos na Alemanha, em 2024 .
    Impostos escandalosos !
    Não se admite que quase metade do rendimento de quem trabalha, fique no bolso do estado.
    Pena que Elon Musk não possa igualmente comprar a CNN, a SIC, o Expresso e quase todos os meios de propaganda actual, em Portugal…

  5. Manuela Silva, compreendo a vontade de que o Elon Musk compre a CNN, a SiC e o expresso…..mas isso entra muito numa mentalidade centralizadora e controladora, exactamente o oposto daquilo que se quer na liberdade de expressão.

  6. Silvia Carmen desculpe, o objectivo de ter uma rede social por si comprada, foi exatamente porque há censura e lei da rolha, sobre pessoas, de vozes dissonantes.
    Elon Musk, comprou a rede social X, para garantir que nessa rede, não haja lugar a censura e que todos possam expor e contradizer…
    Informe-se bem, se ouvir o que diz a CS comprada pelo sistema, continuará errada na sua informação.
    Quando digo, “pena que não compre”… estava apenas a querer dizer isso mesmo, que seja garantida a liberdade de expressão também em Portugal, onde se verifica igualmente, esse controlo, como se tudo fosse dos donos do poder.
    Na verdade pode haver especulação em torno do seu interesse, mas sei que essa foi a razão. Quanto ao que acontecerá futuramente, não posso tecer opinião. Que o gesto foi oportuno e importante, foi. Temos que combater essa fobia doentia, de manter no poder, psicopatas vendidos a agendas globalistas, deixando um rasto de mau viver das pessoas e uma traição inadmissível sobre a soberania dos países.

  7. Manuela Silva, o que é que a leva a crer que o Elon Musk não é um psicopata globalista vendido a uma agenda?
    Por acaso não é ele obra do WEF?
    Não é ele um fornecedor da defesa dos US?
    Não é ele investidor em tecnologia? Em Ai? Em redes sociais? Em comunicação? Satelites? Defesa espacial?
    Saúde, vacinas, medicina?
    Não está ele a centralizar sobre si tudo o que é importante?
    Não é preocupante uma única pessoa centrar sobre si tudo o que é crítico para o funcionamento do mundo?
    Pensamos que há duas faces da mesma moeda: os bons e os maus…… não creio que haja!

  8. Pensar o Elon Musk como um lutador por direitos básicos como a liberdade de expressão é capaz de ser precipitado.
    Não creio que ele compre as coisas para garantir a liberdade de expressão – ele há-de impor as suas condições em tempo oportuno – mas sim para ter acessos a dados pessoais e de todo o tipo com vista a treinar a sua inteligência artificial e conhecer melhor aqueles sobre quem virá um dia em força!
    Ele fala sobre ideias (teses) e pratica a antítese.
    Não basta analisar o discurso, é preciso ir ao que o discurso contém e ao que não contém.
    Também é preciso analisar as atitudes do Elon – só assim garantimos uma análise sobre a coerência.
    Se olharmos á sua lista de financiadores, especialmente os que deram os fundos para comprar o twitter, então temos muitas outras análises para fazer.

  9. Sim, Sílvia Carmen, compreendo a sua preocupação em relação às possíveis motivações de Elon Musk e os riscos associados à concentração de poder e ao uso de dados pessoais. No entanto, o foco do meu texto não foi interpretar Musk como um ‘lutador por direitos básicos’ ou ignorar as contradições que possam existir na sua atuação. O ponto que quis destacar é a mudança no panorama da condução do discurso público e o impacto disso na cultura política.
    Independentemente das intenções pessoais ou comerciais de Musk, o facto de figuras como ele utilizarem plataformas globais para criar novos espaços de debate político é algo que transforma a dinâmica até então monopolizada por partidos e meios de comunicação tradicionais. Isso, por si só, traz oportunidades e desafios para a democracia, especialmente no que toca à participação pública. (Elon Musk está sujeito às leis impostas à sua plataforma X e a União Europeia até observou directamente a transmissão, em questão, destacando 150 0bservadores para observarem se ele pisava o riso (Tal era o medo dos tecnocratas de Bruxelas. A propósito a União Europeia tem-se mostrado empenhada em impedir que o cidadão normal se expresse livremente obrigando até a plataforma X e outras a censurar ela mesma os seus clientes em vez de deixar isso para os tribunais como seria próprio em democracia; os governantes não deveriam obrigar o sector privado a ser censor quando para obstar a irregularidades têm os tribunais).
    Podemos – e devemos – questionar a coerência e as motivações de qualquer ator político ou económico. Contudo, isso não anula a relevância da mudança de paradigma que mencionei. Nesse sentido, prefiro focar na análise do impacto desse novo modelo de comunicação pública, que, como referi, pode parecer paradoxal, mas é digno de reflexão.

  10. António Cunha Duarte Justo, não sei se concordo que esta mudança esteja a ser feita pelo Elon Musk.
    Já há muito tempo que vários atores políticos utilizam as plataformas digitais para fazerem política, “governarem” países, fazerem campanha e divulgarem todo o tipo de conteúdo para influenciar as massas.
    O próprio Trump fez isso da primeira vez que governou a América e há quem diga que ele ganhou estas eleições devido á sua entrevista de cerca de 3h no podcast Joe Rogan Experience.
    Talvez ele venha trazer alguma estrutura, não sei.
    Sim, a União a europeia está numa escalada para impedir a liberdade de expressão, criando até leis para o efeito.
    Não foi por acaso que a França pendeu o criador do Telegram porque ele não lhes quis dar acesso á plataforma para vigiarem as conversas.
    Em todos os países há um esforço coordenado para implementar leis que controlem a liberdade de expressão.
    O Pacto Digital que as Nações Unidas querem implementar vem muito na linha de construir uma framework digital global, comum, que permita controlar o discurso e a pegada digital de cada cidadão.
    Penso que o problema é o discurso divergente dos cidadãos, isso é que tem de ser controlado.

  11. Silvia Carmen , exacto! O que está em questão é realmente a luta contra a democratização da informação. Até à revolução digital as mesmas elites tinham o poder na mão e havia uma diversidade de opiniões mais controláveis. Uma informação descontrolada além de ter também possíveis perigos desfavorece os detentores do poder político actual que por isso empregam todos os meios pra a continuarem a controlar. Um povo esclarecido implicaria a substituição total da classe reinante e essa sente-se como senhora da democracia. O Pacto Digital que as Nações Unidas pretendem é a continuação da mesma estratégia do Tratado das Pandemias da OMS. Enfim, o controlo total das populações, dos povos e dos Estados através de um poder institucional não democrático que através de delegados “representantes” sem legitimação elaboram regulamentações que depois são aplicadas sem serem verdadeiramente discutidas a nível de cidadãos e de parlamentos.

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