DEMOCRACIA INCORREGÍVEL PORQUE SÓ DOS QUE TÊM MEGAFONES?

Na Alemanha o Partido AfD conseguiu já conquistar uma Presidência da Câmara

Actualmente observa-se na Europa uma grande insegurança das populações causada sobretudo por uma forma de governação virada para o improviso e para acções mais próprias de manada. Como, há falta de disputa pública sobre os problemas reais da sociedade entre os principais partidos do arco do governo, parte da discussão e dos problemas são transferidos para os partidos marginais. Isso dá a impressão que eles é que são a causa dos problemas, quando o que eles fazem é questionar as medidas governamentais provocadoras da insatisfação geral. O que se passa na discussão política da sociedade alemã relativamente ao partido AfD, acontece em Portugal em relação ao CHEGA. Os partidos mais representativos em vez de corrigirem a sua conduta governamental preferem continuar a caminho do orgolhosamente sós!

Para cúmulo, os cidadãos inseguros e descontentes que não manifestem simpatia pela coligação dos partidos governantes ainda são acusados publicamente de se alienarem dos processos democráticos. E isto porque políticos e noticiários lamentam o fenómeno como se ele fosse algo antidemocrático, seguindo a lógica de que quem não se conforma com o governo é automaticamente antidemocrático. O comportamento democrático não pode estar apenas atrelado a governos ou maiorias e, para tal, considerar o resto como antidemocrático. No sistema democrático partidário, quanto mais consciente for o povo maior diferenciação de partidos haverá.

Se queremos servir a democracia na sociedade, não chega centrar a atenção e as actvidades apenas na voz dos que falam mais alto e na voz dos governantes.

Cada vez parece mais encontrarmo-nos numa sociedade onde apenas existe a alternativa de recuar para as grandes bolhas do mainstream ou ficar-se pelas pequenas bolhas de opinião individual.

Com a guerra da Ucrânia e a consequente submissão militar e económica da Alemanha e da EU aos interesses dos EUA, a Europa perdeu a sua independência e em consequência disso as populações europeias sentem, pelo menos no seu inconsciente colectivo, que se encontram paulatinamente a caminhar para a autodestruição da própria civilização.

Precisava-se de uma solução europeia para o conflito, mas os governantes europeus não se encontram à altura de lhes poder dar resposta digna. Neste panorama os partidos procuram desviar as atenções dos próprios erros para as disputas partidárias, para partidos fora do arco da governação. Assim como o capitalismo renano com a economia social de mercado (na época da guerra fria) conseguiu equilibrar liberdade e responsabilidade, subsidiariedade e solidariedade entre as pessoas, também os governos e partidos, a nível político, deveriam tratar, na discussão pública, os seus interesses específicos de forma complementar sem difamar nem negar o direito à existência a partidos rivais! Fica feio a militantes partidários colocar os interesses do seu partido à frente dos interesses do bem-comum e pior ainda quando identificam o seu projecto político como se fosse o verdadeiro para resolver os problemas da nação.

Na Alemanha a AfD conseguiu eleger agora um Presidente da Câmara, apesar das contínuas campanhas da imprensa contra o partido. As últimas sondagens apresentam resultados da AfD (1) iguais ao do SPD. Os Media empolgados reagem de maneira emocional, não registando que propriamente a única oposição à política do governo é o partido AfD; tal comportamento desprestigia a imagem de uma sociedade que pretende ocupar um lugar relevante na Europa. Segundo investigações de Forsa, os apoiantes do partido pertencem à classe média clássica – trabalhadores e empregados de meia-idade. Por outro lado, o partido dos Verdes encontra-se distanciado do povo porque vindo do movimento 68 conseguiu fazer carreira nas instituições e deste modo não pode compreender a situação da população em geral. O povo sente-se não representado e não levado a sério. 79% de entrevistados estão insatisfeitos com o governo federal e dois terços dos “eleitores da pesquisa do AfD” são, eleitores de protesto que pretendem apenas actuar como corretivo. Os partidos do governo semáforo em vez de combaterem a AfD indiferenciadamente deveriam deixar-se questionar e repensar a própria posição. A alienação da Sociedade é proporcional ao populismo fino dos de cima e ao populismo reagente dos de baixo. A administração democrática actua mal quando perde de vista o que a base da democracia quer.

O remédio é o governo mudar de rumo para não aprofundar a divisão que já existe na sociedade.

A discussão sobre democracia e concorrência partidária é de envergonhar a própria democracia e tudo se poderia resumir nas frases de Leonardo da Vinci: “Aquele que mais possui, mais medo tem de perdê-lo” e “Quem pensa pouco, erra muito.”

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) AfD, (Alternativa para a Alemanha) é um partido à direita do centro direita.

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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