O moinho tritura o grão que deixa de ser semente para se tornar mero alimento
No nosso cérebro ressoam as vozes dos nossos familiares e antepassados, informações e imagens dos nossos meios de comunicação, etc.
São vozes, nada mais; vozes que moldam as nossas mentes e se expressam nas opiniões que, inconscientemente, adoptamos pensando que são mesmo nossas!
O processo de informação e formatação faz lembrar os grãos (ideias) que entram na mó do moinho! Lembro-me de quando era menino ir levar o milho ao moinho da Pedra Má no rio Arda em determinado dia que nos pertencia. Então, sozinho, no casebre do moinho, sentia-me arrebatado pelo barulho repetitivo da mó que girava girava sem parar, movida pela água do rio Arda.
O cheiro do milho ralado e o cair da farinha transferia-me para esferas da imaginação que hoje, vistas de longe, me fazem lembrar a situação da sociedade e da opinião pública que nos move e mói. Como os grãos,também os nossos neurónios cerebrais são continuamente triturados de maneira a termos todos a mesma ordem de pensamento e a fluir, quais rebanhos, a pastar na praça pública ideias bem penteadas e à moda do tempo.
E assim nos deparamos, cada vez, com mais pessoas que são da mesma farinha ou “farinha do mesmo saco”! O pensamento à esquerda ou à direita deixa de ser semente para se tornar em farinha de engorda que difere apenas nos moleiros que alimenta!
A cultura da polis é como a da agricultura! Temos os agricultores e os fabricantes de ideias bem moídas de maneira a formatarem os grãos das ideias em opinião.
Assim, a voz dos outros se vai sedimentando sobre a nossa voz interior que, muitas vezes, morre atordoada pelo barulho do moinho ao redor. Deste modo, entramos em transe, sem ouvirmos a nossa própria voz porque nos tornamos em meros altifalantes do gosto do tempo (da voz do moinho) que vai moldando as mentalidades de geração em geração. Estas repetem-se na ilusão de serem diferentes das outras…
O reinado do Covid-19 poderia ser uma ocasião para uma pausa, uma pausa para pensar e transpormos até as paredes do próprio pensamento; esta poderia ser a oportunidade de nos possibilitarmos a ouvir a nossa voz genuína, a voz interior, que querer brotar no interior da nossa ipseidade.
O moinho tritura o grão que deixa de ser semente para se tornar mero alimento.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
E quando a fúria mediática actua , só deixa o “resto” que significa ser ultra-conservativo (…)!
Isso depende dos ventos: se sopram das altas pressões de ultra-conservadoras ou de altas pressões ultra-progressistas! Uns e outros provocam sempre estragos! Felizmente não há só ventos políticos!
Lindo….
Também fui muitas vezes ao moinho com o meu pai…
Às vezes Ele ficava horas a picar a pedra e eu a ouvir o barulho da água…
Esse barulho ainda hoje me encanta..
A mesma experiência tive eu e até não esqueci do aroma produzido pela pedra sobre pedra a ralar o milho! É um ritmo de ruído ritmado que ainda hoje se mantem nos ouvidos! É como uma espécie do repetitivo monótono da reza do terço que leva uma pessoa a entrar em esferas meditativas!
Aguardemos o resultado das eleições norte-americanas e o conteúdo do “Inaugural adress” (discurso da tomada de posse) para sabermos que rumo vai tomar o gigante enervado e fronteiriço com a Rússia das estepes e dos gulags – o estreito de Bering está ali mesmo à mão de semear – com a China a coçar-se com as recentes experiências dos norte-coreanos.
As ventanias da política continuarão a ser tão fortes que nos expulsarão da nossa interioridade para os seguirmos e condicionarmos o nosso pensamento no sentido da sua meta!
Eu também fui ao moinho e agora, lendo isto, lembro-me de todo esse passado, esses barulhos e mais; o caminho era muito estreito um pouco perigoso. beijinhos
Eu tive o privilégio em ter nascido e passado parte da infância junto ao rio Neiva. Adormecia muitas vezes com o ruído das azenhas que moiam o milho e trigo.