DOS PERDULÁRIOS DO ESTADO E DA HONRA DO CIDADÃO

Joe Berardo é uma Amostra de Homens de Sucesso do Regime de Abril

António Justo

Agora fala-se de Joe Berardo mas este é apenas a  “ponta do Iceberg” a passar nas imagens das nossas retinas e nos écrans das TVs; o filme não promete acabar porque não  se pedem contas a quem governa, a justiça é cega e ninguém liga.

A corrupção anual em Portugal é superior ao orçamento anual do Estado. Portugal ocupa no Ranking dos países corruptos o lugar 30 e é visto como mais corrupto do que a média europeia, “tendo administrações públicas mais corruptas do que, por exemplo, o Chile ou os Emirados Árabes Unidos” (1).

Independentemente das facções políticas que nos têm governado, continuamos a ser um país desgovernado; se fossemos um país bem governado poderíamos ser um país como a Suiça. Tem-se a impressão de se viver num Estado gerido pelos filhos da concubina, tornando-se natural que os filhos da nação não sejam tratados com dignidade.

Berardo é um protótipo de muitos políticos  e empresas que vivem disfarçadamente encostados ao Estado e muitas vezes, à custa do contribuinte indefeso (A Fundação de Berardo terá recebido 48 milhões de euros de benefícios fiscais em três anos); ele, tal como muitos outros “patriotas amigos da onça”, foi gerado pelo sistema na sequência do espírito carbonário dos fundadores da República expresso num republicanismo de ética mafiosa (partido republicano e carbonária maçónica unidos) e que os habilidosos da revolução de Abril implementaram. Temos assim uma República refém de algumas corporativas onde os homens do avental (como corporação) desempenham certamente papel determinante na formação dos condutores do Estado e nos emperramentos da justiça.

O cum quibus da questão da Justiça portuguesa e da credibilidade do sistema começam nas duas medidas usadas em relação aos administradores do Estado e aos administradores de empresas privadas; e isto ontem como hoje, num Estado que parece teimar em menosprezar o trabalho ligado à produção económica (2). Há dias, diziam-me um industrial amigo: “Se a minha Empresa, por qualquer problema, deixar de ter produção e não tiver dinheiro para pagar ao sector público eu, ou pago do meu bolso ou penhoram-me tudo, inclusivamente a minha reforma, e eu posso ter de ir dormir para debaixo da ponte e mesmo ir para trás das grandes para onde não vai quem nos rouba milhões.” O problema situa-se precisamente nos chico-espertos da “república” presentes em todos os ofícios e bancadas de uma sociedade com uma mentalidade econizada na ideia de que importante é o “trabalho” engravatado e no espírito do safe-se quem puder! O economista americano, Milton Friedman advertia que o „Dinheiro público é o dinheiro que o governo tira dos que não podem escapar e dá aos que escapam sempre”.

 “Em vez da “ínclita geração” que nos tornou grandes, com o tempo, passamos a ter jacobinos que fazem as coisas de tal modo embrulhadas de maneira que o povo ande sempre atrás do acontecimento!

Os nossos dançarinos do poder mais que inteligentes parecem ser espertos que, das janelas das suas “lojas”, conseguem pôr todo o povo no jogo da caça aos gambuzinos! Cinicamente contam com um povo de bonzinhos que persiste em ser pato, não se dando conta da má gestão das administrações das instituições estatais, financeiras e politicas além da corrupção sistémica: “Os custos para Portugal da corrupção cifram-se em 18,2 mil milhões de euros por ano, mais do que o orçamento anual”  (3).

A bolsa turbo-capitalista passou a mandar em todos nós, com a cobertura de muitos dos nossos bons socialistas de cara lavada com as águas do povo e pelos outros que com eles se tornaram cúmplices. Na classe política não temos bons nem maus, temos é demasiado medíocres, oportunistas ou desonestos que desqualificam qualquer governo e qualquer povo com consciência própria porque se a tivesse envergonhar-se-ia de tal.

Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, reclamou publicamente que o importante seria que Berardo pagasse a dívida ao Estado, o que, à primeira vista, pareceria uma medida lógica porque o contribuinte seria poupado, mas na realidade a ferida da corrupção não seria curada porque, ficando-se só por esta medida, esconder-se-ia o labirinto e enleio da corrupção da classe político-ideológica-económica.

Também a desconversa sobre as medalhas apenas mostra a maneira como o Estado trata personalidades corruptas e como tudo é embrulhado sem na realidade se tocar na ferida: o sistema isenta os infractores das dívidas e dos prejuízos causados porque nele se encontram muitos cúmplices. Na realidade, muitas decisões dos tribunais tornam-se injustas ao obrigar o povo a ter de ser ele a pagar a factura mas mais injustas são ao cobrirem a falta de ética e de dignidade de muitos corruptos!

O sistema político, em parte, abusa da oportunidade para infiltrar grande parte dos seus membros, familiares ou adeptos nos diferentes órgãos do Estado e assim se poderem tornar nos donos disto tudo (O povinho é entretido a falar de casos apelativos ao sentimento, tolerância, de futebol, de fachos, burgueses e oligarcas de fora e de outros tempos!). A tal liberdade e igualdade destes senhores tornou-se no fenómeno mais visível do regime de Abril. A revolução revelou-se como feita só para alguns, é preciso inventar uma revolução que seja para todos! O exemplo do crucificado, que deu a vida pelo povo, provoca arrepios em muito boa gente!

 

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

24 comentários em “DOS PERDULÁRIOS DO ESTADO E DA HONRA DO CIDADÃO”

  1. Mas essa HISTORIA apenas se sabera daqui a uma geracao porque a corja esta espalhada dentro da Administracao Publica. E os Milionarios incluindo em Angola sao tudo proveito dessa “democracia” no papel para ingles ver e ouvir.
    Emanuel Fronteira
    FB

  2. Só propriamente passados 80 anos depois dos acontecimentos se pode vir a ter uma melhor visão da realidade do que se passou, porque as coisas são complicadas e se se soubesse antes como realmente se passaram, isso poderia causar, problemas ao regime que do poder!

  3. É pura verdade . Como o mundo seria melhor se tivéssemos melhores políticos e políticas mais justas . Mas a maior pobreza de um país é a falta de justiça !
    Manuel Sousa
    FB

  4. Caro António Justo,
    Considero enriquecedor para todos nós a divergência de opiniões mas não concordo com o radicalismo do que abaixo escreveu e acredito que o Regime de Abril mudou o País,Portugal, cujo o povo vivia na obscuridade e sob um regime de Ditadura, num tempo em que muitos estavam presos ou que milhares emigraram ou foram para a guerra colonial.E mais não vou aqui escrever, porque não é esse tema não é o objetivo deste espaço, dada a diversidade de origens dos dialogantes em vários continentes, sua história , e porque uma crítica radical não nos aproxima! Também sei que o António andou e anda por várias Pátrias e por isso , é natural, suas críticas . Realidades diversas ,sei! Mas tal como eu, o António também acredita nos valores da Europa. É isso que eu também procuro destacar..Mas nunca esquecer os amigos no Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Macau, Goa,, Timor Leste. Somos diferentes e próximos!
    Continuemos numa Europa de minorias e diversidades unida , se possível e numa comunidade lusófona dialogante!
    Margarida Castro
    in Diálogos Lusófonos

  5. Prezada Margarida,
    Penso que neste seu Forum, acusar-me de crítica radical, parece não ter contemplado o contexto do texto nem as realidades provadas a que ele faz referência. Importante seria argumentar-se contra afirmações feitas. Cito aqui uma reacção ao meu artigo de um escritor de esquerda, anti-igreja e modernista: “Sempre no bom combate, caro confrade & amigo! Assim é que é, lucidez e coragem sem demagogia mas com verdade”!

    As posições até contrárias e contraditórias, mesmo que apontem para um outro plano que o nosso, criam outras luzes no nosso pensamento e ajudam-nos a reconhecer que vale a pena estar a caminho da verdade, de maneira acompanhada, seja por caminhantes da esquerda ou da direita, por rectas ou por curvas. O característico da democracia é precisamente a possibilitação de diversos discursos com a representação na polis dos diferentes interesses. Importante é sensatez e decência nas discussões e no trato dos que têm um outro pensar. Gosto do seu Forum porque embora se abordem posições diferentes e se insista num ou noutro tema cada um respeita o outro e assim enriquecemo-nos a todos.
    É verdade que o 25 de Abril constituiu um grande avanço no caminho da liberdade e no desenvolvimento da nação; também eu contribui activamente para tal. Mas se as pessoas continuarem a via de um pensar politicamente correcto e como tal um pensar penteado, tal como fazia a maior parte no regime de Salazar, então pouco teríamos aprendido da História e de pouco nos teria servido o 25 de Abril. O nosso recordado Zeca Afonso dizia “Se houver alguém que não queira/, Trá-lo contigo também!”.
    O estado aflitivo da corrupção do nosso país (e que documento no texto) é de tal gravidade que não nos deixa ver caminho para dar volta a isto, não nos deviamos deixar perder em questões de somenos importância de atribuições de culpas ou de desculpas a este ou aquele partido ou a este ou aquele regime; o que importa são factos, medidas e acções. Cada um de nós é tudo isso. Onde estará a ofensa à casa da democracia ao falarmos dos problemas que ela tem, no sentido de a precaver e defender dos ataques de fariseus que dela vivem mas não entram na disputa que ela mereceria. Não está aqui em questão o 25 de Abril, mas o abuso que se tem feito dele. Berardo disse “puseram-me o dinheiro à disposição e pediram para ajudar e eu só quis ajudar…” e por fim também, a continuarmos como até aqui, vai ser o bode expiatório de quem o manipulou. Antes o regime queria um povo submisso hoje querem-no distraído! Por vezes, o Estado faz lembrar uma porca que dá à luz porquinhos todos iguais mas logo os porquinhos começam a tentar mamar na porca mas uns mamam mais e são gordinhos e há-os que definham por outros saltarem por cima deles e estes assim não chegam às mamas da porca.
    Espírito crítico não significa espírito negador, mas uma nação como a Portuguesa habituada ao pensar penteado precisa de pensadores e pessoas críticas que obriguem aqueles a quem delegamos o governo, a mostrarem o máximo de capacidade e muito empenho no governo da Pólis (precisa de críticos empenhados no bem de todos embora cada qual possa apresentar uma perspectiva, o que não exclui também a possibilidade de muitas outras.
    Desculpem todos a minha linguagem talvez demasiado directa mas que também tem tolerância para possíveis perdulários porque têm o consentimento e a cumplicidade do povo através das eleições mas não dispensam que vozes se levantem em defesa do Bem comum.
    Um abraço cordial à Margarida e aos participantes deste fórum.
    António Justo

  6. Caro António,

    O que mais me preocupa no “nosso” Grupo Dialogos_ lusofonos são os silêncios ensurdecedores, que admito terem algum significado, e que me esforço por interpretar mas também sei que nada podemos mudar nos comportamentos alheios. Então continuemos a partilhar as nossas e vossas vivências de multi continentes!
    Grande abraço,
    Margarida Castro
    in Diálogos Lusófonos

  7. Prezada Margarida,
    compreendo bem as suas preocupações ao gerir tão importante plataforma como é dialogos_lusofonos. Ela torna-se muito relevante também pelos muitos temas que disponibiliza também para reflexão. É natural que num mundo em que as diferenças são cada vez mais acentuadas, muitos leitores prefiram ler e observar no silêncio o que dialogos_lusofonos lhes disponibiliza; muitos preferirão não se exporem com comentários que pressuporiam controvérsia. Nos princípios em que entrei nesta plataforma escrevi muito sobre a Lusofonia porque então achava muito importante e urgente o tema. Naturalmente continua a ser de grande importância mas eu como já dei o meu contributo nesse assunto, no princípio, depois passei a tratar de outros assuntos de atualidade que penso no momento importantes para provocar pensamento seja positivo ou negativo. Enquanto se discute não se pega em armas e eu sou um amante do discurso na tradição antiga da controvérsia. A sociedade encontra-se num grande momento de transição e tem dificuldade em encontrar-se mas na praça das ideias poderá contribuir-se para um processo de síntese que depois criará novas teses e antíteses, etc.
    Muito obrigado por tudo o que põe em via e possibilita no dialogos_lusofonos. Muitas vezes desejaria entrar mais em diálogo mas como escrevo para muitos jornais tenho de deixar talvez o melhor de mim para trás! Muitas vezes os temas que abordo são-me solicitados por leitores ou amigos.
    Desejo-lhe muita energia e coragem para poder continuar a ser uma pedra importante na construção e no fomento da cultura e do diálogo.
    Forte abraço
    António
    in Diálogos Lusófonos

  8. António Cunha Duarte Justo, eu diria que não faltam nomes mas nada acontece.
    Alcino Francisco
    FB

  9. É propriamente impossível mudar a situação de fundo porque Portugal, mais que uma democracia de cidadania vinculada ao povo, é uma República em que os corporativistas se apossaram do Estado! As pessoas agarram-se a pessoas bem intencionadas mas não notaram que estas pouco podem fazer devido a um sistema que, por natureza, as impede porque não está virado para o cidadão.

  10. Para mim a culpa é sempre do cidadão. os políticos fazem o que o povo deixa.
    Alcino Francisco

  11. Hoje não se coloca a questão da falta de informação. Não é preciso ir a escola ou ser inteligente para vermos quem é como manobra a nossa vida financeira. Parece canibalismo.
    Alcino Francisco

  12. Sim, ninguém nota! Ninguém que tenha influência suficiente, a não ser o poder descritivo a que ninguém liga!

  13. O Estado não tem interesse nessas ideias e até as considera perigosas.
    Alcino Francisco

  14. Até que o povo acorde. Nunca poderei esquecer quando um dia o povo percebeu uma revolução e os usurpadores passaram um mau bocado.
    Alcino Francisco

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