O PAÍS ONDE O TRABALHO É VALORIZADO E O QUEIXUME NÃO É CULTIVADO
António Justo
Os portugueses que trabalham mostram que não ficam atrás de ninguém; veja-se a sua popularidade como emigrantes, os títulos no desporto e portugueses em chefias em organizações internacionais. O problema de Portugal está na classe política que tem tido e tem.
No estado do Hesse, Alemanha, os funcionários públicos, (por deliberação do governo de 15.07.2016) a partir de Agosto de 2017, passarão a ter o horário de trabalho reduzido para 41 horas semanais. Em 2016 recebem um aumento de 428 euros. Em contrapartida Portugal, com o Governo de António Costa, reduziu o horário semanal dos seus funcionários para 35 horas; outra diferença: Portugal pede crédito ao estrangeiro para poder pagar o ordenado aos seus funcionários. O estrangeiro sabe destas inconsequências e da ineficiência na produção e grande parte do Portugal partidário, em vez de exercer autocrítica e de se preocupar com a razão do fracasso económico (demasiados gastos com o aparelho do Estado, produção insuficiente para alimentar a nação e falta de formação empresarial) desvia a bola para canto dando a culpa aos outros.
As elites alemãs premeiam quem trabalha e os governos portugueses parecem premiar quem está mais perto deles.
No discurso público sobre o défice português (foi 4,4% em 2015 enquanto o défice médio da UE foi de 2,1%) e contínuo endividamento do orçamento de Estado, assiste-se a uma discussão de acusações e desculpas, assumindo por vezes um caracter “racista” e muito longe de um discurso responsável. A política de Bruxelas tem sido tudo menos que justa, também em relação a Portugal, mas isso não justifica uma atitude irreflectida de encontrar as culpas só fora quando os contratos assinados foram por nós.
Quase toda a gente se queixa da Alemanha que exige mais poupança aos estados do sul. Em Portugal, os empregados públicos são discriminados pela positiva em relação aos trabalhadores da produção (do privado) que trabalham 40 horas. Para se poder cultivar a excelência, o país teria de produzir mais e gastar menos. Em vez da inveja de quem ganha mais seria importante um discurso económico e político de maneira a, também nestes sectores, se poder ganhar o campeonato. Para isso não se ganham golos a passar rasteiras nem se ganha o jogo a barafustar contra o árbitro, em fora de jogo nem tão-pouco se pode passar muito tempo na pausa ou deixar ir o rendimento para os compadres e para as clientelas. Temos que valorizar mais o trabalho e menos a conversa.
Doutro modo, a nossa condição será armamo-nos em vítimas, aquele hábito feio herdado talvez dos árabes, que contribui para uma mentalidade de coitadinhos que nos impede de ver a razão do sucesso de quem criticamos.
Horário dos funcionários públicos na Alemanha
Segundo a lei federal da Alemanha os Funcionários federais têm um horário de 41 horas semanais; pode ser reduzido para 40 horas semanais no caso de deficientes graves e para aqueles que recebam o abono de família para crianças menores de 12 anos.
Os funcionários dos Estado federados e os funcionários das autarquias locais têm um horário de trabalho que varia segundo o Estado entre 42 horas e 40 horas semanais (sem pausas).
No Estado do Hesse o horário é de 42 horas por semana, isto é, o funcionário trabalha uma hora por semana a mais para uma conta de trabalho creditado (para possibilitar a opção de reforma antecipada); a partir do início da idade de 51 até aos 60 pode ver reduzido o trabalho semanal para 41 horas e desde o início dos 61 anos de idade, ou por incapacidade grave, trabalham 40 horas semanais.
Conclusão
Nós portugueses “vergamos a mola” dentro e fora! Lá fora os responsáveis políticos são outros, cá dentro são os nossos. Lá fora enriquecemos os outros e cá dentro enriquecemos os nossos. Lá fora a sociedade civil pede contas aos políticos; cá dentro acusam-se os empresários e não se pede contas aos nossos! Cultiva-se o queixume, com carinho, porque é nosso!
Não chega a competência académica, o ser patrão, nem tão-pouco o argumento autoritário e presunçoso do “sabe com quem está a falar?” O que conta para a riqueza de um país é o respeito, a gestão competente, seja ela do Estado ou do privado! Em Portugal valoriza-se demasiado a discussão (política) enquanto lá fora (na Alemanha) se valoriza mais o trabalho. Males e bens há em todo o lado; berra-se mais onde o ordenado e a produção são menores!
Muitos cromos da política e seus acólitos falam do que fazem de bem e colocam o mal lá fora. E o povo, que vai na cantiga, anda por aí a falar de ordenados miseráveis em relação ao estrangeiro; calam porém que os melhores ordenados provêm da produção conseguida e talvez da inteligência de fazerem negócios que os favorecem e deixam os seus chefes e as elites ganharem tanto ou mais dos que ganham lá fora
Investir mais na preparação de empregadores e empregados e deixar de viver do imediatismo.
Muitos ainda não notaram que, no nosso regime, os culpados são sempre os outros: são os anos do “fascismo”, é o ordenado reduzido, é Merkel, é o capitalismo, é a direita, é a esquerda: são todos e não é ninguém.
António da Cunha Duarte Justo
Caro amigo Justo,
quanto ao aumento de 428€, já receberam ou ainda vão receber, tendo em conta que o ano 2016 ainda não acabou? Teria todo o interesse em saber… Bem, quanto à comparação entre um país e outro, mais concretamente a função pública, talvez as coisas tenham mudado um pouco ao longo dos anos. Os portugueses trabalham em média mais que os alemães. Esse estudo saiu há relativamente pouco tempo. Talvez ainda consiga mandar o link… A Alemanha onde eu vivo tem funcionários públicos e funcionários do setor privado que faltam com frequência, e sabes que um atestado médico na Alemanha é facílimo de adquirir, basta ir ao médico e dizer que a unha do pé grande dói, e pimba, uma semaninha garantida em casa. Se eu telefonar para o ministério (Schulamt) e a pessoa responsável pelo meu processo estiver doente, ninguém me trata do meu assunto, ninguém! Isso não acontece jamais em Portugal! No Arbeitsamt (Centro de emprego), já me negaram entrada por falta de funcionários, estavam muitos de baixa. Isto em Portugal não aconteceria jamais! Quando há uns meses me tornei funcionária pública, não houve um assunto burocrático que tenha corrido bem! Nem um! E tive de tratar de muita coisa!!! Tudo mal e atrasadíssimo. E coisas da máxima importância para o meu futuro. Em Portugal nem tudo corre bem, há erros, mas para pessoas que num país ganham o dobro de pessoas de outro país, eu esperaria mais. Muito mais! Quanto a produzir mais, aponte um ministério público que à sexta à tarde atenda um telefone ou que esteja aberto. Nem as empresas privadas, quanto mais públicas…. Quanto aos nossos passados e presentes governantes, só posso falar com maior poder de argumentação dos passados, pois os presentes ainda mal aqueceram a cadeira, mau, muito mau, mau demais!!! Quase destruíram o país, e as contas de 2015 estão à vista, sanções!
Justo, o branco nem sempre é branco…. Um verão cheio de coisas boas para ti e para a família!
TRABALHO
Funcionários públicos portugueses entre os que mais horas trabalham na Europa
26 DE JANEIRO DE 2016 – 07:08
Na União Europeia, a carga horária semanal varia entre as 34,75 horas e as 41 horas. Esta terça-feira, patrões e sindicatos são ouvidos no Parlamento sobre a redução das 40 para as 35 horas semanais.
Carla Moita
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Cara amiga Carla Moita,
não sou contra que se trabalhe menos. Surpreende-me porém o facto de os portugueses trabalharem tanto e o Estado estar tão endividado! O que me causa ainda maior confusão é a realidade de um Estado à beira do colapso, como é o caso de Portugal, conceder regalias aos seus funcionários públicos, priviligiando-os em relação aos trabalhadores privados embora tenha tantas dívidas! Investe no consumo e não na produção!
Para o caso não me importam os estudos nem estatísticas muito questionáveis, muitas vezes feitas para servirem clientelas; importante é a realidade legal em Portugal e na Alemanha. É verdade que, como dizes à sexta-feira, a partir das 14-16 horas já não é frequente encontrar-se um funcionário no trabalho. Isto deve-se porém ao facto de prestarem mais horas de serviço compensatórias durante a semana para poderem sair mas cedo na sexta-feira.
Quanto à faltas ao trabalho por razões de doença é uma outra questão a analizar e sei pelo que observei com outros colegas alemães que, iam dar aulas mesmo com direito a baixa mas para não sobrecarregar os colegas.
É verdade que os funcionários alemães são sobrecarregados com trabalho; o Estado poupa e deste modo obriga-os a trabalhar mais. O problema também se pode agudizar pelo facto de cada funcionário ser responsável por um determinado número de clientes e quando o assunto é muito específico só ele tratar do assunto. Na Alemanha, para se não ter de esperar muito tempo nas filas, à espera da sua vez, é costume as pessoas marcarem o seu atendimento através da internet na repartição do Estado onde quer ir. Geralmente nas reparticções para estrangeiros as filas são muito grandes.
Trabalhei muitos anos para o Estado alemão como professor e verifiquei que os professores tinham bastante mais horas de trabalho lectivo que os portugueses. Verifiquei também que os colegas alemães tinham mais trabalhos acessórios pelo facto de não terem contínuos e a secretaria, numa escola com 1500 alunos, só ter duas empregadas de secretaria.
Admira-me o facto de o funcionalismo público português trabalhar menos que o do Estado do Hesse e o da Alemanha federal, quando o Estado do Hesse é um estado federado rico que contribui com quantidades enormes de dinheiro para regiões menos ricas da Alemanha devido à solidariedade entre os Estados federados.
Por isso Portugal nunca mais sal da lama
Manuel Carvalho Martis
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Portugal trabalha a seco para alguns!
Correta a frase,(o problema está na classe politica que tem tido e tem).Quanto às horas de laboração : a temática é bastante discutivel.Discutivel,porque trabalhando mais horas,o português em Portugal produz menos que os alemães,holandeses,belgas suecos e etc. Porque será ?
Francisco Barbosa Velho
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O problema em questão está nos trabalhadores do Estado que em Portugal trabalham 35 horas semanais e na Alemanha 42! Em Portugal os do privado trabalham 40 e estes têm que produzir mais ainda para o Estado poder pagar aos seus funcionários, doutro modo o Estado recorre ao crédito internacional!
Se o diálogo na sua essencia é a solução de todas as divergências …um conhecimento sólido do tema a dicurtir terá que ser essencial para a solução em questão.Isto,a propósito de uma hipotética comparação Alemanha Portugal em quase todos os sectores dos componentes que pertencem aos dois paìses.Detalhar seria utópico porque,para não se cair no desenrasca,sistema tipico da nossa sociedade original,seriamos obrigados a abreviamentos desaconselháveis para quem nos lê.Na minha opinião,como a inteligência e a capacidade não têem um habitate especifico:nós portugueses podemos ombrear qualquer uma outra etnia sem complexos mas,para que tal aconteça,os sistemas e mentalidades terão que sofrer uma revolução cultural.Só um grande pormenor-,como pode ser possivel andar-mos há mais de 500 anos a disbaratar riquesas fabulosas e o povo ser dos mais carênciados da Europa ?
Totalmente de acordo! Gosto de me referir a detalhes porque deles se pode melhor equacionar os problemas e as questões a resolver. Quanto ao problema essencial das mentalidades penso que exigirá muita paciência e tempo. Quanto à mudança de mentalidade dos portugueses terão nela muita importância as nossa elites: é um problema cultural e de vontade também das elites. Além do mais, há as geografias e os tipos de homo nordicus e homo sudicus com diferentes maneiras de estar.
Vá lá ò menos que há emigantes com bom senso e sabem distinguir as coisas….obrigada Carla Moita…como português desde sempre em Portugal sinto-me deprimido a ler estes comentários…mesmo agredido.
Vítor Lopes
Em Portugal, na Alemanha e por muitos outros lados, o bom senso não é propriedade de ninguém!
Reduzir o bom senso a quem concorda connosco tornar-se-ia miopia.
O bom senso sentir-se-ia ofendido se se deixasse reduzir a uma opinião ou ao senso comum!
O” bom senso” para não ser servil nem conduzir ao erro deveria levar a melhor pensar! Aqui para o caso seria interessante se o senhor Vítor Lopes pegasse num dado que referi no artigo e com argumentos o contradissesse. Assim eu teria a oportunidade de aprender alguma coisa, pelo que lhe ficaria muito agradecido.
Justo,
sei bem que em todas as profissões há bons e maus profissionais. Mas lamento, o que tenho apreciado em relação aos profissionais do ensino e não só na Alemanha, é que quando têm de faltar, faltam! O caso mais curioso deu-se há 2 anos numa escola nos arredores de Darmstadt com uma amiga chegada à Alemanha há meses, e que queria ingressar na carreira docente no país que a viu nascer, e onde já não vivia há muitos anos. Enviou currículos para muitas escolas e uma respondeu-lhe que gostaria que se apresentasse. E sim, conseguiu o lugar é já efetivou! E sabes porque é que a quiseram contratar? Para estar na escola para substituir uma outra professora sempre que faltasse! Isto é, a outra senhora vinha semanalmente trabalhar 2dias e faltava 3… Festa! E o diretor farto de ouvir queixumes dos pais( mais que óbvios), contratou uma outra professora. Resumindo: o estado de Hese esteve a pagar a 2 professoras para um mesmo horário! Mas eu penso que a Alemanha também tem feito as suas reservas com os juros das dívidas dos países do sul. Penso que deve dar para estas situações… E não Justo, à sexta-feira a partir das 12:00h. já nenhum funcionário público trabalha em qualquer ministério! E a partir das 10:30h raros são os que “ainda” atendem telefones. Mas não sou eu que o digo, são os alemães que o dizem e assumem. Talvez as nossas ” Alemanhas” sejam iguais e tão diferentes ao mesmo tempo…
Carla Moita
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Cara Carla Moita!
Muitas vezes não sei o que se encontra por trás de muitas discussoes públicas. Não se trata aqui de dizer que uns são melhores ou piores que os outros.
A intenção do meu artigo era contribuir para uma discussão baseada em dados objectivos, isto é o horário semanal legal em Portugal e o horário legal na Alemanha. Referi-me aos horários das repartições públicas em geral. A consequência de uma análise dos dados poderia levar a uma discussão sobre a efectividade e a produtividade do trabalho.
Quanto aos hábitos laborais nos ministérios não os conheço; apenas sei que há uma lei geral para todos e naturalamente poderá haver certas diferenças de comportamento no caso de haver uma certa margem de discricionariedade no caso de o penso do trabalho ter sido cumprido.
Quanto aos lucros da Alemanha devido aos juros do dinheiro que ela e outros emprestaram a Portugal, é natural que haja aqui muitas injustiças mas por trás das quais há contratos assinados e pessoas que deveriam ser responsabilizadas por eles; o certo é que quem empresta o dinheiro não o quer perder e por isso é natural que não queira ver um Estado pobre devedor a tratar melhor os seus funcionários (caso da Grécia e em parte de Portugal) do que tratam eles os seus. (A discussão da economia é porém uma outra!)
Não podemos generalizar as questões nem misturar uns sectores com os outros nem passar a casos particulares generalizando-os. Tenho dois amigos médicos que trabalham 48 horas por semana (sem ganhar mais por isso) e isso não me pode levar a dizer que na Alemanha os médicos trabalham 48 horas semanais. Importante na discussão é ver o que é que Portugal terá de fazer melhor que os outros para poder ganhar a competição e não continuar o jogo do desenrasca. De facto, os trabalhadores portugueses são da mesma massa que a nossa selecção. Mas não há boa selecção sem um bom treinador! E nós, professoremos e multiplicadores, temos uma obrigação qualitativa que se situa no fomento de uma massa cinzenta crítica. A razão não é propriedade de nenhum grupo; todos têm defeitos e virtudes e nós teremos de nos ocuparmos dos nossos e das nossas.
Uma sociedade mais humana deveria trabalhar menos e até conseguir ter melhor qualidade de vida com menos trabalho. Na Alemanha há muito empregado (e muitos professores) com Burn-out
O meu interesse certamente como o teu é contribuir para que Portugal avance e não fique atrás dos outros; Portugal tem um povo muitíssimo trabalhador e bom mas com algum problema de mentalidade e de qualidade das chefias. É umatristeza ver um povo, que produziu tanta riqueza, andar, há pelo menos quatro séculos, atrás da carroça.
É que na Alemanha não há sitios tão agradáveis como, Cascais, Estoril, Cacavelos, Caparica etc. para sair a desfrutar o tempo livre. É por isso que os do centro e norte da Europa têm todos cara de cu. Trabalham muito porque não sabem que fazer no tempo livre.
Augusto De Almeida
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Os povos do sul estão mais especializados no viver! Não têm os invernos tão duros e por isso não precisam de enceleirar tanto!
Importante é que cada aual seja feliz com o que tem!
” o horário semanal legal em Portugal e o horário legal na Alemanha”
Todavia não disse a % de trabalhadores da função pública nos 2 países. Não se podem comparar factos isoladamente.
Se há menos trabalhadores na função pública na Alemanha do que em Portugal, logo a distribuição de horas tem de ser diferente nos dois países. Há aqui certa lógica, ou não?
Essa conversa das praias e do europeu do norte e do sul é pura construção mental, sem qualquer apoio na realidade. Aliás, os do norte passeiam nos laguinhos com os seus patins.
O horário semanal na Alemanha é de 40 horas e em Portugal é de 36 horas. Isto quer dizer que um Estado rico como o alemão exige mais horas de trabalho dos seus funcionários do que exige um estado pobre dos seus. Por isso é natural que o Estado alemão seja mais rico porque em 40 horas produz-se mais do que em 35 horas e quem paga os funcionários somos nós os contribuintes. Os do norte são mais ricos porque têm mais recursos e produzem mais. Pessoas remediadas permitem-se com o dinheiro que lhes sobra ir passar férias ao sul e deste modo ajudá-lo economicamente. O importante em tudo isto é o estilo e nível de vida que se tem e as possibilidades que os rendimentos, a produção de um país permite aos seus cidadãos. O problema da riqueza ou pobreza de um Estado mais que com muito do povo tem a ver com as suas elites e especial com os seus políticos.