Hidroterapia e Promoção de Termas e Lugares de Cura

Um Exemplo para Portugal e para a Lusofonia: Bad Wörishofen

António Justo
Bad Wörishofen pode considerar-se um modelo em questões de integração de inteligências e interesses complementares no âmbito da saúde, da política, da economia, da formação e da cultura; os diferentes sectores da cidade desenvolvem estratégias comuns, investindo, de maneira complementar e cooperativa, reagindo assim, de maneira adequada, às potencialidades do meio, aos gostos do tempo e à procura do mercado. Aqui se vê o testemunho de que a matéria-prima mais rica, que um lugar tem, é a inteligência e a vontade de o transformar.

Quando, em 1975, estive em Bad Wörishofen e, por curiosidade, pratiquei alguns exercícios de aplicação de água fria nos braços e nas pernas, nas instalações dos parques públicos, recordei-me de uma curiosidade de espírito semelhante, que tinha verificado em Portugal. Em 1972 encontrava-me como orientador de alunos de Izeda, numa colónia de férias da praia da Areosa, a norte de Viana do Castelo. Fiquei então surpreendido quando vi, no lusco-fusco da manhã, mulheres vestidas, agarradas às pedras da praia sofrendo o embate das ondas frias sobre seus corpos. Foi-me então explicado que o faziam por razões de saúde.

Em Bad Wörishofen impressionou-me verificar como, o simples facto da diferença de temperatura de águas, aliada às ideias e experiência de um visionário (“Pároco Kneipp”), ter transformado uma aldeia de vacas numa vila que se pode considerar a sala de visitas de toda a região com renome internacional. Quando penso em Portugal, lugar privilegiado no mundo pela diversidade de riqueza de suas águas termais, já há dois mil anos exploradas pelos romanos, surge-me um sentimento de melancolia e uma ideia brilhante de um Portugal em florescência.

Por isto e por outras, todo o pessoal de termas deveria visitar Bad Wörishofen para ver como aqui se conseguiu unir em torno de uma ideia, o saber, as necessidades, as pessoas, a natureza, os balneários, os parques, a cura, a cultura, as caixas de previdência, a repartição de turismo e as finanças, no sentido de uma indústria da cura e do bem-estar físico e psíquico geral. Bad Wörishofen juntou a tendência das necessidades individuais e sociais com a inteligência económica, vivendo, hoje, toda a cidade, dos frequentadores das “termas”, tornando-se actualmente também num lugar de fixação de pessoas idosas abastadas. Esta pequena cidade com quase 15.000 habitantes tornou-se, segundo a apreciação da revista TIME, numa das 12 cidades da Alemanha mais dignas de visita.

Hidroterapia e Dietética do Naturista Sebastian Kneipp

Sebastian Kneipp (Stephansried, 17 de maio de 1821 — Bad Wörishofen, 17 de junho de 1897) foi um sacerdote católico, defensor do naturismo, que se dedicou ao estudo e promoção da terapia através da água, revolucionando a medicina alternativa. Foi director das termas de Bad Wörishofen e criador da Terapia Kneipp, uma estratégia hidroterapêutica e dietética com muito sucesso.

Filho de uma família pobre do sul da Alemanha, trabalhava como pastor das vacas da sua aldeia mas quando a casa da família ardeu e com ela as suas árduas poupanças de 70 Gulden, abandonou a aldeia para trabalhar fora, na condição de criado.

Como era inteligente, um capelão ensinou-lhe o latim, preparando-o para a frequência do liceu. Durante os estudos, tomou contacto com o herbalismo (uso e estudo das plantas medicinais)

Era estudante de teologia quando adoeceu de tuberculose e como conhecia o livro “Lições do Poder de Cura da água fria” de Johann Siegmund Hahn, banhou-se repetidamente por alguns momentos na água gelada (entre 5 e 10 graus) do Danúbio, ficando, depois disso, curado. Este acontecimento impressionou-o de tal modo que o encorajou a fazer aplicações diárias com amigos que sofriam de tuberculose e que se viram também curados.

Em contacto com a “Associação Amigos da Água”, que se ocupava do tratamento com água, mais se motiva a dedicar-se à cura pela água. Um farmacêutico levantou uma queixa em tribunal contra ele, pelo facto de violar a lei do comércio (curar sem credenciais, sem licença para isso); foi então condenado a pagar 2 Gulden por “crime contra a proibição de curar”; esta lei ainda vigora hoje, sendo necessário para o exercício de curar, um título ou diploma. O pároco Kneipp foi várias vezes processado pela medicina escolar. Dado ele não levar dinheiro pela cura e só tratar casos declarados como impossíveis de cura pelos médicos, foi-lhe então permitido curar os tais casos dados como perdidos pelos médicos.

Wörishofen recebe o título de estância termal (= Bad)

Na altura grassava na região uma epidemia de cólera e ele, ao ver tanto sofrimento e miséria, desrespeitou a lei curando 42 pacientes, sendo, por isso, apelidado de “capelão da cólera”.

Em Agosto de 1889, Wörishofen já não tinha capacidade para albergar os 4.000 candidatos à cura; dois anos depois já eram 6.000 e em 1893 Bad Wörishofen já contava com 33.134 clientes hóspedes de cura e mais de 100.000 outros visitantes. Constroem-se muitos balneários e surgem então associações Kneipp.

A Câmara municipal interessa-se pela exploração da cura em Bad Wörishofen; Kneipp exigiu então à Camara a criação de um departamento de caridade para órfãos e doentes carentes com direito a serem tratados gratuitamente e a um médico. Em 1892 é contratado um médico de termas para tratar gratuitamente pacientes pobres.

Kneipp viajou por muitos países a expor o seu método terapêutico com a água. Hoje o seu método encontra-se aplicado internacionalmente em muitos lugares de cura. O filantropo viu a sua acção coroada ao ser recebido pelo Papa e nomeado Camareiro secreto pontifício.
Em 1920 a cidade Wörishofen recebeu o título Bad=lugar de cura, passando a designar-se Bad Wörishofen. Na Alemanha há hoje 600 associações Kneipp com cerca 160.000 membros.

Aplicação do Método Kneipp nas Termas / Lugares de Cura

Sebastian Kneipp tinha um pensar holístico e dizia: “A natureza deu-nos em abundância tudo o que se precisa para ficar saudável.” Considerava o ser humano integrado no seu biótopo, advogando um estilo de vida em equilíbrio e em unidade de vida com o seu ambiente natural; propagava, nessa qualidade, as curas naturistas e a medicina preventiva.

Os cinco pilares da sua filosofia eram: água, plantas, movimento, alimentação e balance (equilíbrio na acção).

Corpo e alma encontram-se numa relação estreita de equilíbrio com os elementos da natureza, água, plantas, movimento (“A movimentação aumenta a paixão pela vida e ajuda o homem através do fortalecimento do seu corpo”) , nutrição (“Enquanto não houver uma mudança drástica no nosso sistema alimentar, não podem ser resolvidos os danos de que a humanidade sofre; não resolvidos, ainda se tornará pior.”, etc.

O padre que tratava toda a gente por tu, não exceptuando sequer o imperador, dizia: “Nada se pode tornar mais prejudicial para a saúde do que o modo de vida dos nossos dias. Deve ser encontrado um equilíbrio, a fim de revigorar os nervos supertensos e manter a sua força”.

“Para mim, se há um meio de cura, esse será a água”, dizia o Cura Kneipp

A Água
Através de esguichadelas de água (estímulos, de leves a fortes) provoca-se o fortalecimento dos poderes de auto-cura do corpo. A energia que surge da aplicação externa de água de temperaturas fria e quente, estimula a circulação sanguínea, promove o metabolismo corporal e a desintoxicação do organismo.

Há cerca de 120 aplicações da água, entre elas, lavagens, banhos de ervas, banhos alternados com água quente e fria, “esguichos relâmpago de água”, embrulhar em roupa. Uma delas, a imersão dos braços em água fria, também chamada “O café de Kneipp” revigora o corpo e actua contra a fadiga mental.

A aplicação mais conhecida de Kneipp é a pisa da água fria. “O ‘jacto de água fria lançado no joelho’ torna-se eficiente contra os pés frios, fortalece o sistema imunológico e ajuda quando se têm pernas pesadas, varizes, agindo ainda como anti-inflamatório” (Cf. http://www.kneipp.de/de/kneipp_philosophie/wasser.html).

As Plantas
A fitoterapia (medicina à base de plantas) conhece, para cada sofrimento, uma erva correspondente.

Das 45 plantas que Kneipp usava, segundo ele, a mais querida era a erva arnica que operava maravilhas contra hematomas, contusões, entorses, dores musculares e doenças venosas.

Alecrim estabiliza a circulação, Junípero (a fertilidade), erva-doce, alho (anti envelhecimento, afrodisíaco) e cardamomo. Aléo Vera – o “cactus das feridas”- relaxa, limpa a pele e fortalece o sistema imunológico.

O emprego das ervas medicinais (“medicina monástica”) sempre foi usado nos mosteiros e era mantido na tradição dos jardins dos mosteiros.
São bem conhecidas as propriedades curativas de ervas e plantas seleccionadas, tal como o emprego da argila praticado e transmitido em muitos conventos, como já recomendava o nosso papa médico português João XXI na sua obra “Tesouro dos Pobres” onde descreve o tratamento com produtos medicinais vegetais, animais e minerais. Nela se encontram receitas tanto para abortar como para fomentar a fecundidade. Hoje empregam-se, de forma eclética, os mais diferentes modos de terapia.

O Movimento:

Comparava o corpo com uma máquina de ferro que exposta ao tempo, sem movimento, ganha ferrugem. Nos seus exercícios, à moda do tempo, recomendava cortar lenha e a debulha, caminhar descalço, nadar, etc. “Tudo a seu tempo e tudo na medida certa”. “O que faz bem à mente, não pode prejudicar o corpo”.

A Alimentação:

Uma vida saudável implica que se desfrute com todos os sentidos. Para isso é importante uma atenção especial ao estilo de vida e aos hábitos alimentares. Água, plantas, exercício físico e a alimentação são os elementos que colaboram para o balanço da vida saudável e fomentam o entusiasmo pela vida. (Cf. http://www.kneipp.de/de/kneipp_philosophie/ernaehrung.html)

Não é preciso fazer dieta para se sentir bem; para Kneipp é importante uma alimentação equilibrada e reduzir a gordura; é útil moderar o consumo de carne em favor do peixe e consumir muita fruta e vegetais; beber muito (2 litros) especialmente águas minerais e chá de ervas ou fruta. Um grama de gordura animal tem o dobro de calorias de um grama de carboidrato ou de proteína. Recomenda o pão integral, cereais, painço e espelta. É de suma importância o equilíbrio da saúde física, emocional e energética.

Aplicações e tratamentos

O mais conhecido dos cinco pilares da filosofia da Sebastian Kneipp é a aplicação de água fria e quente, que é feita através de esguichadelas, banhos de braço, banho com mangueira a partir do pé e subir para a perna e vice-versa, banho do joelho, banho do corpo inteiro, embrulhamento depois do banho, pisa da água e andar descalço. As aplicações causam efeito sobre o sistema imunológico, a pele, e muitos outros processos metabólicos.

Indicações terapêuticas

Deficiência imunológica, Resiliência, Bronquite, sintomas respiratórios, infecções dos seios, sinusite rinite crônica, doenças otorrinolaringológicas crônicas, doenças urinárias ou ginecológicas; calafrios, crises de gota; doença cardiovascular, má circulação, cólicas menstruais, dor nas costas, lombalgia, dor nas articulações, tensão, dor ciática, doença degenerativa das articulações, osteoporose, irritação articulações, músculos; reumatismo, mal-estar, fadiga, cansaço físico e psicológico; distúrbio metabólico, doenças de pele, eczema, Estresse, reforço da resistência, distúrbios vegetativos, insónias, mau humor, doenças de órgãos funcionais; doença venosa, varizes, problemas circulatórios, tinnitus, flebite, Indigestão, constipação e distensão abdominal, condições espasmódicas na área abdominal. Como prevenção: doenças da idade e estilo de vida, infecções, resfriados, estresse.

À Laia de Conclusão

Bad Wörishofen fez de Kneip  o escudo da terra, a marca dos seus reclames e do seu sucesso.

As riquezas naturais da mais-valia das termas portuguesas poderiam ser ainda mais enriquecidas com o conceito, métodos e técnicas que se reúnem em torno de Bad Wörishofen e da filosofia de Kneipp. Imaginemos os potenciais económicos e de mercado que se encontram no âmbito do turismo, de tratamentos e também de aposentadoria para pessoas abastadas de proveniência internacional.Imagine-se uma acção concertada com os países da Lusofonia! Aí se encontram investidores e clientes com vontade de realizar uma via própria da lusofonia.

O potencial da economia termal para o desenvolvimento local e da hotelaria e do turismo nacional, já nos é indicado desde o Império romano, em que a classe alta romana frequentava as termas de Portugal.
Unir o termalismo e os lugares de cura a uma política de promoção do regionalismo e a uma cultura do bem-estar e do turismo da saúde, são objectivos que poderiam atrair rios de dinheiro da União Europeia; para isso são necessárias concepções e projectos bem fundamentados com perspectivas económicas. (A dedicação a estes projectos, pelos nossos deputados provenientes das regiões, justificaria grande parte da sua acção!…). Temos de deixar o jogo das escondidas das conversas para se passar a uma política e economia de acções concertadas. A conversa nunca é certa se deixa espaço para reticências. Uma sociedade avançada atesta-se nas obras.

 

Portugal tem condições excepcionais para se tornar, a nível europeu, na vanguarda termal e com excelentes lugares de cura. Precisam-se, para isso, investidores e políticas viradas para o fomento dos recursos locais. Precisam-se inteligências livres e fábricas de pensamento que, a nível local/regional, consigam projectos envolventes que as autarquias depois concretizem em colaboração com os diferentes parceiros.

Torna-se necessária e oportuna a aplicação da directiva comunitária Europeia nº 24/2011 relativa aos cuidados de saúde transfronteiriços. Não chegam congressos, precisam-se acções concertadas dos políticos da região, de investidores nacionais e internacionais (Capital de Angola!), médicos, técnicos da saúde e do turismo, com o apoio das universidades locais como motores do fomento económico e regional…. No sector da formação poderia haver formação e intercâmbio de práticas de cura promovidos pela UE…

Seguir o desenvolvimento da hidrologia, a nível prático, tornar-se-ia muito eficiente no combate às doenças crónicas, perturbações funcionais e doenças da civilização. O investimento na indústria da saúde será a aplicação mais rentável para as próximas gerações.
Qualidade e humanidade são critérios muito atraentes para diferentes públicos com exigência/posse.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

A Chanceler alemã desvia a Bola para Canto ao falar da EU e de Portugal

“Portugal e Espanha criam demasiados licenciados”

António Justo
Segundo o Globo – DN, Ângela Merkel, na Confederação das Associações Patronais Alemãs (BDA), fez a observação que Portugal e Espanha produzem demasiados licenciados universitários, insistindo na necessidade de se promover o ensino vocacional (profissional). A indústria e a economia de uma nação constroem-se com formação profissional e com experiência laboral.

Em termos de estatística a Doutora Merkel meteu o pé na argola, porque, segundo o gabinete europeu de estatísticas, em 2013, 25,3% da população da União Europeia entre os 15 e os 64 anos tinha completado estudos superiores: Irlanda com 36,3%, Reino Unido 35,7%, Alemanha 25,1%, Portugal 17,6%, Itália 14,4% e, no fim da lista, a Roménia com 13,9%.

O facto de a Alemanha ter um sistema económico muito forte, devido, em grande parte, à formação profissional dual da Alemanha, no âmbito do ensino médio e superior, e à sua política económica e financeira, só se justificaria a sua afirmação na medida em que é necessário ligar o estudo à prática (ensino teórico e prático) para se criarem profissionais do trabalho com espírito empreendedor.

As preocupações de Merkel têm mais em vista a defesa dos interesses da economia alemã do que a dos países latinos da EU. Ao contrário de Helmut Kohl – o europeu – a chanceler fomenta uma política nacional egoísta, tal como a da nova geração de políticos das grandes potências europeias, apenas interessadas na defensa dos interesses nacionais.

Merkel, tem a experiência da economia da antiga DDR (Alemanha socialista de leste) e da BRD. Depois da união a Alemanha continua a transferir biliões de euros por ano para a sua parte de Leste e esta encontra-se ainda atrasada depois de 25 anos de grandes transferências.

A moeda única – Euro – torna a EU a responsável pelo descalabro
dos países periféricos

A sua política de poupança para a EU, neste contexto, destrói as economias mais fracas. Não pode haver crescimento sem investimento! São cínicas as exigências colocadas aos países do sul sem programas apoiantes da conjuntura. Estes não têm hipótese nem perspectiva (A Grécia nunca pagará a dívida; Portugal também perderá o que lá tem); destroem as novas gerações e arruínam o futuro das economias fracas (É um crime o que se está a passar com o desemprego da camada jovem da sociedade europeia – os Estados salvaram os Bancos e não disponibilizam moedas para a criação de empregos – o exemplo da reacção do governo da Islândia em relação aos Bancos foi calado nos Media de toda a Europa). As economias fortes extorquem os especialistas das economias fracas e destroem as indústrias locais, obrigando as firmas e o pessoal qualificado a emigrar. Os países pequenos não têm investidores nem empresas com capacidade de competir e de resistir com os grandes. Apesar de tudo, os estados têm de fomentar o investimento assumindo a fiança de pequenos e médios investidores. Com a união do Euro, a União Europeia tornou-se política e economicamente responsável pelo descalabro das economias periféricas; insiste porém em fugir à responsabilidade. Ninguém tem a coragem de erguer a voz, porque os que o poderiam fazer ganham com a situação.

O estado da EU é doentio e enganador porque a doença é crónica e não passageira, como se pretende dar a entender: o Euro, que deveria fomentar uma identidade europeia comum, revela-se como o problema fundamental, atendendo às diferentes tradições de economias nacionais cuja estabilidade era garantida pela valorização e desvalorização das diferentes moedas e que agora são inevitavelmente, determinadas pelas multinacionais que vivem do Euro. O equilíbrio e a capacidade de maneio entre as diferentes economias foram aniquilados com a moeda única. Com o Euro, um país não pode valorizar ou desvalorizar a sua moeda na concorrência internacional tendo de se manter no euro sem possibilidade de compensação. Quem paga a factura são os países carentes e as pessoas médias privadas endinheiradas dos países fortes.

O problema de diferentes economias ainda hoje se sente entre as diferentes regiões fortes e fracas da Alemanha, apesar da sua união se ter dado já há 25 anos e o Leste receber anualmente bilhões de euros da solidariedade.

Os padrões económicos que valem para a Alemanha não valem para um país da periferia. As economias dos países têm diferentes velocidades. Um sistema económico latino não tem a mesma velocidade do sistema de um país nórdico, pelo que o latino nunca chegará a ter o mesmo nível de produção.

O valor de uma moeda depende do nível de produção de uma nação. Por isso há economistas que defendem a ideia de se manter o Euro apenas como moeda de referência central, tal como outrora acontecia com o ECU e que cada economia volte à sua velha moeda.

A política seguida pelo Estado alemão, em relação à Alemanha de leste, deveria ser aplicada também na relação dos países europeus fortes com os países fracos. Na Alemanha cobra-se um imposto de solidariedade de 5% sobre os impostos a todo o trabalhador; este é depois transferido para a antiga Alemanha socialista; além disso as regiões fortes transferem bilhões de euros para as regiões fracas da Alemanha para assim se ir criando um equilíbrio. O que se revela bom para a Alemanha seria bom para a EU.

Vai sendo tempo de Merkel e outros deixarem de admoestar os países de economias fracas; quando o fazem é para desviarem as atenções dos verdadeiros problemas que eles mesmos criaram.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

A Divisão da Europa e do Mundo passava, há 25 anos, pelo Meio da Alemanha

A Queda do Muro de Berlim – o Fim de um Susto

António Justo
O dia 9 de Novembro, é aquele dia em que se celebra o 25° aniversário da queda do Muro de Berlim, o dia em que a liberdade arrebentou com as portas e desceu à rua.

Até àquela data já tinha fugido do éden socialista, cerca de 5 milhões de “ossis” (alemães de leste). O Politburo constatava que, por dia, fugiam de Berlim Leste de 300 a 500 pessoas e toda a Alemanha de Leste se encontrava em efervescência tal como acontecia já noutros países do bloco soviético; por isso decidiu simplificar a saída e a entrada no país.

A notícia prematura da administração (Politburo) de que no dia seguinte haveria liberdade de circulação levou o povo a acorrer em massa, já no dia 9, às fronteiras.

Ateado o fogo da coragem à multidão, esta deixou a alegria saltar em cima do muro e destruir, por algum tempo, a “cortina de ferro” entre capitalismo e socialismo. Apenas a porta de Brandeburgo se manteve algum tempo encerrada, devido ao titubear das instâncias socialistas, que por fim deixaram vingar a razão, não intervindo naquele acto da força popular. Os sodados controladores do muro abandonaram os seus postos, ao ver tal formigueiro de pessoas e trabis (auto típico da Alemanha de Leste) a querer passar para o lado ocidental do muro. Deste modo, os alemães tiveram a sorte de fazerem uma revolução sem tiros nem mortes. Posteriormente o funcionário superior do Politburo (Schabowski) que, por descuido, deu início à enxurrada da liberdade, declarou-se envergonhado do sistema socialista confessando: “fizemos quase tudo mal” naquele “sistema incapaz de vida”.

Era o início do fim da ditadura socialista da Alemanha de Leste. A vontade de liberdade não se deixou dominar por mais tempo; o estado injusto com espionagem em todos os sectores laborais e sociais, com o terror policial, a perversão da justiça e a idiotice económica aproximava-se do fim.

Aquela monstruosidade do muro erguida nos olhos do mundo desde 1961 caía agora devido à força da enxurrada da liberdade represada durante 28 anos. Começava para os cidadãos do socialismo real uma nova vida pondo-se a corar ao sol da liberdade a mancha da vergonha. Inicia-se aqui uma nova página da História para a Alemanha e para a Europa. Acaba-se com um mundo bipolar e com a guerra fria, conseguindo-se a reunificação da Alemanha a 3 de outubro de 1990.

Os cidadãos ao saltarem o muro do medo conseguem fazer milagres aplainando os muros para a felicidade poder deslizar.

Tive a dita de festejar juntamente com os alemães o dia da libertação. Um misto de alegria, agradecimento e humildade se juntavam nos ares. Neste momento não tínhamos nacionalidade, cor nem raça, éramos universais. Neste dia as pessoas mesmo desconhecidas aplaudiam e choravam, abraçando-se na rua. Como é belo e consolador quando o sol deixa de ser arrebanhado por mãos escuras e pode descer à rua. Se a massa do povo soubesse a força que tem, não haveria político algum que lhe resistisse e continuasse a servir-se e a servir interesses anónimos e escuros, à sua custa.

O nove de novembro é uma data marcada pelo destino alemão. Em 1918 deu-se a abdicação do imperador e proclamação da República; a 9.11 de 1923 falha miseravelmente o golpe de Hitler contra a Democracia; a 9.11 de 1938 deu-se a miserável “Noite dos Cristais”, o pogrom contra os judeus em que os nazistas incendeiam sinagogas e se deu a pilhagem das lojas judaicas – com este dia inicia-se a perseguição sistemática dos judeus; finalmente, a 9.11 de 1989 dá-se o passo para a união e liberdade depois da abertura incontrolada do muro.

O sacrifício que se paga pela liberdade deve ser proporcional à vitória e à perda! A liberdade e a justiça justificam o máximo de esforço e sacrifício.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

Sínodo sobre Casamento, Família e Sexualidade

Amor e Sexo são grandes Garantes de Felicidade e Equilíbrio

António Justo
Cerca de 200 padres sinodais estiveram presentes, durante 15 dias, na assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos reunidos em Roma; esta terminou a 19.10. 2014 com um documento final sobre sexualidade, casamento e família. As discussões continuarão nas comunidades locais até encontrarem concretizações no sínodo de Outubro de 2015.

A primeira semana do sínodo esteve subordinada ao tema “ouvir as realidades das famílias da igreja mundial.” Esta foi uma fase muito enriquecedora e aberta onde os bispos apresentaram diferentes perspectivas culturais, políticas e sociais à maneira de um caleidoscópio da igreja universal.

Na segunda semana a preocupação e o medo dominaram as discussões do sínodo, o que motivou o Papa, na sua declaração final, a referir-se às diferentes tentações.

O Relatório final, por eles elaborado, é um documento de trabalho. Teve aprovação com maioria relativa. Insiste na “união indissolúvel entre o homem e a mulher”. Reconhece aos casamentos civis, divorciados e recasados uma participação “de forma incompleta” na vida da Igreja.

Da votação dos documentos fica-se com a impressão que um terço dos bispos é bastante conservador. O documento dá relevo a soluções a partir da perspectiva pastoral.

No final do sínodo, o Papa falou das tentações observadas na assembleia sinodal e na Igreja em geral, ao tratarem os problemas do casamento, família e sexualidade. As tentações referidas são: a)- a tentação dos «tradicionalistas», e também dos intelectualistas (“dos zelantes, dos escrupulosos, dos cautelosos”), é “a tentação do endurecimento hostil, ou seja, o desejo de se fechar dentro daquilo que está escrito (a letra) sem se deixar surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o espírito) ”; b)- a tentação dos «bonacheiristas», dos temerosos e também dos chamados «progressistas e liberalistas», que se revela na “tentação da bonacheirice destrutiva, que em nome de uma misericórdia enganadora liga as feridas sem antes as curar e medicar; que trata os sintomas e não as causas nem as raízes”; c)- a tentação do deserto, “tentação de transformar a pedra em pão para interromper um jejum prolongado, pesado e doloroso (cf. Lc 4, 1-4) e também de transformar o pão em pedra e lançá-la contra os pecadores, os frágeis e os doentes (cf. Jo 8, 7), ou seja, de o transformar em «fardos insuportáveis» (Lc 10, 27)”; d)- a “tentação de descer da cruz, para contentar as massas…, de ceder ao espírito mundano”; e)- a “tentação de descuidar o «depositum fidei», considerando-se não guardiões mas proprietários e senhores ou, por outro lado, a tentação de descuidar a realidade, recorrendo a uma terminologia minuciosa e uma linguagem burilada, para falar de muitas coisas sem nada dizer!”
Francisco quer uma “Igreja que não se envergonha do irmão caído nem finge que não o vê”. O Papa chama a atenção dos bispos para não ficarem na atitude passiva de receber os tresmalhados; mais que recebê-los é preciso “ir ao seu encontro”.Para quem desejar pode encontrar na rádio vaticana outras informações sobre o sínodo: http://pt.radiovaticana.va/indice.asp?Redasel=11&CategSel=19

A fidelidade conjugal torna-se, cada vez mais, num desafio

No meu entender a fidelidade matrimonial não é lineal; é um valor alto mas não deve dar-se à custa de um cônjuge; há que reflectir bem, quando, na relação conjugal, se chega a uma atitude antagónica causada por doença psíquica objectivadora e interacções insuportáveis, ou como consequência de diferentes e divergentes desenvolvimentos individuais ao longo do tempo. Em certos casos pode tornar-se tão problemático o divórcio como a continuação da fidelidade conjugal… Uma fidelidade morta (tal como um divórcio superficial) pode impedir o desenvolvimento e o renascimento de pessoas. O matrimónio implica, já na sua etimologia, maternidade (mãe, fonte), pressupondo crescimento e desenvolvimento; o desenvolvimento não se pode limitar à geração de filhos.

É bem verdade que, também na noite brilha a Lua, mas essa luz não é, por vezes, suficiente para se reconhecer/realizar o mistério de Cristo, quando as perspectivas dos olhares são inflexivelmente diferentes… Eu não sou só eu com as minhas limitações, sou também aquilo que o outro permite que eu seja numa relação de mutualidade. A luz da fé ilumina a alma mas o corpo pode encontrar-se, por vezes, gelado sem o sol, devido à tormenta do dia.

A máxima bíblica, “O Amado é meu e eu sou dele” (Cântico dos Cânticos 2,16), pressupõe o encontro de almas num espírito humilde e realizado, que só é possível na união através da oração e da leitura espiritual comum (Um encontro a três!) numa atitude de pessoas livres, responsáveis e adultas. A maioria das pessoas subsiste irreflectidamente, também porque a sociedade a obriga a isso. A maioria vive como a água de um rio que segue o leito já preparado sem chegar à consciência do ser da água.

O plano do Papa continua em aberto

A próxima assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos será de 4 a 25 de Outubro de 2015, sob o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Até lá as comunidades paroquiais e episcopais continuarão a discutir o tema no sentido de ser elaborada uma proposta cristã sobre a família.

Uma Igreja em serviço e ao serviço tem de dar erros, atendendo às diferentes situações e perspectivas das comunidades, num globo tão caracterizado pela diferença. ”Quem serve, não traz um colete branco, mas sim um avental. Isto pode ler-se no Evangelho do lava-pés; Jesus usou um avental” dizia o Cardeal Marx. “

É a hora das igrejas locais, das conferências nacionais e dos cristãos discutirem e se pronunciarem na procura de “novos caminhos”. Precisam-se novas discussões no que respeita à fidelidade à Igreja e à abertura aos sinais dos tempos. Não se pode continuar na espectativa, precisam-se respostas concretas; a Igreja não pode ficar fora de jogo em questões de sexualidade, matrimónio e família.

Não adiar o futuro escapando a soluções

A escolha da data da beatificação do Papa Paulo VI, como conclusão do sínodo, recebeu um caracter simbólico especial, deixando em muitos progressistas um sabor amargo, porque Paulo VI é vulgarmente conhecido como o papa da pílula. Foram adiadas conclusões sobre a pastoral familiar. A força dos cardeais conservadores organizados esteve muito activa, já antes do Sínodo, emperravam o desenvolvimento, procurando isolar o papa.

A Igreja continua a ter uma relação conturbada com o sexo. Vai sendo tempo de se admitirem aos sacramentos, pessoas divorciadas, recasadas ou que vivam em coabitação, desde que sejam casos bem fundamentados. Seria de desejar maior celeridade e competência aos bispos na declaração da nulidade de matrimónios.

O ser humano encontra-se em processo de contínuo desenvolvimento pelo que não pode ser reduzido a um teorema intelectual, nem tão-pouco, a sua espiritualidade pessoal ser condicionada à abstenção sexual. Também a espiritualidade dos “eunucos pelo reino de Deus” não seria desvalorizada com a abolição do celibato para os padres seculares. Doutro modo, seria, por um lado, pôr a cultura/espiritualidade em contradição com a natura e, por outro, um acto de irreverência perante a natureza, ao obrigar-se o pároco a não casar, em nome da espiritualidade.

Embora seja verdade que, também devido à disciplina sexual cristã, a posição individual e social da mulher ocidental se desenvolveu e enriqueceu muito, em comparação com o papel da mulher da sociedade muçulmana ou asiática, isto não justifica a superregulamentação da vida sexual de indivíduos e casais. Sem cair na arbitrariedade nem no relativismo, a função da Igreja não é culpabilizar mas desculpabilizar. Seria irresponsável exigir-se uma pessoa qualquer  o seguimento de uma moral superior sem que esta tenha uma infraestrutura consciencial que a suporte. (Um grande problema da Igreja católica hodierna, está no facto de ter uma exigência moral bastante elevada, ao contrário de outras religiões, ou espiritualidades à la carte). Se queremos Homens temos que formar Homens e não apenas seres humanos! Pessoas que se separam merecem um trato mais respeitoso; muito embora a situação matrimonial seja da responsabilidade dos cônjuges, esta, terá que comportar a possibilidade de inocência, pelo menos, de um deles. Seria anacronismo continuar a fixar-se em leis que carecem de “adaptação à nova realidade social” no que respeita à vivência da sexualidade, tal como reconheceu o Vaticano II.

As relações sexuais e interpessoais são de tal ordem complicadas (únicas) que não podem ser resumidas ou encaixilhadas em normas rígidas; a pastoral teria aqui uma palavra competente e privilegiada a dizer… Por vezes, na vida conjugal, surgem situações tão doentias e imutáveis que, a serem mantidas, levariam à negação de um dos parceiros (extremos casos de bipolaridade, de borderline, etc.). O Cristianismo quer liberdade, autonomia e responsabilidade do Homem livre, não podendo exigir de ninguém que se torne num “Cristo”; Ele quer ver o ser humano livre de qualquer cabresto para se tornar capaz da comunidade profunda, baseada naquela liberdade e relação que fez de Jesus o Cristo. Uma fixação teimosa na impossibilidade do divórcio pode, em alguns casos, levar pessoas a terem de passar uma vida a viver ao lado de outras, sem possibilidade de realizarem comunhão.

O códice de conduta não se pode limitar a pequenos retoques cosméticos, se a Igreja quiser continuar a ser uma voz importante no mundo e a constituir orientação também para meios menos afectos à religião. O propósito e o proposto não são fáceis, atendendo ao facto de, mundialmente, pessoas e culturas se encontrarem em diferentes estádios e com díspares velocidades. Atendendo à maioria dos católicos não viver em países europeus nem na América do Norte e, considerando que religiões retrógradas e simplicistas como o Islão entusiasmam espíritos confundidos (simples), não será fácil aos padres sinodais encontrar respostas consensuais para um universo de culturas divergentes.

Temos um ideal que é o resumo de toda a escritura, como refere também Paulo (Rom 13,8-10): o amor a Deus e ao próximo. O cristianismo (e com ele a Igreja) é testemunho e garante do desenvolvimento universal, tal como o foi para a civilização ocidental nos últimos 2.000 anos. O próximo não tem confissão nem parâmetros culturais definidos; esta é a grande inovação do cristianismo.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
www.antonio-justo.eu

UM POVO CULTO NÃO DEVERIA SUPORTAR A TV QUE TEM

Os Poderes contestados de Ontem reúnem-se modernamente nos Canais de TV

Acabo de chegar de Portugal. Uma estadia, na Quinta Outeiro da Luz, muito rica em contactos e em experiências humanas confortantes. O brilho da gente e do clima contrasta com a negrura e a baixeza de muitos programas da TV. Os responsáveis da TV parecem ter a intenção de educar o povo para o mórbido para o acaçapado, quando a sua missão não deveria ser educar mas informar e instruir!

É horripilante o nível das cadeias de TV. O povo continua a ser emburrecido com histórias emocionais de roubos, suicídios, assassínios e quejandas; tudo explorado até à exaustão duma lágrima que turva a inteligência. Notícias, que deveriam ter lugar apenas nos jornais locais, são exploradas pela TV na intenção de fomentar uma consciência ligada ao espírito coitadinho e a instintos primitivos; programas com moderadores, muitas vezes, sem nível, mas democráticos para que a estupidez também encontre representatividade nos canais virados para a sentimentalidade e a negatividade; enfim, uma cultura para mais engordar a plebe. Até o povo sensato parece não notar que está a ser encharcado com imagens e conversas baratas tendentes ao alheamento, numa perspectiva de lavagem do cérebro. Deixa-se levar e até gosta do sentimento satisfeito que o torna cada vez mais na mesma, porque “com papas e bolos se enganam os tolos”. Quanto menos o povo consiga conectar mais facilmente será de levar!

O mais lamentável é que a classe académica e gente bem pensante suportem a banalidade e não proteste contra. Um povo abandonado a feras vestidas de cordeiro e a discursos banais.

Quanto ao discurso político transmitido: uma miséria! Apenas discurso partidário para embalar o zé-povinho! É rara a discussão política objectiva sobre temas e se tal a desoras; o que interessa são os ardinas políticos da praça e todo um enredo em torno do dito e do não dito: uma conversa fiada para desinformar.

Cada partido apresenta-se como uma rampa de salvação vendo a do adversário como a rampa para o inferno. Cada qual com os seus dogmas e conversas intermináveis socorrendo-se da falta de informação factual e de argumentação concreta de um público à deriva, até porque só entende os cabeçalhos e os títulos das notícias. Conversa, só conversa! Porém, a conversa nunca é certa, se deixa espaço para reticências. Numa sociedade quer entupida/autossuficiente quer castigada, falta a informação e o interesse por ela, devido às instituições dos boys que tudo minam e dominam.

Temos de deixar a ilusão de que alguém nos virá salvar. Nós é que temos de nos salvar. O povo português é de memória curta e muitas vezes infantil ao pensar que a alternativa, no tempo de eleições, vem de um outro partido. A República começou empestada de ideologias e oportunismos e continua fiel a esta tradição. A juventude abandona o país; fica o hábito acomodado e autossatisfeito a continuar a má tradição.
Boa noite, Portugal!
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu