A Queda do Muro de Berlim – o Fim de um Susto
António Justo
O dia 9 de Novembro, é aquele dia em que se celebra o 25° aniversário da queda do Muro de Berlim, o dia em que a liberdade arrebentou com as portas e desceu à rua.
Até àquela data já tinha fugido do éden socialista, cerca de 5 milhões de “ossis” (alemães de leste). O Politburo constatava que, por dia, fugiam de Berlim Leste de 300 a 500 pessoas e toda a Alemanha de Leste se encontrava em efervescência tal como acontecia já noutros países do bloco soviético; por isso decidiu simplificar a saída e a entrada no país.
A notícia prematura da administração (Politburo) de que no dia seguinte haveria liberdade de circulação levou o povo a acorrer em massa, já no dia 9, às fronteiras.
Ateado o fogo da coragem à multidão, esta deixou a alegria saltar em cima do muro e destruir, por algum tempo, a “cortina de ferro” entre capitalismo e socialismo. Apenas a porta de Brandeburgo se manteve algum tempo encerrada, devido ao titubear das instâncias socialistas, que por fim deixaram vingar a razão, não intervindo naquele acto da força popular. Os sodados controladores do muro abandonaram os seus postos, ao ver tal formigueiro de pessoas e trabis (auto típico da Alemanha de Leste) a querer passar para o lado ocidental do muro. Deste modo, os alemães tiveram a sorte de fazerem uma revolução sem tiros nem mortes. Posteriormente o funcionário superior do Politburo (Schabowski) que, por descuido, deu início à enxurrada da liberdade, declarou-se envergonhado do sistema socialista confessando: “fizemos quase tudo mal” naquele “sistema incapaz de vida”.
Era o início do fim da ditadura socialista da Alemanha de Leste. A vontade de liberdade não se deixou dominar por mais tempo; o estado injusto com espionagem em todos os sectores laborais e sociais, com o terror policial, a perversão da justiça e a idiotice económica aproximava-se do fim.
Aquela monstruosidade do muro erguida nos olhos do mundo desde 1961 caía agora devido à força da enxurrada da liberdade represada durante 28 anos. Começava para os cidadãos do socialismo real uma nova vida pondo-se a corar ao sol da liberdade a mancha da vergonha. Inicia-se aqui uma nova página da História para a Alemanha e para a Europa. Acaba-se com um mundo bipolar e com a guerra fria, conseguindo-se a reunificação da Alemanha a 3 de outubro de 1990.
Os cidadãos ao saltarem o muro do medo conseguem fazer milagres aplainando os muros para a felicidade poder deslizar.
Tive a dita de festejar juntamente com os alemães o dia da libertação. Um misto de alegria, agradecimento e humildade se juntavam nos ares. Neste momento não tínhamos nacionalidade, cor nem raça, éramos universais. Neste dia as pessoas mesmo desconhecidas aplaudiam e choravam, abraçando-se na rua. Como é belo e consolador quando o sol deixa de ser arrebanhado por mãos escuras e pode descer à rua. Se a massa do povo soubesse a força que tem, não haveria político algum que lhe resistisse e continuasse a servir-se e a servir interesses anónimos e escuros, à sua custa.
O nove de novembro é uma data marcada pelo destino alemão. Em 1918 deu-se a abdicação do imperador e proclamação da República; a 9.11 de 1923 falha miseravelmente o golpe de Hitler contra a Democracia; a 9.11 de 1938 deu-se a miserável “Noite dos Cristais”, o pogrom contra os judeus em que os nazistas incendeiam sinagogas e se deu a pilhagem das lojas judaicas – com este dia inicia-se a perseguição sistemática dos judeus; finalmente, a 9.11 de 1989 dá-se o passo para a união e liberdade depois da abertura incontrolada do muro.
O sacrifício que se paga pela liberdade deve ser proporcional à vitória e à perda! A liberdade e a justiça justificam o máximo de esforço e sacrifício.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu
Sobre este importante assunto vejam o que o Avante publicou:
Digno de antologia:
“A chamada «queda do muro de Berlim» foi transformada pelos seus apologistas num símbolo do triunfo definitivo do capitalismo sobre o socialismo. Mas a evolução da situação internacional nos últimos 25 anos não só desmente as teses delirantes sobre o «fim da luta de classes» e sobre a «morte do comunismo», como mostram que o socialismo é mais actual e necessário do que nunca e que os trabalhadores e os povos de todo o mundo resistem e lutam para se libertar das cadeias da exploração e opressão imperialista.
Num processo acidentado, feito de avanços e recuos, de vitórias e derrotas, o futuro da Humanidade não é o capitalismo mas o socialismo e o comunismo.”
Podem ler mais aqui:
http://www.avante.pt/pt/2136/internacional/132905/…
Jornal «Avante!» – Internacional – A chamada «queda do muro de Berlim»
O site do Órgão Central do Partido Comunista Português
avante.pt
Não podemos esquecer o papel importante, embora discreto e silencioso do Papa João Paulo II para o derrube deste “Muro da vergonha”:
http://www.snpcultura.org/muro_de_berlim_caiu_ha_25_anos…
Não se ria o roto do esfarrapado!…
Obrigado, prof. José Cerca pelas achegas oportunas apresentadas.
Também é verdade que na reunificação da Alemanha não se aproveitou da oportunidade para criar uma terceira via política, que se baseasse na doutrina social da igreja, tal como tinha tentado a economia do mercado social (renana)! O facto de o socialismo real ter caído por obra e graça dos cidadãos do socialismo do leste já demonstra a incompetência do sistema para gerir a vida e a sociedade.
O problema é anterior aos sistemas; está no Homem e este abriga-se sob os diferentes sistemas sem pensar que estes são caducos e que o Homem é o lobo do Homem.
A RDA socialista além de herdar a tradição ocidental comunista herdou a tradição do nacional-socialismo. Querer branquear o sistema socialista, com a Alemanha socialista, como faz o Avante, sofre do mesmo vício dos que querem branquear o nacional-socialismo nazista.
Muitos comunistas tentam tornar-se eunucos e inocentes considerando qualquer análise razoável como imperialista, fascista como se os regimes socialistas/comunistas reais não tivessem sofrido até de defeitos piores que os do capitalismo. Usam conceitos coletivos indiferenciados e dirigidos para inteligências que das cores do arco-íris só conhecem o preto e o branco. São dogmáticos porque a discussão das suas posições enfraquecê-los-ia. A fraqueza do seu sistema está precisamente no facto de terem de construir muros para manterem acorrentados o próprio povo. Constroem os muros e os outros são os culpados; o maior muro que se pode construir é o muro contra a humanidade, seja em que situação for. A liberdade não pode ser acorrentada por longo tempo; por isso caem os muros! Na arena política, a luta dos comunistas é compreensível e revela inteligência política (e dos de outros partidos) porque também eles se sabem aproveitar do desconhecimento popular para levarem a água à sua sardinha. A política é um negócio e nela regem as leis do mercado e da oferta e da procura; quem quer poder e benefícios salta para a arena! Quem fica fora terá de se queixar ou já perdeu (contentando-se com a honra e a razão) … (A força política que alcance o governo fica pelo facto consagrada, dado as forças políticas como escudeiros dos diferentes interesses, dominarem a opinião pública; o povo, que só vê até onde a informação e formação permite passa a pensar em critérios de alternativa entre os mais fortes, sendo-lhe impossível ver mais longe).
Os ideólogos comunistas não se têm adaptado aos tempos modernos, permanecendo na tecnologia da cassete, suficiente para um determinado público e para os que dele se aproveitam! Criticam os outros de construírem barreiras mas eles mesmos vivem acantonados no cume da sua ideologia dogmática, isolando-se das outras realidades. Falam como se fossem a doutrina pura (o facto de se arrogarem falar em nome do povo confere-lhes imunidade!) e como se a sociedade e o Homem se deixassem definir pelas coordenadas de suas cabeças, quando, contra o facto fala a evolução que se deu em todo o leste soviético. Como trazem a máscara hipócrita da ideologia julgam-se isentos não reconhecendo a cumplicidade em que se envolvem e que, como os outros, também têm. O seu problema é o empedernimento, a projecção psicológica e a ingenuidade de que algum sistema possa ter razão. Este problema é porém a sua força e a sua oportunidade!
O sistema capitalista tal como o sistema socialista tem muitos erros e aberrações; o capitalismo aprisiona o Homem pelo lado imperceptível e o comunismo pelo lado bárbaro amarrando a pessoa ao sistema com um sistema geral de espionagem pior que o da PIDE. Por isso não pode ri-se o roto do esfarrapado.
A luta de classes continua, de maneira civilizada em democracia, nos partidos políticos e sindicatos através de manifestações, greves e revoluções. O comunismo, só é caracterizado pela troica como controlo da ideologia central; na qualidade de opressor do indivíduo, caiu com a queda do muro de Berlim. O futuro humano da humanidade não será o comunismo nem socialismo nem o capitalismo actual. Estes pecam pela mesma dialética e pela mesma mentalidade fundada na violência.
Naturalmente, na sociedade, todas as forças são necessárias e também as comunistas desde que não ultrapassem os 10 a 15% na sociedade; isto na facção comunista actual. Não devemos esquecer que o comunismo é filho do cristianismo embora se comporte como filho pródigo. Facto é que o capitalismo moderado é o sistema (embora com necessidade de ser domesticado) que mais corresponde à natureza do Homem. É tão difícil integrar o socialismo no capitalismo como fazer da sociedade uma comunidade! O sentido cristão será construir a comunidade universal de pessoas livres que vivem em relação justa.
António da Cunha Duarte Justo
Tal como agora com o PCP. Quem não partilha das suas ideias é fascista, reacionário e nem sei que mais. Os tempos mudaram mas a música da cassete continua a mesma!
A grande força revolucionária em favor da liberdade se expressou especialmente no sindicato polaco Solidarnosc, apoiado pelo papa. A vontade de liberdade da DDR manifestava-se regularmente às segundas-feiras (A 9.10.1989 tinham já demostrado 70.000 cidadãos em Leipzig, contra um estado nas mãos de uma camarilha injusta, dum partido injusto e dum governo injusto).
A união dos dois estados alemães foi bem conseguida devido ao consentimento dos países ocidentais e ao esforço económico da Alemanha ocidental com a sua transferência financeiro e a integração das pessoas Stasi (‘fascistas’ de esquerda) no sistema da Alemanha unida.
De notar que a esquerda, os Verdes e o SPD defendiam então a existência dos 2 estados independentes (Joschka Fischer dos Verdes exigia ainda a 24.7.89 na Alemanha que se tirasse do preâmbulo da Constituição a frase que defendia e solicitava a reunião da (DDR e BRB). A força da ideologia socialista continuou mesmo depois da queda do muro de Berlim; tendo-se o SPD do estado de Hesse, depois disso distanciado da reunião das Alemanhas por unanimidade (223 votos cf. HNA 1.10.1989). Recordo que na altura quem ousava defender a reunificação era considerado extremista de direita!
António Justo