A Alemanha dá Exemplo de bom Aprendiz da História


Intervenção na Líbia – Mais Descrédito para o Ocidente


António Justo

O Conselho de Segurança da ONU possibilitou, com os votos da França, Inglaterra, Portugal, USA e mais 6 países, a intervenção na Líbia.


Com a sua abstenção a Alemanha colocou-se ao lado da China, Rússia e Brasil. As potências, no emaranhado dos interesses, sentem-se inseguras e são contraditórias entre si.


O argumento de que a Alemanha se isolou é falacioso. Aquando da intervenção no Iraque, a Alemanha também se opôs, sendo então criticada. Facto é que a História lhe deu razão e a lição vai-se repetir.

Lançar bombas, de longe, é fácil. É como atirar pedras e esconder a mão. A superioridade das armas não implica vitória nem heroísmo. Neste caso revela miopia de interesses e desconhecimento do processo de desenvolvimento e evolução das sociedades e nações. As tribos árabes e berberes são ciosas da sua honra e não se deixam atemorizar de longe. Naturalmente que só têm a oportunidade de imporem e de escolherem entre cólera e peste mas vão dando passos que um dia poderão frutificar.


A chanceler alemã, Ângela Merkel, ao abster-se no Conselho de Segurança não traiu a União Europeia (EU), como alguns querem fazer querer. A posição alemã ornou a EU mais diferenciada e reflectida. A chanceler vê as coisas já a partir do fim e este implica, depois da intervenção aérea, entrar em guerra com tropas em terra. Um caso semelhante ao que aconteceu na intervenção na antiga Jugoslávia.


A Alemanha é por uma política de sanções mas não de intervenção. Ela já participa com 7.000 soldados em acções no estrangeiro e reforça as suas actividades no Afeganistão para aliviar os aliados. O povo alemão é também contra a guerra no Afeganistão. Fá-lo por interesses óbvios e por solidariedade com a União Europeia e com a USA.


A Europa não aprendeu as lições do passado e perdeu agora uma oportunidade de corrigir as suas posições e seguir o exemplo da Alemanha.


As guerras não podem continuar a ser revestidas de eufemismos e rotuladas de “intervenção humanitária”. Humanitária para quem; desumana para quem? A ideia de que a intervenção apoia a democracia é, pelo menos, equívoca e falha de fundamento. Se há alguém predestinado a intervir na Líbia, seria a Liga Árabe. Esta poderia então pedir apoio. A responsabilidade diz respeito aos estados da região. No caso dos conflitos em Bahrain, uma sociedade xiita governada pela minoria sunita já o Ocidente apregoa a necessidade do diálogo nacional e que o estrangeiro se não deve intrometer. Hipocrisia pura!



A população líbia lá estaria para aceitar ou rejeitar o ditador. Nesta guerra civil o Ocidente apoia o movimento contra o ditador Kadhafi. Quem esfrega as mãos, no meio de tudo isto, é o Irão e Al Qaida. A um ditador seguir-se-á outro e o Ocidente continuará a limpar o rosto na toalha da democracia.


Até agora e em futuro próximo, estes povos só poderão ser governados por regimes autoritários. O surgir de democracias pressupõe um parto com muitas dores e sangue. O Homem não aprende e, em certos aspectos, continua pior que o Homem da idade da pedra lascada. Tornou-se no lobo de si mesmo.


Naturalmente que, os possessos do poder sabem que, quem vai à guerra tem direito aos espólios!


O grande papel a desenvolver nestes povos será apoiar económica e tecnicamente sociedades civis de base.


António da Cunha Duarte Justo

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Guerra política injusta contra a Líbia


O Ocidente perde a Intervenção e quem se ri é a Liga Árabe

António Justo

A EU e a NATO já perderam a preparação estratégica para a ingerência e perderão também a intervenção na Líbia. Quem se mete com árabes apanha!

A Alemanha não tem vontade de guerrear e a França, não respeitando a USA, adiantou-se no ataque à Líbia. A Rússia, a China são contra. Os árabes reservam-se o direito de no fim se sentirem ofendidos pelo exterior. A Liga Árabe diz sim à intervenção mas segue uma táctica de, no fim, poder lavar as mãos perante a população.

Quem são aqui “os bons e os maus?”,- pergunta o jornal alemão DIE ZEIT. Quem são aqui os defensores da democracia? As tribos certamente que não e a população é formada de tribos rivais incapazes de diálogo. Na região só há população falta o povo!…

Parte da comunidade internacional quer que Kadhafi saia do país sabendo, muito embora, que se este o fizesse trairia as tribos que representa. Então continuaria  a guerra civil das tribos do Leste contra as do Oeste.

O Direito dos povos não legitima tomada de partido por um grupo ou por outro. Dum lado e doutro são civis. Aqui não se trata de salvar clientes nem cidadãos trata-se de salvar crentes; mas crentes são todos eles, dum lado e do outro, num território sem nação!…

O almirante Mullen resume a confusão da situação em que se meteram dizendo: “Não sei ao certo, como isto acabará.” Penso que acabará na divisão da Líbia!…

Bombardear não chega porque os seguidores de Kadhafi permanecerão em terra e na terra é que se decide o decorrer da guerra.

Ao Ocidente só resta o papel ridículo de ter de aguentar com os refugiados e de beneficiar os que fazem o negócio com a indústria da guerra. Os políticos europeus já sabem onde ir buscar o dinheiro para a sua tolice: à bolsa do contribuinte.

A guerra é sempre suja, por isso mesmo não pode ser legitimada com motivos nobres!

Os europeus e os americanos têm uma ordem social que corresponde às antípodas da ordem social árabe, apesar disso continuam a agir como se todo o mundo tivesse a mesma mentalidade.

O Ocidente já perdeu a guerra na Somália, no Líbano, no Iraque e no Afeganistão. A próxima a perder será a da Líbia e quem se ri no meio de tudo isto é a Liga Árabe. Ou será desta vez mais um pretexto para que os europeus esqueçam os próprios problemas e paguem mais nas bombas da gasolina?

Será que os cidadãos europeus estão chamados a ter de fornecer e pagar contingentes de soldados e de polícias para manter nações/estados que, sem estarem preparadas para tal, chegaram formalmente a sê-lo por imposição do mundo ocidental? A Europa já paga milhões para a sua presença no Kosovo!

Estudiosos da cultura árabe, sociólogos, antropólogos e teólogos já há muito que deveriam saber que islão e Democracia ocidental continuam a ser incompatíveis. A palavra liberdade e revolução podem ter sentidos contrários em biótopos diferentes!

O problema do Ocidente está em ter um coração que bate à esquerda e uma cabeça que pensa à direita! Para a guerra, além da razão, falta o consenso, a legitimação e o mandato.

António da Cunha Duarte Justo

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Tribunal dos Direitos Humanos legitima as Cruzes nas Escolas


Crucifixo é Portador não só de Significado religioso mas também cultural

António Justo

O Tribunal Europeu para os Direitos Humanos em Estrasburgo decidiu que a afixação de crucifixos nas salas de aula de ensino público não viola a liberdade de religião; trata-se dum símbolo passivo.

Esta decisão vem corrigir uma posição de Estrasburgo que, em 2009, tinha dado razão a uma ateia italiana que via nos crucifixos de salas de aula estatais uma violação da liberdade de religião.

O governo italiano interpôs recurso argumentando que a cruz (1), em lugares públicos, para lá do significado religioso, é símbolo duma tradição espiritual que forma o fundamento da democracia e da civilização europeia.

Os juízes argumentaram que tradição não desvincula do respeito pelos direitos humanos. Recordam o dever dos Estados serem neutros e que o Estado tem o dever de garantir a liberdade de exercício das diferentes religiões e a paz na defesa da ordem pública.

Estrasburgo deixou à discrição dos diferentes Estados nacionais o decidir sobre o assunto, dado não haver consenso entre os países europeus.

CHRIST IN DER GEGENWART cita o presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias, Cardeal Peter Erdö, com as palavras: “Uma vitória para Europa”;  a decisão do tribunal deixa a esperança que “a cultura dos direitos humanos não exclui incondicionalmente a cultura cristã”.

Secularização e religião devem conviver em paz. “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, dizia o mestre. A religião não se deixa reduzir a coisa privada; a política também não.

Naturalmente que também há uma paz dos cemitérios, tal como em Portugal, onde, um Estado, nas mãos de secularistas republicanos, arruma, pela calada da noite, com as cruzes para o privado com um mero decreto ministerial.

A cruz é e será símbolo duma civilização tecida de pecado e de graça.

(1)    A cruz é símbolo de vida, de perdão e de salvação. Ela resume a lei da complementaridade que integra a matéria e o Espírito, o sofrimento e a alegria, o divino e o humano, o horizontal e o vertical. A vida, tal como o universo não conhece o ocaso, tal como o cosmo não conhece o pôr-do-sol. As trevas que envolvem a cruz não são mais que o véu duma realidade crucial que faz do centro o seu extremo; a distância e a proximidade, no centro da cruz, revelam-se intimidade. Por trás da escuridão uma luz me conduz; tudo a caminho da luz! No encontro da noite com o dia nasce a inteligência, sorri a vida! A cruz somos nós, é o mundo, o lugar onde Deus sonha.


António da Cunha Duarte Justo

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Diagnóstico de pré-implantação – PID


Bebés Proveta

António da Cunha Duarte Justo

Na diagnose de pré-implantação (PID), os embriões gerados em proveta, são submetidos a análise de possíveis defeitos ou doenças, antes de serem implantados no seio materno. O Parlamento alemão votará em Junho nova legislação sobre Diagnóstico de pré-implantação (PID). A proibição da PID foi anulada pelo Tribunal Federal Alemão, porque a “lei de protecção ao embrião” no útero é omissa no que se refere à PID. Por isso tem de ser criada uma lei que regule a PID. O assunto não é fácil de resolver atendendo à sensibilidade social e constitucional alemã.

Ângela Merkel (Chanceler), com o seu não à PID, fortaleceu o debate na Alemanha sobre a protecção da vida ainda não nascida. A Chanceler quer que, na votação parlamentar, seja suspensa a disciplina das fracções (abuso partidário em relação aos seus deputados que os obriga a votar segundo a disposição do partido) para poderem votar segundo a própria consciência.

Tanto nas fileiras do Governo como nos partidos da Oposição se encontram muitas vozes contra a PID, com excepção do partido FDP. As frontes, pró e contra a selecção de embriões, encontram-se quase em termos de igualdade e atravessam todos os partidos do parlamento.

O parlamento alemão irá discutir, no dia 17 de Março, o tema do teste genético em embriões. A decisão parlamentar está prevista para Junho. O projecto-lei em discussão prevê três posições: pela proibição da PID sem excepções, por uma proibição com poucas excepções e por uma permissão limitada.

O Conselho de Ética (1) alemão não é unânime na recomendação a fazer sobre o tema. Propriamente, metade é a favor duma permissão limitada da PID e a outra metade é contra a PID.

Sob o aspecto ético não se decide aqui entre bem e mal mas sobre duas posições más. Neste caso entra-se em direito casuístico.

Na discussão teológica encontram-se representadas as diferentes posições. A posição liberal defende que Deus ao dar a liberdade ao Homem lhe concedeu automaticamente o direito à decisão. Penso porém que, as possibilidades humanas e o seu desenvolvimento tecnológico se encontram incomparavelmente mais desenvolvido do que a consciência humana. A vida humana passa a ser determinada por alguma das suas características indesejadas. O ser humano declara-se em senhor da vida e desqualifica os aleijados. Por outro lado pares com doenças hereditárias ver-se-iam obrigados a renunciar a ter filhos.

De facto, os testes com embriões estão ao serviço da “selecção”. É decidido sobre valor ou não valor da vida. Não responde à questão dos critérios de valores para decidir sobre o viver ou não viver dum embrião.

Dos embriões à disposição (PID), deixam-se morrer os que apresentem defeitos genéticos implantando no seio da mulher o embrião escolhido. Na Bélgica já é permitida, assim, a escolha de sexo. A medicina da reprodução espera, com a liberalização da lei, fazer grande negócio. A concorrência comercial é também um argumento da discussão na Alemanha. Além disso, quer-se a garantia de que uma criança nasça sem doenças nem incapacidades.

A oposição da Igreja católica é óbvia atendendo que a vida precise de alguém que a defenda e não passe a depender dos interesses dum partido que surja. Nenhuma pessoa deve predeterminar sobre o que é digno ou indigno de viver. Tal como o Papa, a Constituição alemã tomam partido pela vida. A lei procura estabelecer compromissos entre o ideal e a realidade. Coisa semelhante acontece, por vezes entre o que o Papa defende e o que a pastoral na prática concreta faz. Uma questão para especialistas em casuística!

A Constituição alemã integrou nela os valores cristãos proibindo assim a utilização do ser humano como meio ou objecto para um determinado fim. A dignidade humana ganha assim protecção não só religiosa mas também constitucional. O Homem não tem o direito de dispor da vida humana. Na fecundação (união do óvulo com o esperma) cria-se algo de novo que contem o princípio e o fim em si.

António da Cunha Duarte Justo

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(1) O Conselho de Ética é um grémio de peritos formado por 26 membros para aconselharem o Governo e o Parlamento em questões de vida e de morte. Trata-se de cientistas especialistas em assuntos das ciências naturais, medicina, teologia, filosofia, ética, sociedade, economia e direito. Ele colabora com outros grémios e promove a discussão social (dapd).

QUARTA-FEIRA DE CINZAS – Começo da Quaresma


À Descoberta do Infinito em Nós

António da Cunha Duarte Justo

Com o dia de hoje (Quarta-feira de cinzas), os cristãos começam a época da quaresma, um tempo especial de Jejum e abstinência durante 40 dias. Trata-se de aprofundar a dimensão espiritual da pessoa.

Durante este tempo muitos cristãos não comem carne ou privam-se de algo em favor de alguém necessitado.

Não se trata de renunciar por renunciar a alguma coisa. A finalidade do jejum e abstinência é possibilitar uma experiência de alma especial, uma experiência de interioridade espiritual. Muitos são sufocados pelas experiências de fora sem lugar para a própria experiência, por se encontrarem sempre a correr. Na auto-estrada da vida precisamos de pousadas para satisfazer as necessidades corporais e espirituais.

Geralmente andamos longe de nós mesmos, apesar das doenças que surgem a bater-nos à porta, a chamar-nos a atenção para pararmos e mudarmos o sentido da vida.

A prática do jejum e abstinência destina-se a adquirir a experiência espiritual da proximidade de si mesmo, da proximidade de Deus. O jejum pelo jejum pode reduzir-se apenas a um acto de disciplina, que não nos aproxima nem nos afasta de Deus, pode talvez num primeiro momento levar à auto-observação. A vida é para ser vivida profundamente em todas as suas diferentes dimensões.

Muitos escolhem a semana antes da Páscoa par jejuar intensivamente. Não se trata de experimentar a fome mas de a superar de modo a que o corpo reduza o seu consumo ao mínimo e assim disponibilizar energias especiais que favorecem a experiência espiritual. Esta precisa dum ambiente recatado e de silêncio.

As pessoas não são obrigadas a jejuar. Têm a oportunidade de o fazer. Podem reduzir as turbinas da velocidade ao mínimo. Além da experiência interior verifica-se que se consegue viver com menos e que isto faz bem à saúde corporal e espiritual.

O mundo do consumo traz-nos sempre a trote, desviando-nos do essencial, da felicidade, que é relação. A Páscoa é o símbolo dum objectivo e dum estado de vida na realização da felicidade. Quem tem um objectivo chega a algum lado, doutro modo perde-se pelo caminho ou mantem-se na roda do Hamster.

O jejum consequente levita o corpo e dá espaço ao espírito. O jejum também tem regras a que se deve estar atento para não se prejudicar o corpo.

O tempo da quaresma destina-se também a reencontrar os ideais da vida. O que se tem a mais pode ser deixado para os que têm a menos.

Antonio da Cunha Duarte Justo

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