MAOMÉ PROFETA EM MECA E GUERREIRO EM MEDINA

Uma Solução para o Futuro: Identificar os dois Rostos do Corão

Por António Justo
Para tentar resolver o conflito inerente ao Corão (1) e às Hadith (1) e possibilitar a sua interpretação pacífica no Islão, peritos da religião muçulmana defendem que será indispensável conhecer e reconhecer os dois rostos de Maomé: o do seu período de profeta e o do seu período de guerreiro (chefe de estado), ambos incluídos no Corão. Só assim se poderá ordenar e compreender as revelações ocasionadas pelo arcanjo Gabriel que Maomé teve durante 23 anos e que se dividem nas suras de Meca e nas suras de Medina. Em Meca, Maomé acreditava poder convencer as tribos árabes que praticavam o politeísmo em torno da Caaba e poder reuni-las sob a religião do seu livro em elaboração para o povo Árabe, um livro à semelhança da Bíblia do povo judeu e do povo cristão. Os mequenses não aceitaram a sua mensagem, obrigando-o a abandonar Meca com os seus sequazes. Depois da Hégira para Medina, (Hégira = fuga de Maomé de Meca para Medina, que marca o início (622) do calendário islâmico). Em Medina, Maomé organizou-se como homem de Estado conseguindo subjugar Meca e alargar o islão. Serve-se das revelações de Medina para vincular no Corão a união de Estado e Religião. Esta estratégia revelou-se muito profícua para a época, contribuindo para a expansão do Islão em períodos posteriores.

Os Conteúdos das Suras do Corão nas Épocas de Meca e de Medina

O Corão é formado por Suras/versos que se dividem em revelações do tempo de Meca e em revelações do tempo de Medina. As suras de Meca eram curtas e dirigidas principalmente aos mequenses; as suras de Medina eram longas e dirigidas principalmente aos habitantes de Medina. Há critérios que os imames usam para distinguir umas das outras. As de Meca ocupam-se com a reverência, o temor de Deus, o castigo de Deus para os pecadores, as provas da existência de Deus, a vida depois da morte, as histórias de Maomé e eventos de gerações passadas e as suras de Medina tratam das normas da sharia, direito civil e de culto, de assuntos de governo/estado, da adesão ao Corão e da luta por Alá (jihad) e da lida com a guerra e seus despojos.

Segundo a análise da maioria dos estudiosos muçulmanos as suras de Medina são as seguintes: 2, 3, 4, 5, 8, 9, 24, 33, 47, 48, 49, 57, 58, 59, 60, 62, 63, 65, 66, 110. As restantes 82 suras são as revelações de Meca com excepção de 9:42 revelada em Tabuk e de 43:42, revelada em Jerusalém. Quanto às suras 1, 13, 55, 61, 64, 83, 97, 98, 99, 112, 113, 114 os peritos do Islão não estão certos se são suras das revelações de Meca ou de Medina.

O conteúdo entre as suras (revelações) de uma época e da outra são tão contraditórias que literatos chegam a afirmar que Deus mudou de opinião.

O antigo imame e professor de história islâmica da Universidade do Cairo Al-Azhar, no seu livro “Islam and Terrorism” adverte, sob o pseudónimo Mark A. Gabriel, que os imames recebem instruções para, na apresentação do Corão, darem mais relevo às suras de Maomé como guerreiro (as suras de Medina).

O Islão com a sua reivindicação de validade universal atrai intolerância fomentando a radicalidade dentro da comunidade islâmica em relação aos de fora do islão e, como reacção, a intolerância dos de fora em relação ao Islão. O perito em estudos islâmicos DR. Abdel-Hakim Ourghi apela aos muçulmanos para não esconderem os aspectos violentos de Maomé (Corão). Segundo refere ele, no Bonner General-Anzeiger, Maomé podia ser considerado profeta fundador de uma religião na sua fase de Meca, entre 610 e 622. “Após a sua emigração de Meca para Medina, temos a ver com um estadista que repetidamente tomou medidas violentas contra outras religiões, contra judeus e cristãos”.

De facto, o Corão e a Sharia precisam de ser submetidos a uma análise histórico-crítica para possibilitar nele um rosto mais pacífico, a valorização do indivíduo e o reconhecimento do próximo (não muçulmano) como ser com igual dignidade. Uma cultura que subjugue o indivíduo e não reconheça a igualdade da dignidade de homem e mulher, está condenada a ficar presa em estruturas sociológicas do passado, tendo de empregar a violência ad intra et ad extra para poder subsistir. Tudo o que não serve o Homem e a Humanidade tornar-se-á supérfluo. O desenvolvimento e a excelência de uma sociedade pode ser comprovado através da maneira como tratam a mulher e o indivíduo.

O mundo islâmico, principalmente através de emigração de seus fiéis em massa para a Europa, experimenta um choque de culturas, que vai, pouco a pouco, provocando, no seu meio, a autorreflexão do Islão e o surgir de pessoas como o DR. Ourghi que conseguem elevar a discussão do Corão e da Sharia a um nível filosófico, antropológico e sociológico abertos. Muitos estudiosos do Islão na Europa procuram ultrapassar uma interpretação, até agora limitada à jurisprudência e à história, para possibilitarem a criação de uma ciência teológica no sentido de iniciarem uma teologia muçulmana baseada numa abordagem científica histórico-crítica possibilitadora do seu desenvolvimento no sentido de um Islão com um novo rosto adaptado à realidade circundante e ao tempo e que possibilite uma imagem de Deus/Alá não só ligado a uma cultura mas aberto à globalidade e à multiplicidade das culturas. Para o cientista islâmico DR. Ourghi, uma renovação só poderá ser conseguida “quando o Islão não se compreender como comunidade militante que luta pelo domínio sobre todo o mundo” como apregoam as revelações e os ditos de Maomé de Medina.

O permanecer na insistência e alegação de o Islão ser o possuidor e senhor da verdade universal, (e até legitimar com ela a violência contra outras crenças) além de fomentar a intolerância, dá perenidade à perseguição e à guerrilha islâmica impedindo um diálogo aberto e não fingido com outras religiões. De facto, a grande maioria dos peritos e representantes do Islão entrincheiram-se em citações de lindas e poéticas revelações do Corão, calando a verdadeira realidade de uma estratégia baseada no Maomé de Medina. A secundar esta ideia está a prática islâmica de que uma mentira em benefício do Islão é considerada uma verdade ao serviço de Alá.

O muçulmano Ourghi critica também a hipocrisia reinante em sociedades islâmicas, atestando de moral dupla estados que têm o Islão como religião de estado, dizendo: “O ‘Islão cruel’ e a Sharia são válidos apenas para a população pobre, os dominantes não se comportam segundo o Islão.

No terceiro „Phil.Cologne“ da cidade de Bona na Alemanha, Ourghi também se expressou criticamente, sobre os organismos de tutela muçulmana na Alemanha. Segundo testemunhou as organizações coordenadoras dos diferentes grupos islâmicos, tal como a União Turco-Islâmica, são controladas por órgãos governamentais dos países de origem.

De facto, tabém isto constitui um grande problema porque impede a capacidade de integração de muçulmanos noutros países que se sentem obrigados a terem de se afirmar em contraposição às culturas de acolhimento. A abundância de dinheiro concedida por países islâmicos e magnates para a construção de mesquitas e instituições fomentadoras do islão no estrangeiro torna os países de acolhimento cegos na concessão de direitos para tais planos. Catar e a Arábia Saudita investem centenas de milhões na implantação do islão mais radical na Europa.

A ambivalência de Maomé de ser profeta para os de dentro e guerrilheiro para os de fora, possibilitou-lhe a conquista e consequente construção de um grande império muçulmano, vendo-se este hoje obrigado a procurar as melhores suras do Corão para demonstrar o seu espírito pacífico. Esta estratégia torna-se ineficiente num tempo em que cada pessoa passa a ter acesso à formação, à informação e à cultura. A evolução dos povos e das armas de combate na disputa entre religiões e culturas já não é a mesma que no passado, o que pressupõe uma mudança de estratégia. A expansão do Islão no mundo ocidental revelar-se-á como precário dado combater o saber global e, de momento, contar apenas com o apoio de forças políticas e económicas europeias que se vêem obrigadas a engolir cobras e lagartos para poderem captar o capital árabe, mas, numa outra conjuntura, facilmente mudarão de estratégia. As resoluções da Cimeira G7, na sua decisão de até ao fim do século reduzir as energias fósseis determinarão o total enfraquecimento económico dos países produtores de petróleo e de carvão.

Em tempos de globalização, manter-se preso no tempo e na cultura árabe impossibilita o desenvolvimento e a adaptação ao Homem e ao tempo; a cultura árabe, para poder acompanhar a mudança de paradigma da sociedade ocidental terá de submeter a sua religião a um aferimento científico que a torne capaz de dar resposta ao desenvolvimento do cidadão e poder viabilizar o seu contributo indispensável para a sociedade ocidental que precisa urgentemente de correcções que a civilização árabe poderia ajudar a efectivar.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
In: www.antonio-justo.eu

(1) O livro sagrado do Islão. No Cristianismo temos a encarnação de Deus e no Islão a inlibração de Deus.

(2) Actos, afirmações, opiniões, aplicações do Corão e modos de vida de Maomé.

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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