G7 – Uma Cimeira sem Cimo porque lhe falta a Rússia a China o Brasil a África do Sul e a Índia

RÚSSIA DESPREZADA E OFENDIDA

António Justo
Neste fim-de-semana, dia 7 e 8 de Junho, realiza-se o G7 no castelo Elmau, Garmisch-Partenkirchen (25.000 habitantes), Alemanha.

Relevante seria que o G7 (grupo de chefes de Estado e do Governo dos USA, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Japão, Itália e Canadá) se debruçasse sobre os temas políticos, económicos e climáticos sem se aproveitar da cimeira para cerrar fileiras contra a Rússia, no sentido de uns USA muito longe da Europa e do mundo.

Grande erro: a Rússia não foi convidada. Interessante seria um G20 e não uma organização mamute para jornalistas que dá a impressão de reunir em si os interesses dos antigos impérios coloniais. De facto realiza-se uma Cimeira sem cimo porque lhe falta a Rússia, a China, o Brasil, a África do Sul e a Índia. No G7 temos um monte que não reconhece que faz parte de uma serra! Na aldeia universal precisa-se de todos se se quer humanizar a humanidade e salvar a ecologia do planeta.

Rússia ofendida

Putin viu como sua primeira tarefa a de organizar o Estado russo, o que está a conseguir depois das maneiras Wild West de Boris Jelzin. Não será previsível que o presidente russo mude de atitude em relação à Ucrânia. Os USA e a EU não têm trabalhado de forma construtiva com a Rússia, o que a leva a destacar-se com posições menos compreensíveis.

A Rússia, tal como a China não podem abdicar da sua situação de império, simplesmente porque os USA e a Europa, em nome de uma liberdade ou democracia desaferida e mal-entendida, querem conduzir estes impérios a uma situação interna equivalente à situação dos estados do norte de África (Divide et impera!).

A Rússia precisa de tempo para estabilizar o seu império colonial, precisa de paciência e não de provocação. Não é percebível a política americana (e da EU a si encostada) que aposta apenas no imperialismo económico e em ideologias de valores abstractos sem contemplar as culturas e civilizações que parece querer ver desestabilizadas.

A europa precisaria de uma política comum. Um quebrar do poder de Putin significaria a rotura dos povos. Putin sente-se ofendido pelo ocidente e em especial por uma EU subjugada aos USA.

A actual Cimeira G7 também tem as suas vantagens. Ângela Merkel vai-se empenhar, entre outras coisas, na limitação de combustíveis fósseis e na implementação das energias renováveis (que já conta na Alemanha com 300.000 empregados em consequência do Governo de Merkel ter determinado acabar até 2022 com os reactores atómicos produtores de energia na Alemanha).

Oxalá no G7 a EU saiba mitigar os acordos TTIP (https://antonio-justo.eu/?p=2957) para que a Economia não crie uma jurisprudência paralela e superior à dos Estados membros. Também neste assunto parece que Merkel irá mitigar as ambições liberalistas económicas dos EUA. Ela tem a legitimação e a tarefa a ela atribuída por uma população que também pensa.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

INFORMAÇÕES DIVERSAS: TRUQUES FISCAIS PREJUDICAM A ÁFRICA

TRUQUES FISCAIS PREJUDICAM A ÁFRICA

Segundo a organização de ajuda Oxfam, empresários e investidores dos estados G7 (USA, Alemanha, França, Grã Bretanha, Japão, Itália e Canadá) prejudicaram, em 6 mil milhões de euros, administrações fiscais africanas, através de preços de transferência manipulados. A organização Oxfam avalia em 100 mil milhões de euros a fuga anual de impostos em países em vias de desenvolvimento, através de truques de impostos.

CRIMINALIDADE NA ALEMANHA

Segundo a repartição de Investigação Criminal federal (Bundeskriminalamt), em 2013, na Alemanha, houve 149.500 assaltos a casas, registaram-se 2,4 milhões de roubos e também houve 16 milhões de pessoas a quem foram roubados dados do Computador.
Representantes da repartição estatal queixam-se que a polícia não consegue seguir dois criminosos que se organizam através do skype. Talvez isto lhes sirva de alibi para poderem construir um troiano federal.
Segundo as autoridades o aumento da criminalidade deve-se a estruturas organizadas internacionalmente. Nos últimos 5 anos aumentaram em 40% os suspeitos criminosos com incursões provenientes da Sérvia, Roménia, Polónia, Kosovo e Geórgia.
Têm aumentado também os vídeos de propaganda em favor do terrorismo do “Estado Islâmico”.

VERDADES SIMPLES E INCÓMODAS ESPECIALMENTE EM TEMPOS PRÉ-ELEITORAIS

Políticos e eleitores preferem continuar nas diferentes trincheiras da auto-satisfação. As verdadeiras questões não são postas na mesa da discussão. Este não tem papas na língua: http://sorisomail.com/partilha/238743.html

QUOTA DE REFUGIADOS

A Comissão europeia está a ceder à pressão da Alemanha e da França no sentido de ser elaborada uma quota de distribuição permanente de refugiados pelos diferentes países membros da Comissão Europeia. O tema encontra-se na agenda do próximo encontro dos ministros do interior da EU, dia 16 de Junho.

UMA MULHER DEU À LUZ 69 FILHOS

Na semana passada uma brasileira de 51 anos deu à luz o 21° filho.
A mulher da história com mais filhos foi uma lavradeira russa (1707 – 1782) que teve 69 filhos: deu à luz 16 vezes gémeos, 7 vezes trigémeos e 4 vezes quadrigémeos.
No séc. XV uma alemã deu à luz 53 filhos.

NO RESCALDO DO MOVIMENTO 68

Na alternativa lista de Berlim que deu origem ao partido Bundnis90/OS VERDES houve abuso sexual de crianças. Segundo o Estudo, nos anos 1980/90, houve 1.000 casos de violência sexual praticados por membros do partido e por funcionários dele. Era o espírito da época que via na libertação sexual do Homem e na destruição de mitos um meio importante para a libertação.
De louvar o estudo levado a efeito pelo próprio partido. Mostra hombridade e transparência. Em toda a instituição onde houver pessoas não se poderá impedir o cheiro a Homem.

ARÁBIA SAUDITA PROCURA 8 CARRASCOS

Segundo a imprensa alemã o Governo da Arábia saudita procura, através de anúncio, 8 carrascos (para exercer “um trabalho que não exige qualificação especial”). O trabalho é decapitar condenados à morte e decepar membros a condenados por ladroagem. Este ano já foram decapitadas 84 pessoas.
Toda a sociedade que se arroga o direito de matar pessoas, desvaloriza a dignidade humana e não reconhece nela o mal que também ela transporta.

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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A EUROPA RICA RECRUTA IMIGRANTES QUALIFICADOS E EMPURRA REFUGIADOS DESQUALIFICADOS PARA OS PAÍSES POBRES DO SUL

 Quota para Refugiados revela Abuso cínico da Palavra Solidariedade

António Justo
A Comissão Europeia para a Migração pretende que se faça a redistribuição de 20.000 refugiados que se encontram na Europa, tencionando para Portugal uma chave de recolocação correspondente a 3,89% e para a Alemanha e França 10%. Uma tal medida aumentaria a quota de desemprego nos países do sul que se sentem já vítimas de uma economia da UE pró nórdica. Portugal seguirá, como de costume, uma atitude de “Maria-vai-com-as-outras”.

Portugal que exporta para a Alemanha, França, Inglaterra, Suíça, etc. os seus emigrantes qualificados que não encontram condições suficientes de vida em Portugal deve passar a receber dos países islâmicos imigrantes sem qualificação.
Muitos cidadãos europeus têm dificuldade em compreender que os seus países tenham de aceitar os refugiados de guerra interna islâmica entre xiitas e sunitas e que países islâmicos como a Arábia Saudita não aceitem refugiados vítimas da guerra religiosa ou da economia.

Na França, Alemanha, e noutros países europeus aumenta no povo a resistência à aceitação de refugiados. Muitos alegam que têm medo de receber os refugiados porque estes, na sua grande maioria são muçulmanos e uma vez hospedados num país organizam-se em guetos e não se integram; outro argumento que se ouve com frequência é a realidade de uma vez reconhecidos servirem de ponte para novos imigrantes e o facto de entre os refugiados se encontrarem terroristas do Estado Islâmico. Também se encontram políticos na Alemanha que dizem que a Alemanha “não é a repartição de segurança social da humanidade” e também pessoas pobres que reclama por cada vez verem mais reduzidos os apoios sociais sem entenderem que o Estado empregue milhões de euros no acolhimento de refugiados. Não notam a corresponsabilidade das potências no fenómeno nem a irresponsabilidade da classe política em relação à paz social na Europa.

Em 2014 a Suécia recebeu 8,4 refugiados por cada mil habitantes, a Áustria 3,3 por mil, a Suíça 2,9, a Alemanha 2,5, a Itália 1,1, a França 1, a Inglaterra 0,5, a Espanha 0,1.

A Inglaterra, a Polónia a Hungria, a Eslováquia e a Chéquia revelam-se contra o intuito da Comissão Europeia de introduzir quotas de refugiados a distribuir para todos os membros da UE. A Alemanha faz força para que todos os países sejam obrigados a receber refugiados. Os países economicamente fortes da europa não se querem ver sozinhos com os problemas da imigração por razões de estabilidade social e por razões económicas. A Alemanha, em 2014 recebeu 173.070 requerimentos de refugiados.

Por outro lado funcionários da economia alegam que a Alemanha para cobrir a quebra da natalidade da população precisaria de 400.000 imigrantes por ano. A Alemanha prefere recrutar imigrantes qualificados porque não provocam custos de integração e formação e além disso integram-se melhor e elevam o nível social popular.

Quota não é solução e seria injusta para com os países pequenos que não entram em guerra nem fazem parte dos países desestabilizadores que lucram com exportação de armas nem com a reconstrução dos países de intervenção. Os pontos quentes são a Síria, o Iraque, a África do Norte, o Afeganistão e a Líbia. A Líbia tornou-se num ponto de fuga dos refugiados para a Europa. Para acrescentar a insegurança surgem organizações extremistas muçulmanas na Europa que, ao afirmarem que com a emigração muçulmana e a sua fecundidade restabelecerão seus antigos domínios na Europa, fomentam mais o medo e o preconceito de muitos cidadãos europeus confrontados já com os problemas dos guetos.

A informação pública foca apenas o aspecto emocional dos refugiados não contribuindo para uma discussão séria e objectiva sobre o assunto.

A política da Comissão Europeia não está interessada no diagnóstico e no tratamento das causas que provocam a emigração em massa; parece apenas interessada em tratar as feridas mas não querer solucionar o que provoca o flagelo hodierno das lutas entre xiitas e sunitas e o fenómeno dos refugiados. A preocupação europeia deveria ser o fomento da estabilidade e do bem-comum da população nos países de proveniência dos refugiados (a preocupação pelo bem-comum universal). As medidas pretendidas de destruição dos barcos dos contrabandistas não resulta porque a pobreza e as rivalidades entre os grupos étnicos continuarão com o apoio directo ou indirecto do Ocidente. Urge uma política de ajuda para a auto-ajuda das pessoas nos seus países; para os que já se encontram no mundo livre devia dar-se-lhe uma formação qualificada para poderem, mais tarde, fomentar as economias dos países donde vêm.

Não é justo que as potências que participaram para a instabilidade do Afeganistão, do Iraque, da Líbia, da Síria não assumam a responsabilidade de terem provocado uma consequente perseguição aos cristãos e a outras minorias étnicas na região e que agora países terceiros tenham de acarretar com os problemas que imigração muçulmana acarreta consigo (Não se trata só de fugitivos mas de pessoas). As administrações dos USA têm actuado irresponsavelmente, conscientes de que quem mais sofre as consequências da sua política fracassada é a Europa e que a Europa fraca e decadente – irmã menor dos USA – se limita a uma política ritual irresponsável e carpideira sem encarar a peste que vitima fugitivos no mar Mediterrâneo e infesta o clima social europeu.
António da Cunha Duarte Justo
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ACTIVIDADE POLÍTICA E CONSCIÊNCIA CRISTÃ

O Político – Entre condicionalismos profissionais e Consciência cristã

António Justo
Fé e liderança são temas diferentes mas integráveis. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, é uma máxima cristã que determinou o agir político da civilização ocidental. Deste modo estimulou diferentes energias a actuar de maneira complementar.

Em política procede-se ao exercício do poder e este implica, em democracia, o compromisso, o que pode levar um político a entrar em conflito com as próprias convicções.

A civilização ocidental deve o seu desenvolvimento a dois princípios: a dignidade humana e a divisão de poderes. “A ideia de que há uma dignidade inata ao homem é religiosa, de origem judeo-cristã”, bem como a ideia da divisão de poderes (seculares e religioso), como constata o historiador Heinrich August Winkler. E reconhece também que “o direito internacional é uma conquista ocidental” que tem como “objectivo a transferência do domínio do direito para as relações internacionais”. A História do Ocidente é o testemunho da disputa dos direitos humanos, do domínio do direito, da divisão de poderes e da falha contra eles. (No Ocidente, toda a pessoa tem o direito de invocar os direitos humanos em sua defesa).

O projecto ocidental não se deixa reduzir à vontade das maiorias democráticas, sejam elas seculares ou religiosas, esquerdas ou direitas, como demonstrou o final da República de Veimar. Já John Stuart Mil dizia que a tirania tanto pode ser exercida por governantes absolutistas como por maiorias. Assim, as democracias ocidentais dispõem de meios que as protegem: a soberania do direito e a divisão de poderes. Estes dão continuidade à sociedade pluralista. (1)

A filosofia cristã alimenta-se da Verdade e da Dúvida

A sociedade do futuro precisa naturalmente do vitalismo religioso e da energia secular, mas não na contraposição de uns contra os outros; se não quisermos danificar o projecto de vida ocidental, será necessária uma interacção mútua e complementar de filosofia cristã e de poder secular, não podendo a ideologia secular açambarcar para si também o lugar de Deus. A sociedade ocidental manterá a sua sustentabilidade se continuar a superar o dogmatismo religioso e o dogmatismo científico na fidelidade à sua característica filosófica que engloba uma dinâmica dialogal entre verdade e dúvida (fé e razão) que lhe proporcionou especial desenvolvimento. (Também não será legítimo invocar os extremistas muçulmanos para, em princípio, se difamar toda a religião, como tão-pouco o estalinismo ou nazismo para se desacreditar a governação). Em cada época, tanto pessoas religiosas como políticas eram filhas do seu tempo e como tal portadoras dos vícios e virtudes da sua era.

A esquerda marxista e o capitalismo liberal pretendem dissociar o cristianismo da pessoa e da sociedade para mais facilmente colocarem o indivíduo sob a sua trela e melhor vaiarem o cidadão sem a concorrência de forças que não sejam económicas ou ideológicas. O cristianismo é a religião mais perseguida porque é a lóbi da dignidade da pessoa, dos pobres e dos discriminados (2). Os valores cristãos (vindos dos judeus, gregos, romanos e das várias etnias) são a alma da cultura. Já o filósofo Augusto Comte era do parecer que uma sociedade sem religião não teria continuidade e o Estado estaria condenado à desintegração. De facto sustentabilidade de um estado ainda se baseia na fertilidade maternal do seu povo e na religião como processo aberto.

O “establishment” político quer um mundo bipolar: quer de um lado o capitalismo liberal redutor do homem a um objecto de produção e de mercado e, do outro, o neomarxismo redutor do homem a proletário – indivíduo singular indefeso (indivíduo sim mas não pessoa!) – em função de uma forma de estado todo-poderoso. As elites neoliberais e neomarxistas unem-se na mesma tarefa de desfraldarem o Homem. Procuram até ideologizar o próprio património nacional.

O poder normativo do cristianismo na sociedade secular

Em termos cristãos, a dignidade humana implica o sentido da vida e a ressurreição confere-lhe optimismo.

O cristão é chamado a preocupar-se sobretudo com a parte da vida que passa na terra; se o faz com responsabilidade, o resto ser-lhe-á dado por acréscimo. Um provérbio português recorda: “religião quer-se como o sal na sopa”… sem ela a vida não teria sabor, mas em demasia, como se verifica da experiência muçulmana e da guerra dos 30 anos, torna a vida salgada.

O cristão é um ser aberto em diálogo, que forma e se forma na interlocução com a natureza, com o outro e com ele próprio em Deus; por isso não se define através de uma cultura. É uma proveta reagente de terra e céu em contínuo processo de desenvolvimento. Os seus instrumentos de abordagem da realidade e de realização são os sentidos e em especial a razão e a fé; estes não precisam de contradizer-se, são ao mesmo tempo luz e energia no processo de desenvolvimento individual e social.

A fé cristã é global (daí o termo “católica”, “universal”) e, como tal, a igreja tem que estar disposta a fazer compromissos, porque é integral, não exclui ninguém na consciência de que todos somos filhos de um Deus sem crenças (a revelação divina também se verifica na natureza e na História). Sim porque Jesus Cristo, o ser humano é feito de céu e terra! Para o político cristão, toda a pessoa, todo o cidadão tem filiação divina e constitui o centro da política. Já São Paulo dizia que o ser humano está chamado à liberdade na solidariedade com o Homem na qualidade de companheiro; o Homem é portanto o lugar da liberdade.

O poder normativo judeo-cristão espalhou-se por toda a Europa e por todo o mundo. Na sua visão holística, embora com muitos momentos de história escura e triste, influenciou e influencia o agir mundial individual e socialmente: liberdade, democracia, Direitos humanos, Estado de Direito, a igualdade dos géneros, uma solidariedade social que ultrapassa a sebe do crente, desenvolvimento sustentável e boa governação. Um “Deus pai” implica a visão global do Homem como irmão e uma comunidade católica (cosmopolitismo, globalismo) baseada na ética do amor ao próximo (estranho) e a Deus. Os direitos individuais são sagrados. O cristianismo é uma religião do chamamento; missionar o mundo dá-se como oferta, sem coacção. O político cristão está consciente do cristianismo como seu tecto espiritual que dá consistência e identidade a um povo chamado a espalhar a Boa Nova.

No contexto das civilizações, a mensagem cristã subsistirá sempre como a religião do Homem e da humanidade, não podendo ser reduzível a uma cultura; neste sentido a teologia fala também dos cristãos anónimos; o protótipo do Homem é Jesus Cristo (que une em si Céu e Terra) e não uma cultura.

O político cristão está chamado a propagar a ética cristã como directriz da sua política. Cristo assume responsabilidade por si e pelos outros o que quer dizer que o cristão não pode ser indiferente ao que acontece politicamente “lá fora”. Para ele, fora e dentro são partes da mesma realidade. A consciência é a directriz da acção cristã e o bom agir a sua prova.

O papa Bento XVI resume a tradição humanista da igreja, já repetida originariamente na teologia e por outros papas da Idade Média, nas palavras seguintes: “Acima do Papa encontra-se a própria consciência, à qual é preciso obedecer em primeiro lugar; se fosse necessário, até contra o que disser a autoridade eclesiástica.” Isto mostra a dignidade da Igreja Católica no respeito pela pessoa humana; a instituição, a religião não se coloca sobre o Homem; a sua matriz é o Homem, por isso não se reduz a uma doutrina, como revela a pessoa do Mestre. “Cristo é tudo e em todos” (Col 3,11). A sua pessoa (independentemente do religioso) é programa para todo o Homem e para todas as instituições do mundo sejam elas políticas, religiosas ou ideológicas (Nele se processa a inclusão do humano e do divino). A interpretação disto depende como sempre do espaço individual e da consciência humana no “aqui e agora”.

Uma política do desenvolvimento só é possível mediante o compromisso necessário perante a diversidade de situações e de pessoas. Por isso o político age no sentido do melhor compromisso de responsabilidade moral e não apenas pragmático.

A realidade humana exige compromisso e responsabilidade não deixando ninguém inocente. Nas decisões parlamentares, determinam-se leis, como o exporte de armas, o aborto, em que o cristão se torna também culpado. É contra o aborto mas tem de respeitar as decisões maioritárias para a generalidade. Na qualidade de cristão deve trabalhar para que a sociedade adquira uma outra atitude e, para isso, o cristão só possui o instrumento da palavra e do exemplo.

O cristão é um ser inacabado, feito de sagrado e profano; aberto e em aberto, com uma referência: JC a síntese da matéria e do espírito.

Nas coisas do mundo, quanto menos sei, mais sei que sei! Mas se mais reflito, quanto mais sei, mais sei que não sei! Logo, quanto mais sei menos sei que sei… O físico e matemático Isaac Newton dizia: “O que sabemos é uma gota de água; o que não sabemos é o oceano”! De facto, só quem perde a inocência pode permanecer virgem!…

A doutrina do pecado original quer-nos dizer que a vida e o desenvolvimento provêm do jogo entre tentativa e erro, não deixando muito lugar para moralistas demasiado distantes da realidade. Adão na tentativa de comer a maçã da árvore da vida atingiu a faculdade da razão que o torna estranho à própria natureza e o leva a levantar a cabeça para a voz que o chama, “Adão onde estás?”. Ele que vivia num estado simbiótico com a natureza, não conhecendo lugar nem tempo, vê-se agora num novo estado, em diálogo, entre certeza e dúvida revelando-se como consciência aberta. O chamamento da fé e da razão leva-o a acordar para o mistério não podendo mais voltar ao paraíso perdido.

A certeza é a fronteira do desenvolvimento e do saber! Se não reconheces que a realidade acontece no ponto de intersecção dos diferentes interesses, passas a vida a fugir dela ou a combatê-la.

A vivência cristã não se esgota na certeza intelectual, ela intui-se também como desígnio de algo já experimentado (na compaixão). Isto confirma-o também a psicologia budista ao recomendar que para se resolver um problema ou sentimento negativo é preciso primeiro percebê-lo (senti-lo), depois visualizá-lo e finalmente explorá-lo em sintonia/simpatia consigo próprio; depois desta sequência o sentimento negativo pessoal dissolve-se.

Em muitos assuntos, o político cristão tem a vantagem de não se encontrar sozinho na sua opinião individual, ele tem atrás de si uma fábrica de pensamento que é a Igreja com suas encíclicas sociais e uma experiência e saber milenário que o podem ajudar na tomada de decisões. Dietrich Bonhofer dizia: “encontramo-nos aqui sendo só competentes nas penúltimas coisas”; as outras pertencem a Deus.

O imperfeito não pode gerar a perfeição. Por muito controverso que pareça, Deus também pode falar através dos contrários à minha opinião e até mesmo através do mal. A opinião é livre, se regada pelos sentimentos, mas só o sol do pensamento a fará crescer. Reconheço opiniões boas mas não faltam as melhores. Ao definir só alargo a cerca do meu jardim. Uma opinião profunda será aquela que surge da liberdade acreditada no comprometimento com o JC, a melhor Realidade e o melhor símbolo de liberdade e compromisso. Para isso será preciso aprender a andar não só em solo seguro mas também sobre as águas do Mar, como fez o mestre da Galileia. Quem tem a coragem de andar sobre a água não é nenhum fantasma mas portador de inovação e de futuro.

O problema da liberdade surge sempre que cada um eleve a sua opinião a sentença certa. Liberdade total é impossível porque contradir-se-ia, não permitindo orientação. A capacidade de escolha já seria uma limitação. A dúvida em geral e em especial a dúvida metódica, própria do pensar ocidental, possibilitam a crítica que leva ao desenvolvimento; a crítica confere à civilização ocidental um estado de contínuo processo (“ecclesia” semper renovanda) de modernização e, deste modo, possibilita a antecipação à revolução. Numa democracia o povo não forma uma unidade; o reconhecimento da soberania da consciência individual possibilita a crítica social e naturalmente a necessidade de se aprender a lidar com ela.

A liberdade para ser sentida e despreocupada coloca o peso da própria vida no cabide da confiança: uns confiam em Deus outros na ideologia ou no interesse imediato. No cristianismo resta, mesmo assim, uma conta a saldar que é como dizia o filósofo Kant “o dever para consigo mesmo”. Uma sociedade livre e aberta possibilita a vida também aos adversários. O princípio da tolerância não deve porém neutralizar o da própria crença.

O sentimento de pertença a uma casa ampla com um tecto metafísico transparente fomenta a auto-estima que protege do medo e permite o autodesenvolvimento e o evoluir da própria opinião; esta deve ser expressa de maneira determinada, doutro modo o adversário sente-se emocionalmente encorajado ao ataque. A crítica pessoal só complica, por isso a crítica construtiva é baseada no problema e na sua solução.

O Cristianismo é transcultural não se define por reinos nem repúblicas cristãs

No cristianismo não há reinos nem repúblicas cristãs, não há união de política e religião como nas bases da religião islâmica que identificam cultura com religião nem tão-pouco na união de Estado e ideologia. Naturalmente também os cristãos não estão imunes das tentações do poder embora a sua filosofia os não legitime ao abuso nem à promiscuidade de poderes. O político cristão compromete-se a fomentar o politicamente possível, numa atitude ética proveniente da fé. É consciente da complexidade social e seus condicionalismos na tentativa de fazer o melhor e o justificável para o bem-comum.

Não é possível definir-se uma política cristã; esta pressupõe, nos seus actores, uma atitude humana de base de dedicação especial pelos mais indefesos da sociedade. Não há uma política cristã nem um cristão pode reivindicar para si o direito de fazer política cristã.

A fé cristã tem motivações ideais que favorecem uma orientação e critérios de valor para a acção: o Sermão da Montanha. A convicção cristã pode, porém, conduzir a diferentes posições, atendendo ao caracter soberano da consciência individual. Por vezes, o cristão confronta-se a si mesmo, entrando em conflito com uma ética de convicção e uma ética de responsabilidade social; estas conduzem a decisões de compromisso, numa tentativa de ultrapassar fronteiras denominacionais, tendentes a respeitar a dignidade e a liberdade humana do próximo. Tudo se torna pressuposto preliminar à avaliação.

Uma atitude cristã política caracteriza-se pelo princípio da dignidade inviolável da pessoa (dignidade de imagem de Deus – independentemente de credo – e como tal sujeito e não objecto) que se expressa no “amor ao próximo”); primeiro está a pessoa, só depois a instituição; outro princípio é o da complementaridade baseada no protótipo JC que integra o divino e o humano; todos são chamados à liberdade e a realizar o “reino de Deus”. A “ecclesia” é formada por indivíduos em comunidade convergente, na realização mútua de indivíduo e comunidade.

A consciência de comunidade, de que o todo também é formado pelas margens, torna a igreja advogada dos mais fracos na prática do princípio da solidariedade. A Igreja é a voz dos sem lóbi, dos marginais. Quando se declara p. ex. contra o aborto, ela torna-se a lóbi destes seres sem voz. Mais que o credo importam as obras: “Pelos seus frutos os conhecereis!“ (1.Jo. 2,1-6).

O Mestre reivindica que amemos os nossos inimigos mas não exige que nos deixemos matar por eles nem que o amor aos inimigos aconteça à custa de amigos. No meio está a virtude (como nos ensina a filosofia aristotélica) e só o divino é o lugar da perfeição. O político cristão procura estabelecer harmonia entre os polos. Isto dá-lhe uma posição demarcada e competência de sustentabilidade histórica na tentativa de resolver os problemas sociais e na capacidade de intermediário nas posições antagónicas entre os partidos. O político terá de ver o que é justificável e depois decidir segundo a própria consciência no respeito pela dos outros. Ele, na qualidade de político, tem de se preocupar em estabelecer relações estáveis, também no interesse dos contribuintes não se podendo deixar levar por idealismos passageiros que poderiam prejudicar o povo no seu todo, a longo prazo. Política, religião, ciência e sociedade devem consciencializar-se da sua situação de interdependência e de processo.

Em tempos idos, tudo era mais fácil: bastava seguir um rei, um pastor; hoje, que somos chamados a tornarmo-nos individualmente mais responsáveis, somos puxados por forças anónimas em diversas direcções e sentidos, o que exige, de cada um, maior balance e equilíbrio, maior sentido de orientação e responsabilidade. Peter Sloterdijk diz: “A modernidade evidencia-se como a época dos projectos, e a época pós-moderna como a dos consertos”. Com o rápido desenvolvimento e mudanças da vida moderna, a realidade movimenta-se mais depressa do que a consciência comum, criando empasses e assimetrias inevitáveis.

Uma actualidade que não respeite a herança torna-se subversiva, criando um hiato entre o antes e o depois num agora caótico e desorientado. Jesus foi o grande radical da História quebrando com muitas tradições e com a moral tradicional, já ao nascer de uma virgem. Com ele todos são filhos de Deus, independentemente de estirpes ou famílias.

Na política e em lugares chave da sociedade, precisam-se, hoje mais que nunca, cristãos e pessoas de boa vontade com capacidade para se consciencializarem da chantagem a que a sociedade se encontra submetida.

O projecto ocidental dá resposta ao sentido da vida na universalidade da dignidade humana. As instituições e sociedades poderão morrer mas a ideia da dignidade humana não morrerá. O hindu Mahatma Gandhi, que conhecia bem o induísmo, o budismo e o cristianismo, constatava: “Cristo é a maior fonte de força espiritual que a humanidade conheceu.”

A mundivisão que tornou a Europa grande, no concerto das nações, deixou de estar presente na consciência pública actual devido ao jacobinismo ideológico.

Joachim Gauck, presidente de uma república descongestionada como é a alemã, não tem vergonha de testemunhar, na força do cargo que ocupa: “A política precisa de pessoas que acreditam em algo que é maior do que elas mesmas. Precisa de pessoas que têm uma atitude e a defendem com coragem. Precisa de personalidades convictas e, deste modo convincentes, como as que, para o nosso bem, vieram do ambiente cristão e do compromisso cristão”… „Sem cristãos este país seria diferente na política e na sociedade!… Acções e decisões políticas encontram, na Doutrina Social católica, padrões confiáveis da fé “. Um presidente da república portuguesa ou francesa nunca diria tal, por jacobinismo político ou, possivelmente, porque não teria razão para o dizer!

Cristo transcende todo o ser e permanece para sempre um desafio para toda a política e para todo o cidadão.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
www.antonio-justo.eu

(1) A França é o exemplo de um estado laico puro enquanto a Alemanha, tendo também ela a divisão de poderes de estado e religião, age em parceria com a religião em sectores sociais, o que facilita uma vida social mais harmoniosa e o melhor aproveitamento de recursos humanos e económicos. Os estados da França e de Portugal são mais orientados pela ideologia republicana exacerbada, enquanto, na Alemanha, domina o compromisso social que deu origem à economia social de mercado e ao milagre económico alemão.
(2) O neo-marxismo e o neocapitalismo tornaram-se duas ideologias irmanadas, que seguem uma estratégia de ocupação da administração pública e dos lugares centrais do saber, da política, da economia, dos Media e da arte. Sob a aura da arte escondem-se interesses ideológicos vestidos com o talar da inocência e da individualidade. O marxismo (comunismo) surgiu das necessidades da época, revelando-se então oportuno no sentido de consciencializar e organizar o operariado que era vítima da revolução industrial nascente (1760 – 1820). Hoje expressa-se como corrector da ideologia económica vigente continuando a deixar-se reduzir a uma perspectiva das redes económico-sociais da polis. Em nome do progresso usam como subterfúgio o ataque ao conservadorismo; em nome dessa luta pretendem irradiar o catolicismo que defende valores e direitos humanos individuais inalienáveis A Europa no seu processo de secularização conseguiu secularizar muitos dos valores cristãos. “Liberdade, igualdade, fraternidade” colocados sob a autoridade suprema da razão e da lei do estado, são a consequência lógica da liberdade, irmandade e igualdade dos filhos de Deus, propagada pela religião a nível individual e da comunidade. A aculturação de valores sublimes processa-se ao longo dos séculos.

PS: Este texto encontrar-se-á num livro a publicar.

ÍNDICE DE FELICIDADE MUNDIAL EM 2015 E A DOR DO VIVER

Felicidade da mulher como índice do desenvolvimento de um país?

António Justo

Segundo o estudo da ONU sobre o Índice de Felicidade Mundial realizado pela universidade Colúmbia de Nova Iorque, a felicidade mundial aumentou ligeiramente em relação a anos passados. O norte é mais feliz que o sul, tem mais confiança. Nos países desenvolvidos, as mulheres são mais felizes do que os homens, enquanto nos países em desenvolvimento se passa o oposto.

A ordem de felicidade por países: 1° Suiça,2° Islândia,3° Dinamarca, 4° Noruega, 5° Canadá, 6° Finlândia, 7° Holanda, 8° Suécia, 9° Nova Zelândia, 10° Austrália, 15° Estados Unidos, 16° Brasil, 26° Alemanha, 88° Portugal.

Dos países qualificados, os dez países menos felizes seriam o Afeganistão e países africanos. Os indicadores de felicidade do questionário efectuado abrangiam sistemas sociais, mercados do trabalho bem como perguntas sobre a autopercepção das pessoas (bem-estar mental, liberdade na tomada de decisões, ter alguém em quem se confia, falta de corrupção, esperança de vida saudável, etc.).

A investigação sobre a Felicidade de um povo é uma boa iniciativa dado orientar a atenção do cidadão e dos políticos para um objectivo que deveria ser o mais importante da política. A satisfação da vida e o bem-estar social deveria estar na agenda de todo o deputado e do governo.

Naturalmente haverá povos de caracter mais alegre que outros, o que torna difícil a interpretação da qualificação da felicidade de uns países em relação a outros. A maneira de compreender a vida é muito diferente de cultura para cultura. Há povos por natureza mais satisfeitos que outros.

Talvez por falte de uma ciência da felicidade ainda não se saiba como fazer os cidadãos felizes.

O Botão foi o primeiro país que colocou como objectivo do governo a felicidade pública. Aí os indicadores de felicidade apresentados eram: bem-estar psicológico, equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, vitalidade comunitária, educação, preservação cultural, proteção ambiental, boa gestão governamental e segurança financeira.

O grau de esperança é um elemento e um indicativo da felicidade de de uma pessoa. Ela empresta à realidade vestidos mais agradáveis e coloridos! Quem já tem tudo poderá ter o gozo do desejo saciado no tempo mas, apesar de tudo, não ser feliz! Pode-se ter gozo sem se ser feliz, porque o gozo é a felicidade da parte enquanto a felicidade é o gozo do todo. A felicidade é rara porque gozo é um estado, um momento e felicidade é ser, o ser que não é soma dos momentos. A felicidade está ligada à saudade que goza a dor do não viver!Também é verdade que, por vezes, se vive com felicidade mas sem gozo porque o gozo depende também do parceiro, tem a ver com o próximo!

António da Cunha Duarte Justo

Jornalista

www.antonio-justo.eu