DA GUERRA CIVIL UCRANIANA PARA A GUERRA RÚSSIA-UCRÂNIA À GUERRA EM TODA A EUROPA?

A Guerra da Informação faz da População Soldados mentais

Esta guerra meteu-nos a todos num túnel escuro em que nem sequer se avista luz no fundo dele! A situação encontra-se tão enredada que só promete desastres em cadeia! Isto, atendendo aos interesses da Rússia, ao temperamento indomável de Putin e à guerra geral através do bloqueio económico que o está a encurralar! O mais provável é que, se ele não atingir os objectivos mínimos que tem na Ucrânia, teremos um inferno nos países vizinhos da Rússia! No purgatório já nos encontramos nós com os custos de vida a subir incontidamente.

A esperança da Nato que o povo russo deponha Putin revela-se vã, ao não contar com a realidade do confronto de blocos nem com os interesses do povo russo como nação (e como velho bloco); por isso só uma reconciliação entre a Rússia e a Ucrânia e entre os USA e a Rússia poderá aplainar o caminho para a paz! Uma outra opção corresponde a manter-se a guerrilha na Europa por tempo indeterminado, independentemente de resultados militares! A EU tem de estar atenta a não seguir apenas os interesses americanos (longe da Europa) e para isso também não cair na tentação de instigar a Polónia a imiscuir-se na guerra! Os EUA querem que a Polónia forneça à Ucrânia aviões de combate Mig 29 em troca de F 16!… Neste sentido o artigo de 2014: “Ucrânia entre imperialismo russo e ocidental”: https://www.triplov.com/…/Antonio-Justo/2014/ucrania.htm e outros (1).

Considero muito importante o visionário texto de Henry A. Kissinger, secretário de Estado dos USA, que agora recebi (2): “Para que a Ucrânia sobreviva e prospere, não deve ser o posto avançado de nenhum dos lados contra o outro – deve funcionar como uma ponte entre eles…. O Ocidente deve entender que, para a Rússia, a Ucrânia nunca pode ser apenas um país estrangeiro…”… A Frota do Mar Negro – o meio da Rússia de projetar poder no Mediterrâneo – é baseada em arrendamento de longo prazo em Sebastopol, na Crimeia.” Alegra-me este texto, porque sem saber dele corresponde, em parte, ao que tenho vindo a procurar fazer compreender com os meus textos, se não formos advogados da guerra.

Putin não precisa de activar uma bomba nuclear, ele tem as centrais nucleares na Ucrânia como ameaça maciça. Verdade é que, para já, se tem de renunciar ao sonho de “uma Europa de Lisboa a Vladivostok”! Uma solução de compromisso satisfatório para todos os lados seria a formação de uma República Federal da Ucrânia Independente. Assim se mitigaria a longo prazo o princípio que Putin usa de ir defender uma minoria (problema de minorias usadas como pretexto a desejos de poder!).

Um possível contributo pessoal e social para a paz exterior e interior passaria pela abstenção de se ver regularmente TV, dado nos encontrarmos já envolvidos numa guerra de informação! A Guerra da Informação está a fazer da população soldados mentais!

Trazemos a maldade nos nossos genes (“pecado original), uma realidade que reprimimos em nós (deslocamento psicológico!) mas que faz parte do nosso habitat natural e cultural. O mal que vemos nos outros encontra-se em nós! Produtivo será o trabalho feito no sentido da reconciliação e dedicar mais tempo às coisas que nos dão prazer e assim não estarmos tão sujeitos à invasão das coisas que entram pela porta da televisão.

Com a queda das torres de Nova Iorque iniciou-se na Europa um processo de cortar, ao cidadão, direitos cívicos e humanos até então assentes nas legislações dos Estados; com as medidas anticovid-19 os governos centralizaram em si mais poder, a ponto de privarem o cidadão de direitos democráticos e de liberdades essenciais. Com a guerra Rússia-Ucrânia legitimaram a proibição da informação (3) estrangeira de modo a irem criando a possibilidade de só serem possíveis pensamentos em bloco, de modo a só se poder estar de acordo com os donos da informação de um lado ou do outro! As democracias estão a ser esvaziadas no sentido de governos cada vez mais autocratas, fenómeno que já se conhece da Rússia, China, etc. poderem controlar toda a população.  Eles sabem que as pessoas pensam o que veem e ouvem!

O tempo em que vivemos daria mais para chorar, mas tudo corre tão depressa que nem tempo para lágrimas há, mesmo que sejamos pessoas compassivas! Continuamos todos agarrados à lama do barro de que fomos tirados, mas na ilusão de que só os outros estão sujeitos ao “pecado original”!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1)  “UCRÂNIA É O CAVALO TROIANO DOS USA E DA RÚSSIA” : https://antonio-justo.eu/?p=7116 ; “ Chegou a hora de Putin – A Solução será tornar-se República Federal Neutra” https://antonio-justo.eu/?p=7129 ; Dados sobre a Ucrânia: https://antonio-justo.eu/?p=7127 ; “VIRAGEM NA ORDEM EUROPEIA INICIADA PELA ALEMANHA – NOVA GUERRA FRIA”: https://antonio-justo.eu/?p=7138 ; “Acirrar o Urso russo significa preparar uma Guerra nuclear na Europa”: https://antonio-justo.eu/?p=7149 ; “A GUERRA FRIA NOS MEDIA RUSSOS E ALEMÃES”: https://antonio-justo.eu/?p=7067 ; etc.

(2) https://www.washingtonpost.com/opinions/henry-kissinger-to-settle-the-ukraine-crisis-start-at-the-end/2014/03/05/46dad868-a496-11e3-8466-d34c451760b9_story.html

(3) GUERRA FRIA NOS MEDIA RUSSOS E ALEMÃES: https://antonio-justo.eu/?p=7067

 

PERMANEÇAMOS HUMANOS

A orientadora de um culto infantil em Kiev escreveu aos pais: “Que Deus proteja cada um de vós! Não caiamos em pânico, mantenham a calma e permaneçam humanos, aconteça o que acontecer! Se algum de vós precisar de ajuda, por favor contacte-me pessoalmente”.

É trágico e embaraçoso para todos nós assistir impotentes à morte das pessoas!

Muitas ilusões começam a afastar-se de nós!

Numa situação destas ajudam-nos as palavras da dirigente do serviço litúrgico em Kiew.

Acirrar o Urso russo significa preparar uma Guerra nuclear na Europa

A GUERRA NUNCA É POR UMA BOA CAUSA

A ilusão de se vencer Putin conduzirá à tragédia de pôr todos em perigo. Depois do 24 de Fevereiro, acordámos num mundo diferente: horrorizados com a guerra, o receio e a ansiedade acompanham-nos! Mais de um milhão de ucranianos encontram-se em fuga. Segundo a ONU, dos 874.000 ucranianos que estavam há dias em fuga, 454.000 já se encontravam na Polónia e os restantes em nações (1) vizinhas. A ONU presume que outros quatro milhões deixarão o país.

Nunca há guerra por uma boa causa. Esta guerra embora fabricada na Ucrânia não deixa de ter direitos de autoria!  Por isso há que ser pelos Ucranianos e preocupar-se por encontrar soluções para depois da guerra. A Ucrânia tem o direito à autodeterminação, embora o povo se encontre dividido, o que complicará a questão também depois da guerra. Isto e o facto de o presidente ucraniano pretender forçar que a Ucrânia entre na EU, mais complica a questão (a guerra não se dá directamente entre a Rússia e a EU e os parceiros da Nato!). Há perguntas por responder: porque é que a Ucrânia, pelo menos numa fase intermédia, não quer ser não-alinhada, independente da Rússia e da Nato?  Deste modo causaria menos dores de cabeça à EU e aos blocos rivais. Não será que o presidente ucraniano com o seus acto heroico não estará a sacrificar a Ucrânia ao pôr demasiada confiança nos parceiros da Nato? Não será que quanto mais armas se entregarem à Ucrânia mais fogo haverá lá porque elas apenas prolongarão a guerra? Será do interesse dos USA/Nato prolongar a guerra o mais tempo possível, na esperança de Putin ter de ceder devido às consequências internas das sanções impostas; mas os ucranianos é que pagarão esta estratégia com as próprias vidas e com a debandada do país. A que conduzirá o demasiado cerco internacional a Putin? Que acontecerá quando o urso russo se encontrar em situação de já não ter mais nada a perder? A sua única força é a bomba atómica! Será que queremos uma aliança entre a Rússia e a China? Há um ditado chinês que diz: “Um homem aponta para o céu. O tolo olha o para dedo, e o sábio vê a lua”

Além de assistirmos à guerra militar entre a Rússia e a Ucrânia estamos envolvidos numa guerra mediática onde se pretende criar fronteiras mentais; neste sentido procura-se, evitar falar do contexto, falando-se só dos aspectos emotivos para facilmente armar a mente das pessoas e assim fazer das suas opiniões soldados ao serviço de uma parte ou da outra: o que interessa é formar soldados!…(O ambiente mediático cria a sensação de que já estamos em guerra e até faz surgir entre jovens a vontade de se alistarem como soldados mercenários para a Ucrânia). É preciso evitar analisar a situação em termos maniqueístas e também não culpar as vítimas nem desculpar o crime. Em política não há santos, o que resta e conta são os factos e acções, que ficam, por vezes, à margem da razão e de actos corajosos!

Se estivermos atentos ao que se passa na opinião pública, notaremos que se está a actuar em termos da ordem marxista que divide o mundo entre os que estão do lado certo e os que estão do lado errado: dividir para instrumentalizar, dividir a sociedade e o mundo em opressores e oprimidos para deste modo, o grupo dos espertalhões se alimentarem à custa do que falta ao povo (segundo essa lógica nos seus domínios os do lado certo está a troica dominante e nos domínios dos outros estão do lado certo os oprimidos!  errado os dominantes (capitalistas-fascistas).  Deste modo, impede-se, na sociedade, a construcção de pontes possibilitadoras de convivência e colaboração pacífica entre as camadas sociais e as partes. Continua-se a afirmar e a justificar a ordem da sociedade e do mundo numa estratégia de luta antagónica.  Ao colocar-nos, inflexivelmente, de um lado ou do outro confirmamos a estratégia marxista que procura legitimar a violência pelo facto de ela se encontrar ancorada, em termos de poder, na natureza (evolucionismo selectivo afirmativo do mais forte). Na actual invasão russa na Ucrânia, observa-se o princípio natural de afirmação dos mais fortes (Rússia rival da Nato) contra o pequeno! Por outro lado, constata-se, como reacção, o surgir da solidariedade (princípio de colaboração e apoio entre os mais pequenos), único meio de juntar forças para resistir aos grandes. Aqui ajudaria o espírito do discernimento e a coragem de integrar como forma de vida os princípios inclusivos da ordem cristã. O facto de termos o sentimento de podermos escolher, não nos deve desviar da realidade de só termos liberdade para escolher um senhor!

Não podemos querer tudo ao mesmo tempo, mas também não podemos ignorar, por um lado, as necessidades individuais nem, por outro, desconhecer a necessidade da existência de constelações, de instituições e hierarquias. Essa ordem é tão natural que até se pressupõe na esfera celeste (anjos, arcanjos, etc.), o que não justifica a sobreposição de uns sobre os outros.

Na impossibilidade de se refrear o conflicto actual (2),  o mais racional seria tentar uma maneira de lidar com o antagonismo de modo inteligente não desperdiçando as nossas energias com reacções emocionais que mais lembram tubos de escape ou, pior ainda, servem para afirmar a sustentabilidade da guerra, pelo facto de cada parte se sentir do lado certo! (Tenho naturalmente o direito individual de estar do lado certo desde que numa atitude humilde de serviço, de empatia com o todo e de complementaridade!) Não há que forçar a natureza, importa andar com ela e tentar melhorar nela o que se pode. Martin Luther King lembra:” Ou vivemos todos juntos como irmãos ou morremos todos juntos como idiotas!” Tudo leva a crer que continuaremos, por muito tempo, no estado de idiotia, porque nos preocupamos mais com o ter do que com o ser!

Um efeito colateral da guerra mediática será criar-se socialmente uma atmosfera propícia a que se acolha de braços abertos os refugiados ucranianos (o que será um grande gesto humano e um grande enriquecimento para o país de acolhimento); por outro lado, justificará as medidas que governos e a economia tomarão provocando um encarecimento quase insuportável da vida, o que não seria justificável sem a guerra! A sociedade europeia não será mais o que era!…

A guerra põe ao leu o que se passa nas guerrilhas! Enquanto a guerra gera pessoas sinistras, as guerrilhas possibilitam aos dominadores andarem de cara levantada, porque o fomento de guerrilhas é considerado permitido (veja-se o estado anterior na Ucrânia, a Primavera Árabe, a invasão no Iraque, Síria, Afeganistão, etc…

Porque não iniciar uma política no sentido de evitar a guerra e as guerrilhas? A questão é que as guerrilhas não violam direito internacional por serem consideradas lutas intestinas e o sangue correr sem que o mundo note. Encontramo-nos numa época em que as emoções determinam as decisões e não a razão; essa é uma das razões que nos leva também a não estarmos atentos ao que se passa em África!

Pelo que vemos, não existe um caminho seguro entre a paz e a guerra!…

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Outros preveem até 7 milhões. A Alemanha conta albergar, para já um milhão de ucranianos! Kassel, uma cidade alemã de 200.000 habitantes, está a preparar-se para acolher 3.500 pessoas; os refugiados são distribuídos segundo o número de habitantes das cidades. Em 2015/16 Kassel recebeu 4.000. Os refugiados da Ucrânia, não são abrigados pelo estatuto de outros refugiados, pelo que se a UE não alterar a regra, permanecerão por 90 dias.

(2)  Ditadores como na Bielorrússia, Turquia, Rússia, etc. não se deixam intimidar. O facto de a EU ter falado da possibilidade da Ucrânia entrar na EU torna-se numa verdadeira provocação a Putin. O surgir de novos candidatos para entrar na EU mais acirrará Putin! Quanto mais se olha e vê mais se sofre e, por isso, muitos retiram-se na zona privada de conforto. Ditadores como na Bielorrússia, Turquia, Rússia não se deixam intimidar. Na guerra, a verdade morre primeiro e depois a vontade de difamar aumenta. Os políticos de direito próprio não morrem; eles enviam os soldados para a frente. Já havia uma guerra civil e uma brutal “operação antiterrorista” dirigida contra o próprio povo em Donetsk e Lugansk. AS mais de 14.000 vítimas foram negligenciadas pelo público mundial e agora as forças do destino vingam-se.

 

AS CINCO TENTAÇÕES DO “CAMINHO SINODAL” ALEMÃO

Entre os Sinais dos Tempos e o Espírito do Tempo

O Presidente do Episcopado da Polónia, dirigiu uma carta ao Presidente da Conferência Episcopal Alemã, mostrando o seu desconforto aos seus irmãos no episcopado, pelo rumo que está a tomar o “caminho sinodal” alemão (1).

Nos subtítulos da carta estão resumidos os perigos a que está exposto o caminho sinodal e bispos alemães:  a “tentação de procurar a plenitude da pessoa (da Verdade) fora do Evangelho”, a “tentação de acreditar na infalibilidade das Ciências Sociais”, a “tentação de Viver com um complexo de inferioridade”, a “tentação do Pensamento Empresarial” e  a “ tentação de sucumbir à pressão” de uma sociedade  onde quem não a segue fica só.

“Permita-me, caro irmão no episcopado, partilhar a minha ansiedade sobre a validade das reivindicações feitas por alguns círculos da Igreja Católica na Alemanha, especialmente no contexto do “caminho sinodal. A Igreja Católica na Alemanha é importante no mapa da Europa, e estou ciente de que ou irradiará a sua fé ou a sua incredulidade para todo o continente. Por isso, olho com desconforto para as acções do “caminho sinodal” alemão até agora. Observando os seus frutos, pode-se ter a impressão de que o Evangelho nem sempre é a base para a reflexão”.

A Tentação de Acreditar na Infalibilidade das Ciências Sociaisexpressa-se especialmente em querer „modernizar” a esfera da identidade sexual. O Arcebispo Metropolitano de Poznan adverte para “o facto da mutabilidade inerente à própria natureza da ciência, que tem apenas um fragmento de todo o conhecimento possível”. Refere as teorias científicas do racismo (nos EUA) e a eugenia (no nazismo). “A descoberta de erros e a sua análise é a força motriz do progresso da ciência.  Na sequência da eugenia e do racismo “o Congresso dos EUA em 1924 aprovou a Lei de Origem Nacional, impondo quotas de migração restritivas a pessoas da Europa do Sul e Central e proibindo quase inteiramente a imigração asiática.  Por outro lado, com base no conhecimento da eugenia, cerca de 70.000 mulheres pertencentes a minorias étnicas foram esterilizadas à força nos Estados Unidos no século XX (2). “Além dos “erros científicos” existem também “falácias ideológicas “na psicologia ou nas ciências sociais, que hoje em dia são consideradas infalíveis”. “Estas estão subjacentes, por exemplo, à mudança de atitudes em relação à sexualidade que agora se observa “(3). “Como deverá então a Igreja responder ao estado actual do conhecimento científico para não repetir o erro que cometeu com Galileu? Este é um desafio intelectual sério que temos de enfrentar, com base no Apocalipse e nas sólidas conquistas da ciência”.

E avisa: “Observando os seus frutos, pode-se ter a impressão de que o Evangelho nem sempre é a base para a reflexão”. Também admoesta “não devemos ceder às pressões do mundo ou aos padrões da cultura dominante, uma vez que isto pode levar à corrupção moral e espiritual”.

Apela também ao seguimento da tradição: “Evitemos a repetição de slogans desgastados, e exigências padrão como a abolição do celibato, o sacerdócio das mulheres, a comunhão para os divorciados, e a bênção das uniões do mesmo sexo“, insistindo: “Apesar do clamor, ostracismo e impopularidade, a Igreja Católica – fiel à verdade do Evangelho e ao mesmo tempo motivada pelo amor a todo o ser humano – não pode permanecer em silêncio e tolerar esta falsa visão do homem, muito menos abençoá-la ou promovê-la”!

O Presidente do Episcopado acrescentou que a crise contemporânea da Igreja na Europa é, acima de tudo, uma crise de fé. “A crise de fé é uma das razões pelas quais a Igreja experimenta dificuldades quando se trata de proclamar uma doutrina teológica e moral clara”. “A autoridade do papa e dos bispos é mais necessária quando a Igreja está a atravessar um tempo desafiador e quando está sob pressão para se afastar dos ensinamentos de Jesus”.

A Tentação de Viver com um Complexo de Inferioridade” ameaça hoje muitos cristãos dado viverem sob uma enorme pressão da opinião pública. “Os discípulos de Cristo em geral, escreveu o Papa Francisco, estão hoje ameaçados por “uma espécie de complexo de inferioridade que os leva a relativizar ou esconder a sua identidade e convicções cristãs”. (…). Acabam por sufocar a alegria da missão com uma espécie de obsessão por serem como todos os outros e possuírem o que todos possuem” (4).

A fé “já não é um pressuposto evidente da vida social; a fé é frequentemente rejeitada, marginalizada e ridicularizada”. Daí a validade do aviso aos Romanos: “Não vos conformeis a esta época, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,2). Evitemos a repetição de slogans desgastados, e exigências padrão como a abolição do celibato, o sacerdócio das mulheres, a comunhão para os divorciados, e a bênção das uniões entre pessoas do mesmo sexo. A “actualização” da definição de casamento na Carta dos Direitos Fundamentais da UE não é motivo para adulterar o Evangelho”.

Adverte também para o risco do pensamento corporativo (Empresarial): “não há empregados suficientes, por isso vamos baixar os critérios de recrutamento”. São Paulo VI: “Não somos facilmente levados a crer que a abolição do celibato eclesiástico aumentaria consideravelmente o número de vocações sacerdotais: a experiência contemporânea das Igrejas e comunidades eclesiais que permitem aos seus ministros casar parece provar o contrário” (5). O que atrai as pessoas para a Igreja e para o sacerdócio não é outra oferta de uma vida fácil, mas o exemplo de uma vida totalmente consagrada a Deus”. Em relação ao sacerdócio da mulher cita João Paulo II: … “declaro que a Igreja não tem qualquer autoridade para conferir a ordenação sacerdotal às mulheres e que este juízo deve ser definitivamente realizado por todos os fiéis da Igreja” (6). O Papa Francisco também disse que este tema estava arrumado pelo seu antecessor, mas que “já o disse, mas repito-o: Nossa Senhora, Maria, era mais importante do que os Apóstolos, do que os bispos, diáconos e padres. As mulheres, na Igreja, são mais importantes do que os bispos e sacerdotes” (7). “… cada diferença é tratada como um sinal de discriminação. Contudo, isto não impediu que as mulheres desempenhassem na Igreja papéis que são tão importantes, e por vezes talvez mais importantes, do que os dos homens. O Catecismo distingue claramente entre as inclinações homossexuais e os actos homossexuais. Ensina respeito por cada ser humano independentemente da sua inclinação, mas condena inequivocamente os actos homossexuais como actos contra a natureza” (8 )cf. Rom 1,24-27; 1 Cor 6,9-10. (Congregação para a Doutrina da Fé, Responum a um dúbio sobre a bênção das uniões de pessoas do mesmo sexo).

O Arcebispo, presidente da Conferência polaca sublinha ainda: A crise da Igreja na Europa de hoje é, antes de mais, uma crise de fé. “Mas não há outro Evangelho: há apenas algumas pessoas que semeiam confusão entre vós e que gostariam de distorcer o Evangelho de Cristo” (Gl 1,7). Paulo VI: Nunca os profetas de Israel ou os apóstolos da Igreja concordaram em diminuir o ideal, nunca suavizaram o conceito de perfeição, nunca tentaram reduzir a distância entre o ideal e a natureza. Nunca estreitaram o conceito de pecado – pelo contrário” (9). Cada período da história pode achar este ou aquele ponto de fé mais fácil ou mais difícil de aceitar: daí a necessidade de vigilância para assegurar que o depósito da fé seja transmitido na sua totalidade (cf. 1 Tim 6:20) e que todos os aspectos da profissão de fé sejam devidamente enfatizados”.

A Conferência Episcopal Alemã decidiu não responder à carta do bispo Gadecki. O seu gabinete de imprensa alegou que não reagem publicamente a cartas abertas, mas que apesar disso procuram contacto pessoal com o arcebispo Gadecki., mesmo que este tenha escolhido a via de comunicação social.

O Bispo Ipolt de Görlitz reagiu positivamente à carta, ao dizer que a carta da Igreja na Polónia é uma voz da Igreja universal. O vigário geral da diocese de Essen critica a carta do Bispo Gadecki pelo seu “anti-modernismo raso e muito clerical” dizendo que “soa como se fosse de um passado católico distante, e é precisamente isto que choca e mostra até que ponto em algumas partes da Igreja universal o legado de João Paulo II continua a determinar o clima de pensamento e acção – e recusa uma percepção honesta da realidade”.

As posições do Caminho Sinodal alemão e as do episcopado da Polónia resumem os problemas e as discrepâncias com que se depara a Igreja hoje! Não será fácil uma resposta comum ao problema, dado a Igreja universal ser composta por muitas culturas e mentalidades, encontrando-se, todas elas, a caminho, mas socialmente com diferentes velocidades e possíveis desvios.

Das diferentes posições em discussão (cf. “Caminho Sinodal na Alemanha:  https://antonio-justo.eu/?p=7078 ) exige-se mais espírito de discernimento para podermos distinguir os “Sinais dos Tempos” e o “Espírito do Tempo”!

A caminhada ainda oferece oportunidade de discussão e de união até ao seu remate em outubro de 2023 em Roma.  Em termos de igreja global, só um seguimento de Jesus Cristo e uma orientação articulada no Papa poderão proporcionar um caminhar sereno sem precipitações, mas também sem emperramentos.

Em termos de globalismo, a carta da Polónia poderia servir de alerta para se repensar a nossa caminhada num mundo que corre o perigo de seguir uma mundivisão mais adequada ao espírito anglo-saxónico (demasiadamente orientado por um utilitarismo e racionalismo individualista e consumista) e como tal demasiadamente unilateral. O mundo anglo-saxónico que actualmente quer dirigir o mundo e os destinos da humanidade e que incorpora demasiadamente a masculinidade, precisa de voltar a descobrir a sua alma feminina tão bem expressa no idealismo romântico alemão. A carta pouco conseguirá na Alemanha atendendo a uma certa característica alemã que se expressa já no protestantismo do cismo do século XVI e que desde então se tem distanciado do espírito romano (católico)!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) O Caminho Sinodal Alemão: https://antonio-justo.eu/?p=7078

(2) (cf. G. Consolmagno, “Covid, fede e fallibilità della scienza”, La Civiltà Cattolica 4118, pp. 105-119)”

(3) (J. A. Reisman, E. W. Eichel, Kinsey, Sexo e Fraude: The Indoctrination of a People, Huntington House Publication, Lafayette 1990; J. Colapinto, As Nature Made Him. The Boy Who Was Raised as a Girl, Harper Perennial, New York-London-Toronto-Sydney 2006).

(4) (Evangelii gaudium, 79).

(5) Sacerdotalis celibatus, 49.

(6) João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis, 4

(7) Francisco, Conferência de Imprensa durante o voo de regresso do Rio de Janeiro para Roma, 28.07.2013.

(8 ) cf. Rom 1,24-27; 1 Cor 6,9-10. (Congregação para a Doutrina da Fé, Responum a um dúbio sobre a bênção das uniões de pessoas do mesmo sexo.

(9) Paulo VI, in: J. Guitton, Diálogos com Paulo VI, Poznań 1969, p. 296.

TENTATIVAS DE DEFINIR O SER DO HOMEM NA RELAÇÃO HOMEM-MUNDO

Coloco aqui alguns estímulos a um apetite que pode proporcionar alimento à reflexão:

Gregório Magno: «o homem tem semelhanças com todas as criaturas: o ser com as pedras, o viver com as árvores, o sentir com os animais, o entender com os anjos».

Hildegarda de Bingen: “O homem, olha para o homem! Porque o homem tem em si mesmo céus e terra e nele todas as coisas estão escondidas. A sua cabeça corresponde aos céus, os olhos às estrelas, o ouvido ao ar, os braços e o tacto aos lados do mundo, o coração à terra, o ventre às criaturas” (Hildegarda de Bingen, Liber divinorum operum, Visio I).

António Damásio: «(…) não só a mente tem de passar de um cogitum não físico para o domínio do tecido biológico, como deve também ser relacionada com todo o organismo que possui cérebro e corpo integrados e que se encontra plenamente interactivo com um meio ambiente físico e social», em “O erro de Descartes. Emoção, razão e cérebro humano”.

De facto, somos seres dotados de asas, mas com um corpo tão pesado que nos condiciona a movermo-nos em terra. Feitos de céu e terra, tendemos, pela força da transcendência,  a superar a matéria de que somos confecionados e a viver com ela para não perdermos um olhar que nos proporciona maior horizonte!

Reduzir o ser do Homem à perspectiva materialista corresponderia a cortar as asas ao humano e à sociedade; isso viria a justificar a missão entrópica de alguns cangalheiros da nossa civilização de “reminiscências” cristãs!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

DEBATE SOBRE O GÉNERO: CIÊNCIA OU IDEOLOGIA?

Da Ideologia ao Serviço do Colonialismo mental global (de marca ocidental)

António Justo

Encontramo-nos já numa época intermédia, de passagem do colonialismo geográfico para o colonialismo mental! Esta é a fase de competição pelo domínio global – fase de conglomerações geoestratégicas e globalistas – em que se torna notória a luta pelo controlo e pela pilotagem do pensamento porque quem tiver o controlo do pensamento passa a controlar o humano e a humanidade. Nesse sentido, a batalha pela desconstrução da cultura e da pessoa soberana torna-se mais dura na sociedade ocidental, dado ser esta a que possui mais mecanismos de defesa contra um globalismo tendente a criar uma troica global. A estratégia que se encontra por trás do discurso sobre o género (Gender) implementa ideologias, em voga, ao serviço do colonialismo mental!

Depois da debanda do povo das aldeias (aldeão) para as cidades observa-se agora uma tendência de retirada do cidadão (citadino) para um mundo ideário que o liberte dos apertos de uma vida demasiadamente emparelhada sob a limitada cúpula da cidade. Aos domínios da nobreza e do clero sobre a terra (senhorios) seguiram-se as burguesias de caracter citadino que, a partir de um pouco de terra, assentaram o seu domínio no comércio e no dinheiro. Esta nova “burguesia”, já não do burgo, mas da polis, produz agora novos senhorios: os “latifundiários do dinheiro e das ideias (ideologias)! Daí o seu esforço por assentar a sua base já não na natureza, mas no domínio do abstrato, que torne os habitantes do “monte” em meros subordinados ou assalariados!

Nesse sentido, encontramo-nos numa fase intermédia, que, muito embora ocupada na desconstrução da cultura do mundo ocidental, traz a marca ocidental na luta globalista em via; traiçoeira, porque anti feminina mas feminista, desliga-se da paisagem religioso-cultural do povo ocidental porque esta, mais ligada à terra (mais feminina), contradiz os interesses de uma nova cultura abstrata que se pretende implantar (no sentido de implementar paulatinamente um “governo universal” sob o olhar masculino!) e que assume o cunho ideológico socialista-capitalista, de que o sistema chinês poderia ser uma amostra, no sentido  de uma sublimação do gene masculino e masculinizante!

Se antes as armas usadas eram espadas e canhões, hoje em democracia e globalismo as armas passam a ser a palavra e as ideologias!  O poder político serve-se dos currículos escolares e de currículos universitários para implementar agendas ideológicas com o fim de doutrinar gerações.

O modelo ocidental ao atingir o seu apogeu, em vez de repensar a sua matriz masculina em termos adequados aos princípios e energias moventes da masculinidade e da feminilidade humana e social, prossegue o seu caminho em termos masculinos de luta (baseada em papéis e no divide para imperar!) como tem feito até aqui e se torna visível na disputa dos falcões americanos e russos em terreno ucraniano, cada vez mais sacrificado à luta masculina imperialista das duas partes (também aqui, embora se trate de uma luta geoestratégica na disputa de poderes em termos globais, no fundo estão em luta ideologias e interesses abstraídos das paisagens populares e como tal cada vez mais distantes da feminilidade) .

É de constatar que, na base da nossa sociedade, a matriz (modelo estruturante), que determina os nossos comportamentos e modos de vida, é masculina e expressa-se em papéis discriminadores devidos à natureza e às construções sociais e culturais transmitidas no parâmetro dos rebanhos dos tempos ancestrais (Patriarcalismo). Nesta base torna-se mais que óbvia a reacção da mulher nos diferentes âmbitos do pensamento e da sociedade. O sentimento de uma feminilidade abafada provoca um justo desejo de emancipação que começa por limitar-se aos papeis da mulher em sociedade, mas que terá como objectivo final não tanto os papéis de homem e mulher mas o que se encontra por trás desses fenómenos. Ao orientarmo-nos apenas pelos papéis sociais arrumadores da feminilidade e da masculinidade não fazemos mais que protelar o problema da emancipação ou libertação, sem entendermos os verdadeiros moventes que se expressam a nível da matriz aparentemente aceite (1).

Portanto, a preocupação de análise e de empenho não deveria partir daquilo que alguns advogam como “condição feminina” mas da análise básica,  da matriz masculina que determina de forma sistémica a vida individual e social do homem e da mulher (para lá dos papéis assumidos que também eles contribuem para discriminação da feminilidade e que seria um erro fixar-se só neles) e, pelo facto de se basear em características de masculinidade, explora a mulher (ou melhor, a feminilidade (energia/princípio)  que é reprimida, consciente ou inconscientemente em todas as sociedades e cuja urgência de reparação se encontra manifesta  na ordem do dia da sociedade ocidental),  como é de observar em muitos segmentos da vida, a feminilidade não é contemplada e por isso a mulher é ferida não só nos princípios de dignidade e de igualdade de direitos mas sobretudo na sua maneira de ter sido enquadrada dentro da matriz masculina (de condição masculina ou masculinizante). A questão a pôr-se é a do homem todo, na sua feminilidade e masculinidade comuns e não apenas a do homem ou da mulher nas suas interpelações funcionais.

O que deveria estar no foco da discussão, a discutir-se básica e produtivamente,  seriam as características da feminilidade e da masculinidade num projecto de uma matriz mais adequada à natureza e à cultura  em processo e não limitada apenas às funções e papéis masculinizantes (redução funcionalista de caracter materialista); uma nova matriz criaria novas funções e papéis sociais flexíveis que tornariam incompatíveis os papéis da sociedade patriarcalista com os papéis do novo modelo de sociedade! As funções socialmente a desempenhar deixariam de estigmatizar (petrificar) quer a masculinidade quer a feminilidade nem no “género” nem no sexo!

Uma devida análise e empenho teria como consequência grande incidência no ser e na maneira de estar do humano, quer a nível individual quer social onde as estruturas culturais e económicas teriam de ser aferidas à nova matriz baseada na complementaridade dos seres e dos órgãos sociais com uma certa equidade, o que implicaria  uma nova valorização e integração da feminilidade e da masculinidade nesse novo modelo (no limiar da dinâmica da „igualdade e diferença” seria de colocar o modelo-matriz baseado na intersecção dos princípios/energias/características da feminilidade e da masculinidade); estes revolucionariam toda a maneira do estar individual e social bem como suas estruturas e supraestruturas, passando a internalizar-se numa maneira de ser. Esta nova matriz tornar-se-ia na mãe de todo o relacionamento e comportamento tornando supérflua uma discussão apenas em termos ou em torno de patriarcado ou de matriarcado (dado estes serem ultrapassados por manterem a sua dinâmica e relacionamento apenas ao nível de funções e papéis, ou seja, ao nível do ter e não do ser que se encontra  ao serviço de uma regulação social no âmbito de um funcionamento maquinal e de peças e, como tal, distante de um ser orgânico natural de comunidade e pessoas).

A luta ideológica e do género adoptou a metodologia masculina (processada em termos de luta e de olhar masculino e não de complementaridades) apostando numa definição desintegrativa de género/sexo e consequente linguagem em torno deles (2); segue o princípio masculinizante do poder: divide para imperar.

Os efeitos positivos da luta ideológica, na nossa sociedade de matriz masculina, manifestam-se numa maior igualdade socialmente a atingir, mas não legitima os meios que usa para a atingir dado estes serem a aplicação dos princípios da masculinidade (e correspondentes métodos agressivos ou de subjugação) apenas em termos de funcionalidade sem propriamente tomar a sério a feminilidade (que implicaria uma outra estratégia de afirmação já vital orgânica e não só funcional; isto é, uma estratégia inclusiva que partisse da feminilidade como base estrutural e estruturante e não assumisse apenas um caracter funcionalista como quer o mecanicismo social empenhado em reduzir a pessoa (homem ou mulher) à mera qualidade de função e de objecto.

Isto independentemente das salutares melhorias adquiridas através da luta em via; importa não reduzir o horizonte porque se trataria então de ganhar apenas batalhas e não a “guerra”.

Resumindo, sou do parecer que nos encontramos a combater no campo errado porque o que seria de questionar era a matriz masculina que regula e fundamenta as sociedades atuais com a sua correspondente metodologia masculina (perpetuadora da guerra) e que é masculinamente comum à metodologia de afirmação da ideologia feminista, socialista e capitalista. Uma luta em defesa da feminilidade, para conseguir uma mais valia da feminilidade, terá de ter a cautela de não afirmar  uma feminilidade que se esgota  em termos de afirmação ao serviço da masculinidade da matriz vigente  e, deste modo, subjugar-se concretamente ao masculinismo de que se defende, mas que na realidade aceita como sendo a normalidade. Uma análise menos ideológica e mais abrangente teria de começar por analisar as características ou princípios (energias) da masculinidade e da feminilidade (básicas a nível de indivíduo, cultura e natureza) e identificá-las na sociedade e nos seus mecanismos para possibilitarem uma matriz a criar em que esses princípios seriam ajustados ou aferidos numa base de complementaridade já não selectiva mas inclusiva, criando uma cultura de afirmação já não pela luta mas pela inclusão.

A própria matriz ocidental possui em si as potencialidades para o fomento da nova matriz social , dado, o modelo actual vigente, ter-se tornado infiel ao próprio protótipo que assentava mais na feminilidade que na masculinidade, mas que ao assumir, institucionalmente, a  estratégia de afirmação de Constantino (criação da “cristandade” à custa do cristianismo; o Constantinismo que parte do édito elaborado em 313, levou a instituição igreja a viver entrelaçada com a política e a apegar-se ao poder do Estado – vista a questão em termos meramente históricos: oh felix culpa!)  e por esse facto a instituição passou a expressar-se mais em termos de poder e como tal acentuou as características da masculinidade, deixando a sua característica fundamental que é a feminilidade nos conventos e na frequência do povo nas igrejas!

Em vez de tentarmos pegar o touro pelos cornos temos andado a agarrá-lo pelo rabo!

A libertação certa, para se tornar tal, deve ousar desafiar a nossa matriz cultural masculina, nos seus fundamentos e não só na sua fenomenologia,  no sentido de a poder desconstruir de maneira ordenada; a fase feminista de caracter machista, talvez justificada como fase transitória,  terá de se superar a si mesma e alijar a carcaça que usa  para possibilitar a passagem  a uma fase já não feminista mas feminina; passar à estruturação de uma matriz feminina que permita o início de uma era de paz e a coexistência harmónica da feminilidade e da masculinidade.

A rotura com as estruturas masculinas do poder vigente terá que começar já por questionar as bases (forças vitais, características, critérios) dessas estruturas que constituem o poder masculino determinante das sociedades mundiais; só então será possível desmontar os andaimes baseados na masculinidade (abusada no patriarcalismo) e a partir de uma desconstrução de estruturas, que foram elaboradas mais ao serviço do poder do que da população, se chegue  à reconstrução,   já não de uma estrutura de poder feminista (que continuaria a cadeia masculinizante de poder baseado em luta, selecção e opressão), mas se inicie a construção de uma cultura feminina, fecundante, que se torne a matriz criadora (integradora das forças vitais da feminilidade e da masculinidade) e geradora de novos comportamentos e relações sociais (não só a nível da maneira de estar como também da maneira de ser).

Cristo é o protótipo do homem e da mulher e foi pregado na cruz, mas ao sê-lo tornou-se no sinal de que o homem e a mulher não devem pregar ninguém na cruz porque ao fazê-lo pode ser que estejamos a pregar o protótipo do humano e da humanidade, o abandonado (cada um vale tudo por si)! E mesmo quando se fala de pessoas extremistas é legítima a pergunta de Jesus: “Essa questão é tua, ou outros te falaram a meu respeito?” (João 18:34).

O meu texto pretende propor elementos de reflexão e análise e não uma visão “masculina” a preto e branco do mundo, como faz o mundo, esquecendo que o ódio a quem é diferente ou a quem pensa diferente enegrece a alma e deste modo impede a construção de uma matriz fundada, em termos de igualdade e complementaridade, dos princípios da feminidade e da masculinidade!

Este texto será continuado em “O OLHAR MASCULINO

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Uma observação ou análise reduzida ao nível exterior dos fenómenos (aparências, porque se limita às estruturas da experiência que se contenta em ficar-se com explicações de caracter e comportamentos ao nível da compreensão (de sentidos ou de consciência) sem entrar nos seus pressupostos (essência), de que a sociologia é um exemplo quando prescinde das ciências naturais).

(2) Género diz respeito às características de masculinidade e de feminilidade: Sexo masculino, feminino e a variação inter-sexo ) e também expressões sociais e papeis sexuais. Homem trans ou transsexual (nascida mulher, agora homem) pode engravidar precisando de medicação hormonal. Para engravidar de menino, dado o menino ter cromossomas XY, é preciso o sexo do pai que possui gametas do tipo X e Y, enquanto que a mulher possui apenas do tipo X. A testosterona provocara o crescimento da barba e o aumento da libido e do clitóris; se a pessoa trans tiver útero, ela também pode menstruar.  Mulher trans ou transsexual (nascida homem, agora mulher) mediante a amputação e construção da vagina.

 

Links de Textos relativos ao assunto:

A Manipulação da Cultura acompanha a Manipulação da Natureza: https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/casamento-civil-de-homossexuais-premio-1435784

Discurso Masculino contra o Feminino (2014): https://triplov.com/letras/Antonio-Justo/2010/discurso_feminino.htm

A Liberdade é Feminina por isso não se dá no Deserto

Do uso da sexualidade como forma de afirmar poderes e de criar uma nova ordem mundial: https://beiranews.pt/2019/07/12/ponto-de-vista-por-antonio-justo-123/

Importância da Experiência interior como Forma de questionar Ideologias-Doutrinas-Instituições: https://antonio-justo.eu/?p=4935

Matriz socialista marxista na base da disciplina de educação para a cidadania: https://beiranews.pt/2020/10/13/ponto-de-vista-por-antonio-justo-10/

Libertação das leis biológicas: https://copaaec.blogs.sapo.pt/2021/08/

Das Mulheres na Sociedade e na Igreja e dos usos e costumes que as oprimem: https://etcetaljornal.pt/j/2019/09/das-mulheres-na-sociedade-e-na-igreja-e-dos-usos-e-costumes-que-as-oprimem/

Matriz política masculina não pode ser norma para a instituição eclesial: https://bomdia.be/matriz-politica-masculina-nao-pode-ser-norma-para-a-instituicao-eclesial/

Em Carlos podemos ver a masculinidade portuguesa infiel:

NA ESTEIRA DE CAMÕES E DO ROMANTISMO

Correcção duma Sociedade máscula de Via única: http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=29743&catogory=Opini%E3o

PODER RENOVADOR DA MULHER: https://triplov.com/letras/Antonio-Justo/2009/mulher.htm

Islão e a sociedade: masculinidade contra feminidade: https://bomdia.eu/islao-e-a-sociedade-masculinidade-contra-feminidade/

Urge uma Revolução cultural feminina: https://antonio-justo.eu/?p=6736

Humanismo e ética para a construção de uma Cultura de Paz global: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/cultura/57874/humanismo-e-etica-para-a-construcao-de-uma-cultura-de-paz-global

Punhos cerrados, 2015: https://www.yorku.ca/laps/dlll/wp-content/uploads/sites/212/2021/06/06mar15_steph.pdf