(Se o voto é arma a política é tiroteio)
O voto é um verso, não um tiro na mão,
a democracia, se vira batalha,
perde o critério e também a razão.
Por que semear ódio, escória e sanha,
se o povo, sem armas, só leva o dano?
Usado na guerra que outros ganham,
enquanto ele sangra no chão do engano.
Vendem-lhe a banha da cobra na praça,
gritam emoção, mas escondem a trama:
o povo que crê, na sombra se abraça,
enquanto os espertos contam a grama.
Multiplicam-se os soldados da briga,
cegos a lutar por bandeira alheia.
Mas a paz seria a única fuga,
se o povo virasse a página
e aprendesse a poesia.
Os partidos, cegos no jogo que tecem,
repetem promessas sem rumo nem critério.
O povo, mudo, já nem se lamenta,
perdido na névoa desse fuso etéreo.
Mas se a política é só mudança
dos mesmos erros, qual será a saída?
Nem arma, nem azar, o voto é soneto,
é curva no caminho da vida.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo