DANÇA NA FEIRA / TANZ AUF DEM MARKT

O dia canta um som de feira e árvores,

Der Tag klingt nach Markt und Bäumen,

e no rumor, um apelo, um regresso a ti.

und im Raunen, ein Ruf, zurück zu dir.

O silêncio é um copo tão fundo e liso

Die Stille ist ein Glas, so tief, so eben,

que bebo o eco da capela dentro de mim.

darin trinke ich das Echo der Kapelle in mir.

 

 

E sem pensar, levado por esse canto,

Unbedacht, geführt von diesem Gesang,

abraço a sombra que dança ao meu lado.

umarm’ ich den Schatten, der an meiner Seite tanzt.

Gesto que foi colheita, não quebranto,

Eine Geste der Ernte, kein Zwang,

um passo de um baile já há muito ensaiado.

ein Schritt aus einem längst geprobten Tanz.

 

 

O sol delira. E nos óculos escuros

Die Sonne taumelt. In den dunklen Gläsern

da donzela, um sorriso doce e leve, acende.

des Mädchens zündet ein süßes, leichtes Lächeln.

E o brilho das suas formas, puras,

Und das Leuchten ihrer klaren Formen

numa onda de luz, a mim chega e entende.

erreicht mich in einer Welle von Licht, versteht mich.

 

 

A gravidade dos óculos da donzela

Die Schwere der Brille des Mädchens

foge de um sorriso meu, largo e solar,

entweicht meinem weiten, sonnigen Lachen,

que lhe fala de fibras fortes, e nela

das von starken Fasern spricht und in ihr

faz brotar um desejo de se deixar levar.

erblüht das Verlangen, sich tragen zu lassen.

 

 

E então a troca, o passo súbito, o absurdo,

Dann der Tausch, der plötzliche Schritt, das Absurde,

o riso que é um lance, um jogo igualitário.

das Lachen – ein Wurf, ein Spiel unter Gleichen.

Fica um brilho no ar, um ritmo surdo,

Ein Glanz bleibt in der Luft, ein leiser Rhythmus,

o compasso partido de um só itinerário.

der gebrochene Takt eines einzigen Weges.

 

 

Dois corações, agora sócios no mesmo verso,

Zwei Herzen nun Partner im selben Vers,

numa dança que o Eros tece, fina e sem par,

in einem Tanz, den Eros spinnt – fein, unvergleichlich,

onde o que é dela em mim encontra o inverso,

wo ihres in mir sein Gegenteil findet,

e o que é meu nela se faz dançar.

und meines in ihr sich zum Tanz entfaltet.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Social:
Pin Share

Social:

Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *