Categoria: Educação
PERIGO DA HUBRIS PARA QUEM TEM PEQUENOS E GRANDES PODERES
Li algures esta história que me parece uma parábola sobre a doença do nosso tempo em que as nossas elites políticas até já vestem uniformes militares:
HUBRIS
Conta-se que na Roma antiga as vitórias militares eram aclamadas pelo povo com tal intensidade que os generais se sentiam perto dos deuses. Para evitar a soberba incurável, os generais eram seguidos por um escravo que transportava um pendão onde se encontrava escrito [Olha para trás. Lembra-te que és mortal. Lembra-te que morrerás]. “Respice post te. Hominem te esse memento. Memento mori!”
A HUBRIS é uma doença antiga, descoberta na velha Grécia, que atingia, dizia-se, irremediavelmente os detentores do poder. Espalhou-se pelos séculos e foi-se agravando porque os generais passaram a dispensar quem os avisa dos riscos da maleita, preferindo os escravos que, à sua volta, os convencem da imortalidade…
Quando chegará o dia em que não haverá vencedores nem vencidos. Quando chegará a hora em que as populações não se deixem atrair por camuflados?
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
DECISÕES NA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE BIODIVERSIDADE – COP15
A Conferência em Montreal de 7 a 19 de dezembro, sob a presidência chinesa, teve a participação de 200 países que chegaram a acordo na sua preocupação de travar a destruição dos ecossistemas.
Os países chegaram a compromissos, que embora juridicamente não vinculativos, apontam para atuações sérias. Assim regiões ricas como a Europa onde ao longo dos séculos foram devastados os seus grandes biótopos com a finalidade de se aumentar o nível de vida económico das populações, comprometeram-se até 2030 a apoiar anualmente países pobres, mas ricos em biodiversidade, com mais de 30 biliões de euros por ano para que criem zonas protegidas.
Além disso os países participantes comprometeram-se a ampliar as áreas protegidas do globo, que atualmente se cifram em 17% da terra e 8% dos mares, para mais de 30% do globo. Por isto, tudo leva a crer que desta vez, os países presentes na Conferência, com medidas concretas, levam mais a sério a defesa da natureza.
É muito de louvar, mas não se vê coerência no sentido de travarem também a destruição dos “ecossistemas” culturais. Enquanto nos dedicamos e bem à defesa da vida da biodiversidade, observamos um fomento da destruição da vida humana e dos seus tradicionais biossistemas culturais para mais facilmente serem criados organismos, de carácter mais anónimo, a nível supranacional e global. Dá testemunho de hipocrisia e até de má intenção uma política que pretende preservar a vida cultural dos índios no Amazonas enquanto, ao mesmo tempo, coloca à disposição e menospreza hábitos e tradições culturais na Europa!
É preciso acabar com a destruição da biodiversidade dos ecossistemas naturais e também acabar com a desconstrução das culturas e a destruição de subculturas principalmente no âmbito de hábitos e valores; para isso seria de ter-se mais cautela na aplicação de agendas que tendem a uma educação para uma monoculturalidade, em via de aplicação na cultura ocidental. Está a ser usado um peso e duas medidas.
Unum facere et aliud non omittere!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
COMENTÁRIO MAIS QUE OPORTUNO
CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL NA CONTINGÊNCIA DE SER DESVIADA
Hoje a grande tentação de instâncias do poder é instigar o cidadão ao apagamento da voz interior (saber interior e intuitivo) de cada pessoa (voz da consciência) para a substituir só por uma consciência colectiva edificada em função do político e socialmente oportuno (visão meramente materialista, utilitarista e funcionalista da pessoa na máquina estatal).
Em tempos passados as instituições do poder procuraram manipular a consciência individual; hoje encontramo-nos numa fase muito mais grave que se resume na tentativa de a destruir! Destruindo-se a consciência individual interfere-se de maneira essencial na personalidade humana e na sociedade; passa o Estado e seus representantes a serem os senhores soberanos sobre tudo o que é humano e sobre a dignidade humana individual…
Os vários órgãos de poder, em cooperação com operadores globais com modernas tecnologias de acção global, têm possibilidades imensuráveis de manter o povo sob constante influência e controle. Por outro lado, as pessoas são constantemente confrontadas com novos factos sem poderem ordená-los nem conseguirem digerir o produto consumido. Sem o momento de reflexão e análise, desaparece a consciência individual e com ela a responsabilidade individual e social. Assim se desconstrói a estrutura orgânica pessoa-natureza-sociedade-instituição! Sem esta inter-relação vital decompõe-se toda e qualquer cultura. O problema de uma relação normal entre o indivíduo e a instituição continua assim por resolver.
A palavra consciência vem do termo latino “Conscientia” que poderíamos traduzir por: conhecer com, pensar com…
A capacidade do ser humano de perceber o seu próprio ego (autorreconhecimento como ser com individualidade) distingue-o doutros seres sem necessariamente ter de o opor a eles.
Assim, a consciência é o lugar (centro do eu) onde se encontra o sentido e significado da nossa vida individual e social. A consciência expressa-se individual e colectivamente em diferentes fases e épocas numa contínua necessidade de se definir e exprimir.
A consciência é o centro da ipseidade (eu). Ela é a verdadeira soberana! “Tudo o que acontece contra a consciência, é pecado”, escreveu São Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, na Suma Teológica.
As várias ciências usam o termo consciência de maneira diferente: neurociência, filosofia, teologia, psicologia, sociologia, etc. A pretensão de reduzir a consciência ao saber dela conduziria à sua desautorização!
Para o neurocientista António R. Damásio: “A consciência é um estado de espírito em que a pessoa tem consciência da sua própria existência e da existência de um ambiente. “Segundo esta definição a consciência não é desvirtuada.
Consciência vai do estádio vergonha, culpa, medo, etc. até ao estádio de amor, paz e experiência mística.
Filósofos, inclinados para ver a matéria como medida de todas as coisas, continuam a observar a natureza na perspectiva da velha física (mecanicista-materialista) não achando lógico que o pensamento (a alma) seja fundamentalmente diferente da matéria.
As experiências místicas e religiosas (e a consciência dos povos) apontam para o espiritual como base da matéria e deste modo consideram o ser humano como um ser espiritual em que o espírito é o coração da matéria. A nova física – a física quântica – pode ser um bom caminho para a reconciliação das diferentes ciências que deveriam agir, não em guerra inútil, mas sim no sentido de complementaridades. No meu entender ela desenvolve-se no âmbito da fórmula trinitária onde se expressa ao mesmo tempo o uno e o trino, visão para que apontava já Teilhard de Chardin quando se referia ao “ponto ómega” como o ponto final e alvo na consideração teológica ou filosófica da evolução, como expressa também Frank Tipler. Este ponto final recebe o nome de Ómega baseado na passagem bíblica “Eu sou o Alfa e o Ómega, o primeiro e o último, o início e o fim”.
Independentemente de crença ou não crença, é de observar com apreensão o caminho que as elites políticas estão a levar não se preocupando com a procura da verdade nem do bem integral de todo o povo, mas sim em controlá-lo no sentido dos interesses de alguns ou de ideologias parciais. Em vez de se preocuparem por uma visão da realidade e da sociedade em termos de complementaridades solidárias, apostam numa visão unilateral materialista e funcionalista ao serviço de uma pequena parte da sociedade.
Destruída a consciência pessoal passa a não haver dignidade humana, mas tribal e, consequentemente, a própria democracia passa a encontrar-se em perigo de ser abalada nas suas raízes! Necessita-se compatibilizar matéria e espírito, secularidade e religiosidade.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
Pegadas do Tempo
NB:
Foi em 1956 que o filósofo judeu alemão, Günther Anders, escreveu a seguinte reflexão. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência:
“Para sufocar antecipadamente qualquer revolta, não deve ser feito de forma violenta. Métodos arcaicos como os de Hitler estão claramente ultrapassados. Basta criar um condicionamento coletivo tão poderoso que a própria ideia de revolta já nem virá à mente dos homens. O ideal seria formatar os indivíduos desde o nascimento limitando suas habilidades biológicas inatas…
Em seguida, o acondicionamento continuará reduzindo drasticamente o nível e a qualidade da educação, reduzindo-a para uma forma de inserção profissional. Um indivíduo inculto tem apenas um horizonte de pensamento limitado e quanto mais seu pensamento está limitado a preocupações materiais, medíocres, menos ele pode se revoltar. É necessário que o acesso ao conhecimento se torne cada vez mais difícil e elitista… que o fosso se cave entre o povo e a ciência, que a informação dirigida ao público em geral seja anestesiada de conteúdo subversivo. Especialmente sem filosofia. Mais uma vez, há que usar persuasão e não violência direta: transmitir-se-á maciçamente, através da televisão, entretenimento imbecil, bajulando sempre o emocional, o instintivo.
Vamos ocupar as mentes com o que é fútil e lúdico. É bom com conversa fiada e música incessante, evitar que a mente se interrogue, pense, reflita.
Vamos colocar a sexualidade na primeira fila dos interesses humanos. Como anestesia social, não há nada melhor. Geralmente, vamos banir a seriedade da existência, virar escárnio tudo o que tem um valor elevado, manter uma constante apologia à leveza; de modo que a euforia da publicidade, do consumo se tornem o padrão da felicidade humana e o modelo da liberdade.
Assim, o condicionamento produzirá tal integração, que o único medo (que será necessário manter) será o de ser excluído do sistema e, portanto, de não poder mais acessar as condições materiais necessárias para a felicidade. O homem em massa, assim produzido, deve ser tratado como o que é: um produto, um bezerro, e deve ser vigiado como deve ser um rebanho. Tudo o que permite adormecer sua lucidez, sua mente crítica é socialmente boa, o que arriscaria despertá-la deve ser combatido, ridicularizado, sufocado…
Qualquer doutrina que ponha em causa o sistema deve ser designada como subversiva e terrorista e, em seguida, aqueles que a apoiam devem ser tratados como tal”