NO ADEUS À DEMOCRACIA PREPARADO PELO NEOLIBERALISMO

Estados Unidos e China aproximam-se sistemicamente à custa do humanismo

Até à queda da União soviética a Democracia ocidental era tomada um pouco a sério pela classe política e económica devido à concorrência que havia entre o sistema ocidental (liberdade e democracia) e o sistema comunista (dictatorial). Isto levou a Alemanha a criar o sistema da Economia Social de Mercado que pretendia um estado de bem-estar geral; foi iniciado na Alemanha em 1948 e possibilitou prosperidade europeia em toda a população que nele tinha também um elevado nível de segurança e justiça social.

Com a queda da União Soviética e com a união da DDR à BRD (e a EU) em vez de se tentar seguir no sentido da boa vontade inicial da Rússia (Construção de uma Casa Comum) a euforia da victória do sistema capitalista sobre o comunista perturbou as mentes dos dirigentes ocidentais levando-os a desregular a Economia Social do Mercado e a afirmar-se como polo hegemónico. A partir daí o capitalismo neoliberal tem-se tornado num polvo com tentáculos em todo o mundo (só lhe interessando o lucro e produzir dinheiro, ao não ter em conta o sentido da vida e da sociedade perdeu, deste modo, o próprio sentido e a responsabilidade holística), tornou-se um monstro que se alimenta a ele mesmo e que precisa de criar conflitos para mais engordar; esgota-se no método da competição sem respeito pela liberdade, justiça ou segurança social e provoca antagonismos regionais para ter acesso e domínio das matérias primas em várias regiões do globo (tenha-se presente o que está na base do que acontece em África, Ásia e na Ucrânia).

Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, surgiu o globalismo liberalista com consequências danosas para os sistemas sociais (saúde, etc.) mesmo para a Alemanha onde a Economia Social do Mercado tinha surgido. Na reunificação das alemanhas, a Alemanha ocidental submeteu a Alemanha Oriental ao capitalismo liberal e deste modo atraiçoou a ALEMANHA e iniciou o enterro da social-democracia que resguardava uma boa relação entre produção e distribuição social.  Entretanto a democracia e os governantes foram reaproveitadas em serviço do capitalismo liberal (veja-se: Nações Reféns do Sistema Polvo dos Dinossauros das Finanças (1). O poder deste, ao assumir expressão global, tornou-se de tal maneira sobre potente que superou os próprios sistemas democráticos devido ao domínio  que tem sobre a democracia e governantes; empresas multinacionais chegam a ter sob o seu jus  o poder judicial supranacional de regulação nas relações entre elas e até podem submeter à sua ordem os Estados que não criem o enquadramento legal favorecedor dos ditados das multinacionais entre elas. O Estado é rebaixado ao papel mero garante da estrutura da economia dominante. Neste sentido os Estados delegaram parte da sua soberania em multinacionais. O capital é rei sem conhecer nação nem povo, por isso não é solidário com ninguém, falta-lhe a humanidade. O capital dos neoliberais não tem crença, não tem cultura, basta-se a si mesmo, devastando para ele os valores humanos e tradicionais. Na sociedade já se nota à simples vista a desmontagem de valores constituintes da personalidade humana e das nações. Enquanto socialmente se fala muito da defesa de direitos de grupos específicos aproveita-se a ocasião para desmontar a personalidade individual em geral, numa de tornar a pessoa humana apenas em portador de direitos não inatos, mas de direitos que o Estado lhe concede!

O Comunismo está para o regime chinês como o capitalismo liberalista está para os regimes democráticos ocidentais.

Os cartéis criados pelos governos para impedirem a concorrência desleal, semelhantemente ao que acontecia nas organizações sindicais em relação ao patronato, foram fabricando funcionários cúmplices, de maneira a os seus núcleos dirigentes fazerem parte do sistema político partidário. O problema inerente ao sistema é não se partir do princípio do bem-comum e da autorrealização pessoal, mas sobretudo do princípio competitivo arrivista de tentar subir na escada social imitando os papeis dos que se encontram num degrau da escada mais acima. Em vez de se investir no fomento de uma sociedade sem necessidade de escadas continua-se a construir uma sociedade baseada no ter e não no ser!

Os detentores do poder sabem que as ideias regem o mundo e para que os seus intentos se tornarem mais eficientes servem-se da técnica de estimular sobretudo sentimentos nas populações através dos Media na consciência de que  as emoções são energias serviçais. Sabem que quem ocupa o coração de uma pessoa não precisa mais de se preocupar com a cabeça; a eficiência desta realidade pode ser verificada no pensar único das populações relativamente à Ucrânia, Covid-19, etc.

Os lóbis funcionam como influenciadores dos membros dos partidos eleitos. Assim não temos verdadeiras democracias dado os partidos servirem outros interesses que não os do bem-comum (Poder político e poder económico vivem em concubinato, porque divorciado do povo. Por outro lado, as democracias e comunidades de base são inutilizadas, passando os grandes constructos, como Banco Mundial, União Europeia, EUA, Reino Unido, etc., a concentrar o poder nas cúpulas tornando todos os outros sub-parceiros irrelevantes. Dá-se ao mesmo tempo a concentração das grandes indústrias e serviços em entidades globais ao cuidado das grandes potências sob o manto de sociedades de acções anónimas (sem responsabilidades!). O liberalismo económico globalista destruiu toda a entidade relevante de responsabilidade pessoal ou estatal. Assim passamos a ter uma aproximação dos sistemas democráticos ao sistema chinês. Se na China o partido comunista (com 80 milhões de sócios) domina o povo e confere unidade ao sistema, no ocidente acontece (ainda meigamente) o mesmo com a diferença que o papel do comunismo foi assumido pelo capitalismo turbo. Neste sentido está-se a legitimar o fomento de autoritarismos e oligarcas a nível político para que o sistema funcione sob o manto da democracia; por outro lado fala-se ambiguamente de valores, democracia, de partidos, etc.

A classe política, em vez de enfrentar ou controlar as aberrações do neoliberalismo que destrói povos e nações e provoca muita insatisfação e desespero no popular, concentra-se só nos interesses partidários desviando a insatisfação popular para a discussão política partidária simploriamente reduzida a uma questão de extremismos de direita ou de esquerda (no mero interesse de ilibar o sistema partidário doentio). Desta maneira, o sistema vigente, meramente partidário e de interesses corporativos, vai levianamente enganando o povo que alimenta com discussões de interesses partidários ou de moralidade individual que eles próprios criam para, evitando mudança e reforma,  prolongarem o seu poder na administração da miséria que a política cria em cumplicidade com um neoliberalismo bastardo (os seus fins justificam os meios e as populações não o podem notar porque eles mesmos controlam a informação pública/publicada).

Um sistema que poderia disciplinar os partidos seriam as ONGs (movimentos sociais não governamentais), o problema que estas trazem consigo é obedecerem a agências e agendas também elas supranacionais e como tal acarretam o perigo de manipulação dirigida como acontece com as grandes multinacionais económicas e com os blocos ideológicos e como se observa já hoje em algumas ONGs . De momento penso que só o surgir de diversas ONGs a partir dos cidadãos poderão salvar um sistema democrático de caracter holista e humano no sentido original do cristianismo antes de prevalecer nele o caracter de cristandade.

Oportunisticamente os socialistas vão seguindo o modelo chinês que conseguiu concorrer com sucesso com as altas esferas do capitalismo ocidental. O Capitalismo chinês, como empresário estatal, consegue assim afirmar-se no futuro perante os países capitalistas (países do bloco dos EUA) que no seguimento das pegadas da China financiam as grandes multinacionais com o dinheiro do povo (impostos) e deste modo desfalcam indirectamnete a própria democracia ao adoptar uma política centralista favorecedora do neoliberalismo e assim ir amparando o cadáver da democracia.

O capitalismo terá de abandonar a filosofia anglo-americana para poder voltar à social-democracia europeia (reconciliação entre operariado e patronato) no sentido de a humanizar mais e de se tornar num modelo de aproximação e elevação humana de todos os povos. Neste sentido seria de grande proveito criar-se uma síntese complementar dos bons valores e costumes das civilizações ocidentais e orientais e abandonarem a estratégia errada de apenas se contradizerem para assim darem oportunidade aos maliciosos do poder. O triste espetáculo a que assistimos na Ucrânia mais não é do que o estrebuchar do capitalismo liberal ainda iludido pelos EUA.

O capitalismo tem andado de braços dados com o colonialismo que vive da exploração dos mais fracos (a África é um exemplo disso, mas disso não se fala porque o calar favorece o nosso colonialismo económico maléfico beneficiador do nosso bem-estar democrático!).

É de observar que tanto o sistema estabelecido político como o liberalismo económico procuram viver da rectórica dialética vivendo do combate contra experimentos como os da Itália, Polónia e Hungria que do outo lado extremo alertam para o extremismo do sistema neoliberal que a União Europeia segue. Estes países são também eles atacados quer pela esquerda jacobina quer pelo neoliberalismo pelo facto de se atreverem a questionar (à sua maneira) o neoliberalismo e por ainda quererem preservar o cristianismo como elemento moderador da sociedade ocidental (como se deu outrora na Alemanha na união de sindicalismo e catolicismo – doutrina social da Igreja – para se implantar a social-democracia). Assim se distrai o povo gastando a pólvora onde ela não tem efeitos porque o problema é sistémico e serve sobremaneira as elites.  Os partidos instalados e o neoliberalismo orientam o discurso público para o assunto que lhes interessa isto é, o discurso partidário; nesse sentido empurram a discussão dos problemas para a extrema direita e/ou para a extrema esquerda; para esse combate hipócrita basta  seguir uma estratégia moral maniqueia  apostando numa  polaridade enfatizada na política e na sociedade, embora se saiba que somente superando mental ou espiritualmente  a polaridade se  pode alcançar a paz e a serenidade. Não falhamos por causa de como as coisas são, mas por causa de nossas expectativas sobre elas, falta-nos uma percepção/perspectiva holística. Não são as coisas que nos incomodam, mas a importância que damos a elas! Este trabalho de dirigir o factual e também a importância a lhe dar revela-se como factor de sustentabilidade de um sistema elitista ultrapassado porque centrado só nele mesmo embora saiba que não é certo tirar o pão dos filhos” (o que há de maior valor) e deixar apenas algumas migalhas que caem da mesa para o povo (Mat. 15:21-28)! Sabem que a vida se constrói segundo as nossas convicções e por isso tratam de criar no público convicções mentais superficiais sabendo que o mainstream não consegue discernir.

 

A democracia não morre pelo facto de eleger alguns autocratas ela morre por ela mesma ao não questionar o próprio regime tornado questionável nos seus fundamentos, o que pode preanunciar os sintomas da queda de civilizações. Um facto sustentável na história é que o povo continua, à imagem de Jesus, a ser crucificado no madeiro da História! A classe política e económica têm procurado influenciar a sociedade, a escola e a família no sentido de mera funcionalidade social. A política foge aos problemas dizendo que apenas é  necessário democratizar a sociedade, a família (porém o acento não deveria ser colocado no democratizar porque em termos de poder democratizar significa propriamente domar e a questão não está no método mas na atitude e intenção), o acento deveria ser posto em humanizar o poder e na sequência a humanização da democracia, da família, da escola… Doutro modo procuramos dar soluções demasiado ocasionais e ideológicos para problemas mais complexos! Não chega actuar-se apenas sob o caracter técnico administrativo da perspectiva elitária mas acentuar a acção, a criatividade e a humanidade partindo da base da sociedade e das instituições.

O exemplo que a nossa classe dirigente tem dado especialmente a partir do Corona-19 tem sido no sentido de desumanizar a sociedade e as instituições.

A violência aumenta em todo o mundo porque a matriz político-social-económica que nos pauta é patriarcal-machista-colonialista-materialista (veja-se muitos dos comportamentos individuais e sociais e as guerras na África e na Ucrânia). Os gorilas do poder económico-político-ideológico vivem bem e vão-nos ocupando com problemas emocionais ou de subsistência para não nos darmos conta do que verdadeiramente acontece. Se bem observamos a situação, as nações, os governos e o povo foram todos transformados em pedintes da economia internacional (tudo endividado ad eternum – propriamente só o poder económico anónimo determina o comportamento de governantes, cidadãos e da democracia); para ajudar, a nível ocidental, observa-se a desmontagem cultural.

De facto, os políticos não têm poder real, dependem da gestão das organizações relevantes para o sistema e a relevância da relevância vem da economia que decide. Os momentos de crise favorecem as multinacionais (e blocos como EUA, EU, China, Rússia) porque numa crise existencial (para tal alimentada) a população não pensa, pois sente-a intensivamente e age apenas segundo o que sente!

A Matriz masculina (machista) consegue dominar todas as secções da vida quer a nível masculino quer a nível feminino (Os próprios movimentos feministas, embora necessários, seguem também eles a matriz machista e deste modo até a feminilidade assume princípios agressivos da masculinidade exacerbada,  em vez de masculinidade e feminilidade entrarem numa relação de complementaridade de estratégia interactiva integradora das energias da feminilidade e da masculinidade nas pessoas e nas instituições.

A Índia preside o G20 desde dezembro e quer uma nova ordem mundial para remodelar a globalização. Na sua presidência, gostaria de uma mudança de paradigma e colocar as pessoas em primeiro lugar na agenda mundial. Para isso, também quereria que a oferta global de alimentos, fertilizantes e produtos médicos fosse despolitizada. Assim, a Índia quer diminuir a imposição do Norte procurando mais envolvimento do sul global, “cuja voz muitas vezes não é ouvida… o nosso tempo não precisa ser marcado pela guerra”; no dizer do primeiro-ministro Modi o lema da G20 deveria ser: ” Uma terra, uma família, um futuro”. O protecionismo económico e o domínio geopolítico de Biden, no estado atual do mundo, estão levando o Ocidente ao fracasso. É calamitoso e desumano pensar que, na realidade, os membros do G20 controlam mais de 80% do produto interno bruto mundial e 75% do comércio mundial quando representam apenas 60% da população mundial.

No meio de tudo isto será de não esquecer que o medo não é bom conselheiro e só apoia os fortes. O medo não deixa filhos e mata a esperança!

A Europa meteu-se numa guerra que é consequência do globalismo liberal iniciado pelo seu bloco; ao sentir os sinais de falhado aproveita-se da guerra na Ucrânia para disfarçar a derrota do globalismo liberal que irá dar lugar a um mundo um pouco mais justo porque da guerra, certamente, resultará um modelo multipolar!

Penso que uma tarefa significativa para a EU seria tentar desatrelar-se do modo de ser anglo-americano e aterrar em terra própria voltando a empenhar-se na velha Economia Social do Mercado.

António CD Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) O novo Cavalo de Tróia – Nações Reféns do Sistema Polvo dos Dinossauros das Finanças: (2011) https://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=29646&catogory=Opini%E3o

Los 2.325 billonarios del mundo: https://dialogosdelsur.operamundi.uol.com.br/asia/56638/los-2-325-billonarios-del-mundo

NAS PEGADAS DA ECONOMIA SOCIAL DO MERCADO : https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/nas-pegadas-da-economia-social-do-mercado-bonus-de-9-700-a-cada-trabalhador

ECONOMIA CHINESA FERE O CORAÇÃO DO OCIDENTE: https://antonio-justo.eu/?p=1632

Taiwan e Ucrânia na Situação de Cavalos troianos de Interesses imperialistas rivais: https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2022/08/taiwan-e-ucr%C3%A2nia-na-situa%C3%A7%C3%A3o-de-cavalos-troianos-de-interesses-imperialistas-rivais.html

O POVO FALA DE POLÍTICA E OS POLÍTICOS FALAM DE NEGÓCIOS: http://abdic.org.br/index.php/675-o-povo-fala-de-politica-e-os-politicos-falam-de-negocios

Pobreza de um mundo dividido entre socialistas e capitalistas: https://bomdia.eu/alemanha/pobreza-de-um-mundo-dividido-entre-socialistas-e-capitalistas/

SALÁRIOS MAIS JUSTOS PARA AS MULHERES: https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/tag/alemanha

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PLANO DE PROIBIÇÃO DE ALIMENTOS NÃO SAUDÁVEIS

 

O Ministro Federal da Alimentação na Alemanha apresentou um projecto de proibição de alimentos não saudáveis ​​porque falharam os compromissos voluntários assumidos pelos fabricantes.

Publicidades voltadas para crianças para produtos com muito açúcar, gordura e sal, tal como anúncios de doces entre filmes de desenhos animados e propagandas de salgadinhos na internet e em jogos da TV, serão proibidas de acordo com os planos do ministro.

Não apenas para programas infantis, mas das 6h às 23h.

15% das crianças dos 3 aos 17 anos têm peso a mais, o que é um risco para diabetes ou doenças cardiovasculares.

Os hábitos alimentares e de exercícios são estabelecidos durante a infância.

Não será fácil levar adiante tal plano, pelo menos na íntegra na coligação governamental, porque os interesses dos Lóbis farão valer a sua influência.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

PRÉMIO 2022 POR REALIZAÇÃO EXCELENTE

Pode ser uma imagem de texto que diz "SOL PORTUGUESE SUN PORTUGUÊS GOLO GOAL 2022 AWARD OF EXCELLENCE HONOURING antónio Justo FOR OUTSTANDING AND EDICATED SERVICE TO ORTUGUÊS GUESE SUN NEWSPAPER NOVEMBER 2022"

PRÉMIO 2022 POR REALIZAÇÃO EXCELENTE
Atribuído a António Justo
pelo serviço jornalístico extraordinário e dedicado
ao SOL PORTUGUÊS
Jornal Sol Português

Estou muito agradecido aos editores e redactores de  “SOL SUN  Português” pela placa de reconhecimento do meu trabalho.

António CD Justo

CONSTRUINDO UMA CULTURA DA PAZ

A Falácia de “o Povo é quem mais ordena”

Somos filhos da guerra com padrões de comportamento e relacionamentos transmitidos baseados na competição, aquele destino que domina a natureza que se quer afirmar à custa do inferior e que se observa na ordem natural e na ordem cultural. Seria de se experimentar uma cultura que tenha como base a solidariedade em vez de competição.

O slogan de que “o povo é quem mais ordena” revela-se como uma mentira e parte certamente do princípio que o povo que nisso acredita não tem suficiente capacidade de raciocínio e de discernimento, na necessidade de ser dirigido. Faz parte dos meios ideológicos de que no poder os fins justificam os meios numa estratégia de levar o povo a servir os objetivos da ideologia e interesses dos seus representantes!

Também o sistema democrático se revela como um eufemismo válido do ditatorial porque a ditadura e a democracia se encontram implantadas em cada humano (entre autoafirmação e solidariedade) e é da essência do poder defender interesses e não pessoas/povo. A igualdade legal e a igualdade de dignidade humana encontram-se em contradição com a desigualdade natural e social vigente porque a natureza se perpetua e é legitimada  na afirmação do superior (mais forte) sobre o inferior e estas discrepâncias dão oportunidade aos mais fortes de se colocarem numa situação sobranceira, até porque no âmbito legal quem faz as leis são os que mais são servidos pelo sistema e a nível social quem determina o ritmo e a marcha são os mais fortes. Se o confronto se dá entre os mais fortes interrompe-se a subordinação natural das coisas e então eles procuram lutar para vencer querendo um aniquilar o outro, como fazem os cabritos para dominarem a fêmea.

Toda a ordem se baseia na subordinação, mas não seria descabido estabelecer-se uma ordem de paz já não baseada na competição, mas na colaboração solidária. 

Se observamos mais de perto as sociedades logo notaremos que estas vivem sobretudo da indústria armamentista, do comércio de armas, da guerra contra a natureza, da exploração humana, da rivalidade entre a cidade e o campo, da luta entre o religioso e o secular, entre o materialismo e o espiritualismo, da guerra contra o amor, da guerra contra as âncoras espirituais  e deste modo contra as moradas da espécie humana.

Há uma discrepância entre o querer do povo e o querer do poder, mas como o poder se adquire à custa da ordenação/subordinação do povo, o que resta é o poder e não a solidariedade que o constituiu. Este, também ele fruto da afirmação competitiva (candidatos), quer-se afirmar cada vez mais ainda e para isso à custa de barreiras intransponíveis para o povo (que não tem valência como tal mas como indivíduo, que ele mesmo produz no seu meio através de competição individual  e que uma vez destacado no povo distancia-se dele passando a querer dominá-lo porque a sua posição transpôs a barreira anónima popular para o colocar no círculo (olimpo) dos grandes.

O povo deseja relacionamento amistoso, crescimento da confiança e solidariedade com todos os semelhantes. A Democracia, seguindo a própria matriz, não quer isto porque seus representantes são fruto da competição e não da solidariedade que é quebrada ao mudar-se a perspectiva do olhar (agora sobranceiro); também por isso na educação todo o ensino está ordenado no sentido competitivo de autoafirmação e de exclusão. Neste sentido até fica mal a partidos e organizações falarem de igualdade e de dignidade humana quando nas próprias estruturas domina a luta feroz por chegar a atingir um lugar mais alto sem olhar a meios.

De resto, o povo já tem suficientes conflitos para resolver em casa e uma sociedade estruturada com base na concorrência no ciclo do medo e da violência ao tornar-se um verdadeiro circuito global fomenta a consciência geral de que é normal a guerra em todo o lugar; o que leva  à lei da inércia, oposta a uma cultura da paz!

Assim se aceitam civilizações produtoras de dor, de separação, medo da perda, de abandono e de violência.

Resta substituir o medo pela confiança e a concorrência pela solidariedade muito embora na consciência de que tudo é complementar!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

CONFERÊNCIA DE SEGURANÇA 2023 TRANSFORMADA EM CONFIRMAÇÃO DA GUERRA

Marte e Mercúrio (deuses da Guerra/Comunicação) estão satisfeitos

A 59ª Conferência de Segurança de Munique de 17 a 19.02.2023 girou toda ela em torno da guerra entre a OTAN e a Rússia. Mais parece uma liturgia em torno de Marte, o deus da guerra e de Mercúrio/Hermes (1) o deus da comunicação, que se dão por vencedores por verificarem que seus servidores estão pela guerra total, sem limites; a iniciativa de paz manifestada pela China perturbou a OTAN que não quer ver a China a intrometer-se nem a favor da Rússia nem contra a intenção da OTAN de intensificar a guerra. Os EUA enviaram 1000 participantes e para estarem mais à vontade na sua propaganda desconvidaram Putin e para o pódio convidaram russos oponentes de Putin para deste modo poderem ver todos afinados em coro no mesmo tom propagandístico; doutro modo, a apresentação de outras posições poderia perturbar o efeito que se pretende provocar no povo no sentido de este continuar a  aplaudir os falcões militares e em mero fiéis de Marte e de Hermes.

E para que toda a conferência entoasse no mesmo diapasão  o presidente francês Mácron solfejou  logo no princípio “agora não é tempo de diálogo”, sim, porque esta é a oportunidade dos militares irem ocupando o povo e a Europa para que se não deem conta do que está realmente em jogo e não pensem em começar a exigir que se alistem responsabilidades. Ainda se nota um certo desacordo entre os parceiros sobre até onde deve ir o apoio logístico de armas à Ucrânia (isto não é tratado nos media para que o povo pense que tudo concorda com a ênfase da guerra). Enquanto o Chanceler alemão Scholz, para não se encontrar sozinho na fronte de batalha, admoestava os participantes ao “cuidado antes do tiro precipitado, coesão antes de uma performance solo”, Stoltenberg (porta-voz da OTAN) contraria-o dizendo: “Alguns temem que o nosso apoio à Ucrânia represente riscos de escalada”. Como se vê o representante da OTAN quer guerra custe o que custar enquanto Scholz apesar de seu seguidor quer ver todos os países unidos no mesmo intento para no fim da parti militar serem todos responsabilizados a pagar a reconstrução da Ucrânia. Neste sentido os alemães pretendem a formação de uma “aliança de tanques de batalha Leo” contínua, o que se torna difícil, mas por fim, a força é que vence. A busca por tanques Leopard 2 disponíveis dos aliados permaneceu sem resultados contáveis (Portugal, que também se gosta de meter nas andanças dos grandes ainda é dos mais prestáveis a ceder Leopardos 2.

Como resultado da conferência ficou claro que apenas se quer um debate para se ir manipulando o povo e não um diálogo que leve a compromissos.

A Ucrânia manifestou na conferência o desejo adquirir armas incendiárias de fósforo e munições cluster, embora 100 estados as proíbam.

O único que conta com a cartada da diplomacia foi o representante chinês Wang Yi. Ele quer fazer uma proposta de negociação para a paz, como já foi sugerido pelo presidente brasileiro aos delegados chineses no Brasil. Só que nestas coisas os países não englobados em interesses geoestratégicos não têm palavra a dizer no assunto. Isso é assunto dos Estados Unidos, Rússia e China, os outros abaixam a bola!  Por isso o representante chinês disse:   “Vamos apresentar algo. É a posição chinesa sobre a resolução da crise na Ucrânia”; espera-se que até ao dia 24 de Fevereiro a proposta saia a lume. Ele referiu-se à Carta da ONU. O Ocidente ainda não está interessado em um plano de paz. Por outro lado, a China pode usar o plano de paz para fortalecer a sua reivindicação à república insular de Taiwan. Como as frentes da guerra só querem a vitória, a China seria a única potência que conseguiria influenciar Putin e Biden (nos bastidores). O problema é o preço.

Há pressa em ganhar a guerra porque se os combates se prolongarem para lá do verão Biden ver-se-á obrigado a debater os gastos da guerra com a população americana no limiar das presidenciais norte-americanas. Daí haver uma certa concorrência de Silensky e Biden para resolverem o problema e na consequência Silensky terá de ceder sentar-se na mesa das conversações no fim do verão para tentar salvar o partido de Biden nas eleições americanas.

Numa sociedade ideologicamente militarizada, opiniões divergentes são identificadas com armas e com isto contam os governantes transformados em falcões militares! Na conferência tratou-se de um evento anti diálogo, produtor de  slogans de afirmação mútua com a preocupação de alinhar o regimento dos participantes e de se criarem notícias que levem a fortalecer nas populações o apoio à irracional a vontade de vencer em vez de se activar a diplomacia, independentemente da triste realidade que acontece, e para isso só importa produzir notícias fortalecedoras do preconceito que  deve socialmente ser assumido como realidade factual. Nesta guerra só haverá perdedores, como já se começaram a sentir em questões de energia e quando vão ao mercado, os que não têm nada a ver com ela.

Tal como afirmavam em relação ao Afeganistão muda-se o refrão: “Defender a Ucrânia também é defender a paz na Europa”.

Depois do evento só Marte, deus da guerra tem razões para ficar contente: A Alemanha continua a tradição belicista aproveitando para enfatizar o aumento dos gastos com a defesa para dois por cento.

Em torno da Conferência houve numerosas manifestações pacíficas. Escoltaram as manifestações aproximadamente 4.800 agentes da polícia que acompanharam cerca de 25.000 participantes nas manifestações, sendo parte delas contra a guerra e outra parte defendendo a entrega de armas à Ucrânia (2)!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) Hermes da Mitologia grega é o deus grego da guerra, do comércio, da comunicação, dos viajantes e dos ladrões, é o filho de Zeus e Maia que anda associado ao deus romano Mercúrio.

(2) https://www.br.de/nachrichten/bayern/sehr-zufrieden-polizei-zieht-bilanz-nach-sicherheitskonferenz,TWJjO9G