DA LUTA DOS CROMOSSOMAS NA MATRIZ SOCIAL MASCULINA EXPRESSA NOS JOGOS OLÍMPICOS

Interação bidirecional entre genética e cultura: o DNA Gene biológico e o DNA Logos (cultura)

Nesta análise ou reflexão surgida depois de observar a questão da desigualdade genética verificada na luta entre a boxeadora italiana e a boxeadora argelina bem como a resultante discussão conduzida num contexto social de afirmação dos opostos e não do que une, ouso partir da seguinte premissa:

A vida e a sociedade podem ser compreendidas como sistemas interconectados e unificados, nos quais a informação, seja biológica, cultural ou espiritual, desempenha um papel central na criação, evolução e organização do universo. Na perspectiva biológico-física, a transmissão genética através do DNA e a propagação de memes culturais moldam a natureza física e comportamental dos indivíduos e sociedades. Na perspectiva teológica, a noção de que “no princípio era a Palavra” sugere que o logos, ou a informação, é a essência criativa e organizadora da criação (cosmos), refletindo uma interdependência entre o material e o imaterial, o físico e o cultural. A física quântica, ao fazer eco dos mitos e verdades religiosas de maneira científica, reforça a conexão entre essas perspectivas, indicando que tanto a matéria quanto o espírito (e a mente) estão entrelaçadas em um sistema universal de troca e complementaridade. Assim, o desafio contemporâneo reside em realizar ou desenvolver uma visão de mundo que priorize a colaboração e a partilha, em oposição à exploração, garantindo que a evolução seja uma conquista coletiva e não um privilégio de poucos (1) Na relação sexo-género urge a formação de uma matriz social  que afirme não só o princípio natural da evolução mediante a afirmação do mais forte mas integre também a nível estrutural básico o outro princípio da evolução  natural da colaboração.

A boxeadora italiana, Angela Carini, ao ser derrubada nos jogos olímpicos de Paris pela boxeadora argelina, Imane Khelif, desistiu da competição alegando “não ser justa” a luta com a atleta argelina diagnosticada de hiperandroginismo (demasiada produção de testosterona e estrogénio)! Verifica-se que o desporto define claramente o que é masculino e o que é feminino enquanto a biologia por vezes mistura a regra com a excepção complicando a definição e a discussão social. O que se torna questionável é a intenção do comité olímpico ao trazer ao desporto feminino atletas transsexuais beneficiando assim pessoas intersexuais em relação a pessoas com características só femininas.

No desporto refletem-se as questões de ordem física e mental da nossa sociedade. De lembrar será que a natureza nos condicionou a sermos atraídos naturalmente pelo sexo premiando-nos com o gozo e o sentimento de amor, para em contrapartida a recompensarmos com a fertilidade que lhe dá continuidade e podermos continuar a festejar a vida e não pelo género que é uma construção social de caracter mais funcional e organizativo que nos ajuda a viver em sociedade. Daí a importância de se construir uma tolerância não baseada na ignorância nem na desumanidade de não querer ver porque então ela não passaria de intolerância camuflada ao serviço de uma autoafirmação unilateral.

Dá-se o caso de “Intersexualidade” quando o corpo de uma pessoa possui características femininas e masculinas.

Por vezes há anomalias dos cromossomas tanto na mulher como no homem que provocam desorientação em quem define o homem e a mulher pelo seu aspeto exterior, (homem: pénis e testículos e mulher: vulva e vagina) e dão  oportunidade aos que fazem uso da excepção para criarem confusão. Imane Khelif poderá ter na sua constituição não só cromossomas XX, próprios da mulher, mas também cromossoma Y, o que lhe confere mais testosterona como é o caso nos homens possuidores dos cromossomas XY. Também há casos de pessoas que têm cromossomas XY e não possuírem genitais tipicamente masculinos (problema da androgenia (2).

Quando o espermatozoide (XY) fertiliza um óvulo, o seu cromossoma X ou Y combina-se com o cromossoma X do óvulo gerando-se um homem XY ou uma mulher XX. Um desvio (excepção) em relação a esta lei natural em que haja uma combinação diferente de cromossomas, hormonas e órgãos de sexo pode provocar uma pessoa intersexual de sexo distinto ou não identificado (3).

 

Dada a crescente importância da vitória nos jogos devido a uma comercialização do desporto e dos desportistas, o recurso à batota e a manipulação aumentam a probabilidade da vitória nas competições (falsificação de idade, infiltração de homens em competições femininas, tratamento hormonal, doping, etc.); enquanto a observação das pessoas em competição e a verificação do género forem apenas qualificadas pela observação de características externas, as mulheres continuarão a ser discriminadas.  O recurso ao tratamento medicamentoso para reduzir os níveis de testosterona em intersexuais também é questionável. É natural que hermafroditas com órgãos sexuais femininos, e possivelmente com cromossoma masculino (Y) vençam as adversárias femininas de cromossoma XX. Uma competição que permita a manipulação genética profunda dos cromossomas, torna-se desumana e ridicularizaria as competições olímpicas.

É um caso bicudo, ver-se que também no desporto não é possível praticar-se a justiça desportiva, a não ser que a Organização Olímpica organize as competições a nível de cromossomas ou crie também um modelo de desporto próprio para competidores intersexuais (4) de maneira a possibilitar uma comparação justa do desempenho!

Para se chegar ao conhecimento mais profundo da realidade é necessário partir-se da interação bidirecional entre genética e cultura: interação do DNA (Gene) com o DNA Logos (cultura).  João diz “No princípio era a Palavra, a informação que ganhou forma na “carne”( Jo 1:1-28). A analogia entre informação genética e informação cultural/mental ajuda a entender a complexidade do desenvolvimento humano já equacionado na fórmula trinitária. Da biologia, conhecemos a transmissão genética que ocorre através do DNA que transmite a informação determinante do desenvolvimento, funcionamento e reprodução dos organismos vivos. Paralelamente ocorre o DNA Logos/informação primordial também cultural transmitida pela linguagem que através da formação de valores, tradições e interação social se transfere de geração em geração e em diferentes biótopos culturais também condicionados pela geografia e clima. Por sua vez a cultura (o Logos) molda a consciência humana e social, influenciando a forma de pensar, sentir e agir dos indivíduos (resultado do DNA (Gene) e do DNA Logos). Como na fórmula trinitária a interação bidirecional resolve o problema da linearidade e da causalidade numa realidade já não binária, mas trinaria (processo espiral).

Numa tentativa de compreender o fenómeno humano de maneira integral e pacífica seria de reconhecer a influência mútua entre genética e cultura e partir da premissa que o espírito originou (dá forma) a matéria e esta numa interacção bidireccional, tende a espiritualizar-se (5); para isso torna-se necessária, uma abordagem descontraída da realidade humana de forma analógica interdisciplinar, que possibilitasse a inclusão de biologia, filosofia, teologia e ciências sociais. Assim, à informação genética da espécie nos genes transmitidos num organismo através das gametas (espermatozoides e óvulos) passada através da reprodução, seria de acrescentar a informação da “Palavra” transmitida também através da mente e da consciência social acumulada nas culturas (DNA cultural) e transmitida também a nível do inconsciente.  Relação é a base que suporta toda a realidade e o anseio por feminilidade num tempo dominado ainda pela matriz social masculina parece produzir fenómenos sociais e biológicos de influência no processo da informação genética de maneira a provocar com o tempo uma mudança das características da matriz que nos orienta.

Na sociedade europeia embora de características muito masculinas observa-se a diminuição da potência sexual (testosterona), acompanhada de uma crescente feminização dos homens nas suas relações sociais e, por outro lado, a pressão social para que as mulheres assumam  cada vez mais qualidades próprias do cromossoma Y;  a crescente  diminuição do impulso sexual masculino é acompanhada pelo enfraquecimento do cromossoma Y em homens; esta carência parece ser  compensada por homens de outras culturas portadores de mais testosterona, o que lhes cria vantagens na atracão que exercem sobre mulheres europeias.

As hormonas naturais aliadas às “hormonas” culturais do mainstream podem levar a enfraquecer os cromossomas devido a uma influência mútua entre genética e cultura. As memórias biológicas e as memórias culturais podem provocar modificações hereditárias na expressão genética, porque se relacionam de forma reversível. Assim, tal como se transmite o DNA genético dos antepassados também se transmite o DNA cultural/espiritual (informação genética e informação mental); esta perspectiva torna-se frutífera e ajuda a uma compreensão do que significa o género humano. As interações complexas entre esses diferentes tipos de informação moldam a evolução e o desenvolvimento tanto de indivíduos quanto de sociedades, numa realidade de visão multifacetada da realidade composta de aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais interconectados e interdependentes.

O cromossoma Y masculino da nossa matriz cultural ocidental conseguiu trofeus em relação a outras culturas, mas querer continuar a afirmar-se dentro da própria cultura contra a indefesa feminilidade da mulher sob o pretexto de querer dar igualdade “muscular „ ao ser feminino tornar-se-ia cínico para quem sabe ler nas entrelinhas da sociedade e está consciente da matriz que nos orienta e seguimos deterministicamente. Deste modo transforma-se o que seria jogo em pancadaria física e social, o que leva a desviar do essencial as atenções das populações para assuntos que distraem da política ou de interesses de corporações que se transmitem de geração em geração sem que se possibilite uma evolução qualitativa na sociedade.

 

Uma cultura verdadeiramente humana e de paz pressuporia mais “cromossomas X “(feminilidade) na matriz social masculina em vez de submeter a mulher à luta masculina de maneira a ela ser condicionada a perturbar a própria feminidade ao ter de integrar de maneira perturbadora o “cromossoma Y” na sua essência feminina; assim o princípio da feminilidade encontra-se em processo de assimilação e não de integração. De facto, assiste-se a uma assimilação da feminilidade pelo modelo estrutural social masculino que se realiza mediante a apropriação da mulher através das funções sociais de características masculinas. 

Tendo em conta a interacção do ADN biológico e do ADN espiritual-cultural-mental na determinação da pessoa e da sociedade  e a utilização desses conhecimentos por fábricas do pensamento  que procuram fazer uso disso na neurolinguística para através da manipulação da linguagem criarem uma consciência humana e uma civilização de caracter meramente funcional, não é de admirar   a confusão que se transmite na sociedade para que ela perca o sentido da vida (também espiritual) e abdique do humanismo para que uma pequena elite de forças anónimas servidas por fábricas do pensamento em parceria com a IA possa, a partir do seu Olimpo, dominar toda a humanidade (desvestida já do humanismo e da sua consciência soberana).

Jogos masculinos como guerra, judo, karaté, boxe, ciclismo, xadrez dependem muito da testosterona, o que exige mais ponderação, mas não significa isto que todos os que têm mais testosterona sejam menos amantes da paz, o problema está mais na matriz masculina exacerbada que orienta a nossa sociedade e não permite, na realidade um tratamento adequado a um certo equilíbrio entre o princípio da masculinidade  e o princípio da feminilidade. O feminismo ideológico é dominado por cromossomas do tipo Y e por isso atraiçoa a própria feminilidade. As ofertas desportivas devem ser adaptadas à natureza humana com as suas regularidades e irregularidades como a ciência e o espírito humano vão descobrindo. O mesmo deveria acontecer nas diferentes disciplinas e ideologias sociais na moral e na sociedade, para ter em conta as novas descobertas científicas e evitar a formação de ideologias que, em nome da defesa dos interesses da minoria (as excepções à regularidade), procuram desprezar os que seguem a regra observada na natureza e respeitam a excepção à regra. 

A observação mais exata dos fenómenos humanos pela ciência cria na sociedade novas espectativas e um maior esforço por integrar na sociedade resultados de avanços científicos.

Uma visão binária natural que no passado identificava sexo com género é cada vez mais questionada; e isto devido sobretudo a dois fatores: o desenvolvimento tecnológico da ciência e  a economia industrializada, de maneira a precisar já não de pessoas, mas de forças de trabalho, cria uma sociedade com uma consciência de caracter cada vez mais funcional porque necessita não só de homens, mas também de mulheres para o mesmo emprego. O desenvolvimento económico cria a necessidade de funcionalizar e converter os sexos no sentido de género, isto é, a nível de género o sexo feminino tem de assumir os papéis e comportamentos que a matriz masculina atribuía antes ao sexo masculino. Por outro lado, as novas necessidades, com o encarecer da vida, criam tanto no homem como na mulher novas expectativas que implicam a mudança de comportamentos, o que implica, por sua vez, a priorização do género em relação ao sexo. Esta situação e novos anseios sociais criam a atmosfera propícia a fazer surgir novas interferências (interações) de caracter genético (DNA) natural e de caracter “genético” (DNA) mental/cultural que criam, pouco a pouco, grandes mudanças e uma nova situação física e psíquica (consciência social).

A realidade binária não precisa de ignorar a realidade da excepção e a excepcao não precisa de negar a regra para se afirmar. O respeito é o elemento da conexão social.

Aos  fatores que determinam o nosso sexo (fatores fisiológicos como a genitália, as hormonas e os cromossomos) veio juntar-se o caracter funcional (os papéis) do género. Os problemas das excepções  no sexo e a acentuação da funcionalidade do género para reparar problemas funcionais de uma sociedade de matriz masculina  geram situações irreflectidas que são por vezes aproveitados por grupos que têm demasiada testosterona e se  mostram interessados, não em resolver problemas mas em  confundir o natural e o cultural (características com funcionalidades);  como os seus temas são assumidos oportunista e temerariamente, pela política e criadores da consciência social, é natural que surjam tensões sociais. (Estas coisas são-nos impostas de cima o que se torna mais problemático numa época cada vez mais egomana, com elites de caracter narcisista e exibicionista).

O mais eficiente seria ir-se transformando, de forma consciente, a matriz social masculina, que nos domina e em que o “cromossoma Y” é privilegiado em relação ao “cromossoma X feminino”, por um modelo social equilibrado que sem perder a especificidade dos sexos possibilitasse uma matriz masculino-feminina em que as funcionalidades do género não chocassem com as características do sexo. O discurso sobre o género centra-se nos papéis e expectativas da sociedade em relação ao comportamento dos sexos, mas de modo a priorizar o género em detrimento do sexo.    Estrategicamente, em vez de se continuar com a luta de afirmação das características da masculinidade, seria de se privilegiar na sociedade as características da feminilidade; neste sentido a estratégia não seria a luta típica do masculino, mas a colaboração de caracter mais feminino.

O conceito do género, como construção social, erra ao querer discriminar mães e „pessoas menstruadas” fazendo tábula rasa das características sexuais biológicas para acentuar as funções sociais e culturais do género tornando-se assim num instrumento de fábricas do pensamento; quer os fixados no sexo quer os fixados no género deveriam dar-se responsavelmente as mãos, porque por trás da disputa outros levam a sua avante; para nos adiantarmos às fábricas de pensamento não podemos continuar a deixar-nos levar pela análise da realidade complexa reduzida a um pensamento binário de caracter polar baseado em afirmação e negação, quando a realidade complexa e a inter-relação sexo-género exigiria uma visão integral (trinitária) e não a instrumentalização de uma ou outra.   

 A exigência mais do que óbvia de transformar a matriz social masculina numa matriz masculino-feminina não pode ser reduzida a uma luta de caráter masculino sob o pretexto de se eliminar as desigualdades entre os sexos, especialmente quando isso ocorre às custas de uma repressão ainda maior do princípio da feminilidade. A destruição do princípio ou da realidade da espiritualidade equivale à destruição da feminilidade, redirecionando-a para a masculinidade. Se continuarmos nesse caminho, acabaremos por chegar a um mundo que se assemelha a um quartel e uma sociedade composta apenas de soldados.

Seria um empobrecimento para a cultura ocidental e um fortalecimento da sua acentuada masculinidade querer transformar processos de desenvolvimento (como o da seleção natural e o da colaboração natural) em categorias de luta ou de imposição de um princípio sobre o outro. Uma visão compassiva e abrangente leva-nos a encarar as raízes da opressão e da discriminação, e a buscar soluções que beneficiem a todos, respeitando a dignidade humana no seu todo.

Uma observação mais atenta e abrangente da fórmula trinitária da vida, expressa no Mistério da Trindade, poderia nos ajudar a superar o pensamento binário ou de opostos, como cultura-natureza, gênero-sexo, certo-errado, afirmação-negação, matéria-espírito (baseado em uma lógica de causa e efeito, pensamento linear meramente cronológico e histórico). Essa superação nos levar-nos-ia a adotar um pensamento de tipo trinário (também intuitivo e místico), ou de unidade trinitária eu-tu-nós (Pai-Filho-Espírito Santo). Agora que compreendemos a estrutura do nosso pensamento e os efeitos de uma Palavra unilateral, é importante reconhecer o pensamento binário, assim como a dialética, apenas como construções auxiliares da realidade social—estratégias de abordagem, e não de aquisição de certezas. É essencial perceber que esses modos de pensar são apenas passos em direção a uma visão inclusiva de interação relacional do tipo trinitário (triunidade), algo que uma cristandade demasiadamente focada na educação humana negligenciou em desfavor do cristianismo.

Na fórmula trinitária, a vida não é concebida em termos de opostos, mas numa perspectiva mais ampla, que pode ser alegoricamente expressa na realidade da feminilidade unida à masculinidade, que, de maneira orgânica e produtiva, se prolonga no filho através do amor. Na Trindade, o amor entre o Pai e o Filho (resumo e mediador da matéria e do espírito) expressa-se no Espírito, que testemunha e permite entrar no mistério da realidade. A estrutura trinitária (triunidade) contém em si as bases para a solução das desigualdades inerentes à visão binária da realidade.

A visão binária ou bipartida carrega a imperfeição de querer “de-finir” (do latim, delinear, traçar a linha que determina o fim); o problema é que, ao traçarmos essa linha limitadora, deixamos de ver o que está fora dela e, assim, ficamos apenas com um esboço da realidade, acreditando abarcar a totalidade quando esta só pode ser compreendida através da Trindade ou seja numa mundivisão diferente da binária ou dialética. A ordenação da realidade em termos binários corresponde à criação de limites em uma realidade que de si é fluida, que não tem limites porque está em contínuo processo de relação e interação (a ordenação binária serve principalmente aos poderosos).

O caráter binário filtra a realidade através do condicionamento de uma mente acostumada a organizar e definir a realidade em termos de opostos, falso-errado, de coisas bem-definidas (limitadas), para dar a impressão de clareza numa realidade que inclui não só a luz, mas também a treva. Dessa forma, contentamo-nos em viver na penumbra, sem perceber que essa é apenas a fronteira formada pelas sombras da luz e da “treva”.

Não deve tratar-se de um confronto de posições estanques cada qual em posse da sua verdade, mas da busca comum do bem-estar de todos e do crescimento coletivo que pressupõe uma estratégia de trabalho conjunto no sentido de encontrar soluções que sejam aceitáveis para todos e ajudem ao desenvolvimento humano, sem que a pessoa tenha de prescindir das suas convicções. Importa iniciar um processo cultural de paz e não de luta porque a questão não é vencer um debate, mas construir relações em que o princípio da feminilidade e o princípio da masculinidade (natureza e cultura) sejam tidos em conta em termos de igualdades complementares essenciais e necessárias. Na cultura verdadeiramente cristã como se expressa nos protótipos da vida e de toda a realidade simbolizada no mistério da trindade (3=1) e realizada na encarnação-ressurreição (superação da dualidade matéria-espírito, vida-morte, também resumida na consubstancialidade divina) encontram-se as pistas e as indicações a serem seguidas num espírito verdadeiramente católico. Também aqui se encontram respostas para a problemática da definição das características do sexo biológico e das funcionalidades do género como categorias para serem entendidas de maneira compassiva e complexa e não meramente sociopolítica ou institucional. A realidade é mais complexa e de caracter interactivo e não de caracter meramente lineal causal como quer a lógica.

Só uma atitude empática leva a uma compreensão interpessoal, intersexual e à criação de uma matriz social onde as funções sociais não tenham fatalmente de seguir a perspetiva masculina, mas, pelo contrário, onde as funções sociais integrem o princípio da feminilidade como constitutivo, com a mesma seriedade como se tem feito com o princípio da masculinidade para as características masculinas que determinam a sociedade (aqui faz-se valer o princípio da seleção natural de afirmação do mais forte (masculinidade e oprime-se o outro princípio também ele natural que é o da colaboração (feminilidade).

Urge um diálogo sensível (trílogo) interessado em reparar danos e em restaurar relações que promovam a reconciliação e assim se consiga uma transformação social mais consensual, eficiente e genuína, num estilo já não de polaridades, mas de colaboração (feminina) e não de mera luta (masculina) apagadora da feminilidade. Masculinidade e feminilidade passarão a competir apenas em jogo de modo a criar-se um tubo de escape das agressividades mútuas a exemplo do substituto da guerra em jogos olímpicos, etc.

O problema da intersexualidade, de pessoas hermafroditas ou intersexuais que alguns querem qualificar como terceiro género (a quem não pertença claramente ao tipo genética XX ou XY por não apresentar características tipicamente do ser masculino nem feminino) daria aso a um outro agrupamento (nem masculino nem feminino) nos jogos de maneira a competição desportiva dever garantir o princípio da igualdade de oportunidades.

 Pessoas intersexuais que por disfunção nos cromossomas apresentam características mistas de homem e mulher e queiram participar nos jogos competitivos (por exemplo pessoas intersexuais com órgãos sexuais externos femininos e em vez do útero têm internamente órgãos masculinos) têm direito a possibilidades iguais só que a desigualdade hormonal as coloca em situação desigual numa sociedade da normalidade!

No âmbito natural e social pode dar-se uma mudança ou equalização dos sexos (androginia, etc.) devido à influência do espírito (ressonância – consciência social) a nível orgânico, segundo o princípio “a necessidade cria o órgão”. A mutação dá-se devido à mudança de padrões de ação, comportamentos e hábitos dos homens e das mulheres (na redesignação de género também é normal observar-se mulheres mais masculinas e homens mais femininos no comportamento social o que pode contribuir para um processo de transsexualidade natural mas não corresponda a um desenvolvimento natural e saudável em termos de humanidade; daí a necessidade de se ter em conta todos os factores que determinam o desenvolvimento do ser humano e da sociedade evitando para isso obsessões  e fanatismos políticos, religiosos e científicos (Toda a obsessão é cega e falsifica a realidade porque apenas toma em consideração uma parte dela).

Uma mudança fácil de observar e confirmar, porque se observa no nosso ciclo de vida, é o facto de pessoas de em pessoas idosas acontecer uma mutação na expressão fisionómica; nas mulheres observam-se mudanças no rosto aproximadas das semelhanças masculinas e nos homens semelhanças femininas, etc.). “Tudo flui. Tudo está em movimento, nada está parado.” como constatava o filósofo Heraclito, 540-480 a.C.: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque tudo corre e nada fica”. No meu entender o espírito é o leito que tudo sustem e que dá garantia ao desenvolvimento e à continuidade. Predisposições genéticas influenciam o comportamento humano e, consequentemente, a cultura e por seu lado a cultura também influencia a genética através da seleção cultural. Práticas culturais que favorecem certos comportamentos ou características podem levar a mudanças genéticas ao longo do tempo (como se observa também em animais de estimação – domesticação e educação).

O narcisismo característica a afirmar-se em toda a sociedade quer superioridade e grandiosidade tornando-se num sorvedor da autoestima dos outros e assemelha-se a um redemoinho de um ego que só se tem em conta a si mesmo. Isto faz de pessoas e de comunidades meros elementos ou peças funcionais, que deixam de ser pessoas soberanas.

Uma sociedade que se deixa distrair entre outros com os problemas prescritos por LGBTQI+ (sigla internacional para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais, queers e mais), deixa-se levar pelos seus temas e ao mesmo tempo é distraída dos maiores problemas em via que se encontram nas mãos das fábricas de pensamento e de políticos condicionados a serem parte de oligarquias que vivem bem de temas e agendas por eles confecionados mas que para a generalidade caem do céu. Importante para os crentes é não desanimarem na consciência que Deus se serve do mal como o lavrador se serve do estrume para adubar a terra e o desenvolvimento social e humano é um precesso contínuo de mudança que implica boa vontade e confiança sem medo de arriscar.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Parto do princípio que toda a criatura provém do espírito, o espírito une tudo e ao espírito volta tudo. Por isso dado todos formarmos uma unidade urge criar uma estratégia de vida dialógica com uma matriz social baseada na complementaridade e não no espírito do contra. Sensata seria uma nova visão do mundo baseada na troca e não na exploração. Trata-se de ganhar o mundo para todos e não de perder o mundo para alguns.

Premissa: Perspetiva biológico-física: Na biologia, a transmissão genética ocorre através do DNA, que carrega a informação necessária para o desenvolvimento, funcionamento e reprodução dos organismos vivos. Essa informação é herdada dos pais e influencia as características físicas e, em certa medida, comportamentais dos indivíduos. A teoria dos memes, sugere que as unidades de informação cultural (memes) se propagam e evoluem de maneira semelhante aos genes, através da seleção e transmissão.

Perspetiva teológica: A passagem do evangelho de João “No princípio era a Palavra” pode ser interpretada (religioso-secularmente) como uma referência à primazia da informação ou do logos (razão, discurso, palavra) na criação e organização do universo. Essa visão pode ser expandida para incluir a ideia de que a informação cultural e espiritual é fundamental para o desenvolvimento humano, assim como a informação genética. Se observamos mais de perto a física quântica constatam-se afirmações teóricas já antes preanunciadas numa linguagem mitológica.

(2) A Androginia refere-se a dois conceitos: a mistura de características femininas e masculinas num único ser devido a uma disfunção genética (sexo), que provoca um transtorno de identidade de género, no qual o indivíduo não se reconhece como homem nem como mulher, mas como o conjunto dos dois; uma falta de flexibilidade cognitiva social perde-se ao fixar-se também ela num só aspecto, o do género, pretendendo reduzir as características da mulher ou do homem ao que a sociedade espera deles. Assim, em nome da diferenciação acaba-se com o diverso querendo reduzir a realidade a um só polo dela e deste modo, na avaliação social, fomenta-se a androginia também cerebral. De facto, também a conectividade entre as diferentes áreas do cérebro masculino e feminino é diferente.

(3) As mulheres possuem um par de cromossomas X, enquanto os homens possuem um único cromossoma X e um cromossoma Y; o cromossoma Y passado através do espermatozoide possui genes que determinam se um bebé será menino. Todos os gametas (óvulos) da mulher possuem o cromossomo X enquanto os homens podem formar gametas (espermatozoides) com cromossomo X e o cromossomo Y. Um cromossomo é uma molécula de DNA condensada, que carrega a informação genética herdada dos progenitores. Deste modo é o espermatozoide que determina o sexo do bebê, dado a mãe oferecer o cromossoma X, enquanto o pai oferece o X ou o Y, resultando daí o embrião XX menina ou menino XY.

(4) Pessoas inter-sexo revelam biologicamente características sexuais que não se enquadram bem nas categorias de masculina ou feminina “podendo incluir características da anatomia sexual, órgãos reprodutivos”.

Transexuais, são pessoas que não se identificam com o género atribuído no nascimento., identificando-se mais com o sexo biológico.

(5) João 1:1-28: “No princípio era a Palavra/Verbo, e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus… e o verbo se fez carne”.

O verbo se fez carne/vida (encarnação) em Jesus Cristo que por sua vez eleva a carne/a criação ao ciclo perfeito da Trindade, na ressurreição chamando toda a criatura a realizar o “Cristo cósmico”.

 

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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