O medo é a energia comum movente de apoiantes e opositores das vacinas e, pelos vistos, conduz a um pensar demasiado curto.
Uma discussão pública emocional tem criado trincheiras sociais que não podem ser remediadas nem com uma política de “pão de açúcar e chicote” (como dizem os alemães) nem com proibições totais. É sempre difícil de estabelecer, em termos de relação causal, não só a relação entre o vírus Covid-19 e a informação sobre ele, como também entre as informações e as opiniões sobre elas! Facto é que ninguém quer o mal do outro!
Nenhuma proteção de vacinação pode prevenir em 100% a protecção da transmissão do vírus. Segundo estatísticas alemãs que comparam o número de mortes devidas a gripes (Influenza) e ao Covid-19 refere-se que “Para corona, a mortalidade média é estimada em 0,5 a 1 por cento, para influenza é de 0,05 a 0,1 por cento. De cada 10.000 pessoas infectadas, uma média de 50 a 100 morrem com uma infecção corona, com gripe apenas 5 a 10” e conclui-se que “a COVID-19 é uma doença que não deve ser subestimada. Também a gripe é uma doença grave. Pelo que sabemos hoje, pode-se presumir que COVID-19 é mais perigoso do que a gripe por vários motivos” (1). Um factor real do medo, se tivermos em conta as estatísticas, coloca-se especialmente para o grupo etário a partir dos 65 anos (2)!
Das investigações feitas em Novembro em várias clínicas da Alemanha (3), as pessoas não vacinadas estão particularmente em risco; as vacinadas resistem melhor ao vírus. “Dezenas de milhares de pessoas contraíram a Covid-19, apesar de terem protecção total de vacinação. Mais de dois terços dos doentes de Covid19 em clínicas são não vacinados. Do total de 64 pacientes Corona gravemente doentes, pelo menos 17 tinham uma vacinação completa!”
O ser humano não pode dominar nem controlar tudo e ainda bem que é assim, porque, e, doutro modo, pararia o desenvolvimento. No entanto, o melro, por cada bicada no chão dá duas olhadelas em torno dele! Na Terra há maior quantidade de vírus que estrelas no universo!…
É certo que não é sinal de muita inteligência o facto de apoiantes e negadores da vacina reduzirem a bofetadas recíprocas a sua luta em torno do medo e do vírus. A discussão cria luz que poderá iluminar uns e outros!
Pessoas em diferentes situações e condições não devem estigmatizar outras embora as estatísticas apontam para o facto de grande percentagem dos infectados com o vírus em clínicas seerem, de momento, não vacinados. Na Alemanha há 15 milhões de adultos não vacinados. E porque a Alemanha é uma sociedade onde a política procura respeitar a opinião do cidadão não se avistam proibições radicais, opta-se pelo princípio de por um lado se usar o atraente “pão de açúcar” e pelo outro o incómodo “chicote “!
Por muito que se afirme de um lado ou do outro da trincheira restarão muitas perguntas sem resposta! Sim, até porque, na realidade, o virus veio para nos acompanhar durante vários anos!
António CD Justo
Pegadas do Tempo
(1) Gesundheit.de: https://www.gesundheit.de/krankheiten/infektionskrankheiten/atemwegsinfektionen/coronavirus/covid19-grippe-vergleich
(2) As estatísticas oficiais de causa de morte não são suficientemente significativas; baseiam-se nas informações do atestado de óbito, no qual a gripe muitas vezes não é registrada como causa de morte por vários motivos, mas, em vez disso, por exemplo, pneumonia bacteriana ou pré- doença subjacente existente. O Instituto Robert Koch relata atualmente 4.559.120 pessoas infectadas com o coronavírus na Alemanha. Em média, 7.969,7 pessoas morrem todos os dias nos Estados Unidos, incluindo todas as causas de morte. Em conexão com o novo coronavírus (COVID-19), uma média de cerca de 1.133,3 pessoas morrem todos os dias.
(3) https://www.mdr.de/nachrichten/deutschland/panorama/corona-krankenhaus-vollstaendig-geimpft-anteil-100.html
O vírus é uma coisa e a política do vírus é outra
Sim; o importante é tentar compreender-se as duas coisas para não se tornar vítima nem de uma coisa nem da outra!
Como o pensar já está curto, já pouco há a dizer.
O bom senso deve prevalecer, mas o que é bom senso para uns não é para outros….
Sim, às vezes o pensamento está já tão esticado que até parece indiferente, “faça-se o que se faça”!… No caso do artigo, o curto-circuito do curto pensamento vem do facto de se permanecer em duas fileiras adversárias uma da outra!
É isso. Permanecem duas fileiras adversárias porque sobre o mesmo problema há conceitos antagónicos.
O pior é que pelo meio passeia o perigo
É isso mesmo! O alinhamento é tão cerrado e o pensamento tão curto que na imprensa e em geral só dá lugar à posição do pró ou do contra!
Num caso como este, penso que deveria haver pulso. Será este um pensamento curto? Sei que é discutível.
É uma posição legítima, desde que possibilite espaço para a dúvida! Isto pelo facto de ter a ver com o conceito de democracia e informação em contexto de emissores-receptores e conteúdos. Na minha página no artigo SOBRE O FORMATO DA INFORMAÇÃO desço a pormenores.
Os portugueses, duma maneira muito geral, não gosta de estatísticas, salvo se falam do seus clubes de estimação.
Contudo, para a sociedade actual, é fundamental saber, concretamente, os dados que possibilitem as Ciências de estudar os problemas envolventes, para ajudar os Técnicos a trabalhar no sentido de se tomarem medidas adequadas e abrangentes. A cada área, a sua especialidade, para que encontrem as soluções de acordo com as circunstâncias. E ensinar “o Zé Povinho”, que a disciplina é a primeira vontade da Mente, para resolver os problemas em todas as suas circunstâncias, a partir da recolha, integral, dos dados correctos.
FB
(19.11.2021).
Exactamente, e para que o povo evite tornar-se “Zé” será preciso habituá-lo a ir consultar as fontes das informações porque se se contentarem com as informações já mastigadas passam a alimentar-se dos alimentos dos outros e como tal a terem de renunciar a queixarem-se quando sentem dores de barriga! De facto a indisciplina pessoal leva muitos a abdicar de si mesmos para engressarem de ânimo leve nas disciplinas dos outros!