DECISÕES NA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE BIODIVERSIDADE – COP15

A Conferência em Montreal de 7 a 19 de dezembro, sob a presidência chinesa, teve a participação de 200 países que chegaram a acordo na sua preocupação de travar a destruição dos ecossistemas.

Os países chegaram a compromissos, que embora juridicamente não vinculativos, apontam para atuações sérias. Assim regiões ricas como a Europa onde ao longo dos séculos foram devastados os seus grandes biótopos com a finalidade de se aumentar o nível de vida económico das populações, comprometeram-se até 2030 a apoiar anualmente países pobres, mas ricos em biodiversidade, com mais de 30 biliões de euros por ano para que criem zonas protegidas.

Além disso os países participantes comprometeram-se a ampliar as áreas protegidas do globo, que atualmente se cifram em 17% da terra e 8% dos mares, para mais de 30% do globo. Por isto, tudo leva a crer que desta vez, os países presentes na Conferência, com medidas concretas, levam mais a sério a defesa da natureza.

É muito de louvar, mas não se vê coerência no sentido de travarem também a destruição dos “ecossistemas” culturais. Enquanto nos dedicamos e bem à defesa da vida da biodiversidade, observamos um fomento da destruição da vida humana e dos seus tradicionais biossistemas culturais para mais facilmente serem criados organismos, de carácter mais anónimo, a nível supranacional e global. Dá testemunho de hipocrisia e até de má intenção uma política que pretende preservar a vida cultural dos índios no Amazonas enquanto, ao mesmo tempo, coloca à disposição e menospreza hábitos e tradições culturais na Europa!

É preciso acabar com a destruição da biodiversidade dos ecossistemas naturais e também acabar com a desconstrução das culturas e a destruição de subculturas principalmente no âmbito de hábitos e valores; para isso seria de ter-se mais cautela na aplicação de agendas que tendem a uma educação para uma monoculturalidade, em via de aplicação na cultura ocidental. Está a ser usado um peso e duas medidas.

Unum facere et aliud non omittere!

António da Cunha Duarte Justo

 

Pegadas do Tempo

BOAS FESTAS DE NATAL E UM PRÓSPERO ANO 2023

Passou mais um ano, e mais uma vez a alegria da época festiva está a ser atenuada.  Acompanhe-nos também o sol da esperança na caminhada para a gruta donde sai a luz!

Desejo-vos  e às vossas famílias, um Natal feliz e tranquilo, férias repousantes e agradáveis e um Ano Novo feliz e saudável.

Junto uma poesia da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen:

A paz sem vencedor e sem vencidos

“Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Que o tempo que nos deste seja um novo

Recomeço de esperança e de justiça

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos“

“Ergquei o nosso ser à transparência

Para podermos ler melhor a vida

Para entendermos vosso mandamento

Para que venha a nós o vosso reino

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos

Dai-nos a paz que nasce da verdade

Dai-nos a paz que nasce da justiça

Dai-nos a paz chamadsa liberdade

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor nem vencidos”

Obrigado pela companhia de mais um ano

Um abraço para todas e todos

António da Cunha Duarte Justo

CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL NA CONTINGÊNCIA DE SER DESVIADA

Hoje a grande tentação de instâncias do poder é instigar o cidadão ao apagamento da voz interior (saber interior e intuitivo) de cada pessoa (voz da consciência) para a substituir só por uma consciência colectiva edificada em função do político e socialmente oportuno (visão meramente materialista, utilitarista e funcionalista da pessoa na máquina estatal).

Em tempos passados as instituições do poder procuraram manipular a consciência individual; hoje encontramo-nos numa fase muito mais grave que se resume na tentativa de a destruir! Destruindo-se a consciência individual interfere-se de maneira essencial na personalidade humana e na sociedade; passa o Estado e seus representantes a serem os senhores soberanos sobre tudo o que é humano e sobre a dignidade humana individual…

Os vários órgãos de poder, em cooperação com operadores globais com modernas tecnologias de acção global, têm possibilidades imensuráveis de manter o povo sob constante influência e controle. Por outro lado, as pessoas são constantemente confrontadas com novos factos sem poderem ordená-los nem conseguirem digerir o produto consumido. Sem o momento de reflexão e análise, desaparece a consciência individual e com ela a responsabilidade individual e social. Assim se desconstrói a estrutura orgânica pessoa-natureza-sociedade-instituição! Sem esta inter-relação vital decompõe-se toda e qualquer cultura. O problema de uma relação normal entre o indivíduo e a instituição continua assim por resolver.

A palavra consciência vem do termo latino “Conscientia” que poderíamos traduzir por: conhecer com, pensar com…

A capacidade do ser humano de perceber o seu próprio ego (autorreconhecimento como ser com individualidade) distingue-o doutros seres sem necessariamente ter de o opor a eles.

Assim, a consciência é o lugar (centro do eu) onde se encontra o sentido e significado da nossa vida individual e social. A consciência expressa-se individual e colectivamente em diferentes fases e épocas numa contínua necessidade de se definir e exprimir.

A consciência é o centro da ipseidade (eu). Ela é a verdadeira soberana! “Tudo o que acontece contra a consciência, é pecado”, escreveu São Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, na Suma Teológica.

As várias ciências usam o termo consciência de maneira diferente: neurociência, filosofia, teologia, psicologia, sociologia, etc. A pretensão de reduzir a consciência ao saber dela conduziria à sua desautorização!

Para o neurocientista António R. Damásio: “A consciência é um estado de espírito em que a pessoa tem consciência da sua própria existência e da existência de um ambiente. “Segundo esta definição a consciência não é desvirtuada.

Consciência vai do estádio vergonha, culpa, medo, etc. até ao estádio de amor, paz e experiência mística.

Filósofos, inclinados para ver a matéria como medida de todas as coisas, continuam a observar a natureza na perspectiva da velha física (mecanicista-materialista) não achando lógico que o pensamento (a alma) seja fundamentalmente diferente da matéria.

As experiências místicas e religiosas (e a consciência dos povos) apontam para o espiritual como base da matéria e deste modo consideram o ser humano como um ser espiritual em que o espírito é o coração da matéria. A nova física – a física quântica – pode ser um bom caminho para a reconciliação das diferentes ciências que deveriam agir, não em guerra inútil, mas sim no sentido de complementaridades. No meu entender ela desenvolve-se no âmbito da fórmula trinitária onde se expressa ao mesmo tempo o uno e o trino, visão  para que apontava  já Teilhard de Chardin quando se referia ao “ponto ómega”  como o ponto final e alvo na consideração teológica ou filosófica da evolução, como expressa também Frank Tipler. Este ponto final recebe o nome de Ómega baseado na passagem bíblica “Eu sou o Alfa e o Ómega, o primeiro e o último, o início e o fim”.

Independentemente de crença ou não crença, é de observar com apreensão o caminho que as elites políticas estão a levar não se preocupando com a procura da verdade nem do bem integral de todo o povo, mas sim em controlá-lo no sentido dos interesses de alguns ou de ideologias parciais. Em vez de se preocuparem por uma visão da realidade e da sociedade em termos de complementaridades solidárias, apostam numa visão unilateral materialista e funcionalista ao serviço de uma pequena parte da sociedade.

Destruída a consciência pessoal passa a não haver dignidade humana, mas tribal e, consequentemente, a própria democracia passa a encontrar-se em perigo de ser abalada nas suas raízes! Necessita-se compatibilizar matéria e espírito, secularidade e religiosidade.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

NB:

Foi em 1956 que o filósofo judeu alemão, Günther Anders, escreveu a seguinte reflexão. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência:

“Para sufocar antecipadamente qualquer revolta, não deve ser feito de forma violenta. Métodos arcaicos como os de Hitler estão claramente ultrapassados. Basta criar um condicionamento coletivo tão poderoso que a própria ideia de revolta já nem virá à mente dos homens. O ideal seria formatar os indivíduos desde o nascimento limitando suas habilidades biológicas inatas…

Em seguida, o acondicionamento continuará reduzindo drasticamente o nível e a qualidade da educação, reduzindo-a para uma forma de inserção profissional. Um indivíduo inculto tem apenas um horizonte de pensamento limitado e quanto mais seu pensamento está limitado a preocupações materiais, medíocres, menos ele pode se revoltar. É necessário que o acesso ao conhecimento se torne cada vez mais difícil e elitista… que o fosso se cave entre o povo e a ciência, que a informação dirigida ao público em geral seja anestesiada de conteúdo subversivo. Especialmente sem filosofia. Mais uma vez, há que usar persuasão e não violência direta: transmitir-se-á maciçamente, através da televisão, entretenimento imbecil, bajulando sempre o emocional, o instintivo.

Vamos ocupar as mentes com o que é fútil e lúdico. É bom com conversa fiada e música incessante, evitar que a mente se interrogue, pense, reflita.
Vamos colocar a sexualidade na primeira fila dos interesses humanos. Como anestesia social, não há nada melhor. Geralmente, vamos banir a seriedade da existência, virar escárnio tudo o que tem um valor elevado, manter uma constante apologia à leveza; de modo que a euforia da publicidade, do consumo se tornem o padrão da felicidade humana e o modelo da liberdade.
Assim, o condicionamento produzirá tal integração, que o único medo (que será necessário manter) será o de ser excluído do sistema e, portanto, de não poder mais acessar as condições materiais necessárias para a felicidade. O homem em massa, assim produzido, deve ser tratado como o que é: um produto, um bezerro, e deve ser vigiado como deve ser um rebanho. Tudo o que permite adormecer sua lucidez, sua mente crítica é socialmente boa, o que arriscaria despertá-la deve ser combatido, ridicularizado, sufocado…

Qualquer doutrina que ponha em causa o sistema deve ser designada como subversiva e terrorista e, em seguida, aqueles que a apoiam devem ser tratados como tal”

CORRUPÇÃO NO PARLAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA

Vice-Presidente Eva Kaili e cinco cúmplices subornados pelo Qatar

Segundo a associação lobbycontrol, há 25.000 lobistas em Bruxelas a tentar influenciar a política (lobistas têm como objectivo o bem das suas empresas à margem do bem-comum (1). Pelo número de influentes a fraqueza humana encontra também em Bruxelas boa guarida. O emirado do Qatar e outros são generosos porque sabem que o dinheiro faz milagres. Esta é também uma razão pela qual todos os membros dos governos, funcionários governamentais e deputados deveriam ser obrigados a divulgar seus contatos de lobby, tal como já é padrão para os comissários da UE. O interesse anticorrupção nunca chegara a querer cortar o mal pela raiz!

Eva Kaili teria recebido dinheiro para influenciar as decisões políticas para o Qatar. Havia inicialmente 5 suspeitos e 4 deles foram detidos em prisão preventiva com o vice-presidente, esta apanhada em flagrante delito (há 4 deputados).

Um antigo deputado social-democrata italiano e parceiro da Kaili também foi preso pela autoridade belga encontrando-se em posse de dinheiros (600.000 euros?).

O Parlamento da UE demitiu a deputada de vice-presidente por causa do escândalo de corrupção em torno dela.  A deputada nega as acusações de que teria recebido dinheiro para influenciar os trabalhos do Parlamento. Nega lavagem de dinheiro, corrupção e envolvimento em organização criminosa. Quatro deles foram detidos sob custódia no domingo, As autoridades belgas prenderam desde sexta-feira. A democracia europeia encontra-se sob ataque de fora e de dentro.

A EU tem que reagir depressa para não estragar mais porcelana fina em Bruxelas onde os caudais de biliões correm sem se saber muitas vezes para quê.

Por um lado, Bruxelas Ataca Viktor Orban com acusações de corrupção, mas fecha os olhos em relação a tantos lobistas e interesses jogados na EU. O próprio parlamento não é transparente nos seus afazeres porque não faz valer a exigência de transparência para estados fora da União Europeia. Neste assunto, o parlamento foi apanhado em flagrante. Para sair desta de rosto limpo o parlamento europeu teria muito trabalho a fazer, também em questões de transparência.

Consta que o dinheiro é tão vislumbrante que até a justiça cega, não se fale já da política.

Porque é que estas investigações só acontecem agora no fim do jogo mundial no Qatar? Não haverá segundas intenções em tudo isto! A conivência começa com a existência dos muitos  milhares de lobistas em torno dos parlamentos e dos centros do poder!

Um parlamento cuja arma mais forte da Europa que possui é a moral e as exigências que faz, deve estar com grandes dores de cabeça quanto à moral! Budapest apenas sorri ao ver a corrupção chegar ao cume do parlamento.

 

Ainda bem que a democracia vai tendo algumas instituições cujo dever é protegê-la!

Faz sentido lembrar aqui o poema de João de Deus in ‘Campo de Flores’:

O Dinheiro

“O dinheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça, o maldito,
Tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo…
Todo ele, aquele todo…
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.

E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
E só dizer-lhe: «Aí vai…»
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto:
Tlim!
Pronta.

Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas…
Tlim!
Ora…

Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não! “

João de Deus, in ‘Campo de Flores’

 

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) LobbyControl é uma associação sem fins lucrativos que esclarece sobre estruturas de poder e estratégias de influência na Alemanha e na UE. Estão comprometidos com a transparência, controle democrático e barreiras claras na influenciação da política e do público.

Os políticos devem representar os interesses de todos em nossa sociedade. Lobistas, por outro lado, geralmente só têm em mente os interesses de suas próprias empresas/organizações. O bem-estar da sociedade como um todo é secundário.