Categoria: Religião
A CAMINHO DO PAPA ECUMÉNICO
Papa ecuménico como chefe honorário de todos?
O Vaticano (Dicastério para a promoção da união cristã) publicou um documento intitulado “O Bispo de Roma”, em 13 de junho de 2024, com sugestões sobre uma possível reinterpretação católica do papel do Papa de maneira a possibilitar o ofício do Papa como “chefe honorário” das confissões cristãs numa perspetiva ecuménica de “unidade na diversidade”. O documento de estudo “O BISPO DE ROMA Primado e sinodalidade nos diálogos ecuménicos e nas respostas à encíclica Ut Unum Sint”, original em inglês está traduzido em italiano e francês (1).
O documento resulta de reflexões e das reações teológicas à encíclica “Ut unum sint” do papa João Paulo II publicada em 1995 (2). No diálogo ecuménico além de questões de fé há obstáculos como a infalibilidade papal.
Em 1870 o Concílio Vaticano I postulou a infalibilidade do Papa dando-lhe todo o poder em questões dogmáticas e de direito canónico. No contexto das confissões cristãs, a primazia do Papa tornou-se assim num obstáculo à unidade das igrejas cristãs.
No novo documento, o Vaticano prevê uma “reinterpretação” dos ensinamentos do Concílio Vaticano I que deveriam ser vistos no seu contexto histórico de monarquias. Tratar-se-ia agora de acentuar a perspetiva da comunidade e não tanto a hierárquica e assim se avançar com a “sinodalidade” numa interação de consulta e tomada de decisões conjuntas. O “Papa Ecuménico” presidiria a conselhos interconfessionais e assumiria o papel de mediador em caso de conflitos disciplinares ou docentes.
Teria de haver uma diferenciação das funções do Papa “entre o seu ofício patriarcal na Igreja Ocidental e o seu ofício principal de unidade na comunhão das igrejas”.
Isto pressupõe também uma fase de grande diálogo dentro da Igreja católica sobre a autoridade das conferências episcopais nacionais e regionais e a sua relação com o Sínodo dos Bispos e a Cúria Romana.
Este é certamente um longo caminho que pressuporia a convocação e aprovação por um Concílio Vaticano III. E seria óbvio que o reconhecimento do Papa como “chefe honorário” de todos teria de vir de um “Sínodo Ecuménico”.
O Papa entre outras tem também uma função política como chefe de Estado aspectos que dificultam o reconhecimento do Papa na função ecuménica como porta-voz de todos os cristãos. De facto, o que faz um cristão é a sua ligação a Deus (Jesus Cristo).
O presidente da Comissão Ecuménica da Conferência dos Bispos Católicos Alemães, Dom Gerhard Feige, de Magdeburg, espera que o documento crie uma nova dinâmica dentro da Igreja Católica e no ecumenismo. O documento de estudo revela uma grande vontade de reforma na Igreja católica e a apoiá-lo revela o espírito de várias encíclicas (3).
Talvez esta seja uma iniciativa charneira da história com significado religioso e político-social no sentido de antecipar o desenrolar de toda a Comunidade humana nos próximos séculos. Se observamos a história da Europa e até da ONU retrospetivamente verifica-se que se adota o modelo católico como um tipo protótipo, a nível de institucionalização e socialização da humanidade também no âmbito secular.
O ecumenismo é a busca da união, da comunhão e da harmonia, entre as confissões católica, luterana, ortodoxa e protestante, apesar das diferenças. Parte-se da universalidade da união na procura de reconhecer e respeitar a diversidade, de cada um, de cada igreja e de cada grupo num processo de diálogo e cooperação.
Trata-se de superar as divergências históricas e culturais, a partir de uma reconciliação que reuna o mundo cristão, o mundo das religiões, o mundo das culturas e das ideologias numa atitude de complementaridade que valoriza o outro, seja a nível individual seja grupal ou institucional.
Para o Papa Francisco, o verdadeiro ecumenismo acontece quando caminhamos juntos: “devemos caminhar juntos, orar juntos e trabalhar juntos. O verdadeiro ecumenismo é feito por meio da caminhada. Não tenham medo disso. Sirvam os pobres, ajudem as comunidades cristãs e também as comunidades não cristãs”.
A sociedade multicultural e inter-religiosa actual, vê como prioridade cristã a universalidade e nesse sentido a importância de recuperar a unidade na Igreja de Cristo,
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(2) CARTA ENCÍCLICA UT UNUM SINT CARTA ENCÍCLICA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II SOBRE O EMPENHO ECUMÉNICO (1995): https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25051995_ut-unum-sint.html
(3) A ENCÍCLICA ECOLÓGICA EM DEFESA DA “NOSSA IRMÃ E MÃE TERRA”: https://antonio-justo.eu/?p=3191
ECOLOGIA E TEOLOGIA: https://antonio-justo.eu/?p=3359
“Alegria do Amor” é a ponta de lança do Vaticano II: https://beiranews.pt/2018/02/27/ponto-de-vista-por-antonio-justo-29/
TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NO DIÁLOGO DOUTRINA-PASTORAL: https://www.linkedin.com/pulse/teologia-da-liberta%C3%A7%C3%A3o-di%C3%A1logo-doutrina-pastoral-ant%C3%B3nio/
A Igreja não é “uma pequena capela” é “uma casa para todos”: https://religare.blogs.sapo.pt/79894.html
A DANÇA GEOPOLÍTICA
AO RÍTMO DE INTRIGAS E LUTAS POLÍTICAS
Na velha Europa, o coração sangra gravemente,
Ronda a dança bélica que nega a paz urgente.
Jonny, o industrial rico, orgulhoso e frio,
E Joe, sua mulher, loira, de gesto macio.
Putinof, senhor das terras, velho e severo,
Seu jovem mordomo, Urcrinof, ardente e sincero.
A vizinhança outrora amigável, agora envenenada,
De inveja nos corações e d’alma dilacerada.
Joe, solitária na distância do marido ausente,
Encontra calor nos braços de Urcrinof ardente.
Enquanto Jonny se apressa em negócios sem fim,
Joe derrete em desejos de ternura e cetim.
Urcrinof acaricia os cavalos com carinho,
Até os gatos o seguem, em fila, no caminho.
Joe vê-o e de coração, ciumento e amarelo,
Encontra abrigo e alegria no jovem tão belo.
O desejo floresce, uma luxúria proibida,
Mas nos serviçais só há frustração contida.
Jonny, ao saber do caso, em fúria encontra razão,
Para despojar Putinof, consumido pela traição.
Com amigos e poder, busca vingar a desonra,
Planeja apoderar-se do que Putinof tanto ampara.
A Europa, outrora forte, agora é presa da ganância,
A guerra começa, perde-se a humanidade e a infância.
O sangue corre em cidades e aldeias sem cor,
Soldados, mulheres, crianças, ondulam na dor.
A paisagem destruída, terra queimada no chão,
Restam almas de pessoas, em eterna aflição.
A Europa, perdida nas chamas de ganância sem fim,
Nenhum resgate à vista, nenhum alívio, enfim.
Talvez surja, escondido nas profundezas da terra,
Um feto, um ventre diáfano, esperança que se encerra.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
RASCUNHO:
A DANÇA GEOPOLÍTICA
AO RÍTMO DE INTRIGAS E LUTAS POLÍTICAS
Na velha Europa, o coração sangra gravemente,
Gira a dança bélica que nega a paz.
Jonny, o industrial rico, orgulhoso e frio,
E Joe, a sua mulher, loira, de gesto suave.
Putinof, o proprietário de terras, rico e velho,
O seu jovem mordomo, Urcrinof, leal e ardente
A vizinhança outrora amigável, agora envenenada,
A inveja nos seus corações, que lhes parte a alma.
Joe, solitária e vazia na distância do marido,
Encontrou calor e mais nos braços de Urcrinof.
Enquanto Jonny se apressa em viagens de negócios,
Joe derrete em desejos de ternura.
Urcrinof acaricia os cavalos, com calor e carinho,
Até os gatos o seguem em fila devota.
Joe vê-o e o seu coração, pálido de ciúme,
encontra abrigo e alegria junto de Urcrinof.
O seu desejo floresce, uma luxúria proibida,
Mas nos serviçais só sentem frustração. (o próprio desengano)
Jonny, que fica a saber do caso,
vê nisso uma razão para despojar Putinof.
Com amigos e poder para vingar a desonra,
ele planeia apoderar-se do haver de Putinof.
A Europa, outrora forte, está agora dividida pela ganância,
A guerra começou, a humanidade perdeu.
O sangue corre nas cidades e aldeias,
Soldados, mulheres, crianças, na morte repousam.
A paisagem destruída, a terra queimada permanece,
Restam almas de pessoas, transidas de dor.
A Europa, perdida, nas chamas da ganância,
Nenhum resgate à vista, nenhuma fuga daqui.
Mas talvez, escondido nas profundezas da terra,
Um feto, um ventre diáfano, uma esperança para o amanhã.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
A MULHER DA UNÇÃO
Maria de Betânia mostra o Equilíbrio entre as Energias masculina e feminina
A pintura “A mulher da unção” (Maria de Betânia) de Carola justo, motivou-me a fazer a seguinte poesia tendente a mostrar a posição de uma mulher consciente de si e da realidade social que a envolve:
MARIA DE BETÂNIA: O Equilíbrio entre as Energias masculina e feminina
Maria de Betânia, mulher original,
Que ungiu Jesus em festa fraternal
Feminidade soberana, manifestação
De espírito inconforme e criativo em ação.
Na sociedade patriarcal, ousou
Aproveitar o espaço que Jesus criou.
Em si mesma encontrou, a liberdade
Sem sótãos nem caves, de pura ipseidade.
Maria vive sem pressões, onde a paz reside,
Já fora das correntes que a alma divide.
Hoje sem espaço, vivemos em gavetas fechados,
De joelhos e em serviço de relatos publicados.
Na polis masculina, de espírito agressivo
De valores competitivos, só vale o lucrativo.
Falta a feminidade, acolhedora e afável
Que urge ser integrada, de forma gratificável
Mais Marias de Betânia, precisamos ver,
Que não seguem a corrente, que sabem viver
Do encontro consigo mesmas, com estilo pessoal,
Masculino e feminino, em equilíbrio natural.
Integração das forças, em cada ser,
Um caminho de paz, precisamos ver.
Maria de Betânia, exemplo brilhante,
De um equilíbrio verdadeiro e constante (1).
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(1) João 12:1–19: Maria de Betânia, a irmã de Marta e Lázaro, ungiu Jesus com o melhor bálsamo que havia. Com o gesto da unção (acto soberano) preanuncia a iminente morte de Jesus e o Seu sepultamento.
A MULHER DA UNÇÃO
Pintura de Carola Justo
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=Carola+Justo#ip=1
SOLDADOS DA GUERRA
SOLDADOS DA GUERRA QUE DO POVO NÃO!
De órgão em riste, marchando adiante,
Dão a vida na guerra, num passo errante,
Em nome de pátrias que foram roubadas,
Por forças cruéis, a serem desonradas.
Soldados na fronte, a honra a salvar,
De oligarcas e regentes, prontos a guerrear.
Tudo que resta são frios números,
Sem vítimas, nem povo, apenas sombras.
Mortos contados como criaturas,
Na história, números, sem ternuras.
Permitem aos poderosos surgir,
Em cerimónias, sombrias, a fingir,
Lavando as mãos, como Pilatos fez,
Fomentam novas vítimas, na guerra de vez.
Deixaram de ser gente, ao virarem soldados,
Não defendem a pátria, mas planos malvados.
Num mundo rasgado pela violência,
Brilha a dureza, trazendo a doença.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do tempo
PS: A Alemanha despende 2% do PIB nacional para o orçamento militar, isto é, no mínimo 90 mil milhões de euros por ano e o mesmo fazem outros países! Isto poderia ser legítimo se destinassem também 2% do PIB para promover activamente a paz!
O RASCUNHO:
SOLDADOS DA GUERRA
De órgão em riste, eles marcham,
Dão a vida pela guerra alheia,
Em nome de pátrias desonradas,
Usurpadas por poderes fortes.
Soldados na fronte, a salvar
A honra de governantes e oligarcas.
Quando o que resta da guerra são sonhos perdidos
Sem vítimas, nem povo, apenas números.
Soldados mortos são contados como criaturas,
Mas na história, meros números se tornam.
Permitem aos usufruidores do poder
Aparecer em cerimónias e cemitérios,
Com rostos sombrios, afirmando-se
E lavando as mãos, como Pilatos,
Das novas vítimas da guerra,
Captando o povo para novas guerras.
Deixaram de ser pessoas,
Para passarem a soldados,
Não para defender a pátria ameaçada,
Mas para proteger ataques preparados externamente.
Num mundo dilacerado pela guerra,
Irradia a dureza que nos adoece.
(Rascunho)
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
