Em tempos antigos, quando as pessoas ainda buscavam preferencialmente o sentido profundo da existência, viviam reis que não se contentavam com o brilho dourado de seus palácios nem com os segredos das constelações. Esses reis, conhecidos como os Magos, ansiavam por algo maior – uma verdade que transcendesse reinos e explicasse os mistérios do coração humano.
Uma noite, enquanto observavam o céu, uma estrela incomum despontou no horizonte. Seu brilho não era apenas luminoso; levava consigo um chamamento que ressoava no íntimo das almas. Belchior, Baltazar e Gaspar entenderam que aquela estrela não era apenas um sinal celeste, mas um convite para uma jornada espiritual. Assim, partiram, guiados pelo seu fulgor.
Enquanto percorriam desertos e montanhas, florestas e vales, algo extraordinário aconteceu: pessoas de todas as partes do mundo começaram a juntar-se à caminhada. Era como se a luz daquela estrela falasse a todos, independentemente de sua cultura, credo ou história. Unidos pelo desejo de encontrar a fonte daquele brilho, tornaram-se uma única humanidade em busca de algo maior.
Os Magos chegaram a Jerusalém, onde procuraram o rei Herodes. Perguntaram onde poderiam encontrar o recém-nascido “rei dos judeus”. Herodes, temeroso de perder seu poder, consultou os seus sábios e indicou-lhes Belém, mas pediu que voltassem para informá-lo sobre a criança. Contudo, os Magos perceberam que o coração de Herodes estava repleto de medo e ganância – qualidades que não poderiam coexistir com a verdade que buscavam.
Ao seguirem novamente a estrela, ela os levou até uma humilde gruta em Belém. Lá, encontraram não um palácio, mas um presépio. Entre o feno, um menino recém-nascido brilhava com uma luz que não era deste mundo. Nos olhos daquela criança, os reis viram refletida a essência da dignidade humana, um aviso de que cada pessoa, em sua simplicidade, carrega uma centelha divina que a torna soberana.
Os Magos ofereceram seus presentes: ouro, simbolizando realeza e fé; incenso, representando a ligação entre o humano e o divino; e mirra, um símbolo da transitoriedade da vida e da eternidade que habita além dela. Mas seus presentes eram mais do que tributos – eram um gesto de entrega à humanidade. Ao lançar seus tesouros no regaço do Deus Menino, proclamaram que a verdadeira riqueza está no amor e na busca da verdade.
Não voltaram pelo caminho de Herodes. Em vez disso, seguiram novos caminhos, conduzidos pela luz que agora brilhava em seus próprios corações. A estrela, que antes parecia distante no céu, agora habitava dentro deles, como um chamamento eterno de que o divino e o humano se podem encontrar em qualquer pessoa disposta a acolhê-lo.
O presépio é mais do que uma cena de um momento histórico. Transformou-se num símbolo universal do encontro entre o céu e a terra, entre o Oriente e o Ocidente, entre o sagrado e o humano. Na gruta de Belém, a estrela não apenas guiou os Magos, mas iluminou o caminho para todos os povos, chamando cada um a olhar para dentro de si e redescobrir a luz que sempre esteve ali.
E assim, a caminhada dos Magos continua em cada um de nós. A estrela brilha ainda, convidando-nos a seguir o chamamento – não para longe, mas para o mais íntimo de nossos próprios corações, onde repousa a essência da nossa dignidade e da nossa humanidade. Aí, na distância do barulho da estrada, poderemos descobrir a nossa caminhada para o próprio Belém, o coração da humanidade onde o menino Jesus se abriga.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
É suposto acabarem as Festas do Natal no Dia de Reis. Não é verdade !!!Continuemos a adorar o Menino a todo o tempo e em qualquer lugar seguindo o brilho da estrela que conduziu os Magos a Belém.
Boa noite! Bem Haja!
Mafalda Freitas Pereira , o fim do período natalício é sempre entre 7 e 13 de janeiro no domingo seguinte ao dia de reis. Nesse domingo é celebrado o “Batismo do Senhor” e por isso a cor litúrgica passa de branco para verde; então Jesus inicia aí a sua aparição pública.
Há famílias e comunidades que mantêm ainda o antigo costume de terminar o período natalício na Candelária do dia 2 de fevereiro (festa religiosa da Purificação da Virgem Maria) e por isso apenas desmontam nessa altura o presépio e retiram a árvore de Natal. Muito boa noite.
Lindo Sublime texto ! Obrigada
OBRIGADA por este texto!
“amai-vos uns aos outros como me amais a mim”….”amando o outro amas-me a mim”…( citado de cor).
Estás e outras expressões do texto bíblico são base do amor contido no termo caridade que Santo Agostinho desenvolveu. A ideia de fraternidade e solidariedade que hoje tantas vezes invocamos, são expressões para nomear uma e a mesma coisa: o amor entre os homens. O cristianismo é igualdade, liberdade e justiça. O problema é o dramático desvirtuamento que fizeram desta ideia maravilhosa.
FB
As questões levantadas tocam temas muito sensíveis para muitas pessoas. A percepção de que algumas religiões são tratadas de forma diferente ou recebem críticas mais intensas é algo que muitos sentem, e isso reflete tanto as complexidades históricas quanto as realidades contemporâneas.
Por um lado, é verdade que as críticas ao cristianismo muitas vezes vêm de dentro de sociedades que historicamente foram moldadas por ele, e como tal têm exigência maiores em relação a ele mesmo, mas exageram considerando isso como liberdade de expressão. Por outro lado, críticas a outras religiões em contextos onde elas são minoria frequentemente esbarram em questões de preconceito ou discriminação, o que é igualmente problemático; mas os problemas concretos vêm muitas vezes de uma falsa política migratória da EU e de um capitalismo ainda de caracter imperialista que em vez de investir em países pobres criando lá qualidade de vida e emprego deixa-os abandonados ao desejo de melhorar a vida no estrangeiro. .
A relação cristianismo (protestantismo) e capitalismo embora interessante mereceria uma reflexão a mais profunda. Talvez o desafio seja como qualquer religião, incluindo o cristianismo e o islamismo, se pode manter fiel aos seus valores mais profundos num mundo que geralmente privilegia o materialismo e o individualismo.
Importante é que um diálogo e uma análise honesta erespeitosa contribua para um mundo mais justo e compassivo!