Às vezes vem-me vontade de gritar de desgosto e de desespero; magoa-me a solidão mascarada a caminhar pelas nossas ruas tornadas anónimas.
Hoje, ao fazer a minha caminhada na floresta que envolve a cidade, vi muita gente que caminhava sozinha, vi crianças tristes, adolescentes desiludidos, pais exaustos, pessoas deprimidas; vi tudo a acenar a sua angústia nas tenras folhas das árvores que se inclinavam para o chão em mim.
No meio de tanta vida penalizada que jazia no chão, descortinei um raio de sol numa criança que, nos seus quatro anitos, abraçava, o tronco de uma árvore já caída!
No meio de tanta desolação, queria gritar para as árvores, para o mundo, mas não estava lá ninguém; no meio da floresta só vislumbrei um que ouvia o meu gritar; esse alguém era Deus (1).
Depois de gritar a minha raiva, o meu desespero e a minha tristeza com Deus, notei que no horizonte o sol sorria para todos e a todos (mascarados e desmascarados) como que a dizer: Tu estás procurando o outro (a contraparte, o semelhante) em Deus e Deus está procurando o outro (a contraparte, o semelhante) em ti!
António CD Justo
Pegadas do Tempo
- (1) Aquele que se encontra radiante em cada pessoa sem máscara e se encontra triste em cada pessoa mascarada!… Eu procuro o outro em Deus e Deus procura o outro em mim!