ROMÉNIA – VOTAR ATÉ QUE AGRADE À UNIÃO EUROPEIA

Dois Pesos e Duas Medidas: A Interferência da UE nas Eleições Democráticas

A democracia é frequentemente celebrada como o ponto alto da liberdade, mas a sua aplicação prática nem sempre reflete esses ideais. No entanto, a sua aplicação prática nem sempre reflete esses ideais, especialmente quando se tem em conta as acções de potências como  União Europeia (UE) e USA em contextos eleitorais de países periféricos. O caso da Roménia em 2024, onde a vitória de Călin Georgescu nas eleições presidenciais foi anulada sob alegações de influência russa, ilustra uma tendência preocupante: o uso de “dois pesos e duas medidas” em questões de democracia e soberania eleitoral.

Călin Georgescu, uma figura religiosa e nacionalista, venceu a primeira volta das eleições presidenciais romenas em novembro de 2024. A sua vitória foi interpretada como um sinal de mudança no cenário político do país, refletindo um descontentamento popular com as elites pró-europeias que dominaram a política romena nas últimas décadas. No entanto, o Tribunal Constitucional anulou a eleição, alegando interferência russa e desinformação via TikTok. A UE apoiou a decisão, levando à exclusão de Georgescu e à formação de uma coligação pró-europeia para garantir uma “democracia alinhada com a UE”.

A anulação das eleições romenas sob a alegação de interferência russa é particularmente irónica quando consideramos o papel decisivo que os grandes meios de comunicação europeus desempenham na moldagem da opinião pública. Enquanto a desinformação estrangeira é condenada e usada como justificativa para anular eleições, a influência dos media europeus, muitas vezes alinhados com agendas políticas específicas, é ignorada ou minimizada. Esta dualidade reflete um “imperialismo mental”, onde a elite do poder ocidental se arroga o direito de definir o que é ou não democrático, independentemente da vontade dos eleitores.

Este não é um caso isolado. Em 2014, na Ucrânia, um governo eleito foi derrubado sob alegações de interferência russa, substituído por uma administração pró-Ocidente. Estes episódios sugerem um padrão onde a democracia é instrumentalizada para servir interesses geopolíticos.

A intervenção da UE nas eleições romenas destaca uma contradição no discurso democrático europeu. Enquanto a democracia é celebrada como um valor universal, a sua aplicação prática é frequentemente distorcida para servir interesses geopolíticos e económicos. O caso de Călin Georgescu e da Roménia é um exemplo claro de como a vontade popular pode ser subjugada em nome da “proteção da democracia”, revelando uma prática de “dois pesos e duas medidas” que mina a credibilidade das instituições democráticas.

A democracia deve respeitar a vontade popular, sem distorções para servir interesses externos. Caso contrário, arrisca-se a tornar-se um instrumento de poder, em vez de uma expressão genuína da soberania popular.

No domingo passado Georgescu, simpatizante de Putin, foi excluído das próximas eleições pela comissão eleitoral em Bucareste. Na segunda-feira (11.03) o Tribunal Constitucional romeno impediu Călin Georgescu de se candidatar. A eleição será repetida a 4 e 18 de maio 2025.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

NA SOMBRA DO OLIMPO DE BRUXELAS

Oh, que sorte a nossa, servos do temor,

Malignos vários, num só coro a cantar:

O clima, o vírus, Putin, Trump, o horror,

Um espetáculo pronto a nos assombrar!

 

Governantes, maestros do medo astuto,

Trombetas do alarme, sinfonias de pavor,

Criam fantasmas, depois vendem o escudo,

E nós, bobos da corte, pagamos com fervor!

 

“Combateremos o mal que nós mesmos tecemos!”

Segredam em Bruxelas, ao contar nosso ouro roubado.

Ah, que engenho, que arte! Quase não percebemos

Que o medo é deles, mas o tributo é do nosso lado.

 

Amigos cidadãos, cá estamos, a dançar,

Nesta valsa de sustos, tão bem orquestrada.

Malignos ao serviço do poder, a rodar,

E nós, de cabeças vazias, a aplaudir a jogada!

 

Governantes artesãos do medo: criam monstros, vendem espadas e cobram-nos por ambos. O verdadeiro mal? Acreditar que precisamos deles para nos salvar.

António CD Justo

REFLEXÃO POLÍTICA EM TEMPOS DE QUARESMA

Por uma Nova Política de Verdade: Poder sem Violação da Verdade

Começo com uma citação do filósofo Michel Foucault, do seu livro  “Microfísica do Poder”, onde a citação nos proporciona uma reflexão fundamental:  “O problema político essencial para o intelectual não é criticar os conteúdos ideológicos que estariam ligados à ciência ou fazer com que sua prática científica seja acompanhada por uma ideologia justa; mas saber se é possível constituir uma nova política da verdade. […] Não se trata de libertar a verdade de todo sistema de poder – o que seria quimérico na medida em que a própria verdade é poder – mas desvincular o poder da verdade das formas de hegemonia no interior das quais ela funciona no momento.” (Link para a obra: https://fliphtml5.com/clana/zccy/basic)

A questão central e o verdadeiro desafio não é apenas criticar ideologias ocultas na ciência nem questionar se ela serve a uma causa justa. O grande desafio é construir uma nova relação com a verdade, garantindo que ela beneficie a todos e não apenas os poderosos, que frequentemente moldam as suas próprias “verdades” como meios de conquistar terreno e como escudos de protecção.

Foucault argumenta que a verdade jamais será totalmente independente do poder, pois ela própria é uma forma de poder. No entanto, podemos lutar para que esse poder da verdade não seja usado para dominação e opressão, mas sim para promover justiça e igualdade de forma autêntica.

Nos dias de hoje, a ausência da verdade é evidente pois é identificada com o poder. Como resultado temos um embate entre elites opostas, enquanto a violência é transferida para os cidadãos, que são induzidos a acreditar que as disputas políticas refletem a verdade, quando na realidade são apenas expressões de poder desvinculado dela.

Os políticos e líderes deveriam ser guiados por princípios morais que colocassem a verdade a serviço do bem comum – e não como ferramenta de controle para benefício de poucos. A verdade deve ser um caminho para a justiça, e não um instrumento de manipulação e de implementação de poderes falsos porque oportunistas e antagónicos aos interesses do bem-comum. Isso exige autenticidade e compromisso com as reais necessidades das pessoas, acima de ambições pessoais ou interesses de grupos específicos.

É evidente que o poder tem a sua própria verdade, mas ele não pode ser confundido com ela. A incapacidade de distinguir entre verdade e poder gera confusão social, algo que vem sendo explorado por Bruxelas e pelas potências europeias, conduzindo a Europa para um impasse perigoso.

Se queremos um futuro mais justo, é fundamental redefinir a relação entre poder e verdade, garantindo que ela não sirva à opressão, mas sim à justiça e ao bem comum.

É verdade que uma política guiada pela Verdade, não existe, embora fosse nobre em oposição a interesses meramente pragmáticos ou de poder.  Mas o facto de ser difícil de atingir um ideal não justifica que se proceda sistematicamente contra ele; aqui seria importante (e no discurso intelectual) partir-se em democracia da dialética entre elite governante e povo, ou entre os interesses da elite governante e os do bem-comum. Já o povo tinha resumido toda esta filosofia no dito: “Bem prega Frei Tomás, olha para o que ele diz e não para o que ele faz”! Em contexto político não basta apenas ouvir o discurso; é preciso analisar criticamente, verificar factos e observar acções. A mentira pode ser uma ferramenta poderosa, mas a verdade e a coerência sempre se revelam com o tempo. Trata-se de sermos cidadãos atentos e exigentes, pois a qualidade da política depende também da vigilância e da participação de todos.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Europa em Marcha para a Guerra

Ursula von der Leyen manda os Europeus apertar o Cinto… e o Gatilho!

A Europa está em polvorosa! A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pegou nas suas trombetas mediáticas e anunciou ao mundo que é hora de trocar o pão pela pólvora. Num discurso épico — e sem direito a perguntas, porque quem questiona é inimigo da “verdade” e dos valores da União Europeia —, a líder germânica em Bruxelas apressa-se a apresentar o plano “Rearmar a Europa”, um ambicioso projeto que promete mobilizar 800 mil milhões de euros para a defesa do continente; pressa esta para que se criem factos que contrariem entabular conversações. Porque, afinal, nada une mais os povos do que uma boa guerra, evitando para isso conversações sérias.
A ideia é simples: enquanto os cidadãos apertam o cinto para pagar a crise energética e a inflação, os Estados-membros vão abrir os cordões à bolsa para comprar tanques, mísseis e drones. E, claro, não podia faltar um extra de 150 mil milhões de euros em financiamento para os 27 países da UE, porque nada diz melhor “solidariedade europeia” como gastar dinheiro em armas em vez de hospitais ou escolas.
Portugal, sempre na vanguarda da obediência, já contribuiu com 700 milhões de euros para a causa bélica e agora prepara-se para desembolsar mais 300 milhões. Afinal, quem precisa de investir em saúde ou transportes quando se pode ter um caça F-16 a sobrevoar o Algarve?
Enquanto isso, os media, em perfeita sintonia com os funcionários de Bruxelas, continuam a tocar a música da guerra num ritmo de verdades e mentiras. A narrativa, cuidadosamente construída desde a Conferência de Munique em 2007, ignora a Ucrânia como cavalo de Troia moderno, manipulado por oligarcas internacionais, EUA, EU, NATO e Inglaterra. As tentativas de paz de figuras como Donald Trump são descartadas como irrelevantes, porque, convenhamos, quem quer paz quando se pode ter uma boa guerra para distrair as massas e encher os bolsos dos que se alinham atrás do Reino Unido?
Von der Leyen, com a sua retórica marcial, apela aos europeus para deixarem de viver… para viverem a guerra. Mobilizem-se soldados, roubem-se citadinos e aldeões! – parece ser o lema não oficial. E, se alguém ainda duvida da seriedade do plano, basta lembrar que até os fundos de Coesão — sim, aqueles que deviam reduzir as desigualdades regionais — podem ser desviados para comprar armas. Prioridades, não é? Já se conta que dos fundos de reforma alemã foram desviadas verbas para a Ucrânia.
A respeito da Ciência da Burrice: num mundo onde “burros mandam em homens de inteligência”, como diria o poeta António Aleixo, talvez a burrice seja mesmo uma ciência. E, se for, a Europa está prestes a doutorar-se com louvor. Enquanto os cidadãos comuns se perguntam como vão pagar as contas do gás e os alimentos que compram, os líderes europeus garantem que o futuro está em… mais armas.
Resta saber se, no final desta marcha bélica, só sobrará algo mais do que dívidas e cinzas. Mas, os deuses do olimpo Bruxeliano, asseguram que teremos um continente “seguro e resiliente”…

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

QUERIDOS AMIGOS E AMIGAS, CAROS LEITORES

Formigas no Frasco – Uma Reflexão

Permitam-me, antes de tudo, dirigir-me a vós com a serenidade que mereceis. Embora os temas que aqui abordo sejam, por vezes, candentes e envoltos nas chamas do debate político, dirijo-me especialmente àqueles que, sensíveis e ponderados, preferem não se deixar consumir pelo fogo das paixões partidárias. É, de facto, lamentável observar como a defesa de um ponto de vista político pode, tantas vezes, transformar-se em motivo de exaltação e desavença. Mais triste ainda é constatar que, na era da informação, somos constantemente bombardeados por narrativas manipuladas, mesmo por veículos que se presumem sérios. Seria uma pena permitir que essa torrente de desinformação — esse lixo que nos é servido como verdade — pusesse em risco os laços que nos unem, seja na família, seja entre amigos.

As elites políticas, aqueles que se reúnem em Bruxelas, Londres ou Washington, não nos levam a sério, nem perguntam se estamos de acordo. Procuram influenciar-nos, sim, mas será que devemos, em contrapartida, dar-lhes a importância que reclamam para si quando grande parte do que nos apresentam é mentira? Ou será mais sensato voltarmos o nosso olhar para o que verdadeiramente importa: o nosso bem-estar físico e emocional, as relações que nutrimos, a harmonia que construímos no nosso quotidiano?

A propósito, recorro a uma imagem de Mark Twain que, embora singela, encerra uma profunda sabedoria. Imaginemos um frasco. Dentro dele, colocamos um grupo de formigas pretas e outro de formigas vermelhas. Inicialmente, cada uma segue o seu caminho, ocupada com as suas tarefas, sem incomodar as outras. Há uma paz frágil, mas palpável. Agora, imaginemos que alguém pega nesse frasco e o agita vigorosamente. O que acontece? As formigas, antes pacíficas, começam a lutar umas contra as outras. O medo, insuflado de fora, desencadeia nelas um instinto de defesa agressiva, transformando-as em inimigas.

Esta metáfora, caros amigos, é um espelho do que vivemos hoje. A política, nas suas múltiplas e enganosas facetas, agita o frasco da nossa sociedade. Mexe com as nossas inseguranças, alimenta os nossos medos, e põe-nos uns contra os outros. E, enquanto nós nos gladiamos, distraídos pela confusão, os que agitam o frasco seguem impunes, alcançando os seus fins, que no contexto em que nos encontramos são maldosos.

Não permitamos que isso aconteça. Deixemos a maldade para eles. Não nos deixemos levar pela agitação do frasco. Em vez disso, cuidemos do nosso bem-estar, das nossas relações, da nossa paz interior. Como as formigas antes de serem perturbadas, busquemos a harmonia possível, mesmo num mundo empenhado em nos dividir.

Com muita estima no sentido da reflexão

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo