CORPORATIVISMO PORTUGUÊS DESVINCULADO E ALÉRGICO A CONSENSOS

Entre o Coletivismo do Inconsciente nórdico e o Individualismo de Inconsciente latino

 

Por António Justo

 

O apóstolo Paulo na Carta ao Coríntios 12, 12-31 oferece a visão mais antiga de corporativismo e concebe-o como uma forma orgânica de política e de sociedade como um corpo (metáfora do corpo místico de Cristo); no período da industrialização a Rerum Novarum (Papa Leão XIII1890) reconhece os direitos laborais corporativistas que servem de base às democracias cristãs e à organização de sindicatos.

Esta concepção de corporativismo contrasta com um corporativismo encerrado nos interesses de agremiações estanques marginalizadoras da pessoa humana.

O regime corporativista de Salazar era um modelo de “corporativismo económico” paternalista e anticapitalista (1), ligado à terra, que deu lugar a um modelo de “corporativismo ideologizado” mais sob a égide partidária em que a solidariedade social se opera já não tanto em termos naturais orgânicos de associações produtivas, mas de maneira abstrata em termos ideológicos, agora em conluio com o capital.

De facto, o Corporativismo do Estado Novo foi teoricamente extinto em 1974 (setembro) mas grande parte dos documentos mais relevantes necessários para o estudo do Corporativismo do Regime de Salazar e suas implicações e cumplicidades com o novo regime de Abril, foi escondida ou destruída devido a interesses ideológicos do novo sistema!  Isto torna numa perda irreparável para se poder compreender melhor o espírito e os vícios de um “corporativismo político-ideológico-administrativo” que hoje ainda vigora!

A revolução de 1974 aproveitou-se do pessoal estratégico e dos organismos de coordenação económica educativa, científica e política do regime de Salazar, para reestruturar os novos ministérios e criar laços efectivos e duradouros de poder. Seria comprometidor ter-se hoje acesso a documentos relevantes do corporativismo do regime autoritário de Salazar!

Deste modo torna-se hoje impossível analisar a cumplicidade da política do regime de Abril com o corporativismo e administracao de Salazar; a ideologia socialista aliada aos interesses económicos por si domesticados, estava interessada em aproveitar-se do antigo sistema corporativo e em transformá-lo de maneira ideologicamente  proveitosa no regime democrático. Assim, temos um regime com a mesma mentalidade e cumplicidade do regime que combate.

O povo, já não vinculado à terra e aos seus grémios corre o perigo de passar a viver em balões de ideologias que lhe reservam sobretudo o papel de consumidor, prosélito ou mero votante.  Se antes dominava o paternalismo de Estado agora domina o Estado partidário (2).

 

Entre solidariedade social económica e solidariedade social ideológica

 

O corporativismo português é centralista, de caracter autoritário e ideológico; nele os modelos de acção e decisão das corporações mais que orientados para o consenso de grupos, para o cidadão e para o Estado encerra-se em grupos de interesses. O resultado do rendimento nacional e o estilo de discurso politiqueiro revelam que o corporativismo do Estado Novo foi continuado na sua mentalidade porque enquanto este procurava impedir a acção cívica individual substituindo-a pelo interesse dos grémios, o 25 de Abril cria novas solidariedades, já não tanto assentes na economia e na cultura, mas na solidariedade ideológica, também ela não fomentadora da acção cívica individual, porque baseada nos interesses de corporações partidárias. O 25 de Abril de coloração comunista aliado ao socialismo radical ad hoc nunca estive interessado em aceitar colaboração entre classes: o marxismo vive da luta de classes apostando, por isso, no conflito, não estando interessado numa política de integração das classes na sociedade; o capitalismo liberal de mistura também não está interessado numa política concreta de integração das camadas sociais porque parte do princípio que o mercado regula tudo por si mesmo….  O novo regime, na tendência, aposta numa utopia socialista transportando para os partidos a ideia fascista, de que “as diferentes vontades políticas das classes estariam representadas nas associações”. Os interesses do corporativismo afirmam-se à margem do cidadão em geral.

À ideologia da luta socialista marxista de classes vem mais tarde juntar-se o Individualismo liberal anárquico. Em Portugal, a representação de interesses, embora plural revela-se impeditiva da competição e como garante de um certo jacobinismo ideológico herdado da revolução liberal e cultivado pela rede da maçonaria infiltrada em diferentes organismos da política e do Estado. Confunde-se mercado económico com mercado ideológico, como se nota em certos sectores da universidades e em grande parte no MEC em espaços políticos controladas pelo espírito de um corporativismo ideologizado.

A disputa entre associações empregado-empregador não é querida e por isso não parte da realidade no terreno nem do país real.  Em vez de termos uma democracia de caracter inclusiva concordante temos um sistema de divergências. Os extremos da ideologia capitalista e socialista juntam-se em Portugal impedindo-o

Uma luta de identidades baseadas nos solos e subsolos de capelinhas mantem-se coesa sem ter em conta a identidade e a coesão de um Estado que para ser coeso dependeria da solidariedade de povo e das instituições, mesmo daquelas que se afirmam pelo contra, mas que deveriam estar conscientes da identidade tecto que é geograficamente o Estado.

 

No Jogo Yin Yang entre Família e Estado e Estado e Família

 

Neste contexto acho digna de nota a sociedade alemã na maneira como consegue integrar os necessários conflitos entre organizações sociais e económicas, (patronatos e sindicatos) entre indivíduo e sociedade, numa dinâmica inclusiva em relação ao Estado, também ele reconhecido, por todos, como factor de identidade. Aqui o Estado integra o conceito de família, enquanto nas sociedades latinas a solidariedade familiar é mais de espírito privado e como tal mais individualista.

É interessante ver-se como os estados de cunho mais protestante projectam o espírito familiar no Estado enquanto os Estados latinos atomizam mais esse espírito e esvaem-se no individualismo; quem vê de fora, certamente, constata uma certa contradição na dinâmica polar entre os países de cariz católicos mais centrados na comunidade (no nós) e os países de cariz protestante mais concentrados no eu; a um colectivismo do inconsciente nórdico parece opor-se o individualismo do inconsciente latino (existencialmente mais comunitário). Cada sociedade parece reagir externamente de maneira oposta a uma filosofia de substrato, procurando a vivência a nível imanente não se interessando por uma análise comparativa para lá do inconsciente colectivo. É interessante observar a vivência polar ad intra e ad extra das forças comunitárias e individualistas, dentro das sociedades e na relação destas com as diferentes culturas, num jogo de relações tipo yin e yang.

Estado Novo como Corporação económica paternalista  e Regime de Abril como Corporação ideológica

Assim, tecnológica e economicamente, os países do Sul estão condicionados à dependência dos nórdicos. Uma política sem interesse numa economia nacional própria, consequentemente, não fomenta a formação de consensos entre as corporações e entre as políticas… As relações entre empresários e trabalhadores, mais que fundadas na realidade económica e nos interesses económicos nacionais, assenta nos interesses individualizantes de forças partidárias de ideologias extremamente concorrentes (falta-lhe a experiência de uma economia social) que deste modo beneficiam uma ideologia de mercado (1).

Grande parte do discurso nos jornais portugueses de referência não se preocupa em fazer uma análise tipo sinopse relativamente ao regime de Salazar e ao regime de Abril, contentando-se em seguir os ditados da política assumida ad hoc e só na demonização do Estado Novo. O regime corporativista de Salazar, como modelo corporativista do Estado, foi sub-reptícia assumido e modificado no sentido do 25 de Abril, com o particular de se ter tornado ainda mais ideologizado pelo facto de o papel do Estado ser em grande parte assumido pelos partidos com os seus tentáculos, fundações, PPPs, etc., no lugar das corporações e associações produtivas…  Das corporações económicas ideológicas do Estado Novo passa-se para corporações ideológicas do Regime de Abril. A solidariedade social é organizada pela política em conluio com o capital da macroeconomia.

As corporações sindicais mais que especialistas em economia e interessadas numa interacção corporativa e na construção de um Estado de economia social preferem continuar a ter o patrão como papão (esquecem que trabalhadores empenhados fortalecem o empresário e este enriquece os trabalhadores – exemplo da VW e da economia alemã baseada no fomento de pequenas e médias empresas – as grandes empresas são importantes na concorrência a nível internacional). Um modelo de Estado arbitrariamente intervencionista, atua, muitas vezes, à margem da economia real da sociedade e dos interesses do bem-comum e, devido à prevalência ideológica (neocapitalismo e socialismo) fica condenado a ter de correr sempre atrás das macroeconomias.…

Enfatiza o moralismo político com mediador de redes de interesses num mercado sem capacidade competitiva, com demasiada jerarquia funcional, e burocracia controladora dentro de um Estado com o monopólio de representação; o Estado não tem pejo em sobrecarregar as pequenas e médias empresas com os óbolos que têm de pagar para manter a burocracia formadora e fiscal. A nível de política de educação para melhor controlar a ideologia nacional considera as escolas particulares concorrentes e não elementos complementares enriquecedores do sistema, como se verifica em Estados ocidentais não socialistas.

Contraditoriamente segue-se o ditado da economia liberal e por outro um burocratismo parasita que além de reduzirem a produção impedem o desenvolvimento das pequenas e médias empresas. A Alemanha pode ser o exemplo de um Estado, com um orçamento com superavit, precisamente porque tem organizações fortes a nível de empresariado e de sindicatos, em que os interesses de mediação mais que ideológicos assentam em dados reais (o mesmo se diga da Suiça com oito milhões de habitantes e que alimenta os nacionais e muitos imigrantes que a enriquecem atrai imigrantes). Deste modo têm rendimento para manter um certo grau de justiça social, sem que o creme fruto da produção nacional não se limite só a alimentar as elites.

Independente deste texto recomendo a leitura de “O Poder local em Tempo de Globalização” (Fernando Taveira da Fonseca) que é um documento independente de ideologias e pode contribuir para  uma melhor compreensão e moderação da actual discussão político-social em Portugal.

 

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (Português e História)

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=4422

  • (1) “A organização corporativa, com toda a sorte de organismos que dela fizeram parte, foi a mais saliente e inovadora criação institucional dos estados corporativos no sentido de domesticar o capitalismo, compartimentando os interesses e impondo a colaboração entre «capital» e «trabalho» num plano nacional”. O corporativismo do Estado Novo sofre da mesma doença que sofre o corporativismo ideológico que se lhe seguiu: é um corporativismo ad hoc. O corporativismo num Estado pequeno pode perpetuar a velha mentalidade vazada sucessivamente em vasos novos. Tem-se por um lado a afirmação de interesses monolíticos e uma sociedade em geral ao sabor do vento.
  • (2) Um aparte: A sociedade parece cada vez viver mais de uma dicotomia desequilibrada entre natura e cultua. Se no passado dominava a natureza atualmente domina a cultura (o desequilíbrio das duas forças vivenciais fomenta a crise e a pressa do declínio do Ocidente – numa luta da cidade contra o campo e na abstracção da vida social). Assim hoje vivemos numa sociedade chamada de mercado e da concorrência de mercados, mas na realidade não encontramos mercados reais localizados, mas lojas de mercadores anónimos presentes em todas as cidades. Concretamente, também a economia e o mercado se transformaram numa ideologia que se impõe e determina um modo de vida cada vez mais artificial.

 

 

A EU (UNIÃO EUROPEIA) APOIA A ENTRADA DA TURQUIA NA EU COM 4,45 MIL MILHÕES DE EUROS

Atendendo ao fascismo crescente na Turquia, o Parlamento Europeu exigiu o stopp das conversações preparativas para a entrada da Turquia na EU. Apesar disso a EU tem um orçamento de 4,45 mil milhões de euros para a Turquia; esta quantia é concedida até 2020 para a Turquia se ir preparando para entrar na EU; desta verba já foram usados 167,3 milhões de euros, como refere o HNA de 25.07.

Dois terços do dinheiro estão previstos para projectos de fomento da competitividade, conversão do fornecimento de energia, e para o sector de transportes.

O stopp da corrente dos dinheiros só seria possível com uma decisão conjunta dos ministros dos estrangeiros da EU, dado estas verbas não estarem condicionadas à preservação da democracia nem ao respeito por princípios constitucionais.

O único verdadeiro instrumento de pressão que a EU tem na mão para levar o governo de Ancara  a abrandar o seu fomento do fundamentalismo religioso  e a desmontagem do Estado moderno iniciado pelo seu fundador Mustafa Kemal Atatürk seria seria a cessação da união aduaneira com a Turquia. O único meio de pressão é o económico, este é porém uma espada de dois bicos, atendendo à dependência do desenvolvimento social da economia.

Em 2016 a Turquia exportou para a Alemanha mercadoria no valor de 15,4 mil milhões de euros e a Alemanha exportou para a Turquia 21,9 mil milhões de euros.

Paralelamanete aos dinheiros disponibilizados pela EU para a integração da Turquia na Europa, a EU disponibilizou três mil milhões de Euros para o estrangulamento da corrente de refugiados da Turquia para a Europa.

De momento o regime de Erdogan persegue os jornalistas considerando “ajudante do terrorismo” quem for crítico ao seu regime. Processou 13 jornalistas do jornal da oposição “Cumhuriyet”. A grande maioria dos jornais foram levados à linha do goerno.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

FUNDO DE APOIO ÀS VÍTIMAS DOS TUMULTOS DE HAMBURGO

 

Hamburgo é a cidade mais portuguesa da Alemanha

O Ministério das Finanças declarou que o Estado alemão e a cidade de Hamburgo disponibilizam 40 milhões de euros para compensação das vítimas da violência em torno da G20 em Hamburgo.

O processamento da compensação é feito através de um fundo de apoio para onde vai o dinheiro do Estado.

O Fundo de Indemnizacao destina-se a lesados em bens não cobertos por seguros. Já há 230 pedidos de indemnização.

A Alemanha tem leis de indemnização que pode consultar aqui. Formulários de inscrição para a indemnização das vítimas encontram-se neste link em alemão.

Hamburgo é a cidade mais portuguesa da Alemanha, pela sua história, instituições, associações, gastronomia e pelos 10.000 portugueses que nelavivem.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A LIÇÃO DA G20 EM HAMBURGO – PRÉ-ANÚNCIO DA RADICALIZAÇÃO DE TODA A SOCIEDADE?

Poder de cima e Poder de baixo no Ajuntamento

 

António Justo

A Cimeira G20 congregou em Hamburgo os chefes de Estado dos 20 países industriais mais importantes e de países emergentes para tratarem dos temas clima, comércio, migração, luta contra o terrorismo; teve 10.000 participantes, dos quais cerca de 5.000 eram jornalistas. O custo da cimeira G20 foi de 130 milhões de euros .

 

Poder contra poder

 

Hamburgo juntou 70.000 manifestantes , vindos de toda a Alemanha e do estrangeiro, para protestar contra a exploração do Homem e da natureza e contra os excessos do capitalismo financeiro.

Em acção estiveram 19 helicópteros, 3.000 veículos, 20.000 polícias e não conseguiram proteger a cidade. Resultado: 476 polícias feridos, 144 militantes aprisionados e 51 detidos na prisão (entretanto já 13 em liberdade), carros incendiados, lojas devastadas e roubadas, corpos explosivos e pedras atiradas dos telhados, habitantes desorientados. Os manifestantes do G20 do campo do Bloco Negro e da Esquerda Autónoma castigaram os habitantes da cidade e estragaram a festa.

Uma das táticas dos autónomos foi o disfarce,  organizar-se em pequenos grupos e mudar de roupa para não serem identificados. O excesso de brutalidade de muitos demonstrantes (pelo menos, 1.500 radicais violentos) levou o ministro do interior a dizer:” Não eram manifestantes. Eram anarquistas criminosos”. Apesar de tudo, o Prefeito da cidade já pediu desculpa à população por a política não ter estado à altura de poder impedir tanta violência da rua.

O ministério das finanças avançou que as vítimas dos extremistas serão indemnizadas. A polícia organizou centros de reclamação para os cidadãos; A polícia criou uma comissão composta por 110 investigadores de Hamburgo e 60 de fora para avaliarem milhares de vídeos e fotos.  Muitos danos serão suportados pelas companhias de seguro em consequência de vandalismo (possuidores de autos só com “seguro de responsabilidade civil” (Haftpflichtversicherung) não teriam direito a indemnização porque este seguro só cobre danos causados pelo próprio; por outro lado em casos de força maior os seguros costumam cobrir os estragos.

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Extremistas de esquerda e de direita na Alemanha

A G20 juntou em Hamburgo, os poderosos do mundo e a cena da esquerda militante: uma sociedade atrevida e uma agremiação de atrevidos.

Segundo afirma a Polícia de Proteção Constitucional, na Alemanha há 28.500 extremistas de esquerda, e destes 8.500 são dados à violência, especialmente os Autónomos. A mesma repartição calcula em 22.600 extremistas da direita e em 12.100 o número de extremistas com semelhante potencial de violência.

A revista de tendência esquerda DER SPIEGEL, n° 27/1.7. 2017 já previa a violência e fornecia ao mesmo tempo o logo dos extremistas de Hamburgo apresentando na primeira página, em letras garrafais, o seguinte: “Globalização fora de controle!  ATREVEI-VOS!   Pensar radical, agir com decisão – só assim o mundo pode ser salvo”. Embora a humanidade, a política, a ciência e a economia precisem de repensar e de mudar de atitude para resolver os problemas da humanidade nada justifica um título que pode ser considerado um apelo indirecto ao radicalismo à maneira do islamismo.

Simpatia clandestina no que toca ao radicalismo de esquerda

Na opinião pública é cultivada uma certa ingenuidade perante o extremismo de esquerda e por isso a estratégia de defesa não esteve à altura da cena da esquerda que se sentia em casa.

A violência de esquerda tem sido banalizada. O Estado e a sociedade terão de estar tão atentos à violência dos radicais de esquerda como à dos radicais de direita. Na sociedade há uma “simpatia clandestina”, supõe o político Wolfgang Bosbach, e por isso os Estados europeus não têm os mesmos instrumentos e táticas contra as maquinações da esquerda radical como têm na luta contra as maquinações da extrema direita.

 “Flora Vermelha” o epicentro do extremismo de esquerda

Hamburgo tem no seu centro há 28 anos a Rote Flora – um centro cultural dos autónomos que funciona como catedral da oposição da esquerda radical contra o poder do Estado; o mais curioso é que desde 2014 a Rote Flora tem o estatuto de fundação da cidade.

O advogado porta-voz de Rote Flora (Flora Vermelha) disse que não puderam ter mão nos tumultuosos porque os “os militantes estrangeiros” não seguiriam ordens (uma desculpa barata porque é próprio dos autónomos não aceitarem jerarquias!). ” Nós, como autónomos e eu, como porta-voz dos autónomos temos certa simpatia por tais acções, mas por favor, não no nosso próprio bairro onde vivemos. ”

 

Conclusão

A G20 dos chefes de Estado em Hamburgo teve sucesso em relação à abertura dos mercados, a mais dinheiro para África, ao encontro bilateral de Wladimir Putin e Donald Trump com o acordo de cessar-fogo no sudoeste da Síria e às alterações climáticas (os USA não aprovaram este ponto).

Há quem considere eventos como os de Hamburgo desnecessários, quer para os chefes de Estado quer para os demonstrantes. Os encontros de chefes de Estado poderiam tornar-se mais eficientes se se reunissem em pequenos grupos do que num grupo de mamutes. Em tempo de internet e de videoconferências e com o movimento de protesto já expresso na internet, talvez já esteja atrasada esta maneira de se demonstrar o poder de cima e o poder de baixo.

 

Em Hamburgo revelou-se um fenómeno explosivo que revela o estado doentio da política e da sociedade; o Estado deixa de ter o monopólio do poder: ao extremismo de fora vem juntar-se o extremismo de dentro. A Alemanha demonstrou que não consegue dominar o extremismo de esquerda como não consegue dominar o extremismo muçulmano: uma “cortina de fumo” impede a visão.

Grande parte da população pensa baixinho que já vai sendo tempo de os Estados deixarem de educar para a esquerda, descuidando o centro, de que vive.

Em Hamburgo a extrema esquerda mostrou que precisa das mesmas medidas do Estado como as que existem contra a extrema direita; doutro modo proporcione-se-lhe um estágio na Coreia do Norte. No seu fulgor parecem confundir justiça social com igualdade social. Para não se brincar com a inveja haverá que ter em conta que as pessoas são desiguais face aos seus talentos, habilidades, competências e motivação. Importante é impedir as fontes de desigualdades estruturais e fomentar possibilidades aos mais débeis; se o Estado não garantir isto dar-se-á lugar a situações de guerrilha nas cidades.

Em Hamburgo tudo pôde e pode; podem os governantes da G 20, podem os radicais da extrema esquerda, pode a polícia e, no meio de tanto poder, para o confirmar, só não podem os habitantes que querem paz. A violência passou nua; uma vergonha para a Alemanha e um aviso para outros países. Apesar das razões que haja para demonstrar contra cimeiras (violência sub-reptícia presente nas estruturas económicas e políticas) nada justifica a violência brutal praticada nas ruas de Hamburgo.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

ANIVERSÁRIO DE PORTUGAL CAMPEÃO EUROPEU 2016

Ronaldo – O Anjo da Equipa Nacional

Por António Justo

Hoje, 10 de Julho, faz um ano que a Seleção Nacional venceu o campeonato da Europa, na final contra a França (1-0).

A selecção nacional começou o Europeu 2016 fraca, mostrou-se moderada no meio do torneio e revelou-se eficiente no fim.

Apesar da coesa seleção ter Ronaldo, a imprensa internacional e as claques não acreditavam em Portugal. Como Portugal tinha perdido no Mundial 0-4 contra a Alemanha, os alemães pensavam que Portugal não chegaria às finais do Europeu.

Durante o torneio, Portugal viu-se sozinho a acreditar nele mesmo: é o caso para dizer Portugal porque, com a equipa, jogava Portugal inteiro.

O futebol português já tinha chegado muitas vezes às meias-finais e uma vez à fatídica final em que perdeu em casa.

Portugal que fazia parte do grupo F iniciou o jogo 1-1 contra a Islândia, recém-chegada ao campeonato 2016.

O 0-0 contra a Áustria e o 3-3 contra a Hungria mostrava que Portugal, tal como na política, andava atrás das suas possibilidades. Nestes jogos, tinha jogado sozinho, sempre contra a sorte. Demonstra que não chega o jogo para se chegar à victória. Sem victórias a selecção consegue o terceiro lugar de vencedor nas eliminatórias das oitavas finais. A equipa de Ronaldo esforça-se mais que o tempo lhe permitia, conseguindo, no prolongamento, o 1-0 contra a Croácia.

O jogo foi um exercício de paciência para os portugueses que desesperadamente aplaudiam. O aplauso e a esperança conseguiram as quartas de final contra a Polónia onde, além das” horas extraordinárias” teve de recorrer à disputa dos penáltis, vendo aí premiadas a vontade e o esforço. Depois do 1-1, com os penaltis, chega-se ao resultado Portugal 5-Polónia 3.

Segue-se depois o dia em que o Sol brilhou no gramado das meias-finais: dois para Portugal e zero para o País de Gales.

Portugal sentado no banco  com o seu anjo a sofrer

No Final contra a França, que jogava em casa, Ronaldo é ferido logo no início do jogo; então a equipa do treinador Fernando Santos, passa a lutar por Ronaldo e por Portugal. O mestre Eder consegue a proeza da victória metendo um golo no prolongamento: 1-0 para Portugal. Portugal, apesar de muitas voltas sentimentais, consegue com honra e com mérito ganhar o campeonato.

Lágrimas correram nas faces de Cristiano Ronaldo: umas de amargura e outras de tristeza, durante a final.

Neste longo dia, o Euro 16 tornou-se na coroação das três vezes em que Cristiano Ronaldo foi o melhor jogador do mundo.

O homem decisivo para os momentos decisivos foi ferido no 8° minuto por Dimitri Payet e chora de dores e de desespero por ter de deixar a equipa no momento em que ela mais precisava dele. Teve de deixar o seu palco, levado numa maca.

Todos fomos testemunhas das lágrimas a correrem-lhe na cara e as dores no rosto e como com Ronaldo no banco, todo o Portugal desespera.

A equipa portuguesa, consciente de que em momentos decisivos não é só boa a nível individual, mas também como equipa, pega no jogo com a cabeça e com os pés consciente que só juntos por uma causa se conseguirá vencer; então um por todos e todos por um (Ronaldo) combatem como leões numa arena de grandes.

Ronaldo, agora na Zona de treino ao lado do treinador e na linha lateral encoraja os colegas em campo. No 109° minuto Eder marca o Golo e no rosto de Ronaldo correm agora lágrimas de contentamento.

Portugal consegue a meta gloriosa.

Enquanto Portugal jubila, a equipa francesa, chorava incontidamente  com Blaise Matuidi e Antoine Griezmann.  No rosto de França via-se a dor do “Cruel e terrível” xeque-mate na própria casa.

Na Arena de Paris, Portugal deu o exemplo de Portugal unido, e de um Portugal não perdido nas divisões de interesses corporativos e de partidos (Foi um momento da união só também tido no passageiro 25 de Abril e no apoio ao povo de timor!).

Precisamos de um Portugal verdadeiramente português que se sinta ele e acredite nele; precisamos de políticos nacionais à altura dele!

Portugal tem muitíssimos “Ronaldos” e muitos “Fernando Santos” sentados no banco dos suplentes e da assistência, impedidos e sem hipótese, sofrendo, até ao desespero, com a falta de espírito de serviço e de equipa dos nossos Governos e Parlamentos.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo