Nancy Pelosi usada como Farpa dos EUA em presumível Corpo chinês
Todas as populações, atendendo à geoestratégia das potências mundiais, como se manifesta agora no conflito USA-China em Taiwan, são colocadas em situação polémica: defender os direitos humanos e a democracia ou ter consideração pela ditadura chinesa. O povo quer paz e entendimento, mas as potências querem poder e supremacia marcando para isso as suas linhas vermelhas e só cedem quando são obrigadas a ceder, daí as guerras.
Os EUA para impedirem que a China os substitua no seu lugar de controladores do mundo não hesitam em fomentar um conflito no Índico em nome da defesa da democracia embora tenham assegurado a Pequim o poder legítimo sobre Taiwan! Quanto à vontade do povo na História, ela faz sempre parte da letra miúda colocada em nota!
Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, visitou (2.08.2022) Taiwan, o que a China considera uma provocação! Em Taipé, Nancy Pelosi afirmou: “Mantemo-nos firmes no nosso compromisso de defender a democracia no mundo e em Taiwan”. Com esta frase redobra os propósitos afirmados na Cimeira da OTAN em Madrid (1) de afirmar o direito de interferir nas questões internas dos países onde os seus interesses não forem garantidos.
A iniciativa de Nancy Pelosi revelou-se falhada porque a China reagiu de maneira diferente à da Rússia quando Putin em 2007 avisou que tentar arrastar a Ucrânia neutra para a parte da esfera ocidental isso corresponderia a ultrapassar a linha vermelha; apesar disso a OTAN ultrapassou a linha vermelha o que levou à intervenção russa; agora os EUA tentaram usar o mesmo estratagema em Taiwan mas a China, que também tinha avisado que Taiwan constituía linha vermelha a não ser pisada pelos EUA, ao reagir de maneira tão exacerbada e decidida, mostrou mesmo que o pisar a linha vermelha corresponde a guerra séria! Depois de passados os primeiros exercícios de músculos, certamente se dará espaço de tempo suficiente para uma acomodação ou para um verdadeiro confronto.
A situação na Ucrânia, perante a abdicação da Europa, levou Washington a conseguir a guerra fria com a Rússia e agora que vai perdendo a Rússia, mas conquistou a Europa, começa a fazer provocações à China a partir de Taiwan para assim preparar a guerra fria também com a China. A China passa assim a ser, neste momento, provocada por não ter alinhado na guerra económica contra a Rússia.
O povo taiwanês é que sofre as consequências! Numa demonstração de poder, a China reagiu com manobras da marinha à volta de Taiwan e as autoridades chinesas proibiram a importação de produtos agrícolas a mais de 3.000 empresas de Taiwan, convocaram o embaixador dos EUA e interromperam as conversações sobre o clima e a colaboração em assuntos militares.
Em 1979 os EUA comprometeram-se a reconhecer o governo da República Popular da China como governo regular de toda a China (Também Taiwan). Esse foi certamente um erro, mas feito num tempo de poder de perspectiva bipolar no mundo.
Neste espírito, a Alemanha e os EUA têm a sua representação oficial em Pequim mantendo apenas uma representação inoficial em Taipé (Taiwan).
Os EUA e a OTAN querem sobrepor-se a outros povos considerando a sua mundivisão como a melhor ordem para o mundo, sem reconsiderarem que essa visão já não funcionou nas cruzadas. Pouco a pouco vai-se tendo a impressão que o povo não pode pensar pela própria cabeça e os políticos, longe do humano, apenas aplicam as ordens de uma inteligência artificial.
Os EUA querem impedir transformações no mundo que levem à criação de um poder mundial multipolar! O comportamento que assumem parece tomar em conta, para breve, a formação de um mundo bipolar alinhado em socialismo de um lado e capitalismo liberal do outro. Deste modo os circuitos de comércio reduzem-se, tendo o povo, de um lado e do outro, de pagar a conta. Exemplo: a guerra económica com a Rússia leva a Europa a ter de importar gás líquido dos EUA que fica quatro vezes mais caro que o gás russo.
Hoje governa a arrogância e a mediocridade legitimadas por eleições democráticas, mas seguidora da ditadura do mercado determinada pela oligarquia globalista. A narrativa dos Media sobre a Rússia e a Ucrânia consegui transformar-se num meio de lavagem de cérebro do povo europeu de modo a conseguir apagar a imaginação europeia!
Hoje lamentamos na Europa os cadáveres humanos e os prejuízos económicos em consequência da guerra geoestratégica americana e da guerra económica europeia na Ucrânia e amanhã o desastre será mais que duplo no confronto entre a China e os USA (OTAN) em Taiwan, numa luta pelo domínio do Pacífico entre dois rivais imperialistas empenhados em afirmar a sua hegemonia à custa dos vizinhos (2).
Atendendo aos imperialismos e mundivisões rivais, a política externa dos EUA revela-se desastrosa e está a pôr em perigo a paz mundial. De novo os EUA fazem uso de uma política de provocação de maneira sorrateira como fizeram na Ucrânia. Já não chega a guerra fria entre a OTAN e a Rússia para se preparar uma outra guerra fria entre a OTAN e a China. De novo, em nome de guerra económica, geoestratégica ou nacional se atenta contra a paz.
Cada parte quer ver imposta uma nova ordem mundial a seu jeito, mas o mundo está a exigir um outro jeito de andar e de mandar!
A luta pelo domínio do Pacífico faz de Taiwan um ponto quente do conflito mundial. Joe Biden quer domar Putin e Xi Jinping para continuar a manter a sua hegemonia mundial.
Taiwan é o resultado final da derrota da resistência dos nacionalistas chineses que se acantonaram em Taiwan na fuga aos comunistas chineses do continente. Mao Tse Tung proclamou a República Popular Comunista em Pequim em 1949 passando na China a existir dois sistemas de governo propriamente incompatíveis, o democrático em Taiwan e a ditadura na China continental.
Agora o líder Xi Jinping vê como tarefa submeter Taiwan a Pequim. Os EUA, interessados no Pacífico, no comércio e na correspondente esfera de influência, estão empenhados em continuar a ter Taiwan como aliado contra a China.
Os EUA e a OTAN querem sobrepor-se a outros povos considerando a sua mundivisão como a melhor ordem para o mundo, sem reconsiderarem que essa visão já não funcionou nas cruzadas. Pouco a pouco vai-se tendo a impressão que o povo não pode pensar pela própria cabeça e os políticos, longe do humano, apenas aplicam as ordens de uma inteligência artificial.
Os 23 milhões de taiwaneses querem, pelo menos, preservar o status quo para não terem de seguir os ditadores de Pequim.
Joe Biden disse ser “obrigação” defender Taiwan (Se com armas ou com tropas é uma questão em aberto) de maneira a Taiwan poder autodefender-se.
Taiwan ocupa o número 22 entre as grandes economias mundiais e encontra-se fortemente entrelaçada com a economia global. Se houvesse uma guerra económica também contra a China, as consequências seriam muito mais desastrosas e incomensuráveis em comparação com as advindas contra a Rússia.
A situação mundial é catastrófica porque o poder dos EUA com as suas bases militares em todo o mundo é tão grande que obriga grandes potências a ter de ajoelhar a seus pés. Daí o interesse de países, também com interesses imperialistas, apostarem no fabrico de bombas atómicas.
Na consequência do seguidismo descabeçado dos políticos europeus iremos certamente observar representantes parlamentares europeus em peregrinação a Taipé no seguimento de Nancy Pelosi para mostrarem os músculos da OTAN, tal como fizerem em Kiev.
A matriz mental por que se orientam poderosos e “cromos” são selectivas (não inclusivas) com uma linha de pensamento apenas linear mono-causal e de visão numa só perspetiva (dirigida a um só fim ou objecto resumido no próprio ganho) enquanto que pessoas mais pacíficas têm uma matriz mental mais abrangente com uma linha de pensamento a-perspetivista (global) capaz de perceber o mundo no seu todo e na sua complexidade, compreendendo a necessidade da complementaridade de elementos, ideias e comportamentos; em vez de um pensamento de luta tornar-se-ia adequado um pensamento que tenha como base o compromisso; doutro modo quem não é pelo compromisso entre interesses divergentes é pela guerra.
Os tempos em que uma filosofia ou uma ideologia dominavam o mundo já passaram. É preciso uma filosofia aliada aos compromissos! Precisa-se de uma mistura de estratégia ocidental (doutrina) e oriental (compromisso pragmático) na maneira de solucionar os problemas do mundo.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo,
(2) Michael Müler, antigo Secretário de Estado da Alemanha, em contrapartida à política actual do governo avisa: “A Rússia é o maior país da terra com mais matérias-primas do mundo. Pode desenvolver-se na direcção da Ásia ou da Europa. O maior perigo para o mundo seria uma dupla guerra fria – com Pequim e Moscovo” e acrescenta: “O perigo está a crescer devido à política externa dos EUA”. “O verdadeiro problema é que, quando o mundo compreender o que está a acontecer, a fractura global já terá permitido à Rússia, à China e à Eurásia criar uma verdadeira Nova Ordem Mundial não-neoliberal que não precisa dos países da NATO e que perdeu a confiança e a esperança de ganhos económicos mútuos com eles. O campo de batalha militar estará repleto de cadáveres económicos”: https://thesaker.is/the-dollar-devours-the-euro/?fbclid=IwAR1gP_VuLXCEB30TCW1Pa7XrcUCaJor6LzvCt3Nv2pCglzyHJjIyWsGHVCk