O PAPA QUALIFICOU O REARMAMENTO DE INSENSATEZ

O Papa Francisco criticou os planos de aumentar as despesas militares devido à guerra na Ucrânia.

Ficou envergonhado quando os viu, disse o Papa numa recepção organizada pelo Centro Italiano da Mulher no Vaticano. “Loucura”, disse ele: armas, sanções e alianças militares, foram a resposta errada.

De facto, é chocante a rapidez com que o governo federal alemão e grande parte dos media públicos abandonaram as políticas anteriores mais orientadas no sentido dos cidadãos e da paz (De repente são aprovados mais 100 mil milhões de euros para armamento!). Em vez de se removerem as armas nucleares do solo alemão, devem ser comprados novos aviões de combate que possam transportar estas armas.

É também chocante a forma como os governos dos países europeus estão a juntar-se às fileiras militares e cada vez estão mais dispostos a investir nas despesas militares e menos nas necessidades humanas dos seus cidadãos. Aproveitam-se do desvio das atenções dos cidadãos!

A vontade política é aumentar ainda mais as despesas em armamento. Portugal, que está quase no topo dos países europeus que gastam, proporcionalmente, mais dinheiro nas forças armadas, ainda quer aumentar o orçamento nesse sentido. Atendendo à realidade económica e social de Portugal, tem-se a impressão que a nossa elite política quer, simplesmente, encostar-se ao lado dos grandes à custa dos contribuintes portugueses e dos cidadãos que se veem obrigados a apertar mais o cinto!

Por outro lado, as armas são enviadas numa guerra que prolonga a guerra e leva a mais sofrimento e morte.

A maneira precipitada como os políticos estão a agir só pode provocar um abanar de cabeça em quem pensa!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A GUERRA DA RAIVA SEM SENTIDO

Em Mariupol assiste-se a uma catástrofe onde o vicioso e a maldade se juntam.

Suspeita-se que a destruição de Mariupol é a resposta de Putin à pressão ocidental. Na cidade viviam 400.000 pessoas e agora só lá vivem 300.000.

A Rússia pediu a Mariupol que se rendesse, ao que a vice-chefe do governo respondeu: “Não haverá rendição, não haverá abandono de armas!”

Em Mariupol, lutam sobretudo os combatentes do batalhão Azov, que têm sido chamados “neonazis”.

O Batalhão Azov “é um movimento de extrema-direita a que se juntam estrangeiros de extrema-direita”, segundo o que afirmou a organização não governamental norte-americana SITE Inteligence Group, e acrescentou é” errado que o governo ucraniano esteja infiltrado por neonazis” (HNA 22.03).

Em Mariupol, soldados russos procuram entre a população combatentes ucranianos. Já capturaram 100 que são reconhecíveis pelos hematomas e contusões nos seus corpos pelos coletes de protecção que costumam usar.

Encontramo-nos, por um lado, numa guerra na Ucrânia: pobre da população ucraniana; por outro lado, encontramo-nos, também no Ocidente, numa guerra de informação dividida em pró-russa e pró-americana.  Reina a partidarização e a confusão.

A nossa sociedade encontra-se dividida em dois polos cada vez mais extremos. Alguns falam das imagens de Kiev como uma encenação da América, outros falam de lavagem ao cérebro, outros veem em nós servidores do governo, diria, argamassa de amassar das elites! Facto é que, pelo que mais sobressai, quer os que são por um polo quer os que são pelo outro se mantêm radicalmente seguros na sua opinião; tudo parece certo de que acima da própria lógica não funciona a razão. Esta atitude foi o que conduziu primeiro à guerra civil ucraniana e agora à invasão russa!

Putin no seu desrespeito pela humanidade e pelo direito internacional irá ter uma victória de Pirro, uma victória que não é êxito, um caso demasiado caro que ficará na História como um falhanço de todas as partes!

Pelos vistos temos todos a tendência em alinharmo-nos, como se fôssemos todos guerreiros, de nascença! Porém em cada parte a nossa alma morre, porque em cada parte, brincam crianças, chilreiam passarinhos e vivem peixes no silêncio dos rios!

Hoje para formarmos uma opinião mais diferenciada temos de estar atentos não só aos Media do sistema, mas também aos “media sociais”. Os media sociais (são uma espécie de democracia de base) que minam a uniformização do poder dos media oficiais; uns e outros devem ser encarados com mente crítica. Todos estamos expostos ao perigo do pathos de uma opinião e accionismo (espécie de determinismo) que não calcula as consequências.

No ar, respira-se um espírito maniqueu de atitude belicosa que só nota adversários ou apoiantes, demónios ou anjos, tudo se resumindo no quem é da “minha opinião” ou no quem é contra!… Não é permitido espaço para dúvidas!

Se também olhamos em nosso redor, notamos quase todos transformados em  combatentes, tudo posicionado de um lado da vala ou do outro. Nem sequer notamos que a arma com que apontamos é tão pesada que não nos deixa levantar os olhos para podermos ver de mais alto!

Por um lado, a Rússia violou o direito internacional ao invadir a Ucrânia e por outro lado a OTAN e a União Europeia violaram acordos internacionais pelos quais a OTAN se havia comprometido a respeitar a neutralidade dos países que fazem fronteira com a Rússia. Num caso assim só ajuda rezar!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

GOVERNO UCRANIANO PROIBIU 11 PARTIDOS DA ESQUERDA

A luta interna dentro da Ucrânia acentua-se agora com a invasão russa. Especialmente desde 2013 havia na sociedade política ucraniana uma luta entre esquerda e direita, uma apoiada pela Rússia e a outra pelo Ocidente!

Segundo Spiegel Ausland, o Conselho de Segurança Ucraniano proibiu (20.03.2022) 11 partidos e também o seu trabalho durante o período da guerra. Os partidos afectados incluem a “Plataforma de Oposição pela Vida” e o “Bloco de Oposição”, que também estão representados no parlamento.

Estes como os outros nove partidos extraparlamentares agora proibidos, são considerados eurocéticos, antiliberais ou pró-russos.

De recordar que nas eleições parlamentares de 2019, a” Plataforma para a Vida” da oposição alcançou o segundo melhor resultado com 13% dos votos. O partido Sluha Narodu (Servants of the People) de Volodymyr Selenskyj pontuou com 43,2%; a participação nas eleições foi, na altura 50 %. A votação não teve lugar nas áreas disputadas no leste da Ucrânia.

Presidente Volodymyr Selenskyj anunciou que já foram mortos mais de 14.000 soldados russos. Da parte russa foi dito que foram 500 soldados! Na cidade de Kharkiv, de acordo com as autoridades locais foram mortos 266 civis, como resultado dos combates em redor da cidade.

Em tempos de guerra, as partes envolvidas nela fazem também a sua guerra de informação, o que se deve ter em conta quando se leem tais “factos”!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

VAMOS CRIAR EM CADA BAIRRO UMA REPÚBLICA LIVRE E INDEPENDENTE

Fazer dos Cafés Parlamentos e dos Bairros das cidades Repúblicas!

A propósito vem a iniciativa de um grupo de artistas do bairro Uzupis da cidade de Vilnius, Lituânia. Estes tiveram a iniciativa de declarar o seu bairro Uzupis como República Livre e Independente (Estado Fantasia não reconhecido pelo direito internacional!!!).

Declararam-se independentes e elaboraram uma Constituição segundo a qual cada pessoa tem o direito a ser feliz!  O café do bairro foi patenteado sede do governo e local de encontro popular de artistas. Uzupis que outrora era um bairro da classe trabalhadora, transformou-se num bairro de artistas.

A Constituição da República de Uzupis tem 41 artigos lapidados numa placa de bronze no exterior do edifício do parlamento – o café “Uzupis Kavine”.

Entre os artigos da Constituição podem ler-se os seguintes: “Cada um tem o direito de viver junto ao Rio Vilnia, e o Rio Vilnia tem o direito de passar por cada um. Todos têm direito a água quente, aquecimento no Inverno e um abrigo com telha. Cada ser humano tem o direito de estar errado – de ser único – de amar – não de ser amado, mas não necessariamente – de duvidar, mas isso não é uma obrigação. Todo o ser humano tem o direito de acreditar. Ninguém tem o direito de usar a violência. Cada ser humano tem o direito de pertencer a nacionalidades diferentes. Cada ser humano é responsável pela sua liberdade. Ninguém tem o direito de culpar outra pessoa. Todo o ser humano tem o direito de chorar – de ser mal compreendido – de não ter medo. Um cão tem o direito de ser cão! Não te deixes abater! Não contra-ataques! Não desistas… “…

Fica a ideia: cada lugar pode transformar-se numa república independente! Não há limitações para a fantasia! Em contrapartida à política geoestratégica vamos iniciar o regionalismo!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

PRESIDETE SEELENSKY SÓ SEM OTAN COM A UCRÂNIA DESTRUÍDA E COM O POVO UCRANIANO DIVIDIDO

A Política dos USA/OTAN/UE colocou a Ucrânia entre a Espada e a Parede levando-a a sentir-se entre o Diabo e Belzebu

Provocaram o urso, ele atacou e agora que se salve quem puder!

Putin já tem o poder de nos dividir e o presidente ucraniano Seelenskyj quer-nos unir para também a OTAN e a UE serem envolvidas na guerra que provocaram.

Há perguntas para as quais não há resposta imediata e para se entenderem há que ouvir também o advogado do Diabo! As elites políticas ocidentais transmitiram a impressão à opinião pública que não é a OTAN que está envolvida nesta situação e isto inflama o presidente ucraniano que como guerreiro nacionalista de uma nação martirizada e dividida (entre posição pró-EUA e pró-russa), sabe que também a Ucrânia está a ser enganada! Seelenskyj vê-se, porém, obrigado a fazer um jogo duplo e a propagar a ideia no povo de que só se trata de uma guerra de defesa contra o invasor russo.  É triste a figura de um presidente que em casa combate parte da alma russa do próprio povo na esperança de se salvar num Ocidente que depois de oito anos de guerra civil (1) cinicamente deixou Ucrânia abandonada a si mesma. De notar que a Ucrânia até 2014 era Não-alinhada!

Seelenskyj sabe dos interesses da Rússia e da hipocrisia do Ocidente apenas interessado no comércio e no aumento do seu espaço vital!  Por isso, nas conferências que faz, o Presidente, sem poder, fala com autoridade, atrevendo-se a fazer exigências para ele lógicas, mas que só criam má-consciência e são impossíveis de cumprir pelos países da OTAN e da UE! No fim o Presidente apenas terá a consolação de ter ganhado o coração do povo europeu, embora na consciência pessoal amarga de que também este está a ser enganado! É crime encorajar os ucranianos a resistir a ponto de virem a entrar numa luta de homem a homem, quando nós ficamos, de fora, a ver o que se passa, para depois irmos fazer o negócio da reconstrução da Ucrânia. Enquanto o povo ucraniano é martirizado, a EU já se organiza em termos de organização do negócio (imagine-se, até gás líquido do Qatar já está a entrar no negócio!).

Seelenskyj revela-se nos seus discursos como guerreiro atrevido também perante os países da OTAN porque sabe que a política deles é fingida: De facto incendiaram  a guerra civil na Ucrânia, dando esperanças aos políticos que a Ucrânia entraria na OTAN e agora a Ucrânia vê-se no papel de pedinte, a bater à porta deles como apóstolo moral de uma guerra que os EUA, EU e a OTAN não querem reconhecer como a deles!  Daí, para descarga de consciência, a consequente desinformação nos Media e a sua estratégia de, mais que informar, usar do que relatam para apelar, sobretudo ao sentimento e à lagrima para que, pelo menos, o povo ocidental (que não os políticos), chore o mal que a Ucrânia sofre! Uma guerra-civil que surgira do crime foi continuada na criminosa guerra invasiva.

Nesta circunstância o povo ucraniano sofre a tragédia da guerra, o povo europeu paga a cumplicidade dos seus políticos e o presidente ucraniano está condenado a fazer má figura (isto independentemente das culpas que também ele tem no cartório!) A 17.03, o presidente ucraniano Seelenskyj exigiu no parlamento alemão o que já tinha exigido nos EUA, Grã-Bretanha…: mais armas e que OTAN imponha uma zona de interdição de voo sobre a Ucrânia. Tais exigências, como ele também sabe, são impossíveis de cumprir porque uma cedência a elas implicaria um incêndio na Europa e a guerra militar entre a Rússia e a Ucrânia seria alastrada aos países da Europa, especialmente àqueles que fornecem armas à Ucrânia.

O povo ucraniano está a ser vítima de políticos irresponsáveis quer dentro quer fora da Ucrânia.  Infelizmente as pessoas deixam-se levar pelo canto das sereias em que a política de interesses aposta! Todo nós, povo, tornamo-nos corresponsáveis ao solidarizar-nos com políticos do Maria vai com as outras e ao instigarmos o povo ucraniano a resistir e a arranjar mais lenha para se queimarem, em vez de se iniciarem conversações sérias com a Rússia que, apesar de tudo, terá de ganhar. As conversações a ter seriam sobretudo entre os impulsores da guerra: Rússia e EUA/OTAN/EU.  Já há bastante tempo não se justifica tanto sofrimento humano com tantas vidas mutiladas e tamanha destruição pelas cidades.  É preciso motivar as populações não só a chorar, mas sobretudo a pedir responsabilidade os nossos políticos.

Temos dois expansionistas em acção em que a verdadeira guerra consiste na conquista ou alargamento de mercados. A opinião pública tem de ficar com a ideia de que só Putin é o agressor (que a nível de invasão se tornou).  Que a Ucrânia livre consiga um dia entrar na União Europeia seria de prever, mas entrar na OTAN nunca.

O presidente encontra-se num beco sem saída recorrendo a discursos dramáticos onde o que é necessário são tentativas razoáveis de resolução do conflito. Não chega agora fazer a sua guerra contra a guerra de Putin e esquecer que também ele é parte do problema e que deve tornar-se num Presidente de todos os ucranianos.

O erro de Seelenskyj identifica-se com o erro da OTAN e grande parte dos jornalistas que é apresentar o início dos problemas da Ucrânia apenas com a invasão russa, partindo daí para a campanha nos Media, tendo para isso de apagando as causas da guerra civil na própria casa e iniciada em 2014, o que pressuporia uma outra saída para a questão. Os meios de comunicação social ocidentais, alinhados aos interesses da OTAN, praticam chantagem moral, mostrando para isso uma versão errada da questão da Ucrânia escondendo os interesses que aí se digladiam e calando as consequências que daí advêm.

A Ucrânia, sem renunciar à democracia, à justiça e à liberdade, tem de desistir da guerra sem renunciar à democracia, à justiça e à liberdade. Os implicados no conflito poderiam chegar a um compromisso viável: uma Ucrânia Federal neutra e independente ficando a Rússia com a Crimeia! Isto é possível com tratados internacionais que corresponsabilizem todas as partes.

Antes de 22.02.2014 ninguém dizia que Putin era agressor nem que a expansão da OTAN era necessária. No Ocidente foi criada a narrativa de que Putin queria recriar o império da União Soviética e tornar a Rússia grande e para isso conquistar a Ucrânia. Segundo o Prof. Dr. John Maersheimer “a crise causada começou por a Ucrânia estar-se tornando um membro de facto da OTAN”; o perito americano conclui que se ouvirmos os políticos, tudo isto não tem nada a ver com a OTAN, mas se vemos os factos o problema vem da OTAN.

Falar-se de direitos sem ter em conta que o que é decisivo e vale é a força dos poderosos, é desconhecer as leis do mundo injusto que nos governa. Nesta guerra, atendendo à pré-história do conflito, todos perdem menos os EUA que ganharão economicamente e a Rússia que só ganhará militarmente, mas atrasará, por dezenas de anos, o próprio desenvolvimento económico e social.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

(1) Ucrânia Cavalo Troiano: https://antonio-justo.eu/?p=7116  Chegou a hora de Putin: https://antonio-justo.eu/?p=7129 ; Guerra da Informação: https://antonio-justo.eu/?p=7156 , Acirrar o Urso: https://antonio-justo.eu/?p=7149 , Contexto: https://antonio-justo.eu/?p=7191