Reestruturação Consular

A luta dos estabelecidos contra a política

O imbróglio administrativo
Uma instituição de serviços de Estado no estrangeiro não pode ser avaliada apenas por critérios operacionais e de serviço meramente burocrático. Ela tem de corresponder a critérios de gestão, de acção e de intervenção mais alargados. Além disso é necessário o controlo da eficiência. Esta pressuporá necessariamente iniciativas e processos desencadeados na população alvo.

Uma reestruturação consular, como pretende o governo, exige do Secretário de Estado grande força e clarividência num domínio demasiado minado e estreito.

Devido ao carácter rotativo rápido dos políticos, as suas decisões estão demasiadamente condicionadas às informações do aparelho administrativo público. Este não só emperra o processo como manipula as decisões políticas dependentes de relatórios feitos pela própria administração pública. Cai-se assim num ciclo vicioso invertendo-se os termos. A política que deveria determinar a acção administrativa passa a correr o risco de ser determinada por esta. Isto torna-se especialmente grave em bastiões do sector público onde domina a monocultura política, como na educação, de conotação politica demasiadamente esquerdista. Isto dificulta a actuação de qualquer governo independentemente da sua cor, acrescentando-se ainda os problemas das diferentes facções dentro dos próprios partidos e na administração.

As próprias inspecções que esporadicamente acontecem são efectuadas por funcionários demasiadamente penhorados pelo próprio sistema e dependentes dos subterfúgios da própria administração que possui na mão peões e trunfos de que o próprio inspector está dependente. A política decide mas quem se ri é a administração consciente de ter o folgo mais longo.

Um Estado forte precisa duma administração forte e leal mas salvaguardando-se sempre a primazia da política em serviço do Povo.

Políticos conscientes, ao serviço do Estado e do Povo, terão de recorrer também a estudos externos no seu período de formação de opinião e de decisão. O trabalho das lobies é hoje tão perfeito no sentido de criarem areais de monocultura ideológica transpartidária, que mantêm uma rede cada vez mais coerente nas várias instituições públicas: política, administração, sindicatos, conselho das comunidades, jornais de expressão migrante, associações, representantes de jornais, etc. Constata-se cada vez mais a formação duma oligarquia que ocupa os vários areais políticos e sociais que nada tem a ver com os ideais dos diferentes partidos nem com os interesses do povo: maquiavelismo individual puro. Corre-se o perigo de na consulta de diferentes instituições se ouvir apenas uma opinião. Assim não chegam os relatórios internos da administração, nem as exigências de grupos de pressão, é óbvio o recurso a relatórios ou estudos de comissões ou institutos independentes. Nas comunidades lusas da Europa as pessoas na ribalta, de quem a opinião pública e a política se servem, são tão poucas e tão pouco diferenciadas que dificultam a formação duma visão suficientemente objectiva da realidade. Assim na voz dos representantes falta geralmente a ressonância popular, atendendo a que quem fala mais que representante é uma personalidade circunstancial e demasiadamente circunstanciada. Nesta apagada e triste realidade coxia a emigração lusa na Europa e a administração pode dormir à vontade, sem perigo de que alguém a acorde. Se alguma insónia há é apenas quando aparece algum “atrevido” que lhe queira pedir contas… Portugal persiste em querer dormir a paz dos cemitérios. Se alguém ousa bater as palmas logo é condenado como perturbador da tal paz. O problema é que a paz construída pelos que vivem das manjedouras do estado se perpetua à custa das insónias do povo e dum Estado que assim não pode responder aos anseios, aos sinais dos tempos.

Neste ambiente há que perguntar-se: quem pode criticar quem? Quem serve quem? Quando se passa da hora dos acomodados para a hora dum Povo?

Opta-se pela crítica pela crítica, pelo pensar de campo ou trincheira. Na ausência de apresentar alternativas ou se engraxam os sapatos de amigos ou se atacam pessoas.

Não chega estar presente é preciso ser-se eficiente

É urgente a reestruturação de Portugal, a reestruturação de Consulados e de Embaixadas não só no que respeita ao seu aspecto organigrámico mas de redefinição de objectivos e estratégias e de tarefas do pessoal.

Não há uma relação de equivalência entre o peso da estrutura e o trabalho e acção produzida.
São demasiado altos os custo a suportar com diplomatas que primam pela ausência nas comunidades lusas e na comunidade onde estão inseridos. Que têm feito? Administrado a miséria no marasmo da Bela Adormecida?
As novas tecnologias obrigam a remodelação, simplificação e maior eficiência no trabalho. O fluxo migratório obriga à versatilidade institucional de apoio. Precisa-se da racionalização de serviços aferidos às realidades existentes.
Com a inserção de Portugal na União Europeia criou-se um outro centro de gravidade da acção política. Enquanto que na Europa as representações diplomáticas passarão a ter mais um carácter económico e mercantil, as representações fora da Europa continuarão a ter os pólos políticos e económicos como antes da União Europeia.

Uma reestruturação consular com uma consequente reclassificação dos postos consulares é mais que óbvia.

Da minha experiência com o Consulado-Geral de Frankfurt posso afirmar que a existência duma Vice-cônsul é suficiente dado que a presença do Cônsul só se terá feito notar pelos gastos. Não critico com isto o cônsul, o problema é estrutural; a estrutura não incita à criatividade nem ao empenho. Necessários são servidores no activo e não funcionários representativos. Às vezes os representativos até estorvam o trabalho de trabalhadores com ideias e elan vital (ânimo).

Uma decisão política consensual é impossível atendendo a interesses em jogo. Posições partidárias e posições do Conselho das comunidades têm em conta muitas vezes o público-alvo e não a coisa em si, pelo que não são isentos. Pior ainda quando, como acontece muitas vezes na emigração, elementos pertencentes à administração diplomática ou consular acumulam o posto de representantes eleitos ou de posições partidárias; então pesa mais o próprio interesse do que o do Estado e do Povo. Aqui tem o Secretário de Estado grande margem para poder decidir por razões de estado e de serviço atendendo à confusão de interesses vigentes. Que autoridade tem a crítica ou não crítica da chefia dum sindicato das representações diplomáticas que há anos recebe o seu ordenado pelos serviços prestados no consulado de Hamburgo sem lá estar? Com o seu ordenado o Estado podia manter dois empregados em serviço.

Importante é que se mantenha a eficiência dos serviços. Neste caso a existência duma supra-estrutura da qual dependam serviços com uma direcção de simples Chefe de Serviços ou de lojas do cidadão. Na realidade o que se precisa é de serviços do cidadão com estruturas baseadas numa filosofia mais operacional e de serviço. De facto com o mesmo dinheiro é possível servir mais e melhor possibilitando o aumento de agências e escritórios consulares. Também, como já defendo desde 1980 seria necessária mais flexibilidade para esses serviços podendo eles deslocar-se periodicamente a regiões com certa concentração de portugueses. Com poucos gastos podiam os serviços deslocar-se ao povo e além do mais criar laços. Atendendo ao carácter disperso das comunidades portuguesas porque não a criação de “consulados” itinerantes?

É verdade que a Convenção de Viena sobre Relações Consulares regula o Direito Consular. Esta ao mencionar as categorias, consulado-geral, consulado, vice-consulado e agências consulares, não legitima que se mantenha o monolítismo e a inflexibilidade por alguns apregoados. No organigrama em questão, importante é que se salvaguarde a legalidade das decisões, o serviço e o controlo orçamental. Se é verdade que confiança é boa, em questões deste género o controlo é melhor!

Há postos e honrarias a mais sem que se veja qualquer resultado a nível de ideias ou de iniciativas. Não chegam os relatórios empolados duma administração (cada vez mais fim em si mesma) tendente a justificar-se, que apenas presta contas perante ela mesma atendendo a que a rotação política é tão rápida que não permite o seu controlo eficiente. A política está sujeita a relatórios de folhas Dina 4 pacientes. É necessário o controlo da eficiência. Onde estão os planos prospectivos e de actuação anuais ou bienais feitos por responsáveis de serviços, por cônsules, por conselheiros, etc? Quer-se viver sem rei nem roque nem o diabo que lhes toque! O povo não sabe sequer porque e para que lá estão. Nada visível.

Quais os resultados a nível de realização de projectos e a nível de influência no meio, no âmbito da região consular ou estatal? Pura e simplesmente não existem. (Em 1998 pedi à Conselheira de Ensino na Alemanha que apresentasse um plano de actividades relativa à Alemanha; a sua reacção foi de incompreensão como se eu tivesse cometido um crime de lesa-majestade, atendendo que esse direito advoga apenas aos superiores hierárquicos; estes naturalmente contentam-se com os tais relatórios escritos para inglês ver!).

Não chega a mudança da organização é também necessária uma mudança das mentalidades. Portugal necessita ser reestruturado dos pés até à cabeça. Nos serviços do estrangeiro precisa menos de pessoas que vão dar passeio à sua própria honra, que passeiam a sua imagem, precisa-se mais é de obreiros de serviço, abertos ao povo concreto, atentos ao capital nas suas interligações, empenhados na cultura como forma de presença lusa e de relacionamento entre povos e multiplicadores e naturalmente inteligência para perceber o espírito do tempo e do mercado e assim reagir atempadamente.

Este é um campo minado em que os donos dos feudos declararão de persona non grata quem pretenda entrar no feudo ou apenas pronunciar-se diferenciadamente sobre o assunto. A opinião pública tem muitas vezes muita dificuldade em perceber o que está em causa atendendo a que nas instituições do Estado se aninhou uma rede de interesses de conivência entre interesses particulares e interesses de grupos instalados depois do 25 de Abril. O argumento com os emigrantes é mais uma panaceia de que se servem. Independentemente dos nomes Dr. António Braga ou Dr. José Cesário, atacam-nos apenas, sem contrapropostas criativas verdadeiramente servidoras do Povo e do Estado. Esta é em muitos casos uma guerra dos instalados adversos à mudança porque incapazes de se mudarem. Tornam-se a voz do comodismo, do jogo do empata e do princípio de Peter!

Precisamos de políticos fortes que não se verguem aos interesses sejam eles da administrarão ou de grupos de pressão. Importante é a razão, e a salvaguarda do serviço do povo. A contenção de verbas não pode naturalmente permitir o esbanjamento noutros lugares. Os 3,6 milhões poupados através da racionalização deveriam ser investidos no serviço dado os emigrantes terem sido considerados até agora apenas como fontes de receita e não como investimento. Os emigrantes precisam duma política que também os beneficie a eles. Uma política limitada a redução de custos orçamentais não se justificaria por si mesma e menos ainda num sector já de si abandonado a si mesmo.

O mesmo se diga da aplicação dos fundos da FRI (Fundo para Relações Internacionais) que por vezes se dedicam a iniciativas de carácter duvidoso.

Naturalmente que cada macaco só pode cantar no seu galho. Mas não chega espantar o próprio mal. É preciso reconhecer o sofrimento do Povo simples que não consegue um galho na árvore, contentando-se com o chão sombrio da árvore e com o olhar para os que povoam os galhos.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo
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Energia Biológica – Novas Perspectivas para a Aldeia

Agricultores de Volta

Os conflitos do futuro dar-se-ão na luta pelas fontes de energia. A Rússia não é de palavra e o mundo do petróleo árabe quer, em contrapartida, a exportação da religião e do terrorismo.

Finamente, com a globalização, o terceiro mundo elevará o seu nível de vida. Isto significará uma corrida cada vez mais desenfreada às fontes de energia. A China e a Índia serão buracos sem fundo, tornando a fome de energia cada vez maior.

A Europa para não se tornar cada vez mais dependente terá de fomentar fontes de energia alternativa. As plantações de colza, que antes serviam de forragem para o gado ,cada vez são mais alargadas para aproveitamento do óleo de colza, extraído das suas sementes – o chamado “gasóleo biológico”.

O preço a pagar pela independência do fornecimento de energia do estrangeiro será muito alto. A plantação de colza na Alemanha aumenta de dia para dia. Se em 1998 se produziram 50 000 toneladas de óleo de colza, em 2006 a produção subiu para 3,4 milhões. Hoje são usadas 13% da área arável da Alemanha para a produção de matéria-prima e em 2030 poderão já ser 25%, o que aumentará muito a concorrência entre a produção alimentar e a produção de energia biológica.

Isto terá incisivas consequências benéficas para a agricultura e para a silvicultura e colateralmente o encarecimento dos produtos alimentares. Chamará as atenções para o campo.

A produção de energia biológica expandirá de tal modo que reprimirá substancialmente os terrenos de cultivo alimentar através do alargamento do cultivo de plantas para fins energéticos. A concorrência entre os cereais alimentícios e as plantas para a energia e para outras matérias primas vegetais será cada vez mais dura, como opina a universidade de Giessen na Alemanha. Cereais tornar-se-ão muito mais caros o que provocará um encarecimento progressivo dos preços para a alimentação. A produção de energia cada vez concorrerá mais com os géneros alimentícios. A agricultura e a silvicultura tornar-se-ão actividades compensadoras. Quem tiver dinheiro líquido para investir a longo prazo terá aqui, penso eu, um campo de investimento rentável. Seria miopia continuar a entregar os montes alentejanos de graça aos espanhóis.

A gasificação de massa biológica que aproveita madeira e restos de plantas tornar-se-á o ramo mais ecológico e económico do futuro.

A concorrência animará o negócio. Os preços subirão e então a Europa já não continuará a construir bloqueios à importação de produtos agrários do terceiro mundo.

No futuro mais que o diesel biológico serão muito mais eficientes e rentáveis combustíveis biológicos a partir da madeira e das plantas.

Isto terá como consequência a reflorestação das montanhas. O agricultor e o silvicultor serão então bem compensados.

Estaremos perante o início do regresso do homem da cidade para o campo? Oxalá!…

Facto é que os velhos valores da natureza estão de regresso…
Porque se persiste, a nível político e social, em continuar a andar atrás do acontecimento?

Neste contexto recomendo a leitura de “Viagens na Minha Terra” de Almeida Garrett e “A Ciddade e as Serras” de Eça. Urge a re-humanização do homem da polis, do homo politicus.

Há mais que a alternativa de escolher entre “a horrenda imundície da gente” da aldeia com a sua “bem boa terra”, como sentenciava Eça, ou continuar a viver “no descampado do sentimentalismo”, na imundície duma mentalidade citadina proletária.

As novas perspectivas do campo poderão tornar-se oportunidade para uma nova filosofia e uma nova maneira de ser, estar e pensar. Há que abandonar a fixação na dialéctica natural-social para se passar a integrar os dois pólos.

A leitura de “Viagens na Minha Terra” com a sua inclinação dialógica preparar-nos-á para compreender a necessidade do diálogo entre o campo e a cidade. Garrett chama-nos a atenção para o conflituoso entre o Homem Natural e o Homem Social e para a dialéctica entre o frade e o barão, entre o idealismo religioso da religião / campo e o materialismo destemperado do barão, o partidarismo dos boys da cidade, que se tornaram nos herdeiros do sujeito burguês utilitário artificial das aparências.

Concluindo: Os barões voltarão à aldeia.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo
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Dia da Igreja

Um exemplo de sociedade viva
Na Alemanha realiza-se todos os anos o “Dia da Igreja” onde os leigos se encontram sob orientação leiga. São dias de diálogo e encontro, foro e festa para todos e para cada um em particular. Nos vários fóruns e iniciativas participam os mais altos representantes da política, da vida social, religiosa e representantes das mais diversas posições e tendências relevantes na Alemanha.

Os “Dia da Igreja” quer evangélicos quer católicos são verdadeiras oficinas práticas onde se discute em diálogo aberto, se exercita a comunidade e se prepara o futuro. Aqui assentam-se uns ao lado dos outros: representantes religiosos, políticos, cientistas, combatentes pela paz, donas de casa, pais, párocos, jovens, idealistas e activistas, todos numa atitude de aprender uns dos outros e de transmitir a própria palavra num clima calmo, só duro no questionar.

Este ano, o Dia da Igreja Evangélica decorreu em Colónia de 6 a 10 de Junho com 3.400 realizações (exposições, celebrações, manifestações, workshops, etc.,…). Contou com inúmeros visitantes além dos cento e dez mil participantes permanentes provenientes de paróquias e outras organizações. Os 110.000 participantes permanentes viveram hospedados em famílias particulares, como já é tradição.

O governo da Alemanha participou em peso e a chanceler Merkel afirmou apostar numa política dos pequenos passos que não se refugie em sentimentos salvíficos com os quais se adiam muitas vezes os problemas do mundo. Espiritualidade e responsabilidade pelo mundo andam juntas.

Temas marcantes da religião e da política são abertamente discutidos entre responsáveis directos e simples participantes. Estes vão do sexo na velhice à globalização. Resumindo entre outros: “não deixeis o dinheiro governar”; direitos humanos desprezados em Guantánamo, Chechénia, Dafur, etc; crítica ao facto da Rússia, China e USA não reconhecerem o Tribunal Internacional em Den Haag; islão entre delimitação e perfilamento; Deus não é cristão, muçulmano nem budista; o mercado instala a desgraça, é preciso acabar com a escravidão de salários desumanos; a globalização deve ser para todos; combate à pobreza; criação dum banco para os pobres; necessidade duma mudança na atitude interior; a Igreja quer construir pontes; etc.

Depois de tanto tempo de abandono da praça pública à inércia e aos neo-marxistas vai sendo tempo da cristandade (teístas e ateus) e outras forças deixarem de se fechar na interioridade. É preciso arregaçar as mangas e tornar-se mais activo na construção dum mundo melhor. A sociedade precisa de todos na tolerância e no respeito como pressuporia um modo de estar cristão no mundo.

O mundo não é pertença dos que o dominam. Ele foi usurpado à humanidade construindo-se um mundo paralelo em que a mais valia de uns se deve à desvalorização dos outros através dum sistema desumano. Urge entrar em diálogo sério entre as pessoas ao nível da humanidade de cada um e não a nível dos sistemas já desnaturados. É preciso entrar em diálogo mesmo com os terroristas e talibans como solicita Jesus ao dizer “amai os vossos inimigos” e como defende o presidente do “Dia da Igreja”, antigo presidente do Estado Sachsen-Anhalt, ao afirmar: “também os inimigos se devem sentar à mesa das negociações”.

O cardeal Karl Lehmann referiu-se aos temas que separam o catolicismo do protestantismo e vice-versa – participação comum válida na liturgia dominical, reconhecimento mútuo do casamento e eucaristia comum – que deveriam ser tratados com mais urgência.

O arcebispo e Prémio Nobel da paz Desmond Tutu dirigiu, do Dia da Igreja, uma missiva evangélica ao Grupo dos Oito com as palavras:”Eu sou um africano. Sou um homem. Sou uma pessoa. Não sou um objecto que precisa de esmolas. Eu sou orgulhoso. Não sou um objecto que precisa de compaixão. Eu fui criado à imagem e semelhança de Deus. Nós fomos criados para vivermos juntos. Só podemos sobreviver juntos. Nós só podemos ser humanos juntos. Vós, dirigentes, podeis perguntar-me o que é que eu preciso, o que quero. Então pergunto-vos eu a vós: o que é que precisais vós de mim?”

O Dia da Igreja possibilita o sentimento de comunidade e leva os participantes a voltarem às comunidades locais com novos impulsos e iniciativas a aplicar e experimentar no dia a dia.

Quando será possível realizar em Portugal ou noutros países o que é possível numa Alemanha onde a ausência do anti-clericalismo cultural tornam possível um diálogo produtivo sem que política, economia e religião se envergonhem uns dos outros num espírito de complementaridade e de serviço mútuo. Responsáveis dos vários quadrantes terão que se dar as mãos numa visão integral de Povo.

Em 2008 realiza-se o 97.° Dia da Igreja católico em Osnabruck e em 2010 o Dia da Igreja ecuménica em Munique.

António Justo
“Nas pegadas da Igreja”

António da Cunha Duarte Justo
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União Mediterrânica

Mais empenho na política das regiões e menos na luta ideológica

É com satisfação que li nos meios de comunicação que o novo presidente francês Nicolás Sarkozy propôs a criação duma nova organização internacional – a União Mediterrânea – que deve abranger os países das margens norte e sul mediterrâneo incluindo Portugal. A inclusão das nações da margem sul do mediterrâneo, como parceiras privilegiadas da Europa traria muitas vantagens para Portugal e para os países latinos e além disso provocaria um desenvolvimento mais equilibrado dos países muçulmanos. Desde 1986 observo o esquecimento votado aos vizinhos do Norte de África, que no caso de se não desenvolverem causarão ainda mais problemas aos países latinos. Numa perspectiva de interesses meramente estratégicos da USA (defesa de Israel – valores ocidentais e Turquia como centro hegemónico do mundo Sunita) e dos interesses económicos da Alemanha, a integração da Turquia na Europa só viria a concorrer com os interesses dos países latinos. Também por isto se torna muito oportuna a iniciativa do presidente francês.

A nível de parlamento europeu interessa também criar irmandades não tanto partidárias mas especialmente das regiões. Tornar-se-ia incompreensível que a esse nível os deputados latinos por razões de ideologia se unam aos países de linha de tradição protestante defendendo os interesses destes a troco de inactividade de iniciativa em relação aos países do sul. Não quero com isto defender a luta cultural que passou da reforma e contra-reforma para a luta cultural neo-marxista e “burguesa”. Trata-se de aprender de uns e doutros no respeito mútuo e na defesa das regiões. Uma política a partir das regiões para as regiões conduziria à desmilitarização ideológica dos partidos corrigindo os desvios das regiões e do povo.

Os países ricos do norte e centro da Europa, que a partir do século XVI conseguiram ultrapassar os povos latinos, continuam na vanguarda e na determinação dos objectivos da EU, beneficiando deles. Todas as iniciativas no sentido Leste os têm beneficiado.

Na Alemanha, a facção mais católica (latina) tem-se revelado contra a integração da Turquia na Europa oferecendo-lhe um estatuto de relação privilegiada mas não de membro. Isto salvaguardaria os interesses europeus sem criar desequilíbrios culturais, especialmente numa fase em que a cultura árabe se encontra tão activa e contrária aos valores emancipadores europeus. Uma União Mediterrânica privilegiada além de favorecer os interesses de todos os países limítrofes do Mediterrâneo viria resolver o problema do cavalo de Tróia turco na União Europeia.

A iniciativa de Nicolás Sarkozy cria mais equilíbrio entre Obelix e Asterix. Os espaços do antigo império romano devem ser tido mais em conta na política europeia assim como a tradição goda em Portugal.

Esta deveria ser uma preocupação a estar presente na agenda de todos os países europeus latinos. Não se trata de se entrar na velha luta cultural entre os interesses do mundo católico e protestante mas de haver mais equilíbrio entre as regiões independentemente das suas crenças. De não esquecer, neste sentido, a importância da Polónia, que pertencendo mais a leste é culturalmente próxima dos países do sul. Os países católicos têm neles um factor enfraquecedor que é o neo-marxismo internacionalista militante que aposta na desintegração das culturas nacionais. Os países do centro-norte, actualmente menos afectos à ideologia, conseguem ser mais consensuais nas rivalidades naturais entre Estado, povo e ideologia partidária. Aquele fanatismo mais próprio das culturas nórdicas nos tempos dos descobrimentos portugueses foi superado pelos nórdicos devido à sua experiência dolorosa. Aquela doença moralista europeia foi transmitida, especialmente, como um vírus para uma certa elite portuguesa, a partir das campanhas de Napoleão contra Portugal, e reiterada com o comunismo russo. Um socialismo verdadeiramente português terá de aprender a conciliar valores éticos e ecologia com democracia. Doutro modo continuará a solucionar problemazitos da nação com grandes problemas a ter de ser resolvidos pelos nossos vindouros.

Sarkozy defende para já um tipo de organização semelhante à dos encontros do G8 onde participam chefes de Estado e de Governo no sentido dum desenvolvimento partilhado, advogando também a criação de um banco mediterrânico de investimento.

Importante seria que a União Europeia se empenhasse económica e estrategicamente como se empenha pela Turquia e outros países do leste. Sakozy parece querer fazer política sem pôr à disposição os interesses culturais europeus. Já como Ministro do interior conseguiu introduzir um momento de reflexão na maneira de organizar a sociedade. Tomou medidas no sentido de evitar que a tolerância popular se gastasse, impedindo assim o aumento do fanatismo na relação dos vários grupos nas zonas degradadas das grandes cidades.

Toda a sociedade precisa de sectores consensuais, dogmas. Princípios são precisos para se afirmar mas correm o perigo de perder a relação com o presente. Os dogmas ajudam a a resistir às modas que se revelam sempre como passageiras; recordem-se os entusiasmos marxistas que conduziram aos mesmos crimes que o nazismo.

Quem não tiver convicções não sobrevive numa sociedade pseudo pluralista como a nossa. As teorias precisam duma praxis suporte que possibilite novas teorias que por sua vez provoquem aferimentos na prática. Um pragmatismo humano pressupõe que não se esteja mas de costas viradas para o espírito. Precisamos duma vontade forte e do brilho duma luz como a que actuou desde os princípios da nacionalidade até 1580 sob a acção dos templários e dos beneditinos.

Desde há séculos a nação vive em estado de agonia à luz de velas ideológicas que criam um ambiente aparente de intimidade para grupos desenraizados aquartelados nas cidades mas sempre dependentes de ventos plebiscitários duma cultura conflituosa que vive da manipulação, da despersonalização e descaracterização individual e cultural. As tribos bárbaras querem instalar o poder bárbaro numa estratégia de guerrilha no assalto às regiões e ao povo!… Apoderaram-se das grandes instituições e das grandes metrópoles reduzindo todo o resto a província e o povo a servos já não da real gleba mas da oportuna ideologia.

A iniciativa de Nicolás Sarkozy poderia tornar-se uma oportunidade para aqueles que ainda não deixaram de acreditar no povo e na ecologia para se iniciar uma reflexão e um novo discurso situado e real.

António Justo

“Nas Pegadas de Portugal”

António da Cunha Duarte Justo

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PALESTINIANOS DE SERVIÇO

O GOVERNO OFERECEU ESTÁDIO DE FUTEBOL À PALESTINA

A Palestina, um buraco sem fundo a manter na miséria pela benevolência do ocidente, um bastião de interesses da Liga Árabe, continua sem solução. A ingenuidade europeia só pode servir o poderio árabe na região. A Liga Árabe à custa do sangue do povo contenta-se em lançar palavras ao vento numa política de adiamento dos problemas. Ela conta, a longo prazo, com a arabização de Israel através duma política de proliferação familiar. Trata-se portanto de aguentar.

Os nossos governantes para terem boa entrada nalguns meios internacionais fomentam também eles projectos sem sentido. Assim o Instituto Português de Cooperação para o Desenvolvimento (IPAD), ofereceu um estádio de futebol, com capacidade para 6.000 espectadores, à cidade palestiniana de Al-Kahder, na Cisjordânea, no valor de dois milhões de contos.

Portugal brilha no estrangeiro, mas na província continuam a morrer pessoas sem assistência médica e outras a morrer a caminho dos hospitais por falta de transportes e meios adequados.

A politica de reforma dos serviços de Saúde tem fechado Serviços de Atendimento Permanente retirando também competências aos Bombeiros. Uma política racional tendente a centralizar os serviços pressuporia a disponibilização de helicópteros para casos urgentes além de outras alternativas.

É costume fazer-se leis desaferidas da realidade e à custa do povo necessitado. Em nome dum benefício criam-se muitos desbenefícios. É o caso da lei beneficiadora de pessoas abortivas que obriga as filas hospitalares a serem mais compridas. Os problemas com os serviços de Saúde no interior de Portugal são indesculpáveis. Um governo que se atrevesse a resolver o problema dos serviços de saúde em Portugal de forma digna merecia ficar no Poder pelo menos 16 anos!
António Justo

António da Cunha Duarte Justo

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