AVÓS CONTRA A DIREITA

“AVÓS CONTRA A DIREITA”

 

A Esquerda carrega em si a margem extrema,

enquanto a Direita renega o seu abismo.

Na dança europeia, é quem conhece sua essência

que pisa firme, enquanto os que a negam tropeçam.

 

Urge que caminhemos com ambos os pés,

sem coxear nem à esquerda, nem à direita,

trilhando uma estrada onde a guerra se apague

e a paz floresça como a única bandeira.

 

Mas, enquanto o horizonte é sonho distante,

assistimos, perplexos, às “Avós contra a Direita”(1),

gritos cerrados em terras germânicas,

reforçando o desequilíbrio que persiste.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

 

(1) Na Alemanha o movimento “Avós contra a Direita” tem sido activado por organizações de esquerda e apoiado pelos actuais governantes. A acção coordenada baseada em slogans sem argumentação tem movimentado centenas de milhares de pessoas a favor dos governos/partidos que fomentam a guerra. Noutros tempos menos aguerridos assistia-se a movimentos semelhantes contra a guerra. Os Verdes que antes fomentavam uma política de paz são aqueles que hoje em postos do governo anunciam a guerra.

A Esquerda tem nela a esquerda da esquerda enquanto a Direita não tem nela a direita da direita. A sociedade europeia tem confirmado que quem estiver consciente do seu ser tem vantagem perante os que se envergonham dele! Importante seria chegarmos a caminhar com os dois pés sem mancar à esquerda nem à direita. Este objectivo só seria adquirido quando deixarmos a cultura da guerra para adoptarmos a cultura da paz! Até lá teremos de assistir às manifestações das “Avós contra a Direita” (como se observa na Alemanha)!

Seremos uma sociedade tanto mais culta e humana quanto mais grupos e pessoas de diferentes perfis forem integrados nela sem termos de nos definirmos na adversidade desumanizante de uns contra os outros.

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ELON MUSK DESAFIA E INOVA A TRADICIONAL CULTURA DO DISCURSO POLÍTICO

Resumo dos principais Temas do Diálogo transmitido no X Spaces

A Iniciativa do bilionário Elon Musk convidar a política alemã Alice Weidel para um debate público de caracter global manifesta não só o seu decisivo empenhado em inovações tecnológicas, como também na mudança básica da cultura política.  O acesso à informação através das redes sociais incomoda principalmente aquela elite que, distanciada das populações, tinha a correspondente rede na mão e agora sente concorrência e toma medidas de censura antes nunca sonhadas em democracia. Quem poderia imaginar que um capitalista de topo pudesse contribuir para a democratização da informação! A condução do discurso público, até agora baseada em táticas e reservada às centrais dos partidos políticos e às empresas jornalísticas envolventes, passa, deste modo, a ter um cunho pessoal de efeito mais democrático através de plataformas globais, por muito contraditório que pareça. Será de desejar que uma sociedade com menos crivos de informação se torne mais transparente e mais próxima do cidadão. Um próximo passo poderá facilitar um estilo político de votação eletrónica directa, por temas e menos por partidos, nos assuntos que toquem com a vida do cidadão.

O filósofo R.D. Precht constata: “Vivemos hoje numa ditadura da tática sobre a estratégia”. De facto, uma política selecionada de palavras contra palavras conduz o público a um caminho errado que pouco tem a ver com a realidade política e os interesses que esta encobre.

O contexto político na Alemanha é sombrio e em desafio, atendendo a uma sociedade, que se começa a definir mais pelo âmbito político-militar e estava habituada a viver em segurança económica e na bonança de certezas ideológicas.  A sociedade alemã vê-se cada vez mais confrontada com a instabilidade marcada por políticas ideológicas impulsionadas pelos Verdes na coligação do governo em Berlim, pela imigração caótica que frequentemente se manifesta agressiva perturbadora da ordem pública e pelos reflexos da guerra na Ucrânia e em Gaza e se encontra ainda no rescaldo das medidas relacionadas à pandemia de COVID-19.

Em tempos pré-eleitorais (23 de fevereiro, depois do voto de desconfiança no “governo semáforo”) surge na Alemanha uma nova controvérsia após a entrevista de Alice Weidel (AfD) e Elon Musk no X Spaces (9.01.2025), onde Musk declarou que o partido AfD é “o partido do senso comum” e “a única salvação da Alemanha”. Isto provocou um terremoto na arena política alemã com ecos em toda a Europa.

Os principais temas discutidos na transmissão em direto no X Spaces (1) podem ser embaraçosos, por tocarem pontos fulcrais e incómodos aos governantes mas que são muito importantes para o futuro da Alemanha e da Europa.

Weidel designou Merkel de chanceler “verde” por permitir a imigração descontrolada e desligar as centrais nucleares, o que teria prejudicado a política energética alemã.

Musk apoiou a política energética proposta pela AfD e criticou a burocracia alemã, destacando desafios enfrentados por sua fábrica Tesla em Berlim.

Weigel tem como ponto comum com Musk o controlo da imigração, a redução da regulamentação estatal, uma estratégia energética equilibrada com ênfase na energia nuclear.

A líder da AfD, Alice Weidel, não está contente com a política de impostos alemã. Ela parte da realidade estatística que “o empregado alemão médio trabalha metade ou mais de metade do ano para o Estado”. A Associação de Contribuintes alemã calculou que, em 2024, uma família média trabalhadora terá pago 52,6% do seu rendimento ao estado. De cada euro de rendimento auferido, restam 47,4 cêntimos, 31,7 cêntimos são para contribuições para a segurança social e o restante é para vários impostos e taxas.

Musk apoiou a posição de Weidel no que respeita a política energética e de reformas económicas e referindo-se à sua fábrica Tesla em Berlim criticou a burocracia alemã que impede desenvolvimento económico. Disse também que nos EUA o governo dá dinheiro para os refugiados sem documentos.

Em questões de polarização Weidel rejeitou a caracterização do AfD, por parte da esquerda, como extrema-direita, alegando ser um partido conservador-libertário.

 Em defesa referiu-se a Hitler como “socialista-comunista” e criticou ideologias socialistas de género. De facto, a acusação de a AfD ser racista torna-se abstrata quando Weidel co-presidente da AfD vive numa relação com uma mulher estrangeira.

Musk mencionou a influência do bilionário George Soros na política e Weidel referiu também as influências políticas de fundações como a de Bill Gates, apontando um viés em favor de partidos de esquerda.

A esquerda que se sentia tão bem embalada pelas agências de informação europeias e pelos governos da EU encontra-se em turbulência e especialmente agora que um “mostrengo” Musk oferece à direita o palco internacional X Spaces para dar visibilidade global.

O que está em questão não são os valores porque estes se entrecruzam na esquerda e na direita, mas sim mundivisões e a rivalidade pela detenção do poder e não se olha a meios para o manter ou adquirir. Além disso está a preocupação de a informação cada vez escapar mais a quem tradicionalmente a possuía na mão.

A função dos governantes é governar e não substituir a tarefa dos jornalistas como ainda fazem e evidenciaram no apoio directo às manifestações das “Avós contra a Direita”. No meio de tudo isto sente-se um misto de rebeldia e de idealismo, condimentos necessários num mundo por um lado demasiadamente regulamentado e por outro que não conhece regras.

Foi unânime e manifesta a preocupação perante os censores da liberdade de expressão porque não somos um Estado cliente, temos pessoas com as suas próprias opiniões. Também Hitler começou por abolir a liberdade de expressão.

Musk critica o excesso de regras e de burocracia e referiu que na Califórnia, apenas 3% de infratores são apanhados e os roubos inferiores a 1000 dólares não são punidos… por isso, o roubo é propriamente considerado legal. Existem leis, mas falta a vontade da sua aplicação.

No que respeita a questões internacionais Weidel desejou o fim da guerra e conversações entre a Rússia e a Ucrânia (NATO) e defendeu Israel, mas admitiu não ter soluções para o Oriente Médio.

Musk destacou a importância da paz no Oriente Médio, mencionando Trump como figura central para alcançar tal objetivo.

Nos últimos 15 minutos Musk fala sobre a sua visão de uma espécie multiplanetária onde se nota o efeito do filósofo Douglas Adam que o influenciou na sua infância.

Musk falou sobre o seu projecto de colonização de Marte como uma estratégia de sobrevivência da humanidade frente a ameaças como guerras nucleares. A proposta de Musk para uma humanidade multiplanetária reflete o desejo de transcender os problemas terrenos.

Sobre a questão do sentido da vida, respondeu que “a vida é mais fácil do que a pergunta”.

À pergunta de Weidel se Musk acredita em Deus, ele responde: “Estou aberto a todos os sistemas. A minha opinião depende do que aprendo.  Weidel, por sua vez, disse que era curiosa, que era agnóstica.

Constata-se que Muk está a ajudar o partido da AfD mas outros partidos e comentadores não entram no âmago dos problemas buscando desviar a atenção do público para consolidar o próprio poder. O discurso de Weidel e Musk provocou acusações de que a entrevista seria uma forma de donativo ilegal ao AfD.

A esquerda europeia, acostumada ao apoio de grandes media e governos, sente-se desafiada pela plataforma internacional oferecida por Musk à direita.

Governantes e jornalismo em geral desviam-se do debate central para criticar a forma e a linguagem, reforçando a dicotomia “nós somos bons, eles são maus”.

Na disputa pelo Poder, os partidos rivais recorrem a estratégias que buscam desviar a atenção do público para consolidar ou conquistar poder.

O importante é que as coisas mudem para melhor num intercalado de influências e interesses quer dos partidos do arco do poder (governo e oposição que se alternam no poder) quer dos que olham para o arco.

Afirmações de Weidel de que Hitler era socialista é talvez exagerada no tom, mas a verdade é que o nacional-socialismo e o comunismo têm muito em comum, mesmo que o próprio nacionalismo seja de direita; certamente o fascismo de Mussolini era mais de direita do que o do nazismo.

A acusação de imiscuição de Musk na política interna alemã é hipócrita; de facto políticos alemães manifestaram-se na Europa e nos USA a favor de Harris e contra Trump. Merz, provavelmente futuro chanceler alemão, fez campanha por Lasconi na Roménia por ela ser candidata amiga da UE.  Governantes desviam-se de suas funções, focando-se na manutenção de poder em vez de servir ao interesse público e respeitar a liberdade democrática de outros povos.

A entrevista sugere uma nova dinâmica política na Alemanha e na Europa, com a direita ganhando visibilidade internacional.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://twitter.com/i/status/1877445582576562374

 

 

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CUIDADO: O MAL NÃO DORME

Concordância entre o Método religioso e o Método filosófico na Filtragem da Informação

Vivemos numa sociedade que confunde e divide, gerando desconfiança e incerteza. Neste contexto, torna-se essencial não aceitar nem transmitir informações sem antes as verificar cuidadosamente. Tanto a filosofia quanto o cristianismo enfatizam a importância de se estar alerta, seja nas relações pessoais, seja nas dinâmicas sociais, porque o mal não dorme.

Já no ano 50/51, o apóstolo Paulo advertia a igreja dos Tessalonicenses: “Examinai tudo e guardai o que é bom!” No cristianismo, o critério para este exame é a crença num Deus misericordioso, paciente e bondoso. A maneira como Deus lida com as pessoas deve servir de modelo para as nossas interações. Assim, se algo que é dito ou feito não reflete misericórdia ou paciência, já não revela boa vontade.

No entanto, a sociedade ainda está distante do ideal do bem, do verdadeiro e do belo e manifestando-se nela muitas forças e vozes em luta contra esse ideal. É neste ponto que o método filosófico também pode contribuir. Sócrates, no século V a.C., apresentou o método das três peneiras como ferramenta para filtrar a informação: Verdade – O que vou dizer é verdadeiro? Bondade – É algo bom?  Necessidade – É realmente necessário dizer?

Quando um amigo quis advertir Sócrates sobre comentários depreciativos a seu respeito, o filósofo fez-lhe essas perguntas. Incapaz de responder afirmativamente a qualquer delas, o amigo baixou a cabeça, envergonhado. Sócrates, então, concluiu com um sorriso: “Se não é verdadeiro, nem bom, nem necessário, deixe que isso seja esquecido e não se sobrecarregue a si nem a mim.”

Este ensinamento ecoa no cristianismo e na filosofia, ambos oferecendo exemplos inspiradores de fidelidade à verdade e ao bem comum. Jesus Cristo e Sócrates, cada um no seu contexto, viveram e morreram por esses princípios. Sócrates foi condenado à morte com um cálice de cicuta por desafiar os padrões políticos e culturais da sua época; no aspecto histórico, também Jesus Cristo foi crucificado por não se enquadrar nos esquemas políticos e religiosos do seu tempo.

Até no momento da morte, os dois ensinaram algo sublime:

Jesus: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.”

Sócrates: “Rezemos aos deuses para que a nossa vida na terra seja feliz e, após a morte, continue a sê-lo.”

Esses exemplos mostram como as opiniões, muitas vezes demasiado formatadas pela educação e pela informação que recebemos, dificultam discernir quem realmente somos e o quanto somos moldados pelas circunstâncias. Além disso, opiniões baseadas exclusivamente na razão costumam ignorar as complexidades da vida.

Num mundo em que a confusão predomina, a harmonia entre os métodos religioso e filosófico é um chamamento à lucidez: Examinar tudo, filtrar pelo que é verdadeiro, bom e necessário, e preservar apenas o que conduz ao bem pessoal e ao bem comum num espírito de benevolência.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

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NA PASSAGEM DA DEMOCRACIA PARTIDÁRIA PARA A OLIGARQUIA LIBERAL (DEMOCRACIA AUTORITÁRIA)

Poder económico e Poder político em Promiscuidade clara

Estamos no início de uma nova era moldada pelas tecnologias virtuais e pela Inteligência Artificial. Por um lado, essas ferramentas democratizam a informação; por outro, concentram o saber e o poder em poucas mãos. A aliança entre Donald Trump e Elon Musk simboliza essa transição, sinalizando uma mudança radical no sistema político e social. Economia e novas tecnologias – representadas por nomes como Musk, Zuckerberg, Bezos, Altman e Thiel – ousam caminhar agora de forma ostensiva junto ao poder político. Antes faziam-no de maneira escondida porque ainda tinham respeito pelo poder político que, em democracia, ao perder o seu respeito pelo povo colhe agora o desrespeito dos dois.

Talvez isso seja uma reação exacerbada do eixo americano frente à China e aos BRICS, num último esforço dos EUA por manterem o controle da exploração e do destino dos povos. Trata-se de um perigoso jogo com o fogo, especialmente quando se esperava que Trump trouxesse uma abordagem mais conciliadora num mundo em crescente tensão.

As declarações controversas de Trump disparam em todas as direções, deixando uma Europa cativa em estado de alerta. Suas ideias de intervir no Canadá, na Groenlândia e no Canal do Panamá revelam intenções imperialistas claras. Além disso, ele propõe que os países da OTAN invistam 5% de seus PIBs em despesas militares – enquanto os EUA gastam atualmente 3,38%. Para a Alemanha, por exemplo, isso significaria um gasto anual de 200 bilhões de euros em armamentos à custa do budget social e da qualidade de vida do cidadão. A satisfação dessa exigência obrigaria a Europa a concentrar seus esforços políticos e económicos no setor militar, liberando os EUA para se dedicarem ao controle dos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico. Nem mesmo os Açores estariam seguros nesse cenário.

A Dinamarca, por exemplo, preocupada com a presença russa, agora enfrenta a sombra do imperialismo americano. Imagine-se um membro da OTAN, como a Noruega, pedindo proteção contra os próprios EUA, que têm utilizado a organização como ferramenta de avanço territorial e político. O imperialismo americano concentra-se agora no domínio dos oceanos não apenas por suas riquezas, mas por sua importância geoestratégica no controle mundial. “Ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal”, dizia já Kissinger!

Da colonização ideológica à colonização oligárquica

Tudo indica que estamos presenciando uma transição de uma colonização ideológica para uma colonização oligárquica. Enquanto isso, os partidos tradicionais da União Europeia perdem-se em debates superficiais e carecem de credibilidade. Como aponta o sociólogo Emmanuel Todd em seu livro Apres la Démocratie (Depois da Democracia), já não vivemos num regime democrático. O exemplo francês de 2005, quando um referendo rejeitou a Constituição Europeia, mas o Tratado de Lisboa foi adotado mesmo assim, ilustra bem essa crise.

O desgaste e a desilusão com a democracia levaram à eleição de Trump, num cenário em que as narrativas lineares se desautorizaram umas às outras sendo substituídas pela concorrência desenfreada nas redes sociais e nas redes oficiais do sistema político. As antigas convicções religiosas foram substituídas pelas convicções burguesas, que, ao buscarem globalizar-se, acabaram desautorizando-se e contribuindo para o surgimento da tirania da opinião.

O papel de Musk e a crise europeia

Elon Musk revolucionou áreas como a banca, a mobilidade, as viagens espaciais e o meio ambiente. Ele apoiou a Ucrânia com a Starlink em sua defesa contra Putin e agora parece querer transformar a política. Musk, com acesso privilegiado aos grandes decisores globais, reconhece a falta de liderança tanto na política como na sociedade. Contudo, enfrenta resistência dos detentores do poder europeu, especialmente no campo progressista e nos partidos do arco do poder.

Estamos diante de um novo sistema. Musk estende a mão à direita, provocando preocupação entre os progressistas que ainda controlam os governos. Muitos continuam enredados nas aparências do poder e na retórica oficial, sem reconhecer as transformações em curso.

A Europa e a busca pela autonomia

A Europa, um dia, conquistará a sua autonomia. Contudo, isso só ocorrerá após romper o laço umbilical com os EUA. Para traçar um novo caminho, a Europa deve se aproximar de seu parceiro natural, a Rússia, com quem compartilha um berço geográfico e uma base cultural comum. Após a Primeira Guerra Mundial, os EUA determinaram o destino europeu, mas em um mundo que busca maior justiça social, é essencial que a Europa invista em colaboração com a Rússia, em nome de interesses próprios e autênticos, mas que respeitem a paz e a justiça entre os povos.

A União Europeia que temos estará mais interessada em seguir a onda de promiscuidade política do que questões relacionadas com a promoção da liberdade de expressão, inovação ou desmantelamento da burocracia e deste modo poder seguir nas velhas pegadas dos Estados Unidos da América. As castas que temos embora já velhas ainda permitem ao povo ir vivendo do rebusco da vindima.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Na cimeira da NATO na Lituânia, em 2023, os membros concordaram em gastar anualmente pelo menos 2% do seu produto interno bruto com as forças armadas.

(2) Musk apontou o Presidente Steinmeier como tirano antidemocrático, talvez por ele ter nomeado de “ratazanas„ eleitores de quem talvez não se considerasse presidente.

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O REGRESSO DO NETO AO LAR DO AVÔ

Na quietude da tarde, entre o perfume da lenha queimada e o sonido dos pássaros distantes, o neto Daniel entrou no quintal da casa do avô Joaquim. Fazia já anos desde a sua última visita. O velho Joaquim, de mãos calejadas e olhos de horizonte vasto, aguardava-o sentado no alpendre, esculpindo um pequeno pedaço de madeira.

— Avô, voltei. — disse o neto, hesitante, como se o peso das palavras fosse maior do que a própria presença.

O avô ergueu os olhos com um sorriso que misturava surpresa e uma sabedoria ancestral como o mundo.

— Voltas sempre ao que nunca te deixou, Daniel. Senta-te. Conta-me o que te trouxe de volta.

O neto hesitou, mas sentou-se num tronco que esperava por ser cinzelado. Começou a contar da vida na cidade, das corridas intermináveis atrás de sonhos que se desmanchavam como a fumaraça que saía do tronco fumegante. Falou da confusão que sentia entre o que acreditava e o que via.

— Avô, vi mundo e às vezes sinto que estamos todos num barco que mete água, mas ninguém sabe como o reparar. Pessoas debatendo-se por ser melhores que outras, ateus brigando com religiosos, políticos em luta pelo poder, todos perdendo-se em certezas que são só pedras no sapato da caminhada. E eu sinto-me amachucado e perdido no meio disso tudo.

O avô Joaquim pousou o bocado de madeira e encarou o neto com o olhar de quem vê mais do que ouve.

— Sabes, rapaz, a vida é como este quintal. Tem terra, flores, ervas daninhas, árvores que crescem para o alto e raízes que se entrelaçam no subsolo escuro. Cada um pensa que só o que está à vista importa, mas é lá em baixo, no que não se vê, que está a força.

— E o que fazemos quando nem sabemos onde estamos? — perguntou o neto, com a aflição de quem busca uma bússola.

O avô suspirou, cruzando os dedos envelhecidos.

— Quando Deus perguntou a Adão “Onde estás?”, não foi porque Ele não sabia. Foi para que Adão e nele a humanidade se situasse. Meu neto Daniel, a pergunta continua ecoando na humanidade e em cada um, sem importar se és crente, ateu ou agnóstico. O importante é que respondas honestamente a ti mesmo. Sabes, a vida, com as suas pernas e caminhos, não pede certezas, mas abertura.

O neto abaixou a cabeça, como quem tenta absorver as palavras. E o avô continuou, com a serenidade de quem já viu muitas estações.

— O erro de muitos, meu caro Daniel, é pensar que a razão é o barco e não o remo. A razão ajuda a navegar, mas é o amor — e o mistério que o sustenta — que mantém o barco à tona. Fé, esperança, caridade e dúvidas são os ventos que nos movem. E todos estamos nesse mesmo oceano, procurando um porto que aponte para o eterno.

Daniel sorriu pela primeira vez. Sentia que, apesar de não ter respostas, encontrava um ponto de partida.

— Então, avô Joaquim, o que é o sentido da vida?

O velho levantou-se com esforço e apontou para o céu, onde o sol se punha em tons de ouro e púrpura.

— Vês aquilo no horizonte? A beleza não está só na luz, mas no encontro dela com a noite. O sentido da vida é relação. Estar em relação com, em relação nos outros, com o mundo, com o inefável, contigo mesmo. A vida é dar e receber, um modo de estar em relação pura como mostrou Cristo. Não precisamos de respostas para viver bem. Só precisamos de aceitar o convite de Deus, mesmo sem entendê-lo completamente. Afinal, somos todos peregrinos, não donos do caminho.

O neto ficou em silêncio, contemplando o céu, de coração mais leve. Naquele momento, percebeu que não precisava de resolver todos os mistérios da vida. Bastava viver a pergunta, na vivência de um passo de cada vez.

E o velho, com um sorriso sábio, voltou à sua madeira, esculpindo uma figura que só ele sabia o que viria a ser — tal como a vida.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

e em  Poesia de António Justo http://poesiajusto.blogspot.com/

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