Protesto contra o Encerramento do Consulado de Frankfurt
António Justo
Uma mãe de Frankfurt sente-se desiludida e revoltada contra a decisão de enceramento do consulado e apela à razão organizativa e de poupança do Governo para que reveja a sua posição tomada contra os 30.000 portugueses da região.
Aqui o seu importante apelo:
“Foi com bastante admiração que constatei que o vice-consulado de Francoforte irá ser encerrado nos finais de Dezembro.
Irá ser, sim senhor!
É um ato passivo, já que activamente nunca teria havido razão plausível para que tal aconteça. Que motivos poderiam ser alegados para encerrar uma casa que não só serve uma numerosa comunidade portuguesa, como ainda representa Portugal numa vasta região no centro da Europa, procurada por tantos?
Ainda que ciente da necessidade urgente de economizar, riscar do mapa postos com funções imprescindíveis não é, certamente, a solução adequada. Se temos de prescindir, então que o façamos colectivamente. Procuremos soluções acertadas, ouvindo os intervenientes, sem simplesmente optar pelas “passivas”!
Que explicação darei eu aos meus filhos, por exemplo, quando tiver futuramente de os “arrastar” a minimamente 200 quilómetros de distância (só a ida) para poder tratar de assuntos relacionados com o país que tanto tento manter na sua memória, para que o elo continue a ser forte e aguente mais do que as idas de férias? Como vou conseguir convencê-los de que o vice-consulado foi encerrado, mas o país não lhes voltou as costas? Como vou argumentar, para que possam continuar a acreditar que a identidade é a única pátria da qual nunca podemos ser exilados? Que apoio lhes vou poder dar nesse sentido? Como vou cumprir essa minha obrigação de mãe, se com o encerramento do vice-consulado me estão a roubar um valioso bastião?
Já nem sei se é tristeza, revolta ou desilusão aquilo que sinto…
Sempre fomos bem recebidos, acolhidos com os nossos problemas, no agora vice-consulado e no antigamente consulado, em Francoforte.
Sempre contámos com o consolo do consulado. A região do vale do Meno e do Reno é uma das mais atractivas da Alemanha. Francoforte é uma cidade cosmopolita, na qual mais de noventa países mantêm a sua representação. Para nós, vivendo fora de Portugal, a supressão destes minúsculos retalhos representam enormes buracos na manta que nos aquece e protege.
Talvez estes argumentos sejam difíceis de entender para quem vive em Portugal. Sabemos que há, no país, muitos “pequenos” a fazerem grandes sacrifícios (e infelizmente poucos “grandes” a fazerem pequenos !) mas temos todo o direito – e até o dever – de exigir mais transparência nas decisões que, caso sejam justas, podem ser compreendidas e, posteriormente, aceites.
Mas assim, não! Encerra-se porque temos de “apertar o cinto”! No pescoço?!?
Sei, porque lido há dezenas de anos com jovens portugueses, e não são só de origem portuguesa, que muitos se vão ver obrigados a optar pela nacionalidade alemã porque todos os atos oficiais marcantes – o nascimento, o casamento, as eleições,… – vão estar a uma distância tal que a maior parte não vai conseguir conjugar com a vida acelerada de trabalho intenso.
Economizar não é riscar do mapa, mas sim reestruturar recursos, aproveitar potencialidades já estabelecidas, fazer alterações que necessariamente atingem sempre alguns, claro, mas que não privilegiam uns (quase sempre os mesmos ! ) em detrimento de outros (também quase sempre os mesmos…).
Já sei se é tristeza, revolta ou desilusão.
É revolta!!
Quando temos vinte rebuçados para distribuir por dez crianças, elas sabem bem que cada uma receberá dois; nunca nos passaria pela cabeça distribuir os vinte rebuçados por cinco das crianças, entregando quatro a cada uma delas, e deixar as outras sem nada. Será que há alguém que desconheça ou já tenha esquecido esta operação de matemática tão simples? Talvez porque, lamentavelmente desenraizado, perdeu tudo o que tinha de criança em si…
Ou então porque já comeu rebuçados demais!!!
Francoforte, 17 de Outubro de 2011
Esta mãe sente-se arbitrariamente desconsulada sabendo que nenhuma razão objectiva de racionalização de serviços nem de poupança podia levar o governo a virar as costas a 30.000 portugueses, quando, para arrecadar o que tenciona poupar na Alemanha com o encerramento do vice-consulado de Frankfurt, haveria muitas outras alternativas sem castigar utentes dos serviços portugueses na Alemanha. Uma delas seria reduzir um dos três consulados da Alemanha a Vice-consulado. O que se poupa num cônsul chegaria certamente para se manter um vice-consulado.
Esta mãe identificar-se-ia, “se quem de direito estivesse disposto a explicar, em conversa com os envolvidos e/ou seus representantes, as razões plausíveis para o encerramento”. A sua alta consciência civil e de responsabilidade levou-a a este protesto público, sentindo-se assim “ aliviada com aquela sensação do dever cumprido”. Resta à imprensa cumprir o seu, para que Portugal se endireite e levante para adquirir a dignidade que lhe é devida!
Consequentemente resultaria uma discussão pública (fórum) em que representantes do governo e dos afectados se reunissem para manter os serviços e conseguir poupar ainda mais dinheiro aqui na Alemanha.
António da Cunha Duarte Justo
Conselheiro Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt
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