REUNIFICAÇÃO ALEMÃ – A OPORTUNIDADE PERDIDA

Afirmação dos Polos contra a Transversalidade do Meio (Centro)

Por António Justo

Recordo com nostalgia a revolução iniciada na noite de 3.10.1990 pelo povo da Alemanha socialista. Nesse dia (a sessenta Km da Alemanha socialista) senti a Europa e a Rússia a pulsar num só coração. Nas ruas de Kassel, a abarrotarem de gente, sentia-se a euforia de desejos e esperanças de povos a encontrar-se em abraços; era a festa das fronteiras abertas, um mundo todo que se reunia num só abraço! No ar misturava-se também um cheiro da gasolina dos Trabant (Trabis) com um borburinho de alegria e fraternidade que ressoava a humanidade.

 Foi uma revolução pacífica, verdadeiramente socialista no sentido democrático (os de baixo a libertarem-se dos de cima).  Socialistas corajosos acabaram com o socialismo de Estado.

A intrepidez de alguns, num sistema político fechado (com uma Igreja aberta), apoiados pela luz de velas e orações, possibilitaram a queda de um sistema armado até aos dentes. Michael Gorbatchov tornou possível o raiar de sol nesse dia. A RDA com o socialismo real passou à História.  O socialismo perdeu e o capitalismo ganhou; e isto apesar de um e outro se encontrarem nas mãos dos alemães!

As duas Alemanhas reúnem-se, mas a fenda continua na sociedade: enquanto a Alemanha ocidental buscava a reunificação, a Alemanha oriental procurava liberdade e autodeterminação. O alemão de leste sente-se privatizado e responsabilizado, experimentando a falta da solidariedade e da coesão que a necessidade criara nele numa RDA onde faltava quase tudo. O povo que lutou pela liberdade sente-se levado na corrente do Marco.

A revolução feita por um povo à procura de liberdade foi rapidamente interrompida pelas cúpulas socialistas e capitalistas que optaram sobretudo pela liberdade material renunciando em parte à liberdade interior. O povo sente-se assim na banalidade do mal da luta normal do dia a dia. É de admirar, porém o êxito conseguido a nível económico pelo Estado alemão, tendo conseguido, com as contínuas transferências de grandes verbas de solidariedade para a Alemanha de Leste, um nível de vida social equiparado nas duas zonas.

A Alemanha, entre Oeste e Leste, no meio do Oriente e do Ocidente não optou por ser o meio dos polos (a intermediária interpolar), preferiu continuar polar, adaptando o seu leste ao oeste (assimilando o polo socialista no capitalista). A Alemanha inteira perdeu assim a oportunidade de ser fiel culturalmente a si mesma (medianeira, transversal) e de se afirmar e  dar resposta à sua posição geográfica entre Leste e Oeste. (A posterior transferência da capital de Bona para Berlim – em direcção ao Leste – revela-se apenas como um tranquilizar da alma alemã a nível exterior do consciente).

Em vez de conciliar os dois polos de maneira transversal, no sentido da inclusão, da complementaridade, atraiçoa a sua vocação histórica de se reunir no meio, no centro dos polos (de unir a Europa com a Rússia). Em vez disso assistiu-se, com a queda do muro de Berlim, ao acentuar-se da política real (liberalismo económico) em desfavor da política ideal (unir a Europa à Rússia); optou-se pelo globalismo liberalista e consequentemente pelo acentuar-se do novo muro (cortina de ferro) em que se está a tornar a NATO. A Alemanha abdica assim de si mesma, da sua posição geográfica intermédia para apoiar a afirmação da posição anglo-saxónica no mundo. Abstém-se da liderança política para viver na ambivalência da materialidade socialista e capitalista.

Mais explicitamente: A Alemanha que parecia ser chamada a tornar-se culturalmente a balança do Oriente e do Ocidente para equilibrar o movimento das forças entre os dois polos (blocos) contraentes, desaproveitou a grande oportunidade que teve em 1990 de criar uma terceira via (a via do meio termo – interpolar), que teria sido possível através da união do seu polo socialista (RDA- Rússia) com o polo capitalista (BRD-Europa). Em vez disso a reunificação fortaleceu a luta polar (via capitalista) num globalismo que se afirma também ele por princípios dualistas de contradição polar. Deste modo revigoram-se as forças da masculinidade sobre as da feminilidade criando-se um desequilíbrio cada vez maior entre o material e o espiritual, o afirmativo e o criativo (O ideal de uma visão trinitária da realidade cedeu, novamente à luta dualista de afirmação das polaridades!). A mentalidade polar (de caracter masculino), expressa tanto no capitalismo como no socialismo, não deu lugar a uma reflexão possibilitadora de uma mentalidade inclusiva e transversal centrada na criatividade e na transformação com um substrato de motivação espiritual. A reunificação da Alemanha oriental com a ocidental tornou-se por um lado num projecto de sucesso económico e por outro numa traição à Alemanha no seu todo, no âmbito de uma possível missão cultural histórica.

Vive na ambivalência entre ocidente e oriente numa tensão entre espírito e matéria que practicamente se expressa na continuação da politização da narrativa socialista e da narrativa capitalista.

Nos novos desafios, Covid-19, globalização, alterações climáticas, migração, o medo parece tornar-se senhor de uns e meio de domínio para outros.

Precisamos de pontes que unam e não muros que separem. Esperam-se sempre os filhos da unidade e depara-se com os irmãos da divisão: matéria/espírito, capitalismo/socialismo.

Uma lição da história fica na nossa lembrança: Nem fascismo nem comunismo! Só a liberdade e a autodeterminação tornam o futuro possível!

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

Classe média brasileira continua a sair do Brasil  

IMIGRAÇÃO REJUVENESCE PORTUGAL

Em 2019 havia cerca de 111.060 cidadãos brasileiros em Portugal. Em 2018 foi concedida a nacionalidade portuguesa a 11.586 brasileiros (Estes deixam de ter o estatuto de imigrantes). A  comunidade  brasileira  representa  um  quinto  do  estoque  dos  imigrantes em Portugal.

Portugal também concede um visto, válido por cinco anos, para estrangeiros que compram imóveis acima de 500 mil euros: são os chamados vistos gold (imigração para ricos). Em  2019, 373 chineses conseguiram visto Gold,  o  Brasil  ( 176 vistos), Turquia (71 vistos), EUA (49 vistos) e Rússia (40 vistos). Uma boa percentagem de imóveis vendidos em Lisboa são comprados por brasileiros. Se tiver interesse em informação qualificada e concreta sobre imigração brasileira  leia o estudo sobre migrações “Brasileiros em Portugal”(1).

Os imigrantes contribuem para aumentar a natalidade em Portugal ; em 2017 as estrangeiras contribuíram com 10% do total dos nascidos vivos no país. Isso significa que para cada mil mulheres imigrantes há 39 natos-vivos, contra 15 das mulheres portuguesas. A fecundidade dos estrangeiros contribui para atenuar o envelhecimento populacional em Portugal e assim contribuir para a sustentabilidade da sociedade portuguesa!

Segundo a Organização Internacional para a Migração, em 2019, o total de migrantes internacionais em todo o mundo  era de 271,6 milhões de migrantes, representando 3,5% da população mundial total e, daquele montante migratório, 47,9% são mulheres. 20,4 milhões de pessoas encontram-se em condição de refúgio no mundo .

Uma nota à parte: Na Europa parte da classe média está a tentar refugiar-se na política, nas administrações estatais e em organizações internacionais.

Na Idade Média as elites viviam bem à sombra da Corte e na Actualidade vivem bem à sombra dos ministérios.

Quem pode afirma-se e quem não pode safa-se.

Olhe-se para onde se olhar, por todo o lado se observam migrações! Só os pobres ficam!

António da Cunha  Duarte Justo

Pegadas do Tempo

  • (1)  “Brasileiros em Portugal”, Brasília 2020 : http://funag.gov.br/biblioteca/download/Brasileiros%20em%20Portugal-DIGITAL.pdf

GOVERNO TURCO ALDRABA AS ESTATÍSTICAS DO CORONAVÍRUS PARA ATRAIR OS TURISTAS

Segundo relatos da imprensa alemã, desde o final de Julho, o governo da Turquia falsifica as estatísticas do Coronavírus. Não conta para as estatísticas oficiais o número de todos os infectados com o Coronavírus.
Em vez disso usa o estratagema de contar apenas como infectados os que mostrem sintomas, designando-os de “pacientes”. O ministro da saúde turco admitiu que as outras pessoas infeccionadas não estão incluídas nas estatísticas.
Por exemplo, a 10 de Setembro, dos testes na Turquia resultaram 29.000 contagiados com o Covid-19 e o Governo publicou oficialmente o registo de apenas 1.500 novos “pacientes” (HNA, 02.10.2020).
Na Turquia a Oposição fala de manipulação deliberada. Deste modo os contaminados também podem continuar a contagiar outras pessoas. Infecta
Assim torna-se fácil reduzir-se atualmente o número de 1.800 novas pessoas infectadas para 1.400 por dia.
A Turquia é o país onde mais turistas alemães se infectam com o Covid-19.
O aspecto manipulativo seguido pela Turquia na política de informação sobre o Covid-19 não pode servir de desculpa ou branqueamento da política seguida na apresentação de estatísticas nos países da EU. Também aqui, quem está atento, pode descobrir incongruências talvez com segundas intenções.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo