VOCAÇÃO

António CD Justo
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António CD Justo
 
Completo aqui o texto todo:

Verdade e VERDADE

 

Sou um aprendiz da verdade

A seguir os passos dela,

sempre a andar e a caminho

Toda a vida sem a ver

 

Um dia a Verdade

Encontrou-me a caminho

E logo me senti dentro dEla,

não na mente, mas no coração!

 

A mente não gostou

Julgava-se acima dele

E eu já de entre meio

Entre mente e coração

 

Sou caminheiro da verdade

Na certeza de ela ser pessoa.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

Também em http://poesiajusto.blogspot.com/

ALEMANHA SOCIALMENTE EM ESTADO DE REVOLTA

Atmosfera de Combatentes opinativos contra Combatentes opinativos – Perigo de uma Democracia contra cidadãos

Três quartos dos alemães estão insatisfeitos com o governo de “coligação de semáforos” (SPD, FDP e Verdes); apenas 15% estão contentes com o SPD, 12% com os Verdes e 5% com FDP (1).

Segundo o portal Statista (2), se houvesse eleições federais agora, o SPD ficaria com 13%, a CDU/CSU 31%, os Verdes 14%, o FDP 4%, a AfD 22%, a Esquerda 4%, os Eleitores Livres 3% e os restantes 9%. Isto desconsola profundamente os partidos do arco do poder que veem o seu poder em perigo; agora, com unhas e dentes, tentam mover todo o povo contra os votantes da AfD, partido da extrema direita.

A população alemã encontra-se esgotada pelas crises, pela impostura governamental e cansada do “alarmismo persistente, da agitação, da estratégica de pintar as coisas a preto e branco e do facto de até os partidos democráticos se tratarem uns outros com um desrespeito perturbador. É hora de algo mudar! “, queixa-se o diário Augsburger Allgemeine, a semana passada.

Como as manifestações do fim de semana (20 e 21 de dezembro 2024) mostram com cerca de 900.000 participantes, a democracia parece firme, mas ao pedir a proibição da AfD com o argumento de se proibir o fascismo não é apenas infame, mas também antidemocrático. Deve-se ter em mente que a AfD já tem assento em muitos parlamentos. Dividir para governar faz parte da velha visão de mundo. Ambos os lados jogam e discutem principalmente com base em suposições. As pessoas querem lutar contra a “ideologia parda”, mas lutar também fomenta a resistência, como se pode ver com o militarismo e a militarização na nossa sociedade e suas consequências na mente e na influência do agir das pessoas. Manifestamo-nos contra, principalmente contra suposições, mas não contra a guerra. A nossa NATO também está agora a provocar manobras com 90.000 soldados na fronteira da Rússia. Seria chegada a hora de se refletir sobre verdades desagradáveis.

Eu, que acompanho de perto a vida política e cultural alemã há quarenta anos, nunca vi nem imaginava a possibilidade de vir a ver uma Alemanha tão agitada, emocionalmente aquecida e desequilibrada. O ambiente social é muito desconfortável (A movimentação das massas pelos media e políticos torna-se assustadora podendo permitir a conclusão que a opinião das populações é facilmente manipulável – Medidas Corona, Ucrânia, etc. – fenómeno este que desresponsabiliza também a histeria popular de outrora em torno de Hitler). Tem-se a impressão que a Alemanha e com ela a Europa estão imitando a polarização dos EUA. Todos parecem estar contra todos e com o argumento aparente de que todos estão preocupados com a democracia.  Vive-se uma luta que sofre de hipocrisia porque não se trata de uma luta por resolver os problemas do país nem tão-pouco de uma discussão temática objectiva, mas apenas de uma luta por defender posições de poder, o que tristemente concorre para desacreditar a Democracia.

Como expressão de tudo isto temos: Personalidades de partidos de esquerda e de direita descontentes a formar partidos alternativos (o partido de Wagenknecht quer a esquerda mais no centro  e Maaßen pretene fundar um partido mais conservador que a CDU); AfD (Alternativa para a Alemanha) contra a imigração e os meios de comunicação contra a AfD; camponeses contra o governo, supremo tribunal contra medidas do governo; Alemanha contra a Rússia, governo contra os “palestinenses”; habitantes sobretudo muçulmanos contra Israel;  luta entre três partidos da coligação governamental (SPD, FDP e Verdes), manifestações políticas e laborais. Temos também muitas pessoas contra o governo queixando-se que ele segue ideologias globais e não se preocupa com o próprio povo; por seu lado o governo cala e não responde.

A Coligação mudou de curso e encontra-se numa recessão que favorece extremismos.

A população baloiça insuspeitamente na onda das páginas dos jornais e do tempo; juntou-se o populismo dos de cima ao populismo dos de baixo. No meio de tudo isto há muito boa gente a viver da cólera oportuna e aclimatada.

O povo incitado manifesta-se nas ruas ou recolhe-se dentro das quatro paredes da própria casa. Na “rua” e na arena pública só se notam combatentes opinativos contra combatentes opinativos e todos eles com o rei na barriga. Enfim, uma atmosfera própria de guerra em que o barulho atordoa a inteligência. Muitos já renunciam a ver televisão ou a ler os jornais.

Os regentes da EU que parecem ter renunciado à Europa puxam a si os lençóis e depois admiram-se que o povo se queixe do frio! O facto de o povo reagir é um grande sinal de desenvolvimento porque o povo é inocente e como tal desejoso de paz.

A solução seria utilizar os partidos estabelecidos para prosseguirem políticas baseadas na vontade do povo e numa discussão de tópicos factuais. De louvar é o empenho de um povo que à sua maneira demonstra que a política não lhe é indiferente. Por isso por vezes se tem a impressão que os políticos alemães têm medo do seu povo quando o que os devia mover deveria ser a responsabilidade pelo bem comum e o respeito!!

No meio de tudo isto só ajuda o bom humor. Numa atmosfera provocativa com respostas provocantes há que contar com violência contra violência. Numa sociedade alemã que antes parecia madura chega-se a ter a sensação de que a democracia chegou a um ponto de virar as pessoas contra as pessoas chegando-se a um estado ambivalente de ver democracia contra democracia. Isto num país europeu com tanta influência torna-se preocupante. Por outro lado, a Alemanha tem estofo suficiente para aguentar até grandes ondas revoltas devido à sua estrutura orgânica de Estado com uma Constituição resistente a ventos ideológicos.

Minha Alemanha, quem te viu e quem te vê!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://www-berliner–zeitung-de.translate.goog/news/umfrage-drei-viertel-der-deutschen-mit-ampel-koalition-unzufrieden-li.2176571?_x_tr_sl=de&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc&_x_tr_hist=true

(2) https://de.statista.com/statistik/daten/studie/953/umfrage/aktuelle-parteipraeferenz-bei-bundestagswahl/

(3) Novo partido na Alemanha: https://antonio-justo.eu/?p=8945

ALTAR ABENÇOADO DEPOIS DO SEXO

O exemplo de como a sociedade está cada vez mais rude, dividida e atrevida pode ser visto no tipo de provocações que por todo o lado surgem. As igrejas têm sido espaços onde os provocadores encontram gosto especial.
Os media alemães relataram o caso de uma parelha que fez sexo numa igreja católica em Schechen, no distrito de Rosenheim, em 2023 e documentou o acto num vídeo.
O sacerdote, antes das cerimónias de Natal, abençoou o altar com incenso e água benta.
A Europa está a tornar-se cada vez mais uma sociedade polarizada como nos EUA…
António CD Justo
Pegadas do Tempo

NOVO ENFOQUE NO MOLDAR DA MORALIDADE

Velho Adão ao encontro do Novo Adão

O Papa Francisco ao viabilizar a bênção a pessoas em situações irregulares dá início a uma teologia moral mais virada para a misericórdia e para a graça do que para o pecado. A bênção de homossexuais e a reintegração de divorciados na Igreja é o sinal de uma mudança de perspetiva moral com ênfase na compaixão, acolhimento e encontro, em vez da ênfase de tipo exclusivo na condenação e na culpa.

O Santo Padre, ao assinar o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé,  Fiducia supplicans (1), veio provocar mais ondas num oceano já muito agitado no Caminho Sinodal da Igreja! Isto levou o Papa, no passado 13.01, a esclarecer que na Igreja Católica se abençoam pessoas e não o pecado (2), quando falava a 800 padres da diocese de Roma.

A tomada de posição de Francisco é realmente inovadora na teologia moral, como se pode verificar no que se preanunciava já nas suas encíclicas (3). Ele quer uma teologia que parta de Jesus Cristo, o Novo Adão, uma teologia da graça, da caridade e da reunião e não tanto uma teologia do velho Adão, uma teologia moral que assenta mais na condenação e na separação. A nova abordagem pastoral iniciada pelo Santo Padre não implica uma mudança nos ensinamentos fundamentais da Igreja Católica sobre a moralidade, mas sim uma ênfase diferente na aplicação desses princípios à vida cotidiana e às situações específicas. O Papa procura abordar as pessoas com compreensão e cuidado pastoral, numa atitude de encontro pessoal, reconhecendo a complexidade das situações individuais. O facto de sermos seres condicionados, não 100% livres, condiciona também as avaliações morais e de valores. Em questões de moral, no âmbito católico, “a consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo” (4); esta assenta na dignidade individual humana resumida na pessoa de Jesus Cristo e proclamada na mensagem cristã e implica uma inter-relação íntima entre o fiel e a instituição desde que realizada no espírito de comunhão com o Espírito Santo.  A Igreja na qualidade de comunidade religiosa afeta a pessoa inteira com corpo, psique, alma e espírito; por isso, e devido à sua missão, será de sua natureza ir ao encontro da pessoa e embarcar com ela a partir do lugar onde esta se encontra. A pessoa é um todo complexo e a Igreja, que quer o bem da pessoa toda e real, sente-se obrigada a fomentar nela o bem do espírito, da alma, da psique e do corpo. Com isto a Igreja não subestima a sua missão de apelar à responsabilidade com que o homem deve usar a sua liberdade no sentido do bem corporal e espiritual.

Encontramo-nos numa encruzilhada histórica que está a iniciar um novo tempo axial a nível de doutrinas e de geopolítica, tendo como consequência  as dores de parto sentidas nas populações; é um tempo em que a pessoa e a sociedade se sentem a dar à luz uma nova maneira de ser e de estar no mundo e, por vezes,  sem saber a razão do acontecer nem donde ele vem. No canal das dores vislumbra-se nova luz já não fruto apenas da perceção luz e treva, mas de uma nova Realidade de amor que idealmente quere ultrapassar a dicotomia luz-treva!

A pessoa é um nó de relações, também contextuadas no tempo, à procura do brilho do amor que lhe dá consistência, ânsia essa que a palavra portuguesa Saudade tão bem expressa!

O ser humano, à imagem do Amor que criou o mundo, é feito de Céu e Terra, fruto do amor para amar e ser amado no seguimento do amor como princípio, meio e fim (como exemplarmente revela a analogia do mistério da Trindade); sendo a pessoa feita de Céu e Terra não se pode separar dela a parte que é terra. Daí a necessidade de integrar na visão humana a “Felix Culpa” (como refere Sto. Agostinho, o pecado de Adão e Eva possibilitou o anseio à perfeição que culmina na vinda do segundo Adão); no âmbito das possibilidades, o erro de Adão inerente ao ser humano e à instituição, que se repete nas biografias humanas e nas instituições pode também ele tornar-se em mal menor como fator de desenvolvimento; de facto também ele  possibilitou tornar visível na História Humana as pegadas da memória cristã (a Igreja) e desenvolve na pessoa humana o desejo de se aperfeiçoar e crescer. A nível sociológico e histórico se não tivesse havido o momento da culpa assumida exponencialmente a nível histórico no imperador Constantino e no movimento das cruzadas, hoje o Cristianismo estaria apenas presente em grupos de vida sem ter tido a possibilidade de humanizar institucionalmente a civilização ocidental. A História é a sombra que nos ajuda a descobrir donde vem a luz! O protótipo Jesus Cristo reuniu nele a divindade e a humanidade, o espírito e a matéria de maneira a espiritualizar também a matéria!

A Graça acontece a nível de relacionamento, de relacionamento pessoal e uma bênção não se fixa na forma do relacionamento porque esta é transcendida na ligação pessoal intrínseca que possibilita a relação de amor pessoal e o vínculo entre dois, o amor em comunidade que no cristianismo assume caracter divino (que pode ser limitado por aspetos  circunstanciais individuais e até levar ao anulamento do casamento); também por isso na realização do sacramento matrimonial, o celebrante do casamento não é o sacerdote, mas os noivos; o  sacerdote confirma o vínculo como testemunha, em nome da Igreja, a união daquele Matrimónio; o amor é constitutivo e constituinte se responde à sua essência de ser relação sem ter de ser identificado apenas com uma forma de relacionamento.

Em Jesus Cristo incorpora-se espírito e matéria, a feminilidade e a masculinidade em harmonia e não na divisão; a feminilidade e a masculinidade que flui em cada homem e em cada mulher e deve permear toda a sociedade no espírito de bonomia e graça. A “bênção pastoral” de pessoas a viver em situações irregulares é testemunho de um amor, não apenas carnal; ela aponta para a relação humana integral de que faz parte essencial  a dimensão espiritual.

Para nos entendermos não chega fixar-nos numa forma de linguagem puramente racionalista e masculina. A linguagem poética é a forma mais adequada para se falar do amor e para se falar de Deus e da vida; ela tem um caracter mais criativo, mais feminino! O símbolo e o mito apontam para uma realidade superior à expressa na linguagem e no texto. Uma sociedade demasiadamente colada ao texto materializa a História e a Realidade petrificando as interpretações em factos.

Jesus Cristo não se reduz à doutrina nem ao texto, ele é pessoa, o evento humano-divino, o acontecer do “tempo Cairos” (o presente eterno) a resgatar o tempo Cronos (do calendário) na pessoa e na sociedade; o JC é o modelo perfeito da realidade humano-divina a acontecer na imagem de Deus que é o ser humano. Jesus Cristo é a relação pura e trinitária a espelhar-se no tempo narrativo, histórico e através da Igreja petrina em comunhão com o Espírito Santo confere-lhe visibilidade e sustentabilidade histórica.

O reino de Deus, o Evangelho é a plataforma horizonte da História. Deus não é apenas um demiurgo, uma ideia, o Deus cristão é relação pessoal, ele é trindade, encarnação e Ressurreição, ele é Céu e Terra em Jesus Cristo que se expressa na teologia da compaixão. A igreja expressa e guarda de maneira especial a feminilidade da alma das pessoas que vai ganhando voz no tempo.

A acentuação pastoral no amor (sinal de uma realidade espiritual) torna-se numa chamada otimista a não nos fixarmos moral e mentalmente apenas no modelo luz e treva que pela criação nos é dado viver e, ao mesmo tempo,  adverte-nos a temperar a maneira de ver maniqueísta: um modo de vida mental-político-religioso-social  demasiadamente centrado na dualidade (oposição luz-treva, verdade-mentira)  que estamos chamados a ir superando, muito embora sabendo-nos numa situação existencial de carência. 

Pelo menos no âmbito privado é chegada a hora de se tornar presente o Tempo Natal, o tempo da graça, o tempo Cairós que presencialisa o tempo mítico, o tempo redondo, para lá do frio e do calor, do inverno e do verão. Na luz do presépio se juntam e iluminam todos os mitos ligados aos solstícios, e na gruta noturna se junta todo o saber humano-divino, o amor que ultrapassa o saber dos solstícios e toda a sabedoria, superando ou temperando a oposição da luz à treva.   Em Jesus Cristo se reúne o céu e a terra e deste modo se ultrapassa a visão maniqueísta do mundo. O Amor transcende o próprio sol e é o outro lado da luz e das trevas: a tentativa é um exercício difícil e sempre inacabado porque na vida tudo se mantem em processo. No fim o que importa na caminhada  é a boa intenção, esperança e espírito de benevolência perante a vida que em termos cristãos se resumiria em tentar seguir as pegadas de Jesus Cristo.

O novo Adão inaugura uma nova geração com a cultura do amor a mitigar tanto a arrogância do saber como a fixação brutal instintiva.

A Conferencia Episcopal Portuguesa “reconhece o acolhimento de todos na Igreja e manifesta a plena comunhão dos bispos portugueses com o Santo Padre”.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) A SEXUALIDADE JÁ NÃO É TEMA TABU NA IGREJA: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/a-sexualidade-ja-nao-e-tema-tabu-na-igreja

(2) A função principal do Papa é liderar a Igreja Católica, promover a fé, orientar os católicos e lidar com questões religiosas e éticas. É conhecido por suas posições progressistas em algumas questões sociais e a sua abordagem é mais inclusiva na pastoral em comparação com alguns de seus antecessores. É importante notar que a teologia pastoral está em constante desenvolvimento ao longo do tempo, e diferentes papas podem enfatizar diferentes aspetos, dependendo das necessidades e desafios específicos enfrentados pela Igreja e pelo mundo na época no seguimento dos sinais dos tempos. Portanto, embora a abordagem pastoral do Papa Francisco possa ser considerada uma mudança de ênfase, ela está enraizada em princípios teológicos mais amplos de misericórdia, graça e cuidado pastoral.

(3) A encíclica Laudato Si (Louvado seja) : https://antonio-justo.eu/?p=3191 ; Na Cúria: menos poder e mais serviço: https://antonio-justo.eu/?p=7236 ; Família e sexualidade: https://www.pressreader.com/angola/jornal-cultura/20141124/281719792892079 ; https://jornalpovodeportugal.eu/2018/02/13/polemicados-recasados-por-antonio-justo/

(4) “A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo”: https://jornalpovodeportugal.eu/2018/02/13/polemicados-recasados-por-antonio-justo/

A CRISE ASSEMELHA-SE ÀS DORES DE PARTO DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO

A crise está para a mudança como a mudança brusca para a crise. A ordem mundial supervisionada pelos EUA tornou-se questionável ao desviarem-se dos valores humanos iniciais que levaram aos Descobrimentos, restringindo-se aos valores exteriores de poder económico-militar.

A crise que poderia servir como oportunidade para uma reavaliação séria da própria política (e estilo de vida) e funcionar como um catalisador de mudança para melhor, em vez de buscar soluções inovadoras, recorre à velha estratégia de afirmação pelo poder (militar e económico).   A crise exige também adaptação para enfrentar os novos desafios. Mas estes só serão consciencializados se se tiverem em conta a identificação dos problemas básicos ou sistémicos.  Sem isto não surge a necessidade de mudança positiva, nem de reformas.

Daí a necessidade de uma mentalidade conservadora mais aberta à flexibilidade empenhada apenas numa adaptação contínua para superar obstáculos na defesa da pessoa humana, o verdadeiro factor de resiliência e de uma mentalidade progressista mais aberta ao humano e suas necessidades espirituais.

A crise proporciona oportunidades estimulando a criatividade e o espírito de investigação, mas a consequente reavaliação das prioridades e valores individuais e coletivos será superficial sem uma abordagem séria dos próprios objetivos e missões.

De momento assiste-se a   mudanças estruturais significativas em sistemas políticos, económicos e sociais e no comportamento humano a que falta uma ética sustentável. As pessoas adoptam novos hábitos sem se darem conta do que eles significam a nível de desenvolvimento social e humano. Mudança e progresso não significam necessariamente desenvolvimento positivo! Observam-se mudanças fundamentais ao longo da história.

O paradigma medieval que colocava a espiritualidade no centro do pensamento foi substituído pelo paradigma moderno que coloca a razão no centro do pensamento. Atualmente parece desenvolver-se uma ordem social que tem como centro do pensamento a funcionalidade material da sociedade e do sistema marginalizando o humano e a tradição.

O erro do modernismo é ter procedido apenas a uma substituição: trocado a crença em Deus pela crença na razão! É reducionista do Homem e da humanidade, refugiando-se na linguagem ao querer fazer dela a criação do mundo! Em vez da inclusão e da complementaridade serve-se da divisão para se autoafirmar, adoptando a estratégia de um contra desintegrador. Um autopsiador consegue decompor muito bem um cadáver nas suas diferentes partes, mas não tem a veleidade de lhe querer dar a vida!

A pessoa humana também não pode ser apenas considerada em função do sistema democrático, também ele em fase de desconstrução.

Numa sociedade em que se fala tanto de inclusão parece faltar a vontade de se proceder à inclusão da razão e do coração, da pessoa e da comunidade com todas as suas qualidades e necessidades materiais e espirituais.

No meio de tudo isto será importante estar-se atento ao saber de experiência feito.

António CD Justo

Pegadas do Tempo