A CRISE ASSEMELHA-SE ÀS DORES DE PARTO DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO

A crise está para a mudança como a mudança brusca para a crise. A ordem mundial supervisionada pelos EUA tornou-se questionável ao desviarem-se dos valores humanos iniciais que levaram aos Descobrimentos, restringindo-se aos valores exteriores de poder económico-militar.

A crise que poderia servir como oportunidade para uma reavaliação séria da própria política (e estilo de vida) e funcionar como um catalisador de mudança para melhor, em vez de buscar soluções inovadoras, recorre à velha estratégia de afirmação pelo poder (militar e económico).   A crise exige também adaptação para enfrentar os novos desafios. Mas estes só serão consciencializados se se tiverem em conta a identificação dos problemas básicos ou sistémicos.  Sem isto não surge a necessidade de mudança positiva, nem de reformas.

Daí a necessidade de uma mentalidade conservadora mais aberta à flexibilidade empenhada apenas numa adaptação contínua para superar obstáculos na defesa da pessoa humana, o verdadeiro factor de resiliência e de uma mentalidade progressista mais aberta ao humano e suas necessidades espirituais.

A crise proporciona oportunidades estimulando a criatividade e o espírito de investigação, mas a consequente reavaliação das prioridades e valores individuais e coletivos será superficial sem uma abordagem séria dos próprios objetivos e missões.

De momento assiste-se a   mudanças estruturais significativas em sistemas políticos, económicos e sociais e no comportamento humano a que falta uma ética sustentável. As pessoas adoptam novos hábitos sem se darem conta do que eles significam a nível de desenvolvimento social e humano. Mudança e progresso não significam necessariamente desenvolvimento positivo! Observam-se mudanças fundamentais ao longo da história.

O paradigma medieval que colocava a espiritualidade no centro do pensamento foi substituído pelo paradigma moderno que coloca a razão no centro do pensamento. Atualmente parece desenvolver-se uma ordem social que tem como centro do pensamento a funcionalidade material da sociedade e do sistema marginalizando o humano e a tradição.

O erro do modernismo é ter procedido apenas a uma substituição: trocado a crença em Deus pela crença na razão! É reducionista do Homem e da humanidade, refugiando-se na linguagem ao querer fazer dela a criação do mundo! Em vez da inclusão e da complementaridade serve-se da divisão para se autoafirmar, adoptando a estratégia de um contra desintegrador. Um autopsiador consegue decompor muito bem um cadáver nas suas diferentes partes, mas não tem a veleidade de lhe querer dar a vida!

A pessoa humana também não pode ser apenas considerada em função do sistema democrático, também ele em fase de desconstrução.

Numa sociedade em que se fala tanto de inclusão parece faltar a vontade de se proceder à inclusão da razão e do coração, da pessoa e da comunidade com todas as suas qualidades e necessidades materiais e espirituais.

No meio de tudo isto será importante estar-se atento ao saber de experiência feito.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

Social:
Pin Share

Social:

Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

5 comentários em “A CRISE ASSEMELHA-SE ÀS DORES DE PARTO DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO”

  1. António Cunha Duarte Justo, muito obrigada por tão pertinente reflexão.
    Sempre me questiono sobre o porquê de toda esta galopante perda de valores. O Bom, o belo o justo e verdadeiro, não cabem mais, na acção do Homem!
    Sinto caminharmos para um lugar inóspito. Vejo este caminhar como uma involução, diria mesmo aberração!
    Pergunto-me onde e porquê se perde o Homem da modernidade.
    Encontro várias razões e circunstâncias que me respondem, insatisfatoriamente, a essa dúvida, porém há uma que parece mais premente, como diz e bem: “ter
    trocado a crença em Deus pela crença na razão!”
    Esse esvaziar-se de Deus e do que o torna humano, desintegra e assusta!

  2. Manuela Silva , no meu entender, o seu questionamento revela uma sensibilidade fina e uma inteligência arguta que se apercebe do que está a acontecer, mas da maneira que a generalidade das pessoas não pode ordenar por demasiada dependência do que os Media em geral lhes oferecem diariamente.
    As duas grandes guerras causaram a desilusão humana de muitos intelectuais que se deixaram arrastar pelo socialismo materialista. O socialismo de Marx, Mao, etc desenvolveram uma estratégia de ocupar o pensamento universitário europeu, com o pretexto do marxismo científico, e optaram pela luta contra a cultura europeia e pela decomposição da sua história para implantarem uma cultura marxista negadora das raízes culturais ocidentais em geral e em especial o humanismo cristão que seguia a filosofia do bem, do belo e do verdadeiro. A cultura marxista transmitida por diversos partidos e até assimilada também em parte por partidos conservadores conseguiu impor-se como a ideologia da justiça nas sociedades europeias assumindo até aspeto de religião. Por isso assistimos de maneira irreparável à destruição da cultura europeia e em especial os seus fundamentos (pessoa, família e transcendência e a perseguição de valores que tenham a ver com Deus-Pátria-Família identificados com um sistema político e a ideia antipopular e difamadora dos três F (Fátima, Futebol e Fado) que apesar dos aspectos problemáticos que se lhes poderiam apresentar foi metido o positivo e o negativo no saco do lixo socialista. Tal como podemos observar seja em Bruxelas seja em Portugal, a pretexto de democracia e do 25 de Abril estabeleceu-se uma cultura do bota abaixo em que são continuamente remastigados só os aspetos problemáticos da história europeia e do cristianismo. O valor da democracia portuguesa deveria ter sido afirmado pelo seu valor em si e não com a ideia marxista de ser transformada socialmente numa alternativa à cultura portuguesa.
    Sim, o grande problema da crise vem de termos trocado Deus pela crença no racionalismo e termos política e socialmente trocado em grande parte o cristianismo pelo socialismo! Falo aqui não do cristianismo como fé mas como componente base da sociedade ocidental. O socialismo conseguiu refinadamente implantar uma luta contra a filosofia e contra a tradição cristã e está interessado em pouco a pouco conduzir a sociedade ocidenta para o modelo politico-social chinês!. Peço desculpa por o que estou a dizer ser demasiadamente encurtado.

  3. António Cunha Duarte Justo, é muito bom encontrar nas suas reflexões e estudos, tão boa informação e conhecimento.
    O politicamente correcto, parece estar a deixar-nos limitados a narrativas áridas desse conhecimento verdadeiro e profundo. Muito obrigada
    Bem haja

  4. Manuela Silva , o politicamente correcto não gosta de pessoas que se questionem e que perguntem do que acontece à sua volta. Eles querem criar uma nova ordem mundial de mero controlo superior, sem moral humana nem humanismo; querem criar um cidadãos apenas equacionado em termos mentais racionalistas e materialistas e com uma sociedade em que o cidadão seja apenas uma função em função de um Estado meramente mecanicista. Então bastará uma máquina do pensamento e alguns ídolos num organigrama tipo ONU para manter o rebanho, um rebanho cuja óptica e perspectiva passe a ser o nível da própria cabeça direccionada à altura das ovelhas da frente!

  5. Verdadeiramente assustador este controlo! Se puderem até o próprio pensamento formatarão!
    Que triste e desumana esta “engenharia social”, que vão tecendo, disfarçada de grandes causas!…
    Onde se perdeu o Homem?
    Muito obrigada, por trazer esclarecimento à minha inquietação.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *