A Vitória da Direita na Alemanha na Continuidade da Estrutura Política

O “populismo” de cima triunfa sobre o populismo de baixo

Os resultados das eleições federais (contagem de 24.02.2025), em comparação com as eleições de 2021, mostram uma mudança significativa no cenário partidário:

  • SPD: caiu de 25,7% para 16,41%
  • CDU/CSU: subiu de 24,10% para 28,52%
  • AfD: subiu de 10,3% para 20,80%
  • Verdes: caíram de 14,8% para 11,61%
  • Linke: subiu de 4,9% para 8,77%
  • FDP: caiu de 11,5% para 4,33%
  • BSW: 4,97%
  • Outros: 4,58%

A participação eleitoral foi de 82,5%, a mais alta desde 1987. O Bundestag agora tem 630 lugares, sendo necessários 315 para a maioria absoluta.

A CDU/CSU e a AfD, juntas, alcançariam uma maioria absoluta (317 assentos). No entanto, devido a barreiras antidemocráticas interpartidárias, essa coligação é inviável. Outras possibilidades incluem uma coligação de três partidos (CDU/CSU, SPD e Verdes), que teria 374 lugares, mas que poderia enfrentar dificuldades semelhantes à coligação anterior entre FDP, SPD e Verdes. Tanto SPD como os Verdes sofreram perdas eleitorais significativas, reflexo da insatisfação popular também com o governo anterior. A colaboração com os Verdes, em particular, gerou uma polarização no país, impulsionada por campanhas ideológicas e mobilização de ONGs associadas a esses partidos.

Diante desse cenário, as possíveis coligações seriam:

  • CDU/CSU + SPD: 293 lugares
  • CDU/CSU + Verdes: 267 lugares
  • CDU/CSU + SPD + Verdes: 374 lugares

A AfD consolidou sua posição como uma força relevante no parlamento, obtendo 20,6% dos votos, apesar de campanhas contrárias promovidas por setores dos media e do governo. A sua crítica à democracia liberal e à NATO é interpretada pela esquerda como uma posição radical, embora o partido não rejeite a democracia nem defenda um golpe de Estado.

O aumento da insegurança social, especialmente ligada à criminalidade islâmica, e a percepção de indiferença por parte dos governantes explicam o crescimento da AfD. A resistência dos partidos tradicionais a reconhecer essa realidade contribuiu para a atual polarização política. A direita venceu, mas os acordos interpartidários impedem uma mudança efetiva na estrutura de governo, adiando as transformações desejadas pelo eleitorado.

A rejeição da CDU/CSU a uma aliança com a AfD reflete a influência do establishment político e mediático. Se Friedrich Merz, líder da CDU, optar por governar com os Verdes, é possível que seu futuro como chanceler seja comprometido e que a AfD continue a crescer.

O populismo de cima e o populismo de baixo encontram-se na sua máxima expressão na Alemanha. A transferência de votos do SPD, FDP e Verdes para a AfD indica um descontentamento crescente com o status quo. No entanto, a elite política e os meios de comunicação continuam a ignorar esses sinais, mantendo as suas alianças e a sua agenda, enquanto a população aguardará uma nova oportunidade para expressar o seu descontentamento nas urnas.

As conversações de Merz – próximo chanceler – serão difíceis e sem hipótese de dar resposta à mudança aspirada atendendo ao radicalismo em que a actual Alemanha se encontra.

Uma coligação CDU-AfD seria a mais democrática. Caso contrário, continuaremos a ver vermelho em vez de seguir a razão!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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