Líbia – A Revolta das Tribos – O Erro do Ocidente


Preparação da Guerra Civil

António Justo

Numa sociedade com 140 tribos e clãs de família rivais, é de prever-se uma guerra civil entre elas. A Líbia não tem um movimento de oposição unido e o seu exército apenas tem o uniforme a uni-lo; de resto é constituído por uma malha de representantes das diferentes tribos e clãs, até agora mantido sob o manto férreo de Kadhafi.

Por outro lado, não se avista, no horizonte líbio, uma personalidade, capaz de catalisar os interesses e as rivalidades inter-tribais e as forças de al kaeda.

Até uma intervenção militar internacional, para proteger a população, se torna propriamente inexecutável. O recurso aos militares, como parceiros de diálogo a nível internacional, torna-se impossível, ao contrário do que acontece com os outros países árabes que têm a continuidade garantida no poder militar. Na Líbia, momentaneamente, nem a ditadura militar parece viável. A formação militar encontra-se dividida numa relação proporcional às tribos. O facto de se rebelarem contra Kadhafi e saltarem para a rua, não pode servir de argumento para a interpretação corrente.

Na África, como nestes estados, não houve o processo da colonização interna. Este foi impedido, também, pela colonização externa, o que torna a questão mais complicada, em termos modernos subjacentes aos processos verificados no surgir de nações. Na Europa os grupos mais fortes subjugaram os mais fracos, formando depois nações.

Os povos árabes ainda não têm a consciência de nação nem de povo. Pensam apenas em termos de família, clã e religião. Não são “Povo” são apenas população e só têm a uni-los a consciência religiosa e algum chefe. Por isso terão ainda de suportar, por muito tempo, a mão de ferro da religião, até que uma consciência de povo/nação organize a sua justiça e as suas forças militares e policiais, tão combatidas por extremistas muçulmanos que querem ver a população abandonada à pilhagem de caciques locais. Não os assusta mais que a organização dum Estado (democrático), como se vê testemunhado no Afeganistão. Por isso também aqui o Ocidente terá de sair vencido, tal como a antiga União Soviética. Onde não há Povo reina a ditadura sobre o caos; não é possível a guerra, apenas sobrevive a guerrilha! Esta é comum tanto à fase do surgir como à da queda das civilizações!

O erro de análise ocidental e das suas relações com estes povos está no facto de não conhecer a sociologia e antropologia árabes. O Ocidente transpõe, apenas, os próprios modelos de solução para problemas que provêem duma socialização diametralmente oposta. O mesmo se diga com a sua imagem de Homem e consequentes direitos.

A sociologia nómada, própria da civilização árabe e turca, não pode ser encarada com os mesmos critérios duma civilização sedentária em que os deuses se sujeitaram a um Deus pai. Naquelas predomina ainda um politeísmo açamado pelo poder absoluto dum Deus alheio à população, mas o único subterfúgio que lhe dá consistência. Trata-se dum Deus imposto. Maomé conhecia bem as tribos a subjugar ao criar a sua religião; por isso não podia tolerar o monoteísmo mitigado cristão. Não podia servir-se da evolução histórica como era o caso do povo israelita, nem duma antropologia humana como era o caso dos cristãos. Maomé teve de criar um sistema religioso para solucionar o problema de tribos aguerridas e indomáveis; para isso precisava de estruturas culturais de carácter sociológico e não antropológico. Por isso a pessoa é considerada como objecto. Um sistema político ou religioso que não sirva a pessoa mas apenas o grupo desaparecerá com o tempo e depois não se nota a sua falta. Os árabes perderam o comboio da História continuando no deserto sob a tenda de Maomé! O Islão terá de sofrer uma revolução e integrar na sua antropologia beduína os elementos sedentários, tal como aconteceu com ocidentais e em parte com os orientais.

A insurreição árabe, e o grito pela sua liberdade, estão a dar-se em torno do mediterrâneo, nos países que têm cooperação e contacto com a Europa. Nos outros domina a paz dos cemitérios. O norte de áfrica encontra-se a caminho do Irão. A sua sorte continuará a ter de suportar a colonização externa que o Ocidente, mais cedo ou mais tarde, entregará às mãos do Irão e da Turquia.

Desde que o déspota Muammar al-Gadhafi , que domina o país há 42 anos, renunciou ao terrorismo no exterior e deixou correr o petróleo em direcção à Europa, com a promessa de impedir extremistas muçulmanos e os refugiados africanos de passar as suas fronteiras para a Europa, os políticos europeus concederam-lhe o estatuto de homem de bem.

Os estados da União Europeia continuam desunidos no que toca a uma estratégia a seguir, preferindo manter-se na indecisão e continuar a jogar com as brasas pelo facto de Gaddafi ter ameaçado a EU de rescindir o contrato de impedir o fluxo de emigrantes ilegais do norte de África.

A líbia com 1,8 milhões de Km2 tem 6,5 milhões de habitantes. 90% do território é deserto com grandes reservas de petróleo.  A Itália importa 40% do seu óleo e a Alemanha 12,8% da Líbia. Em 2010 a EU negociou com Gadhafi uma “cooperação de migração”; até 3013 a líbia devia receber da EU 50 milhões de Euros para o controlo das fronteiras. Na cimeira EU-África realizada em Novembro 2010 em Trípoli, Gadhafi exigiu, para impedir o fluxo migratório de africanos para a Europa, 5 mil milhões de Euros, por ano, doutro modo deixa a europa cristã branca tornar-se negra!

Berlusconi, ter-se-á inspirado na Líbia no seu culto Bunga-Bunga com prostitutas jovens.

As insurreições populares podem vir a impedir o fornecimento de petróleo e de gás. O preço do petróleo sobe e já atingiu o valor máximo atingido em 2008.

A revolta popular já custou imensos mortos. Como é próprio desta cultura também o próprio assassino de massas populares se encontra disposto a derramar o sangue de mártir” até à última gota”! Reina o caos na Líbia. A cidade de Bengasi já se encontra nas mãos dos adversários de líder líbio com desertores de parte do exército e várias tribos aliaram-se aos adversários de Gadhafi.   Há representantes políticos que criticam abertamente a atitude assassina do líder que mata o povo. De facto, nas estradas corre o sangue de centenas e familiares têm medo de ir buscar os cadáveres com receio de serem tiroteados. O ministro da justiça demitiu-se protestando contra a excessiva violência empregada contra os demonstrantes; o mesmo declararam muitos diplomatas líbios junto da ONU.

Ao ditador só resta o suicídio, ou ter de se entregar ao Tribunal Internacional. Gadhafi, como preanunciando o seu fim declarou: “Eu morrerei como mártir, tal como meu avô”! Resta a guerra civil. Alguns diplomatas líbios já apelam á “responsabilidade da comunidade internacional para intervir para acabar com o correr do sangue”. Os actos do déspota “podem constituir crimes contra a humanidade”. Para a Alemanha a era de Gadhafi já acabou e exige sanções contra o seu regime. Itália, Malta e Chipre impediram que a EU ditasse sanções contra o regime líbio. A Alemanha é de opinião que a EU possa ditar sanções sem o acordo dos três países.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

in Pegadas do Tempo

SUDÃO DIVIDIDO EM DOIS ESTADOS

Sul do Sudão mantido sob a Estratégia árabe da Guerrilha


António Justo

As ameaças, do governo islâmico de Cartum, de perseguirem os cristãos que vivem no norte do país (1,5 milhões de cristãos) caso o sul cristão (3.500 milhões de cristãos) se declarasse pela independência, não sortiram efeito. Os resultados do referendo com 99% de votos a favor da independência corresponderam às previsões. A consequência do referendo do povo da zona sul do Sudão será a divisão do país em dois estados. O pacto de paz de 2005 previa o referendo. O conflito entre norte e sul começou em 1983 quando o norte, de maioria muçulmana, impôs ao sul, cristão e de tradições africanas, a lei islâmica bárbara da charia. O conflito provocou dois milhões de mortos e milhões de refugiados.


O norte muçulmano já tinha ameaçado, no caso da separação, tirar os direitos civis e as possibilidades de rendimento aos cristãos do Norte.


“O Sul, com 8 milhões de habitantes, só tem um hospital que mereça este nome”, diz Hans-Peter Hecking, referente de Missio, depois duma visita à região. “Fora de Juba (sede do governo autónomo) não há um prédio público nem uma Igreja que se encontre intactos”.

O sul de cultura africana e cristã e o norte de cultura árabe e muçulmana não encontram a paz dado o Norte discriminar e explorar o Sul. O Norte não desistirá de impor a cultura árabe ao sul.


Organizações religiosas temendo que se origine um segundo Ruanda, alertaram as Nações Unidas e as organizações internacionais para a gravidade da situação. As igrejas cristãs tinham distribuído por todo o país uma oração apelando à paz e à coexistência no Sudão.


O mundo não pode continuar a fechar os olhos como tem feito até agora, quando se trata de pessoas africanas a serem sacrificadas ao terror de estados e grupos ou de sangue africano a correr.



Solução à maneira árabe não é solução

A declaração da independência do sul do Sudão está prevista para 9 de Julho. É previsível que aconteça no sul do Sudão, o que aconteceu com a criação do Estado de Israel. Os estados árabes estiveram de acordo com a sua criação e um dia depois da proclamação do Estado declararam-lhe guerra!


O Sudão árabe, ao impedir o plebiscito nalgumas regiões do sul, criou já condições e pretextos para continuar a sua estratégia de guerrilha no sul.


A consequência lógica será a guerra civil apoiada por grupos árabes do estrangeiro. O Norte que explorou o sul como fonte de matérias-primas e de escravos durante centenas de anos, quer continuar a impor a sua hegemonia muçulmana ao Sul.


Embora o Sul seja rico em água e em petróleo, metade da população vive de menos de um dólar por dia; a quota de analfabetismo atinge os 80% com a maior mortalidade de mães no mundo.


Fugitivos e refugiados, que regressam de mãos vazias ao sul, não recebem nenhum apoio do Estado.


Restam imensos problemas por resolver: a repartição da dívida externa do Sudão de 37 mil milhões de dólares, que correspondem às entradas do fomento do petróleo com os seu poços no sul; o problema dos pipelines que levam o petróleo para o Norte, donde é exportado; o plebiscito impedido na região sul rica em petróleo Abyei, Nilo Azul e Southern Kondofan e adiado para um prazo indefinido.

O caminho da liberdade do Sul é muito difícil atendendo à situação, à hipocrisia ocidental e à má informação dos defensores da liberdade na Europa e no mundo.


É interessante constatar como o mundo é injusto na sua política de informação e como esta é tendenciosa na reacção a querer provocar. Nesta zona onde morreram mais de dois milhões de africanos, tal como já aconteceu noutras zonas africanas, o mundo assiste sem se admirar de tal. Para o Ocidente o sangue de mil sérvios e cosovares na Europa revelou-se mais importante que o de milhões de africanos, deitados ao abandono! A África continua o continente a explorar, por capitalismo e comunismo, por árabes, chineses, ocidentais e orientais. São a factura a pagar pelo petróleo do mundo árabe. Como se o sangue da áfrica negra não fosse igual ao dos brancos!


O sul do Sudão, na sua miséria, só é ajudado por organizações humanitárias. Seria importante que paróquias e juntas de freguesias europeias se tornassem parceiras de paróquias e administrações locais africanas para as ajudar a sair do ciclo vicioso de opressão e pobreza. Deste modo seriam salvaguardados os biótopos de cultura africana e de cultura cristã, porque, a experiência da História ensina e resume: onde a cultura árabe entra os outros biótopos naturais estão condenados a desaparecerem para darem lugar à monocultura muçulmana. Sabe-se da agricultura que onde domina a monocultura o solo é destruído!


O Apoio que, com os nossos impostos damos ao Kosovo não deve ser negado ao Sul do Sudão. Doutro modo a ONU apoia os árabes onde estes gritam por liberdade e pratica a tolerância da opressão árabe nas suas zonas de domínio. O petróleo pode mais que humanidade e humanismo juntos! A pessoa humana na sua dignidade e direitos pessoais continua a não fazer parte da agenda das instituições e dos povos. Não chega o grito da liberdade da fome e de consciências incomodadas. Necessita-se dum grito da liberdade que surja da humanidade e do humanismo para o Homem!


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Sócrates à frente do Socialismo Português contra a Defesa dos Cristãos


A Fracção da Chanceler alemã quer que se assinale a Perseguição aos Cristãos

António Justo

Depois do falhanço dos ministros dos negócios estrangeiros da União Europeia (EU), a Fracção da União (CDU e CSU) no Parlamento alemão em Berlim exigiu da EU uma declaração comum pela liberdade religiosa em que se manifeste explicitamente a perseguição dos cristãos. Estes constituem, hoje, o grupo mais acossado e com mais vítimas da perseguição religiosa.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros, dos 27 Estados da União Europeia, não tinham conseguido uma declaração comum, devido ao boicote dos ministros dos negócios estrangeiros de Portugal, Espanha, Irlanda, Luxemburgo e Chipre!

Em Portugal, os partidos não põem na ordem do dia assuntos como este. Em muitas matérias, actuam, sem discussão, à socapa do povo e parecem todos interessados numa desintegração social. Toda a nação parece marchar ao ritmo da música duma esquerda vaga que se encontra acantonada nos organismos do Estado.

Um centro direita, traumatizado ainda pelo 25 de Abril, não interfere em muitos assuntos relevantes para a nação, como é o caso da política escolar e cultural, deixando aos outros o remo! O povo é entretido com políticas opiniosas partidárias ou com assuntos políticos do dia-a-dia governativo sem que haja lugar para análises profundas da realidade nem previsões sérias para o futuro.

Com os movimentos republicanos, a ideologia maçónica e um bolchevismo subreptício procuram relegar os assuntos religiosos para o foro privado, encarando-os como estorvo ao fomento do seu domínio. Por outro lado, a má consciência dos grupos secularistas enriquecidos com os roubos dos bens da Igreja aquando da instituição da República manteve um ressentimento das novas forças nascentes que passaram a viver já não em torno do trono e do Altar mas como parasitas em torno dos órgãos do Estado.

Os barões de ontem enriquecidos à custa dos bens da Igreja são os Boys de hoje encostados aos bens do Estado.

O jacobinismo e o clericalismo, que não se encontra nas sociedades nórdicas, fenómeno típico de sociedades latinas, em Portugal, foram integrados nas organizações secretas e partidárias e seus ciclos intelectuais. Não se trata de viver da afirmação ou da negação de Deus; trata-se é de criar as melhores condições para que o Homem viva bem, independentemente dos seus credos e posições políticas.

Esquecem-se que há muito tempo nos encontramos a caminho da luta entre as culturas. Facto é que o socialismo é o maior apoiante dum islão cada vez mais agressivo em relação ao Ocidente. O equilíbrio secularização-religião encontra-se em perigo, pelo facto de secularistas irresponsáveis apoiarem o obscurantismo religioso árabe, e depreciarem sistematicamente o cristianismo, o que com o tempo fomentará extremismos religiosos também entre nós. Esquecem que foi este meio cultural cristão que fomentou e possibilitou a aplicação da democracia muito embora depauperada. Descuram que as ideologias políticas passam mas a religião não passará. Seria inteligente operar neste meio, de modo a possibilitar uma melhor praxis religiosa no sentido do reconhecimento recíproco. Uma política superficial oculta ao povo os próximos conflitos mundiais que se darão a nível religioso e cultural!

Prescindimos duma república de jacobinos como dispensámos uma sociedade teocrática. Ambas impedem a prática da cidadania responsável. O cultivo do ressentimento e da intolerância a partir da tribuna do Estado é ilegítimo e despreza a cultura do povo. Uma estratégia de destruição de valores cristãos, em via, é irresponsável, porque serrotam no galho em que se encontram e prejudicam o povo português, por razões ideológicas.

No contexto europeu, o jacobinismo anticristão instalado em órgãos do Poder é especialmente notório em Portugal e na Espanha!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


Papel da Europa e da USA no Egipto


Um Egipto tornado Beduíno adiará sempre a sua Situação

António Justo

O Ocidente movimenta-se entre “política real” e moral. Por um lado apoia regimes ditatoriais e, por outro, apoia a oposição a eles. Censura, tortura e ataques aos direitos humanos são tolerados na sequência de interesses que parecem legítimos: assegurar a estabilidade em lugares estratégicos, e assim possibilitar a liberdade de comércio e transporte para abastecimento internacional de matérias-primas, como é o caso do canal do Suez no Egipto.


O Ocidente tem quatro interesses vitais nesta zona: o petróleo, a segurança do Estado de Israel, as vias do comércio e as razões geoestratégicas. Neste emaranhado de tão altos interesses aceita-se tudo o que fomenta a estabilidade institucional da região, sem olhar a meios e aos problemas da população.


Os jornalistas, através do que, no dia-a-dia, nos informam, mostram que não têm a mínima ideia do que se passa no interior destes povos nem da filosofia estrutural básica que os rege. Por isso se encontram agora perplexos. À margem da vida do povo, só falavam de Israelitas e palestinianos.


Muitos aplaudem o movimento de libertação, o que é naturalmente agradável de ver. A questão imediata fundamental do povo não é essencialmente a liberdade mas primeiramente o comer!

O Ocidente desejar-se-ia um desenvolvimento do Egipto num processo em direcção à democracia, como o da Turquia. Estabilidade é a alma do negócio e o negócio de alguns floresce especialmente em regimes ditatoriais, mais abertos às armas do que ao bem e à opinião do povo.


Assim, têm seguido uma política hipócrita apoiando os regimes até que eles caiam de podres. Apoiam o corrupto presidente Marsai no Afeganistão, o terrível presidente Zordari do Paquistão, a arábia saudita que envenena o islão e até o terrorista Gaddafi na Líbia. Um outro aspecto da política ocidental, em relação aos árabes, é a consciência de só poderem escolher entre Satanás e Belzebu e tudo o que fazem, na perspectiva árabe, ser” falso ou errado”, como diz o perito da região, Henryk Broder.


“Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Sem uma táctica entre “moral” e “política real” esta zona, já há muito, seria um inferno vivo e o melhor palco para a preparação da terceira guerra mundial. Daqui o medo da Europa perante o armamento nuclear do Irão. Em caso de conflito a Europa estaria logo em guerra.


Uma boa estratégia, a longo prazo, seria fazer do Mediterrâneo um “lago” que une povos amigos prósperos. Para isso a mais-valia dum povo em relação ao outro não pode continuar a basear-se na competição e na exploração. Exploradores fomentam exploração tal como insurrectos fomentam insurreição. Uma política orientada para a resolução de problemas pressuporia que o Ocidente renunciasse à sua expansão económica agressiva e os árabes ao seu imperialismo agressivo através da religião e consequente opressão do ser humano. Uma sociedade que só exige sacrifício e sujeição do cidadão, não pode subsistir em termos históricos. A crise mostra a necessidade de um projecto civilizacional baseado na convivência solidária e no bem-estar dum cidadão realizado. Uma civilização adiantada como a ocidental deveria estar consciente de que a especulação no sector alimentar constitui um atentado permanente contra o povo e contra a paz. Também aqui a EU e a USA pecam por omissão. Sob a pressão de lobbies do mercado legislam sobre a medida da fruta que a fruta deve ter e sobre a curvatura da banana, para impedir que os pequenos agricultores concorram no mercado enquanto medidas defensoras do humanismo são deitadas ao desprezo. Os grandes produtores agrícolas deixam de produzir produtos alimentares para produzirem óleo de colza para a indústria automóvel. Em consequência, especialmente na África, o preço dos alimentos essenciais torna-se insuportável.


As crises internacionais poderiam tornar-se na maior oportunidade para se organizar uma economia não baseada no princípio da selecção mas da colaboração. Vai sendo tempo de o déspota da criação começar a ocupar um lugar de responsabilidade na criação e na evolução para merecer tornar-se o “rei da criação”. Cada povo possibilita e cria a sua situação, tal como as espécies nos diferentes biótopos.



Os árabes são os autores do próprio drama. Estes povos, mais habituados ao comércio do que à produção, como adolescentes sempre em rebeldia contra os pais, culpam o estrangeiro e os antigos colonizadores pela sua miséria actual; não utilizam os próprios recursos e riquezas na promoção intelectual do povo demasiado amarrado à religião. Assim, as elites limpam a má consciência da própria inactividade e exploração. Em vez da queixa contínua e do complexo de mártir, que cultivam, terão de crescer na responsabilidade social e aparecer, para passarem a exigir também ao Ocidente mais responsabilidade nas relações comerciais e económicas.


O movimento popular é bom mas o busílis está no facto de os que depois assumem o poder nunca serem os benfeitores do povo, mas sim os que melhor se aproveitam da situação.


Neste momento, o dilema dos políticos ocidentais é o receio de ver no governo alguém com quem não se possa contar. Um ataque a Israel desencadearia uma guerra mundial, no caso do Irão ter armas nucleares. Todos têm interesse que na Europa o preço do petróleo não chegue tão depressa aos 3 euros por litro. Por outro lado este negócio, até agora rendoso para o Ocidente, impede que este se dedique com maior eficiência na promoção de energias alternativas e de tecnologias mais eficientes do que as que temos.


O destino árabe está intimamente ligado ao da Europa. O ocidente encontra-se a caminho da desestabilização. Os chineses, por enquanto, fazem o negócio mesmo com o diabo mas não se intrometem na vida política interna do país.


O Egipto será obrigado a fazer alguns retoques na Constituição, mas os poderes continuarão nas mãos dos mesmos. Em geral, o povo árabe, sempre na perspectiva dum oásis fora dele, fomenta os chefes da caravana que, em nome do grupo, obrigam o indivíduo a seguir em fila sem sair do alinhamento, seja ele qual for. Um tal sistema é renitente à democracia e mais ainda aos direitos do indivíduo. No deserto só se salva o grupo, não há lugar para salvação individual. Assim quem se apodera do grupo, esse é sempre o salvador, independentemente do seu humanismo. Este povo terá de discutir, seriamente, a sua situação para se decidir por continuar beduíno ou tornar-se sedentário! O Egipto, para se reencontrar, terá de redefinir a sua identidade nacional, que não se deixa definir apenas pelos seus últimos 1.390 anos de História.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

EGIPTO A CAMINHO DUM ISLAMISMO EXACERBADO?


O Povo acordado torna os Governantes insignificantes

António Justo

Às vezes o simples esvoaçar duma borboleta faz mudar o mundo. Na Tunísia um académico, sem esperança de emprego, vendia hortaliças na rua com um carrito para ir sobrevivendo. As autoridades apreenderam-lhe o carro, levaram-no para a esquadra e esbofetearam-no. Desesperado e ferido na sua honra, suicidou-se. O povo que sentia na pele as dificuldades e a angústia daquele jovem levantou-se contra a opressão dos governantes. A consequência imediata foi mais de 200 mortos e o governo em fuga.


A esperança corre pelas ruas; desta vez em causa própria e não apenas contra um Ocidente sempre mau. O seu motivo de revolta é a fome. Especuladores de produtos alimentares tinham aumentado os preços em 50% revelando, deste modo, as elites com um bando de ladrões. O grito de liberdade dum povo oprimido, no corpo e no espírito, espalha-se por todo o Norte de África muçulmano.


Entretanto, no Egipto, os tumultos provocaram 11 mortos e mais de 900 feridos. O povo é quem arrisca a vida e quem luta pelo direito a uma ordem mais justa. Quem mais ordena são os outros!


O Irão, satisfeito, espera que o mundo islâmico siga nas suas pegadas, vendo a agitação egípcia como “uma onda do acordar islâmico”. Em Gaza, os extremistas já se sentem fortalecidos. Na Jordânia o rei demitiu o governo.


Nas ruas do Cairo chegou-se a juntar um milhão de pessoas e as demonstrações continuam a manifestar a presença popular. Como em tudo, o problema está no conflito da defesa de diferentes interesses e na acção de agências e sociedades secretas que se aproveitam do povo para os seus objectivos. Entretanto, as autoridades procuram atiçar a raiva do povo contra os jornalistas estrangeiros, também para melhor controlar a informação.


O que ajuda a evitar extremismos é a autoridade e profissionalidade de que gozam os militares egípcios no seio do povo e que em tempos de crise têm estado, tradicionalmente, a seu lado, sempre atentos, como na Turquia e no Paquistão à consciência popular.


Por todo o lado, quando o povo acorda os grandes tornam-se insignificantes e os peritos dos poderes estabelecidos ficam desorientados.


O Egipto não consegue alimentar uma população de 80 milhões; apenas teria capacidade para alimentar 10 milhões, tendo o povo de contentar-se, para viver, com um euro por dia. Desemprego, pobreza, patriarcado obrigam a juventude estudada a manifestar-se e a movimentar as massas contra sistemas de repressão que atingem a sua maior expressão em regimes africanos islâmicos. Seria óbvia a construção dum novo Estado, duma nova ordem social e duma nova ordem religiosa. Regentes duma economia na ruína, onde grassa a corrupção, sabem que estômagos vazios não procuram democracia, o que querem é pão. Uma certa euforia de dançarinos da liberdade deveria ter em conta que  países muçulmanos são governados autoritariamente no espírito da religião.


A experiência no Irão onde depois da revolução (força da esquerda e religiosa unidas) se funda uma república islâmica: Também o caso do Iraque é testemunho de que uma revolução agora em via, na mão de grupos religiosos, não promete muito, numa perspectiva ocidental. Até agora as revoluções têm estado ao serviço do islamismo exacerbado.

O povo levanta-se, o que é de admirar e louvar. As suas legítimas aspirações à democracia e modernização esbarram sempre contra a verdade dum livro único e a realidade duma rede de mesquitas que regula a vida individual do cidadão até ao pormenor. Por outro lado, a experiência da História, tem dado razão aos imanes na sua luta contra a democracia e  no emprego da violência, ad intra e ad extra,  no seu processo de expansão, muito embora sob o preço de manter um povo rebanho.


Uma república ainda mais islamista do que a actual irá criar grandes problemas a Israel e ao mundo Ocidental. Um tal governo não respeitaria o Tratado de Paz com Israel, a não ser que a fome os obrigue a ceder a compromissos. De notar que o Egipto é o único regime islâmico com tratado de paz com Israel.


Enquanto a polícia se manifesta fiel a Mubarak e ao seu partido apoiante NDP, os militares manifestam-se abertos às exigências populares. O Ocidente advoga uma mudança de regime ordenada para o país não cair no caos. O carrossel dos nomes possíveis para a formação duma presidência provisória passa por Mohamed El Baradei, Amr Muhamed Mussa, Osmar Suleiman e, ultimamente, Farouk Sultan.


No mundo islâmico, quem se declara contra o Ocidente, contra Israel e por Alá tem sempre boas chances de constituir governo, o que torna a questão mais complicada, numa perspectiva internacional.


Segundo um inquérito em Israel, 65% dos israelitas contam com consequências negativas para Israel no caso de Mubarack cair, o que certamente acontecerá. 59% contam com o agravamento da república islâmica.


Os “Irmãos Muçulmanos” querem um Estado mais islâmico


Os “irmãos muçulmanos” – movimento islâmico sunita fundado em 1928 – surgiu com o objectivo de se concentrar na religião e nos valores islâmicos; a nível político pretendia instituir uma ordem islâmica e insurgir-se contra o domínio estrangeiro. A organização Hamas em Gaza é uma sua filial.


O seu sucesso deve-se ao facto de se empenharem na construção de instituições sociais e mesquitas e, por outro lado, representarem a fronte contra a influência estrangeira (na altura contra os ingleses) e a organização do combate, mesmo violento, ao domínio dos potentados islâmicos que oprimam o povo e não sirvam “o verdadeiro islão”. Desde 1980 procuram a mudança através da participação nas eleições. O seu objectivo é estabelecer um estado islâmico; de notar que o Egipto é já um Estado islâmico.


Opõem-se a um presidente de transição (Suleiman) que seria necessário para se preparar uma nova constituição a ser votada pelo povo nos próximos meses. Nos últimos momentos propõem Farouk Sultan para tal cargo.


Segundo especialistas, os “irmãos muçulmanos”, nas eleições alcançarão entre 20 a 30% dos votos.


A insurreição quer acabar com um passado para começarem com outro. A herança é pesada mas dar-se-á na continuidade da sujeição e opressão, enquanto não se der uma reforma do Islão, a nível de Alcorão e do corpo de leis Hadiz.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com