DAS CONQUISTAS GEOGRÁFICAS PARA AS CONQUISTAS IDEOLÓGICAS

Líder muçulmano exige ao Rei de Espanha que peça Perdão pela Reconquista

 

Por António Justo

O pior inimigo da Verdade é a ignorância, mas esta é, por outro lado, o melhor meio para fortalecer o poder e os poderosos.

Jihad, presidente da comunidade islâmica Mesquita Ishbilia, em Sevilha, escreveu a Filipe VI (26.03.2019) pedindo que peça perdão pela Reconquista iniciada há cerca de 1300 anos (em 718 e terminada em 1492 pelos Monarcas Católicos com a conquista de Granada ( a subordinação ou expulsão dos muçulmanos de Espanha depois de estes terem invadido e ocupado a Península Ibérica no sec. VIII).

O líder islâmico pedia, além disso, a concessão da nacionalidade espanhola para os muçulmanos descendentes dos expulsos, que hoje deveriam ser alguns milhões, com direito a voto (1). Muitos dirão que isto é impróprio de hóspedes atrevidos, outros que é fraqueza de hospedeiros acomodados e ainda outros dirão que a atitude é própria de uma cultura que ainda sabe o que quer! (A noticia não seria relevante se não manifestasse, de uma maneira geral, a atitude muçulmana em relação aos “infiéis”!)

Revisionismo revanchista nacional e internacional ao Serviço da Domesticação do Povo ocidental

Isto aconteceu alguns dias depois do presidente do México, López Obrador, ter enviado uma carta ao Rei de Espanha e ao Papa Francisco, pedindo-lhes que pedissem desculpa pelo que infringiram aos nativos no momento da conquista (2).

Tudo isto é certamente mais um ponto das agendas ideológicas a atuar através de várias ONGs ideológicas mundiais e que também fazem parte da implementação do pensamento politicamente correcto de uma Agenda internacional ideologicamente ultraprogressista.

Quanto à concessão de naturalização, em termos de oferta de nacionalidade, não se pode comparar os muçulmanos com os judeus, porque estes onde imigraram entraram pacificamente e integram-se nos países, não havendo, passadas gerações, a exigência de se formarem enclaves judaicos, ao contrário do que acontece com os muçulmanos que, quando atingem uma determinada percentagem na população de um país, exigem independência, como aconteceu p. ex. : Kosovo, Albânia, Índia-Paquistão, etc., e como acontece hoje em várias regiões do mundo.

Encontramo-nos numa época desorientada e, por isso, favorecedora do revisionismo revanchista nacional e internacional; quem mais alto levanta a voz mais direito tem, segundo a sabedoria popular, “quem não berra não mama”! A guerrilha da palavra, a desinformação e a criação do sentimento de culpa, são meios muito comuns para se moverem sentimentos reivindicativos de forma gratuita.

O grande benefício árabe em relação ao Ocidente, é o petrodólar e uma Agenda materialista internacional como aliada, na sua luta contra a cultura ocidental clássica, seguindo eles uma estratégia comum de, pouco a pouco, instalarem um ideário da demagogia e da ignorância até poderem implantar uma monocultura latifundiária (islão e comunismo) universal: indirectamente parece uma preparação para o predomínio de uma certa mundivisão ou maneira de estar asiática no mundo. Tudo isto é naturalmente legítimo porque o poder e a política não é dos que dormem e a História está sujeita a contínua mudança não podendo ser abarcada por uma vida humana mesmo longa de 100 anos. Muita gente, mais sensível na Europa sente-se preocupada com uma política só orientada pela economia na preocupação de tapar os buracos causados na população pela menor fecundidade europeia. Uma política de imigração desregulada provoca reações populares preocupantes e revela irresponsabilidade política.

Isto acontece porque uma elite fraca aceita dos reivindicadores imigrados direitos especiais. “O fraco rei faz fraca a forte gente” constatava Camões ao repassar a História de Portuga (2)! Devido à fraqueza das nossas elites, acomodadas e acobardadas em relação ao marxismo modernista que tomou, em grande parte, posse de grande parte do espaço social público, na era pós-guerra, a nossa história passa a não ter suporte e a decadência avança em Estados sem consciência nem defesa cultural.

Os árabes, ao contrário dos ocidentais, são unidos no bem e no mal pois consideram-se primeiramente como comunidade, como povo, a afirmar-se perante um Ocidente feito de comunidades rivais; fazem uso, para isso, da dupla estratégia do falar positivo sobre si e do calar sobre as próprias negatividades, enquanto os europeus, dentro da mesma sociedade, constroem a sua dominância na base do desdizer uns dos outros e do transformar a excepção em regra: é-se mais pelo partido, pela tribo, pelo grupo do que pelo todo; assim passa a não haver povo!  Os muçulmanos e os agentes da agenda marxista, atendendo aos seus objectivos de luta contra a tradição ocidental, não podem ser criticados pelo seu agir arguto; não se identificam com a civilização europeia e fazem por eles, apoiando-se uns aos outros, independentemente das pequenas diferenças que têm entre eles! Como seguem a matriz natural do poder, mais tarde virão a ter a razão que a história lhes dará: de facto, “dos vencidos não reza a História”.

Como os países da União Europeia se encontram divididos e agrupados em famílias de partidos já não é de tanto interesse, para eles, a acção partidária aferida aos interesses do país, mas sim às agendas das famílias partidárias europeias e universais (A ideologia passa a assumir o papel que, politicamente, antes tinham as confissões religiosas!). A ideologia também é subvencionada pelos correspondentes governos que criam certas cadeiras universitárias para assegurarem a propagação da “ciência” e da verdade sociológica (a verdade das estatísticas) como substracto e legitimação da própria ideologia. A ideologia subvencionada actua também nas universidades a nível global, através de agendas e iniciativas a realizarem-se ao mesmo tempo em todos os países de cunho ocidental. O poder de ONGs, por um lado necessário, chegará, com suas iniciativas e acções populares, a ameaçar os próprios Estados.

Antigamente faziam-se as conquistas através da Espada, agora na Europa os povos e as regiões já se encontram estabilizadas, pelo que a conquista a fazer-se passa a ser entre subculturas e com a palavra; os ideólogos actuam dentro da sociedade na luta contra costumes e instituições (em vez de inclusivamente ajudarem a renovar as existentes, seguem a tática marxista da luta) ; por outro lado, os países dos blocos (USA, Rússia, China e Europa) vão fazendo a guerra económica que se usa de guerrilhas e sublevações civis (uns a pretexto de valores democráticos e outros a pretexto de zonas de influência económica ou dos dois). A guerra que antigamente era militar e orientada pela conquista de terreno (conquistas geográficas) hoje é feita através da conquista do pensamento (conquistas ideológicas); daí, quem mais conquista os pensadores e os Média, mais determina o pensar e a vontade popular (a soberania controlada e dirigida)!

Pedir perdão

Quanto à exigência do pedir perdão torna-se uma questão complicada, pois: quem terá de pedir perdão a quem? Por outro lado, na História comandam os factos; a conversa sobre eles já pertenceria a um romantismo histórico ao serviço de grupos em despique que pretendem assumir o poder.

O   imã da mesquita, certamente, não pedirá desculpas ao povo espanhol pelas barbaridades que os maometanos fizeram na Espanha de 711 a 1492 (3)   nem pela pirataria que fizeram e amedrontou a Europa de tal modo, durante séculos, mesmo depois da sua expulsão e que criou nos europeus um sentimento de culpa que permite ao islão o sentimento de superioridade e a ideologias ascendentes aplainar os caminhos da decadência de uma grande civilização.

Se não fosse a desinformação e o não saber, todo o poder teria problemas de legitimação. Cada vez se encontram mais ventríloquos ideológicos desfazedores da história europeia porque notam que têm sucesso com as suas teses e exigências e encontram acólitos intelectuais que abusam de um moralismo egoísta como único meio de interpretar e fazer história (ocupam as mentes de oportunistas e de incautos, num ocidente fraco que perdeu o sentido da vida de um povo e o sentido da História). Têm, porém, razão porque esta é-lhes dada por um povo “inocente” e impreparado e quem está à frente encontra-se mais iluminado!

Como a asneira é contagiosa e agendas aliadas dos Soros e do petrodólar têm grande força nos governantes do ocidente, torna-se fácil o uso de armas ideológicas para a conquista do terreno real. “Os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz!” (Bíblia). Partem do princípio que a vida é resolução de problemas, por isso há que criá-los no sentido das suas oportunidades.

Como se sentem sistematicamente superiores (5) e acham natural a construção de mesquitas e a pregação do Islão àqueles a quem é proibida a construção de igrejas e a pregação do Cristianismo, não têm pejo em fazer exigências descabidas. Invadiram a Península Ibérica e agora já se sentem fortes a ponto de exigirem que o Ocidente lhes peça perdão (6)! Dado nas mesquitas não se diferenciar entre política e religião, estão conscientes da vantagem de sustentabilidade que estrategicamente têm. Esquecem, porém, que toda a ideia e toda a instituição que não sirva a pessoa estará com o tempo destinada a desaparecer.

Como João Paulo II, no ano 2000, numa atitude religiosa, pediu perdão geral pelos pecados históricos da Igreja, pensam que o pedir perdão iliba os outros da culpa e não implica um acto recíproco. Esquecem que teriam de pedir perdão por terem demolido a Basílica de San Vicente para construírem a Mesquita de Córdoba. Teriam de pedir perdão por terem destruído o reino visigótico e cultura romana ao invadirem a Hispânia no século VIII d.C. e sujeitarem todos os cristãos a vassalagem vergonhosa e a terem de pagar impostos especiais aos “ocupantes” durante quase oito séculos. Porque não pedem perdão por terem arrasado o que restava do cristianismo do Norte de Africa depois da passagem dos vândalos? Porque não pedem perdão pelas conquistas muçulmanas na terra Santa, Constantinopla e outros territórios outrora cristãos. Tudo isto não passa de areia levantada ao ar para melhor levarem o seu projecto adiante.

Os extremismos políticos e religiosos têm assento num espírito perturbado que liga o Homem ao tempo da pedra. Nas ruínas da humanidade é de encontrar as sombras da parte má do Homem que encontra guarida nas cavernas de toda a pessoa!

A história é dura e dá sempre razão aos vencedores; num ocidente decadente, a sua história de outrora é unilateralmente condenada pelos que querem ser os vencedores de hoje (Só falam dos podres da Igreja, de cruzadas e outras barbaridades descontextuadas como se as maldades do passado pudessem encobrir as do presente. Num tempo em que não querem que se saiba quem é quem, os aliados na luta sabem que esta é a sua hora num tempo em que a democracia não tem fundamentos de identidade capazes de unir os partidos na defesa do povo e da sua cultura para melhor procederem a uma inclusão respeitadora de uns e de outros; parece corremos o perigo de nos encontramos num momento histórico de regresso ao tribalismo. Um espírito crítico, mas acolhedor e sabedor de que o outro ou o adversário também é irmão, pode ajudar-nos ao encontro, no sentido de juntos se elevar a esperança de uma convivência fraterna.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

O MELHOR PROFESSOR DO MUNDO EM 2019

Exemplo de Inclusão pedagógica

António Justo

Global Teacher Award (1) premiou o pedagogo Peter Tabichi, do Quénia, com um milhão de dólares. Ele foi considerado o melhor entre os 10.000 professores nomeados de 179 países.

O monge pedagogo ensinava 58 alunos numa escola de uma aldeia Queniana e dá 80% do seu ordenado para os alunos mais pobres; deles, um terço são órfãos ou só têm pai ou mãe. A vida de seus alunos era muitas vezes caracterizada pelo abuso de drogas, gravidez na adolescência, desistências escolares e suicídios.

Naquela escola só havia um computador e uma ligação de internet, que nem sempre funcionava. Apesar disso o padre fundou um clube de computador. Criou também um clube de talentos tendo com eles ganhado um prémio da Academia Real para Química; além disso dirige um grupo pela paz onde se encontram representadas as 7 tribos da região.

Peter Tabichi (1) “e quatro colegas também dão aulas particulares de Matemática e Ciências a alunos com fraco aproveitamento, fora da sala de aula e nos fins-de-semana, onde Peter visita as casas dos alunos e encontra as suas famílias para identificar os desafios que enfrentam.  Ao fazer seus alunos acreditarem em si mesmos, Peter melhorou dramaticamente o desempenho e a autoestima de seus alunos. As matrículas dobraram para 400 em três anos, e os casos de indisciplina caíram de 30 por semana para apenas três. Em 2017, apenas 16 dos 59 alunos foram para a faculdade, enquanto em 2018, 26 alunos foram para a universidade e para a faculdade. O desempenho das meninas, em particular, foi impulsionado, com as meninas liderando agora os meninos em todos os quatro testes estabelecidos no ano passado”.

O melhor caminho para sair da pobreza é a formação. Esta foi a missão que muitos padres e missionários levaram a terras por onde passavam e passam: um bem à humanidade de que ninguém fala (Tenho colegas que admiro porque trabalham em países da lusofonia (3), oferecendo a sua vida e seu usufruto às populações com o mesmo espírito deste monge). Peter Tabichi considera o sucesso de seus alunos como seu estímulo pessoal; confessa: “ver como meus alunos adquirem conhecimento, habilidades e confiança é minha maior alegria. Quando eles se tornam criativos e produtivos na sociedade, isso também me leva a uma grande satisfação”. Faz lembrar a pedagogia salesiana de Dom Bosco.

O Presidente da República de Quénia, Uhuru Kkenyatta, elogiou o empenho do monge franciscano e disse: “Peter, sua história é a história da África, um jovem continente cheio de talento”.

O sacerdote, no seu discurso de agradecimento, prognosticou: “A África produzirá cientistas, engenheiros e empresários cujos nomes serão um dia famosos em todas as partes do mundo. E as raparigas serão uma grande parte da história.”

O padre acrescentou humildemente que só estava ali devido aos seus alunos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

COMBATENTES  DO ESTADO ISLÂMICO PERDEM A CIDADANIA ALEMÃ

Retornados do EI um Perigo para as Sociedades acolhedoras

António Justo

O Governo alemão decidiu (3.04.2019) que os jihadistas combatentes de maioridade e com dupla nacionalidade, que voltam da guerra muçulmana, perderão a nacionalidade alemã (1) .

Como argumentação para a lei diz-se que ao participarem em operações de combate numa milícia terrorista no estrangeiro, demonstraram com isso ter virado as costas à Alemanha e à sua orientação de valores.

Em 2013 foram da Alemanha para a região do Estado Islâmico (EI) 1.050 islamistas. Destes já se encontra um terço deles na Alemanha e 200 dos 1.050 morreram lá em combates. Entretanto as autoridades alemãs já trouxeram para a Alemanha várias crianças dos combatentes que lá se encontram presos.

Os governos têm atuado de forma negligente para com o povo porque já desde 2003 foi fundado o Estado Islâmico e só agora se reage; além disso foi permitida a campanha de distribuição do Corão pelos simpatizantes do EI (Salafistas) nas zonas pedonais alemãs em 2011.

A justiça alemã vê-se quase na impossibilidade de julgar os retornados da guerra dado todos negarem em tribunal terem participado em combates e não ser fácil provar crimes.

Os Estados europeus têm, por vezes, seguido uma política de autonegação, até ao possibilitar a criação de lugares de refúgio para os inimigos desta sociedade e da sua Constituição. A sociedade alemã deve muito aos seus serviços secretos e à sua polícia que tem evitado atentados. Muitos dos retornados estão fanatizados e indoutrinados de tal modo que continuam a ser um perigo para a sociedade acolhedora. O Estado com o legítimo argumento da defesa dos cidadãos cada vez restringe mais os seus direitos e legitima o seu controlo.

Pelo que pude observar ao longo de muitos anos e até como tradutor em questões de asilo em tribunal, pude verificar que a Alemanha é um país muito tolerante em relação aos refugiados e especialmente aos muçulmanos.

Devido aos complexos da guerra e a programas culturais públicos de educação do povo, conseguiu-se na Alemanha um espírito muito aberto em relação aos estrangeiros refugiados. Quanto à demasiada compreensão pelos Guetos muçulmanos talvez isso se deva também devido a um certo espírito germânico de que quando se instala num país forma os seus agrupamentos nacionais.

Na Alemanha as organizações muçulmanas têm muito poder e muitos muçulmanos encontram-se integrados como deputados em quase todos os partidos. Os salafistas, grupo muçulmano que apoia o terrorismo, encontra-se muito espalhado na Alemanha.

A Alemanha tem de ter um serviço secreto e policial forte atendendo à liberdade que socialmente permite. De facto,  se na Alemanha houvesse mais ataques muçulmanos do que os que tem havido, a população poderia reagir e fortalecer grupos anti-islâmicos. Também por isso a criminalidade acentuada é um pouco embrulhada na opinião pública com outras considerações que a tornam menos agressiva.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

(1) O governo chegou finalmente a acordo: “Os jihadistas com dupla nacionalidade podem ser privados dos seus passaportes alemães sob certas condições. O acordo da Grande Coligação foi alvo de muitas críticas – mesmo no seio das suas próprias fileiras”: https://www.tagesschau.de/inland/passentzug-terrorkaempfer-103.html?fbclid=IwAR2qOJb5kETeI8AEHbITj-L38TceqcMjPYi62i4IYhXDqyfQ0f5wc2f1rXQ O Ministro Federal da Justiça Barley anunciou uma lei rápida para retirar os passaportes dos combatentes IS alemães. Dobrindt, líder do grupo estadual da CSU, havia acusado o Ministério da Justiça de atrasar o projeto. https://www.br.de/nachrichten/deutschland-welt/barley-is-kaempfer,RJZq76G . O governo federal concorda em tirar a cidadania para os combatentes do IS com cidadania dupla! https://www.br.de/nachrichten/deutschland-welt/bundesregierung-beim-passentzug-fuer-is-kaempfer-einig,RJfzHYa

 

Tagesschau: https://www.tagesschau.de/thema/is-r%C3%BCckkehrer/

 

ALEMANHA FEDERALISTA CONTRA FRANÇA CENTRALISTA NA REFORMA DA UNIÃO EUROPEIA?

O Coração europeu bate nas Capitais dos Países membros e não em Bruxelas

Por António Justo

O debate Pró-Europa, conduzido pelo presidente Francês Mácron, começa a ganhar perfil em tempos pré-eleitorais para o parlamento europeu (26 de Maio). De um lado a França centralista com Mácron e do outro a Alemanha federalista com Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK) que desce ao concreto. Por seu lado, o Ministro Federal das Finanças, Olaf Scholz, ficou-se pelo geral dizendo: “Emmanuel Mácron deu um sinal decisivo para a coesão na Europa. Acho que ele tem razão: não é o cepticismo, mas a confiança que deve determinar as nossas acções.”

O plano de ação para a EU, já exibido por Emmanuel Mácron em diferentes ocasiões e apresentado, por último, na sua carta aos cidadãos da Europa, “Por um Renascimento europeu” (1) publicada a 4 de Março 2019, já recebeu resposta concreta alemã no Welt am Sonntag 11.03.2019, pela voz de Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK), a chefe da CDU e próxima Chanceler in spe.

Mácron propôs uma europeização dos sistemas sociais, uma Força Sanitária Europeia, um Salário Mínimo para toda a EU, um Serviço Europeu de Asilo, um Conselho Europeu de Segurança, um Conselho Europeu de Segurança Interna, um Banco Europeu do Clima para financiar as alterações climáticas, uma Polícia de Fronteira Comum e a fundação de uma Agência Europeia para a Democracia e um Conselho Europeu de Inovação. Pretende também que se aumentem as despesas militares, reduza as emissões de CO2 a zero até 2050, 50% menos pesticidas até 2025. Esta iniciativa, por muitos aspectos positivos que possua, não contradiz o medo da criação de uma EU dos burocratas com um Estado-mega!

AKK, com uma só cartada, distancia-se, de Mácron, a nível europeu, e afirma-se como aspirante fiável a chanceler perante o público alemão. AKK refelcte as coordenadas da política alemã ao avisar: “Se tivermos agora a coragem de falar concretamente de alterações aos Tratados europeus, nem a “elite de Bruxelas”, nem a “elite ocidental”, nem a elite supostamente “pró-europeia” devem permanecer encerradas entre si. Só conseguiremos a legitimidade democrática para a nossa nova Europa se envolvermos todos no processo” (2). Até pela forma de discurso se nota a diferença do caracter alemão mais formiga (nórdico) perante o caracter mais cigarra (3) dos latinos (Sul)!

A AKK, no Welt am Sonntag, rejeitou, em parte, tal propósito argumentando que “o centralismo europeu, o etatismo europeu, a comunitarização das dívidas, a europeização dos sistemas sociais e o salário mínimo seriam o caminho errado”. Ao contrário de Mácron, quer ver uma Europa construída em duas colunas tratadas com igualdade, ou seja, cimentadas com o “método da colaboração intergovernamental” (entre governos e instituições da EU) e o “método comunitário”.

A AKK, no Welt am Sonntag, rejeitou, em parte, tal propósito argumentando que “o centralismo europeu, o etatismo europeu, a comunitarização das dívidas, a europeização dos sistemas sociais e o salário mínimo seriam o caminho errado”.

Considera prioritário “assegurar as bases do nosso bem-estar” prevendo para isso a criação de “um mercado interno para bancos e ao mesmo tempo construir um sistema de subsidiariedade, autorresponsabilidade e responsabilidade vinculativa dos parceiros”; exige a segurança das fronteiras exteriores da Europa e o Serviço de Protecção das Fronteiras (Frontex) “ser rapidamente convertido numa polícia operacional de fronteiras.” Quando ao serviço Europeu de Asilo, defende que os requerentes a entrar na Europa, já à entrada nas fronteiras Schengen, será necessário verificar se se trata de uma pretensão de asilo, de um estatuto de refugiado ou de qualquer outro motivo existente. A chefe da CDU exige também um registo electrónico de entradas e saídas e o desenvolvimento do Sistema de Informação Schengen. “Cada Estado-Membro deve dar o seu contributo para a luta contra as causas, a protecção das fronteiras e o acolhimento”.  Doutro modo corresponderia à desautorização da soberania e dos Estados.

Quanto à ideia de Mácron de haver uma Preferência Europeia em matéria de concorrência (“Punir ou proibir empresas que prejudiquem nossos interesses estratégicos e valores fundamentais, tais como padrões ambientais, proteção de dados e pagamentos de impostos apropriados”) haverá concordância entre os dois Estados, porque, neste assunto, os interesses da Alemanha e da França cobrem-se em relação ao concorrente China; esta preferência iria prejudicar os Estados membros com menor produtividade industrial e comercial.

 

A Alemanha também veria com melhores olhos que no conselho de segurança mundial houvesse um assento europeu em vez dos lugares franceses e britânicos. Talvez na proposta francesa de se criar um Conselho Europeu de Segurança Interna e um Conselho Europeu de Segurança haja espaço para outras conversações. Certamente a Alemanha não aceitaria ficar sob a dependência atómica francesa e por outro lado pôr a sua economia à disposição sem contrapartidas. (Em política as ideias são bonitas mas quem pode pode!)

AKK mostra-se moderna e conservadora, o que a torna mais aceitável no meio conservador da CDU e da Europa (A sua posição certamente que agrada aos britânicos que se sentirão motivados a um segundo referendo que os mantenha na União Europeia).

Uma proposta que parece demasiadamente centralista e até antidemocrática é a sugestão de Mácron, de se criar uma Agência Europeia de Proteção da Democracia; para isso deve ser criada uma burocracia que envie peritos controladores a cada Estado-Membro da UE para proteger as eleições da manipulação interna e externa (de facto, esta poderia ser usada como máquina de censura da Internet, etc.). Uma tal instituição poderia também ser usada para assegurar a predominância das forças do poder político estabelecido (De notar já a impaciência da classe política e seus submissos, em relação à liberdade de expressão atual na Internet).

Conclusão

A Alemanha, desde o princípio do Euro exigia reformas competitivas aos países do Sul (o que não aconteceu). Os países do Sul, por sua vez, exigem fundos de redistribuição a seu favor, orçamento da área do euro, um mecanismo de estabilização do investimento, um instrumento de aplicação da reforma, um seguro de desemprego europeu.

Nas posições de Mácron e AKK debate-se o centralismo latino europeu contra a tradição federalista alemã e democrática anglo-saxónica. Para os alemães não chega a expressão de ladainhas como” solidariedade” e “comunidade de valores”. Os alemães sabem que primeiro está a jaculatória da economia e só depois vem a resposta da ideologia e que esta corresponde mais ao “ora pro nobis” do povo, para consolação cordial! Sem compromissos responsáveis económicos não se constrói futuro sustentável para a EU. De facto, todo o desenvolvimento quer ser conquistado para passar depois a ser adquirido; uma vez adquirido torna-se património, mas este é sempre o resultado de uma política económica inteligente, o que não quer dizer sempre justa.

A Alemanha está consciente do que contribui para que estados como a Grécia consumam mais do que produzem, conhece a desmesurada Itália com bancos com créditos podres e sem garantia de confiança, e está ciente do que faz pelos refugiados rebocados por bandos para a Espanha, para depois serem recebidos na Alemanha (Destas coisas porém não se fala muito em público senão o povo ainda se tornaria mais rebelde, ou seja, mais populista!). As soluções não podem ser esperadas só da Alemanha, mas da conexão das economias nacionais ao nível da produção e sem que se deixe a cultura europeia à disposição do marxismo anticultural, como tem estado a acontecer: nem tanto ao mar nem tanto à terra! Os alemães têm medo que não se cumpram as regras do endividamento das nações e como consideram a Europa como uma espécie de pátria substituta da sua pátria perdida, querem tudo ajustado a uma Europa sem nacionalismos, mas sob a batuta da economia, isto é, uma Europa no mundo, mas mais forte que fraca!

As ideias europeias de AKK são de grande interesse, apesar de virem da chefe da CDU e não da chanceler; isto é considerado por muitos quase um abuso diplomático (mostra porém a inteligência dos conservadores alemães na tática de passagem de poderes da Chanceler Merkel para a sua sucessora in pectore). Ao contrário da chanceler Merkel, AKK, ao exigir que o Parlamento da EU apenas se reúna em Bruxelas e ao deixar de lado os interesses franceses das sessões parlamentares em Strasbourg e ao não ligar sequer à proposta de Mácron de ser fundada uma Agência Europeia para a Democracia e ao contrariar o fortalecimento da economia europeia pela solidariedade (transfer de bens) querido por Macron opondo-lhe o “princípio da subsidiariedade e da  autorresponsabilidade dos estados-nação” quer uma Europa nova mas que não perca o cunho do  made in gemany.

Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK), chefe da CDU vai ocupando o espaço da Chanceler Ângela Merkel embora a chanceler continue a ter muita aceitação na população: 67% dos alemães são contra a renúncia ao cargo de chanceler; querem que Merkel continue no cargo até ao outono de 2021. A chanceler quer por seu lado que AKK vá ocupando espaço no partido e na opinião pública e por isso concede à amiga muito espaço para autoafirmação. A hora de AKK decide-se depois das eleições de maio em Bremen ou nas de Outono no Leste da Alemanha; tudo depende da reacção do parceiro de coligação SPD.

AKK, com a sua tomada de posição, chamou os bois ao rego e demonstra que a construção da nova Europa não pode ser deixada ao sabor de meras fantasias ou ideologias, tendo de ser construída no equilíbrio e no juntar de forças e esforços dos povos do Norte e dos do Sul no respeito pela velha Europa. Numa palavra: quer uma europa do Sul mas que não perca o Norte!

© António da Cunha Duarte Justo

“Pegadas do Tempo”,

(1)  https://www.elysee.fr/emmanuel-macron/2019/03/04/por-um-renascimento-europeu.pt

(2) https://www.welt.de/politik/deutschland/article190037115/AKK-antwortet-Macron-Europa-richtig-machen.html

(3) A comparação da cigarra e a formiga refere-se às elites dos países e não ao povo.

UMA ÉTICA MUNDIAL PARA A CULTURA DA PAZ – Mudança do paradigma institucional para o individual

Pensar e agir em Contexto de Globalização implica fomentar um Humanismo plural

Por António Justo

Na qualidade de professor de ética na Alemanha, onde tinha alunos cristãos, ateus, hindus e muçulmanos, vi-me confrontado a ter de distinguir melhor entre Moral e Ética na disciplina que lecionava, devido às diferentes “morais” de proveniência dos alunos e à óbvia necessidade de adquirirem um mínimo de valores éticos comuns para os habilitar para um adequado relacionamento intercultural no dia-a-dia e obterem a suficiente compreensão para respeitarem as diferentes morais e crenças. Pelo que observamos a nível mundial, as culturas encontram-se com problemas irresolvidos e a civilização ocidental passa um momento axial da sua História (ou sua negação), o que a leva a uma crise de sentido do Homem e da civilização.

Urge construir uma sociedade com pessoas de boa vontade, dispostas a criar uma comunidade e um mundo de todos para todos e para isso é óbvio apostar-se na juventude como os melhores obreiros do novo mundo, uma geração comprometida com o desenvolvimento social e humano.

A Dignidade humana e consequente respeito pela pessoa é o valor primeiro a ter de ser reconhecido e integrado, como princípio ético, em todas as culturas e Estados; toda a discriminação vem da desconsideração de tal princípio ético. Dado as diferentes instituições humanas se regerem quase só pela negociação de interesses entre elas (e de corporações dentro delas) , é necessário que pessoas e grupos (em cada Estado e outras  instituições) lutem para que a nova perspectiva ética, (que parte do interesse  da pessoa e não tanto, como até agora, do interesse das instituições), seja concretizada nas instituições (a dignidade humana como seu constitutivo e primeiro objectivo)  e também através delas. Só assim se poderá chegar a uma prática comum do “não faças aquilo que não queres que seja feito a ti”.

Observa-se um esforço crescente no sentido de se estabelecer uma ética global (Direito ético) sobre a moral própria (Direito moral) de civilizações, religiões, culturas e nações. O intento revela-se de muita urgência para se poder chegar a um mínimo de consenso na relação dos povos entre si, para que se estabeleça um código de valores ou princípios éticos comuns que venham a influenciar a feitura das leis dos diferentes Estados. Este esforço não deve cair na tentação de aplanar culturas e morais por uma rasoura só racional e de pretensões materialistas hegemónicas escondidas a pretexto da racionalidade.

O direito ético (nível de reflexão) é diferente do direito moral (leis morais culturais, decálogo). Os princípios éticos (gerais e abstractos) estão para a constituição do país, como esta está para as leis e tribunais no trato directo da conduta concreta (moral) do cidadão (1). A ética seria a filosofia crítica da moral e a moral seria a ética aferida e aplicada na vida concreta (diferentes regiões e culturas). Neste âmbito os mitos de diferentes culturas e suas narrativas encobrem em si verdades universais comuns a ser exploradas.

 

O surgir de compromissos globais

Hans Küng, com o “Global Ethic Project”(2), activou fortemente a discussão mundial sobre a necessidade de um consenso básico de valores, atitudes e padrões para um Ética Global. No seu programa “Projeto Ética Global”, publicado em 1990, formulou três convicções básicas: “Não há sobrevivência sem uma ética global. Não há paz mundial sem paz religiosa. Não há paz religiosa sem diálogo religioso (Não há diálogo entre religiões sem pesquisa básica nas religiões.)”.

O Parlamento das Religiões Mundiais reunido em Chicago adoptou a Declaração (3) a favor de uma ética global, a 4 de setembro de 1993. 200 representantes de todas as religiões assinaram a declaração. Concordaram com elementos centrais de uma ética comum, assumindo o princípio da humanidade como regra de ouro e as directrizes: não violência, justiça, veracidade, parceria e direitos iguais para homens e mulheres.

Uma ética concebida à margem da espiritualidade não assume um caracter de sustentabilidade porque não se encontra ligada a um princípio superior e, na consequência, uma ética artificialmente racional traz em si o cunho da transitoriedade. Um princípio resultante de eleição democrática está sempre dependente de interesses geralmente não justificados pela natureza e o caracter espiritual fica perdido entre a luta de interesses corporativos no meio da polis. Também o argumento de que há ateus não é suficiente para se optar por uma ética meramente racional. Daí a importância do respeito da moral de caracter religioso-cultural nas diferentes regiões.

Também aqui seria de aplicar, a nível global, o princípio da civilização cristã: a Deus o que é de Deus (ao povo o que é do povo) e a César o que é de César. Este princípio implicaria o estabelecimento de uma cultura de paz que reconhece a complementaridade de culturas, instituições e pessoas, o que tornaria como consequente a instituição de uma ética global vinculativa para todos os povos (missão secular) e o outro princípio, ao povo o que é do povo (a Deus o que é de Deus), implicaria, também a nível de supraestruturas, o respeito e reconhecimento da sua cultura e religião. Estas enchem com vida a Ética.

 

Para compreender a discussão entre conservadores e progressistas

Para se compreender o valor e a necessidade do estabelecimento de um código ético universal é relevante partir-se da distinção entre ética e moral (4).

Na linguagem cotidiana costuma-se usar ética e moral (moralidade) quase com o mesmo significado. Com o desenvolvimento da globalização e de novas possibilidades científicas (manipulação do gene, inseminações artificiais, etc.) a política precisa de uma moral propriamente secularizada (ética) em termos gerais; isto possibilita um maior discernimento necessário numa sociedade cada vez mais intercultural e de expressão científica. Enquanto a moral consta de um sistema de normas tendentes a levar a um comportamento moral e a acções concretas, a ética é a ciência (filosofia moral) deles e tem como objeto o esclarecimento e análise crítica da moralidade na base de princípios éticos fundamentais: não julga mas classifica de ético ou não ético, enquanto a moral julga. A ética passa a ter um caracter mais científico (político) e a moralidade um caracter mais religioso (cultural).

Uma coisa é o direito constitucional – os valores da sociedade como critérios objectivos de orientação – (por exemplo a Constituição Nacional a nível político, e a nível religioso o Papa em contexto universal que garante uma visão católica unitária) e outra coisa são as leis (uma espécie de pastoral) que a interpretam e aplicam num aferimento com a realidade concreta.

As leis são como que o compromisso entre os princípios gerais (constituição, dogmática, etc.) e o comportamento do povo; por isso a lei chega, por vezes, a ser inconstitucional (caso do aborto) e tacitamente aplicada em razão do contexto social. (Neste caso, a constituição estatal por razões de ética proíbe o matar, mas cede quanto à moral). A ética, sem perder de vista a realidade geral das diferenças a ser integradas, permite, por outro lado, paulatinamente uma mudança cultural…

O assumir de uma ética universal corresponde a adoptar como que uma doutrina comum por que se teriam de orientar as Constituições dos países; como acontece com a dogmática e a pastoral a nível de Igreja.

Assim a supraestrutura (p.ex. Estado) ao assumir, a nível internacional, compromissos de caracter ético (credo), portanto constitucional, terá de o aplicar concretamente, na legislação (ministério da justiça e tribunais). Hoje já é visível o efeito da aceitação do princípio ético da dignidade humana, dos direitos humanos e da não descriminação e os efeitos tornam-se, por vezes, inesperados porque tocam com toda a matriz social.  O estabelecimento de uma ética universal tem consequências na feitura das leis nacionais; estas terão de ser aferidas aos princípios éticos acordados (a Igreja católica, como única organização orgânica de caracter global tem aqui um significado especial; por outro lado ao aplicar no concreto o princípio ético da dignidade humana e dos direitos humanos, que ela mesmo difundiu, terá de rever certas posições).

O acordo de uma ética global seria uma maneira indirecta de estabelecer também na civilização muçulmana a igualdade entre Homem e Mulher (a moral islâmica mudar-se-ia a partir de dentro). De notar já as consequências que o princípio ético da dignidade humana e da não discriminação provoca na legislação concreta dos países da Europa. A não discriminação da pessoa provoca mudanças profundas no conceito de família e no trato jurídico.

No cristianismo torna-se fácil compreender a distinção entre “convicções éticas e convicções morais” porque o cristão adulto deve estar na disposição de distinguir entre a atitude certa para com a vida e a atitude errónea tomada irreflectidamente e na compreensão de que a decisão foi tomada de maneira imponderada e em dependência psicológica ou moral. Neste caso embora a atitude não tenha sido objectivamente certa (isto é, tenho sido eticamente má) moralmente foi boa porque agiu segundo a própria convicção.

Por isso, segundo o catolicismo, é preciso ser-se mesmo adulto para se poder cometer um “pecado mortal” porque este se define como “uma falta contra a razão, contra a verdade livre e contra a consciência reta que fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana” : para isso é preciso juntar-se os três critérios ao mesmo tempo: a gravidade da matéria, o pleno conhecimento e pleno consentimento. Doutro modo faz algo mal mas sem culpa (consciência errónea). Também a obediência a uma lei civil pode basear-se em princípios (obediência cega) que não correspondam à ética.

Como se vê, a Ética tem com objecto de exame a razão, os argumentos racionais e compreensíveis. Isso torna a ética um assunto de lógica porque se age no sentido do bem com argumentos racionais. A moral tem uma conotação mais religiosa (vem de cima) por fundamentar as suas acções num fundamento a priori que é Deus. Por outro lado, a consciência cristã, ao ter a referência a Deus, não desliga a razão pelo que Deus passa a representar um argumento objetivo. Obediência a Deus corresponde à obediência à razão/consciência. Não chega seguir-se o argumento de autoridade, seja ele o dogma, a Constituição do Estado ou uma instituição religiosa. Facto é que nem a instituição religiosa nem o Estado podem justificar isenção de erro. Tanto o cristão como o não cristão que possui uma atitude moral bem pensada, justificada e reflectida e age segundo ela, procede moral e eticamente bem porque pode justificar o seu comportamento. Daqui a necessidade de treinar a pessoa para não se tornarem escravos morais nem da lei nem da autoridade.

Com tudo isto não se dissipa, porém, uma outra questão em relação à razão ética. O facto de eu poder apresentar logicamente a minha posição ética não quer dizer que posições opostas à minha lógica deixam de ser éticas; isto leva a justificar-se a ética também como estudo da moral.

 

Concluindo: elaborar uma ética baseada num humanismo plural

É natural que, numa sociedade cada vez mais pluralista, o Estado não queira permitir que uma religião ou mundivisão determine o que é bem ou mal na polis.  O Direito tem que organizar juridicamente essas relações. Cada vez serão mais naturais as comissões de ética e não de moral (5)!

A declaração dos direitos humanos em 1948 está agora a provocar grandes mudanças em vários ramos do Direito. A cidadania (a consciência dos direitos humanos) é a palavra de ordem da contemporaneidade..

É interessante verificar-se como a convenção dos refugiados ( imigração) leva a novas interpretações das leis em casos concretos, e como estas interpretações se tornam, por sua vez, em fonte de direito para novos julgamentos.

No caso concreto de uma possível acção criminal cometida por um afegão na Alemanha, este pode contar com uma pena menor, dado o juiz ter de considerar na sua sentença, os direitos humanos do acusado e, nesse sentido, ter de interpretar a lei, no contexto histórico, sociológico e valores morais religiosos, culturais e a formação individual do arguido. O juiz terá de sentenciar, pelo mesmo crime, uma pena mais leve a ele do que a um cidadão alemão. Isto legitimaria, a termos, numa sociedade aberta, diferentes tratos entre os diferentes grupos de uma mesma sociedade. A subjectivação da justiça contribui por outro lado para o fomento de ressentimentos e sentimentos de injustiça da Justiça. Neste sentido passaria a haver uma discriminação positiva das minorias.

Temos todos de nos dar as mãos e reconhecer a complementaridade. Sem esforço nem espiritualidade não haverá ética que perdure. Razão e fé (crença) terão de andar de mãos dadas.

O cristianismo, ao iniciar a crença num Deus único universal para todos, criou o fundamento para a aceitação de uma ética global ancorando a cidadania (dignidade humana) já não numa lei, raça ou Estado, mas na natureza humana onde toda a pessoa independentemente de crença ou religião, tem filiação divina comum. Deste modo deu-se origem a um humanismo plural. Com as iniciativas pela criação de um código ético universal encontra-se já em via uma mudança do paradigma institucional para o individual. O protótipo de toda a pessoa é Jesus Cristo.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

In “Pegadas do Tempo”