PORTUGAL EM 3° LUGAR NO ÍNDICE GLOBAL DA PAZ

Países Lusófonos a Caminho – Europa: a Região mais pacífica do Globo

António Justo

O Instituto para Economia e Paz (IEP) apresentou o Índice Global de Paz (IGP 2017), baseado na análise de 163 países e coloca Portugal em terceiro lugar no Ranking das nações mais tranquilas.

Países Lusófonos

A classificação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é encabeçada com o 3°. lugar para Portugal, seguida do 53°. para Timor Leste; 61°. para Guiné Equatorial; 78°. para Moçambique; 100°. para Angola; 108°. para o Brasil; 122°. para Guiné Bissau.

Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe não entraram na análise.

Segundo IEP Portugal passou do quinto para o terceiro lugar, ultrapassando a Áustria na classificação da posição mundial, devido, sobretudo, a uma recuperação constante na sua crise financeira, o que levou a uma maior estabilidade interna para o país.

Critérios para a classificação dos países

Como factores para a classificação dos países, os cientistas servem-se dos seguintes grupos de indicadores: 1. Os conflitos no país e no exterior: número e duração de conflitos com outros países, e o número de mortes por violência organizada; 2. Segurança Social: instabilidade política e probabilidade de manifestações violentas e do número de detidos nas prisões; 3. Militarização: quanto dinheiro disponibiliza o país para as suas forças armadas, número de soldados disponíveis e se tem armas nucleares.

Os 10 países com mais paz e menos violência

1.Islândia, 2. Nova Zelândia, 3. Portugal, 4. Áustria, 5. Dinamarca, 6. República Checa, 7. Suíça, 8. Canadá, 9. Japão, 10. Irlanda.

Entre outros: 16. Alemanha, 23. Espanha, 38. Itália, 41. Reino Unido (ainda sem o recente ataque terrorista), 51. França, 137. Índia, 151. Rússia, 161. Iraque, 162. Afeganistão,163. Síria.

Na carta apresentada pelo IEP a Rússia encontra-se com a cor vermelha tal como a Síria; até o Egipto tem um melhor índice de paz que a Rússia, o que parece questionável.

O relatório coloca a Europa como a região mais pacífica do mundo. O projecto União Europeia tem sido, certamente, um factor de garantia de paz. Apesar da guerra na Jugoslávia e do bombardeamento da Sérvia, nos anos 1990, a paz tem-se estabilizado, apesar de certos indícios de insegurança e medos a aumentar.

Apesar do cancro da guerra em muitos países e do terrorismo islamista a esperança é maior que o medo!

O facto de alguns se afogarem na praia não justifica que se traga colete salva-vidas na banheira.

O importante é assegurar a paz sem que isso aconteça à custa da exploração de outros. O Estado, as instituições e os indivíduos terão de se empenhar no grande projeto de criar uma cultura de afirmação pela paz.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

SABEDORIA CHINESA – UMA ADVERTÊNCIA AO “POPULISMO” EM VOGA

Um provérbio chinês lembra e ensina: “O medíocre discute pessoas. O comum discute factos. O sábio discute ideias”.

Este é um ensinamento também para populistas políticos de cima e para populistas de baixo! Na cena política, mesmo da classe estabelecida, assiste-se a uma brutalização da linguagem contra pessoas. Generaliza-se a falta de respeito para com pessoas e para com outras opiniões. Muitos dos que alegadamente defendem a tolerância revelam grande falta de tolerância. Não suportam opiniões diferentes; difamam-nas com atributos ditadores, em vez de argumentarem contra as suas ideias. A polarização da sociedade alarga-se pelas sociedades como um polvo alarga os seus braços.

António da Cunha Duarte Justo

A VIOLÊNCIA DA TOLERÂNCIA PROPAGADA NO TRATO COM O ISLAMISMO

A tolerância da intolerância é intolerante consigo mesma

António Justo

A liberdade é, depois da vida, o melhor bem que o Homem tem. Mas a liberdade para não ser receada tem como companheira a tolerância e a responsabilidade. A tolerância é filha da liberdade e da responsabilidade. As asas das ideias não devem ser cortadas para que os sonhos dos povos elevem a Terra. Toda a pessoa livre quer ser participante do poder sem se tornar súbdita dele.

Muitas vezes confunde-se mente aberta com indiferença ou cinismo sob a forma de tolerância. A tolerância da intolerância aplaina o caminho para a violência dos intolerantes. Por todo o lado se encontram disputantes sobre região e islão, mas o nível das discussões assemelha-se muitas vezes a campanhas partidárias e no caso a acções de prevenção contra a intolerância (1).

Tolerância e justiça são pressupostos de paz

 

Minorias reclamam, justamente, tolerância e respeito por parte da maioria da população, mas isto deve pressupor uma bilateralidade de tolerância da maioria que suporte a variedade e também da minoria que aceite a maioria. A situação de minoria não lhe confere automaticamente o estatuto de criança. O direito a uma certa autonomia constrói-se na afirmação da liberdade e do respeito cimentado pela responsabilidade.

Tudo o que é definido ou concreto é limitado porque percepcionado na perspectiva das subjectividades do conhecimento. O reconhecimento desta realidade tem como consequência a tolerância do percepcionado e afirmado também pelos outros, numa atitude leal de reciprocidade e na consciência da lei da complementaridade.

A tolerância para ser verdadeira e eficiente não pode assentar na areia da indiferença nem na embriaguez do cinismo.

Quem se encontra seguro nos seus valores tem maior probabilidade de apreciar e respeitar os valores dos outros. Para irmos ao encontro dos outros, com dignidade, temos de estar conscientes dos nossos valores. Ter uma visão implica assumir responsabilidade na defesa dessa própria mundivisão.

 

Substituir o pensar positivo pelo pensar amigo

 

Perante a violência islâmica visível no mundo, a tolerância tornou-se num tema importante devido à afirmação da diferença e do outro numa comunidade diferente.

A tolerância, embora seja uma virtude secundária importante, pode tornar-se numa armadilha do pensamento, se provoca o seu bloqueio.  O Ocidente, tolhido pelas derrotas que depois da segunda grande guerra sofreu em relação às suas falsas intervenções em terreno muçulmano e dependente do petróleo árabe, sofre as consequências da imigração muçulmana. (O Ocidente nas suas intervenções fomentou o extremismo de grupos muçulmanos usando-os para os seus fins que se revelaram injustos e contraproducentes.) A Europa, agora com os problemas em casa, comete o mesmo erro já praticado ao não ter em conta a vitalidade e estratégia inerente ao sistema islâmico; a Europa abdica de si mesma e arranja um modus vivendi confuso deixando o destino dos europeus abandonado à força do acaso e do que um dia se revele mais forte.

Confrontada com a bagunça criada apenas reage numa mistura de resignação, medo e coragem. Na praça pública faz do medo e da coragem um recurso elaborado a que chama tolerância: esta implica uma atitude corajosa ad intra mas que também pode tornar-se numa maneira de tratar a coragem pela fuga a ela (uma coragem negativa que camufla o medo como virtude dando-lhe a roupagem de tolerância): a Europa assume a virtude da mortificação como maneira de circundar o problema e adiá-lo, não tomando a sério o parceiro dialogante.

Para se não abusar da tolerância torna-se óbvio substituir o pensar positivo pelo pensar amigo.

Pelo que me é dado observar, em disputas dos meios de comunicação social e em palestras com certos profissionais do diálogo, chego a ter a impressão que nos aproximamos de uma atitude de tolerância violenta (flexibilidade ad extra e empedernimento ad intra). Em vez de se discutirem as questões num terreno neutro, a nível de teses e princípios moventes, de argumentação e de prós e de contras (seguindo o método da controvérsia), passa-se a um discurso meramente pedagógico, com um caracter de autorreferência ou de mera catalogação de exemplos. Cai-se no equívoco de se querer ter um pensar positivo em vez de se ter um pensar amigo. O pensar positivo é monorreferencial e como tal individualista, levando à indiferença enquanto o pensar amigo é estrutural e como tal interessado em criar comunidade (acentua a intercultura e não a multicultura guetoal). Abdica-se do pensar livre e do discurso desembuçado para se passar a um discurso passado pela própria grelha, a grelha da circunstância e do oportunismo. O discurso motivado pelo pensar positivo torna-se próprio de uma atitude de escravos de uma liberdade fechada, sem referência, criadora de   desinteresse e que implementa uma forma de estar individual e social de tipo autista, virada só para o momento e com tal sem conotações, voltada para os guetos equacionados em termos de multiculturas. O discurso do pensar amigo parte de uma matriz aberta orientadora que se encontra e discute com outras matrizes de forma controversa, sem se perder no acidental, e é motivado pela consciência da precaridade de todos os sistemas, numa vontade de aproximação e procura comum da “verdade” e na intenção de criar comunidade.

A tolerância torna-se violenta quando preponderantemente centrada no aspecto moral ou no sentimento circunstancial que, precipitadamente, opta por ou contra uma das partes, sem dar tempo a uma supervisão das próprias emoções ou opiniões, feita à luz da razão ponderada. A tolerância violenta cria tabus e proíbe de pensar ou evita o pensamento causal com medo das sombras negativas que a realidade encarada poderia deixar (ou consciencializar). Torna-se cobarde ao misturar nela o medo com um certo narcisismo – a necessidade de fazer boa figura – uma espécie de complexo da simpatia que se resume em cinismo e hipocrisia.

O medo que nos tolhe leva-nos à tolerância violenta

 

Uma olhadela sobre os Media europeus, em questões de muçulmanos, revela posições antagónicas que se situam entre o medo do islão e a islamofilia até à própria negação. A sociedade permanece indecisa entre medo e admiração e deste modo aprisionada nos sentimentos que alguns categorizam de islamofobia e de islamofilia.

A sociedade europeia foi traumatizada, ao longo da História, pela experiência que teve no contacto com a violência islâmica e que hoje se expressa à semelhança dos seus tempos primordiais. A experiência do medo e da insegurança (também a ameaça e a imprevisibilidade do antigo corso e da pirataria é hoje avivada com o terrorismo que irrompe do seio da Umma.) levou a sociedade ocidental ao recalcamento dos próprios sentimentos e à internalização do medo, fazendo do islamismo um tabu; os políticos, que conhecem o metier do poder verificando que não levarão a melhor perante o sistema islâmico, preferem ignorar a sua realidade.  Temos disso um exemplo nas actuais relações entre a Alemanha e a Turquia; torna-se típica a maneira subserviente como o governo alemão reage às difamações e ataques atrevidos do governo turco, porque, embora o governo alemão (e a EU) tenha mais poder, não o pode usar pois o governo turco tem o poder da violência (e o método de enganar e obter vantagens: Hudaybiyyah) e esta é quem determina a História em momentos decisivos, porque na realidade há sempre interesses a ser repartidos.

O islão (=submissão), também a nível de consciência colectiva, constitui um risco ominoso para o homem Ocidental se, inconscientemente, o transforma em tabu: o pensamento ocidental, como se depara geralmente na imprensa publicada, em vez de encarar o islamismo com naturalidade e como é, pensa-o como ele deveria ser e, para tal, desliga a razão e recalca os seus sentimentos naturais de agressividade, transformando-os em sentimentos de compreensão para não ter de se confrontar com a realidade da prática e da filosofia contida no Corão, na Sharia e nas ahadith da Suna nem ter de tomar uma atitude perante o agir violento do islamismo por toda a parte. Autoridades muçulmanas, vêem-se assim sem necessidade de reflectir nem desenvolver a sua filosofia e religião em termos de uma plataforma de complementaridade num plano intercultural universal; assim, a sua reacção  perante os occidentais só pode ser de piedade cínica, e vêem-se encorajadas a afirmar o seu ideário que entendem como superior e dogmático porque não encontram resistência interna nem externa; de facto o comportamento extremamente tolerante dos “infiéis cristãos ou ateus” e da política que os rodeia confirma-os na sua fantasia e estimula-os a continuar a agir sob o pressuposto da sua guerra-santa (jihad), pelos vistos, vantajosa: “se queres amigos bate-lhes”. Para que a política se torne responsável e creditável é necessário que tome o poder cultural e religioso tão a sério como toma o comércio e o negócio regulado por convenções bilaterais. (Não me refiro aqui à grande riqueza e capacidade de energias pessoais que muçulmanos trazem à sociedade ocidental a nível económico porque enquanto muitos dos seus colegas de escola dos países acolhedores não sabem a razão porque estuda nem o que querem na vida, muitos colegas muçulmanos esforçam-se e querem subir na vida e por isso esforçam-se mais, chegando mais tarde na sociedade mais longe do que os colegas autóctones).

Intelectuais inibidos na capacidade crítica na discussão como o Islão

 

A realidade política mostra-nos, por um lado, a expulsão das minorias não muçulmanas dos seus países e, por outro lado, uma migração de povos muçulmanos (xiitas e sunitas) para o Ocidente: nos países de maioria muçulmana só é possibilitado, em termos de futuro, o latifúndio muçulmano e fora deles os minifúndios islâmicos.

Em vez de nos perguntarmos porque é que o islão avança e muda o mundo através da violência, procuram-se no Corão versículos de paz, numa tentativa eficiente de se ignorar a realidade violenta a acontecer em quase todo o mundo, onde o islão está presente; a política e a opinião pública ocidental, além de não querer entender a filosofia/política e a mensagem vinculativa inerente ao  Corão-Sharia-Suna, tem o descaramento de chegar a afirmar com as autoridades muçulmanas que as barbaridades que acontecem não têm nada a ver com o islão.  Os políticos europeus deixam-se orientar pelo princípio, “o que não deve ser não se pensa” e as autoridades islâmicas julgam segundo o princípio, “o que é bom é islâmico, o que não é bom não pertence ao islão”. Por outro lado, o secularismo que governa o Ocidente, demasiadamente encostado ao Estado equivoca-se ao sonhar com o fim das religiões esperando que estas se desqualifiquem umas às outras! O poder secular ainda não acordou ao não constatar que o islão é o seu verdadeiro rival. Ignoram que a religião é povo e como tal é a força mais política que o acompanhará até ao fim dos tempos!

O conhecido intelectual Thilo Sarrazin, perito em política e economia, tentou fazer uma abordagem bastante objetiva sobre os estrangeiros especialmente turcos , no livro “Alemanha extingue-se a si mesma”. Foi logo boicotado e crucificado pela imprensa do mainstream e pela classe política estabelecida, não interessada em investigar os dados e premissas que um livro de não-ficção apresenta.   Reagiu escandalizada certamente pelo facto de um dos seus ter falado texto claro e trazer consigo o perigo de se entrar numa discussão intelectual que poderia conduzir a uma análise séria da questão. É compreensível o medo da política face às emoções populares que por isso prefere um discurso mais orientado para a tolerância da mentira do que para a tolerância da verdade. A verdade não deve ser pública, mas salvaguardada na privacidade de leituras esclarecedoras.

Na Alemanha, o número 12 do catálogo de ética do Código da Imprensa determina que no caso de delitos cometidos deve ser escondida ” a pertença do criminoso ou do suspeito de minorias religiosas ou éticas”; deste modo dá-se uma discriminação negativa da maioria ao só poderem ser referenciados os com nome e etnia os criminosos da maioria. Ao impedir-se que a realidade seja conhecida fomenta-se inconscientemente o problema.

De uma maneira geral, os intelectuais europeus actuais, devido à grande percentagem de estrangeiros islâmicos na população e devido à domesticação exercida pelo pensar politicamente correcto, têm também receio de serem identificados com correntes da população denominadas de “populistas” e de contribuírem para um espírito anti-islâmico cada vez mais presente numa parte da população que não consegue digerir os factos do dia-a-dia.

A moderação da capacidade crítica em relação ao Islão torna-se assim natural; os interesses e os erros cometidos na sociedade aconselham-nos a não o encarar de maneira livre objectiva como fizeram outros intelectuais em séculos passados. Assim os intelectuais abdicam do seu importante papel político que deveria ser colocado na balança das decisões políticas e na formação da opinião pública. Naturalmente, toda a pessoa formada tem, em geral, um sentido maternal em relação à população não exigindo demasiado dela (por outro lado como os formadores de opinião têm um estatuto privilegiado não se encontrando geralmente envolvidos nos sectores produtivos da população podem permitir-se ficar-se pelo abstracto).  Muitos intelectuais parecem sofrer, também eles, do trauma colectivo (medo que se transforma em consideração pelo islão) e, por isso, sempre que se referem a barbaridades cometidas por motivação islâmica, vêem-se na necessidade de apresentar também explicações confusas desculpantes chamando em ajudas das barbaridades muçulmanas as barbaridades europeias de séculos passados, segundo o princípio: as culpas do passado justificam as do presente. Nestes aspectos, adopta-se praticamente a defesa árabe e não se é capaz de fazer uma análise antropológico-sociológica e filosófica da cultura islâmica nem uma fenomenologia do hommo arabicus e do hommo europaeus ou, mais propriamente, uma fenomenologia antropológica e sociológica do hommo christianus e do hommo islamicus) em proveito das partes. Também se encontram aqueles que se declaram ateus e colocam todas as culpas nas religiões e deste modo se sentem ilibados de qualquer discussão séria não notando que a sua crença ateia é irmã da crença religiosa e o que está em jogo é a distinção entre poder religioso e poder do Estado (A César o que é de César e a Deus o que é de Deus).

A ausência de saber, aliada ao não querer saber, leva a uma cegueira político-social que confunde a realidade factual com desejos e fantasias (esta postura atribui ao islamismo uma vontade de paz que não encontra provas na História nem nos seus fundamentos (Corão, Sharia e Suna), que pressupõem, a nível mundial, apenas uma monocultura constituída do hommo islamicus). A história do islão é, predominantemente, uma história de guerras e guerrilhas, uma sociedade com uma economia da guerra que se serve da sujeição (escravização), do pagamento de imposto islâmico (ou discriminação) e da pirataria „sarracena” como meio de sustentabilidade.

Histórica e socialmente o “muçulmano” não conhece o fenómeno de desenvolvimento que se dá também através da osmose (dar e receber), apenas conhece o fenómeno da afirmação pela assimilação do outro até que a identidade deste desapareça (exemplo: Turquia moderna hoje só com 0,2% de cristãos quando no início do sec. XX tinha 22%). Outrora, “o infiel” enquanto não fosse assimilado pelo Islão tinha de se vestir de forma a ser reconhecido como não muçulmano e pelo pagamento especial do imposto por cabeça; nos estados islâmicos actuais o imposto foi substituído pela discriminação e repressão institucional e social de quem não for muçulmano. O problema começa no momento em que passam a ser maioria!

Em muitos foros de discussão nostálgica nota-se, por vezes, uma necessidade latente de ser enganado: não se pretende entender a realidade como ela é (para a poder mudar), entende-se como ela deveria ser. Muitos sentir-se-iam mal se tivessem de constatar que o islão não é uma religião como as outras. O temor fino é tanto e a coragem é tão pouca que leva a sociedade ocidental, instituições e indivíduos à necessidade de, em seu nome, branquearem os aspectos negativos de factos praticados por muçulmanos e a não falar da escravidão branca no Mediterrâneo. Fala-se de cruzadas sem explicarem o ataque sistemático muçulmano ao império cristão do Oriente que foi absorvido e transformado em monocultura islâmica também com a ajuda indirecta dos povos cristãos do Ocidente.

Com Ayatollah Khameini desde 1981 e com a queda da União Soviética e as intervenções do Ocidente (Afeganistão, Jugoslávia, Iraque, Líbia e Síria) foram desestabilizados os regimes autoritários e deste modo a guerra santa e o fanatismo islâmico ganharam asas em todas as regiões onde se encontram muçulmanos.  

A irresponsabilidade dos agentes políticos e o factor medo internalizado leva o Ocidente à cobardia que nos é própria em encontros com os representantes das corporações islâmicas. Uma Alemanha complexada pela culpa nazi também se encontra sob a obrigação de dar bom exemplo. O nosso comportamento de complexados pelo colonialismo exercido, fortalece-lhes a ideia de que quem deve mudar são os povos acolhedores. Numa cultura em que a agressividade é socialmente aceite afirma-se a impressão de que compreensão e tolerância é fraqueza. Mesmo assim, a atitude que nos deve levar a encarar o islão não deve ser para o combater ou atacar, mas para incentivar os muçulmanos a revolucionar o islão por dentro: a única chance para ele e para a paz no mundo. Se Alá mudou de opinião no Corão num período que não chegou sequer a duas dezenas de anos (período de Meca para período de Medina) muito mais motivo terá para a mudar depois de 1500 anos.

O comportamento da muçulmana está para o muçulmano como o Ocidente para o Islão

 

Nas relações da consciência pública entre Ocidente e Islão dá-se um fenómeno paralelo ao que acontece entre os homens e as mulheres muçulmanas. A escravização e a submissão sistemáticas das mulheres muçulmanas durante séculos levaram-nas a criarem um inconsciente de seres de segunda natureza, em relação ao homem; a submissão expressa-se numa aceitação internalizada e inconsciente do patriarcalismo exacerbado como algo natural (a dor psíquica habitual torna-se inconscientemente normal, parecendo activar, na mulher, um processo de dessensibilização da própria consciência como mecanismo de defesa automático de acomodação ao homem para não sentir tanto a dor, pois a realidade da situação encarada conscientemente tornaria a dor insuportável; por isso reagem com orgulho num islão de lenço na cabeça; um islão moderno tornar-se-ia para elas num desafio provocante – o sistema económico fomenta a sua dependência legitimando por sua vez a tradição machista). Faz-se da situação dada e da necessidade uma virtude e da violência sofrida, algo que no fundo também conduz a um certo clímax de satisfação (isto faz lembrar o filme em qua a mulher violada que, um dia, na sua dor, chega a querer ter relações sexuais com o violador e assim ter a satisfação de o usar no segundo acto; esta é a forma que ela tem de se vingar dele! Lembra também um fenómeno psicológico não raro de mulheres muito boas e “legais” se sentirem atraídas preferencialmente por assassinos ou por criminosos que se encontram em prisões! No caso das mulheres da burca a sua prisão dá-lhes o sentimento de autoprotecção perante um mundo bruto e agreste).

A prática da subjugação é elaborada pelo inconsciente como um momento sentido necessário para manter a ordem; assim a subjugação torna-se habitual e parte da natureza, deixando de aparecer como sofrimento consciente ou como algo estranho. O contacto dos povos do ocidente com os povos islâmicos e a lida constante com a violência turca e árabe e com a pirataria do norte de áfrica no Mediterrâneo, leva o Ocidente a internalizar a sua consciência de ser mais fraco em relação à força islâmica. A força islâmica envolve te tal forma o indivíduo e a sociedade que as pessoas ocidentais, com um certo senso de privacidade se refugia criando uma consciência colectiva já não de vítima, nem de acusador, mas de menino bem-comportado em relação ao irmão mais forte. O Ocidente com a experiência multisecular da escravização e do ter de se aceitar como diferente leva-o a considerar natural a discriminação e violência sofrida; perante a impotência internalizada durante séculos, a condição de vítima é compensada com a aceitação e o reconhecimento do agressor. (Na História contemporânea os povos árabes têm razão em insurgirem-se contra as intervenções do Ocidente que os confirmam no seu papel de se julgarem vítimas!)

A meu ver, torna-se interessante verificar o facto de também a cultura muçulmana criar, por sua vez um trauma na sua alma; o trauma árabe funciona no sentido inverso ao do trauma do Ocidente; o homo turcus-arabicus ao não compreender ele mesmo nem assumir a responsabilidade dos actos da sua brutalidade, não pode desenvolver nele a culpa e por isso inverte-a considerando-se vítima; a agressão e a crueza são tais que uma consciência colectiva não suportaria explicar e por isso cria inconscientemente o complexo de vítima: deste modo não precisa de reflectir os próprios actos, dado o Corão legitimar a violência; Cria-se assim uma dinâmica paralela: fora a violência factual e dentro a sensibilidade repousante. A culpa está fora, nos outros.

Por tudo isto não há interesse na averiguação da realidade, nem da História nem dos factos porque isso exigiria uma gestão de resultados com soluções que implicariam o compromisso esclarecido em benefício dos povos e de uma paz sustentável. Isso implicaria a integração de consciência e inconsciência e o reconhecimento do dentro e fora, da razão e do coração, de Deus e da natureza, não como antagónicos, mas como polos numa relação de complementaridade em que a realidade é apercebida de forma a-perspectiva, como não reduzível a um ponto de vista ou perspectiva. A feminidade é um pressuposto da paz não podendo ser reduzida ao sector privado (ao dentro). A feminidade terá de ser uma componente do ideal público (do fora…). Numa sociedade equilibrada a feminilidade e a masculinidade passam a não ser polos extremos para se encontrarem num fluxo interactivo contínuo de energias diferentes numa Consência de Complementaridade num todo.

Conclusão

O saber é universal não se podendo manter nos limites de uma religião, cultura ou ciência como entende o islão; a sabedoria ultrapassa a razão e o entendimento não se pode meter no espartilho de uma só lógica ou interesse. O coração une e a cabeça discerne, um articula e a outra desarticula. Por isso, para se alcançar uma visão global integral não se poderá abstrair do coração nem da razão, o que não justifica ficar-se na ambivalência ou na oposição como forma de se afirmar na vida. A realidade afirma-se através de uma dialética certamente polar, mas de preocupação abrangente e inclusiva. O pensamento não tem proprietário e também não pode ser enfunilado num só determinado tipo de lógica ou cultura.

Consequentemente, a fraqueza de uma ideologia seja ela científica, política ou religiosa não constitui argumento que fundamente o combate contra ela nem qualquer violência contra os seus seguidores. Doutro modo seguiríamos nas nossas apreciações e atitudes uma práxis muito à semelhança do actuar dos países muçulmanos.

Do mesmo modo não deveria constituir argumento, evitar uma discussão aberta e séria sobre o Islão, pelo facto de a sua estratégia drástica de afirmação ser um modelo prático e oportuno para a organização, defesa e execução de interesses de grupos de tipo maquiavélico.

©António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (História e português)

Pegadas do Espírito no Tempo,

  • (1) Observei muitos profissionais do diálogo (políticos e cristãos), em grandes palestras com os seus parceiros muçulmanos ou em simpósios sobre o islamismo e constatei, quase sempre, que os parceiros ocidentais abdicavam da própria personalidade e dos valores que representavam. O mesmo se constata em conversas com pessoas no dia-a-dia. Chegam a dar a impressão que os nossos valores herdados não precisam de defesa ou se encontram à disposição perante parceiros que os não aceitam (dando também a impressão de não conhecerem verdadeiramente os valores em jogo de uma parte nem da outra). Actua-se como se se tratasse de defender a nossa simpatia e vaidade pessoal e para tal até nos adiantamos aos parceiros dialogantes citando frases bonitas do Corão, mas sem ter a coragem de abordar o tema da intolerância e da violação dos direitos humanos nele contidos. Em diálogo pressupõe-se o encontro de sistemas abertos ainda orientáveis e não apenas de frases feitas nem troca de simpatias.

ISLÃO E SOCIEDADE OCIDENTAL – MASCULINIDADE CONTRA FEMINIDADE

O Corão constitui um progresso para as tribos árabes e um atraso em relação aos povos da Bíblia

Por António Justo

Os maometanos não permitem a dúvida no seu sistema de pensamento, não se sentindo estimulados a procurar a verdade porque a sua cultura reduz a verdade à letra do Corão, à Sharia e à Suna – um sistema fechado que se afirma pela ambivalência e uma autoridade subjugadora.  O Corão, a Sharia e a Suna fixam conceitos e práticas, de formato antropológico e sociológico próprio da região árabe e do século VII. Estes, aliados ao patriarcalismo transmitido nas tribos daquele território, expressam-se numa vontade firme de transformar o mundo numa província árabe e de tornar todo o cidadão do mundo num fiel de Alá e de Maomé (1).

O islamismo, como tem um caracter masculinizante acerbado, subjuga também o caracter da feminilidade religiosa à sua maneira masculina de ser e de estar política, social e individual; consequentemente a religião passa a ter um caracter mais público e institucional que pessoal: o Homem é concebido em função de uma ideologia-instituição que se identifica só em termos religiosos. A cultura consegue assim afirmar o caracter institucional masculinizante sem ter a contrapartida da força do indivíduo moderadora do colectivismo nem o contributo religioso feminizante que incremente a sua evolução.

 

Feminidade invertida

A estratégia religioso-política serve os interesses do poder, pelo que o seu princípio motor machista é levado até às suas últimas consequências; o seu exemplo original encontra-se, no estilo de governação, nas invasões islâmicas e na sua base da economia (2) baseada na escravização, pagamento de impostos pelos vencidos e saque: matavam os homens vencidos para disporem das mulheres como escravas do sexo e mercadoria de venda.  Nesta vida a mulher islâmica, no espírito da referida trilogia, não tem valor em si e é inferior ao homem (3).

A sociedade ocidental conseguiu uma certa moderação do princípio masculinizante, mas parece agora ter chegado a um estado de desenvolvimento patinante que, em vez de desenvolver a feminidade, acentua uma feminilidade invertida; nela parece revelar-se uma certa nostalgia dos tempos em que a masculinidade criava posições/papéis claros na sociedade ( masculino domado não a estimula pelo que parece tender a voltar ao tempo de matriz puramente masculina e que hoje se revela numa autoagressão cultural transportada por uma esquerda radical  como se afirma na deputada alemã Stefanie Von Berg que confessa: “a nossa sociedade mudar-se-á e o nosso Estado mudar-se-á radicalmente… Sou de opinião  que dentro de 20 a 30 anos já não teremos nenhuma maioria étnica… e é bom que seja assim”. O brilho e o vigor dos imigrantes barbados parecem criar fulgores em mentes femininas e medos em mentes masculinas.  Uma autodepreciação fermenta a cultura e uma forma nostálgica do caos e da guerrilha; parecem exercer grande atracção e motivar muito do pensamento, hoje propagado, pela esquerda que, por outro lado, provoca o surgir de uma reacção exaltada da direita que luta pelo equilíbrio da balança exagerando no outro polo. A História é como uma balança que se alterna no sobrepeso dos seus pratos e onde uma força de razão nela encoberta faz surgir sempre uma contra-força que fomenta o equilíbrio de forças dos polos para um novo continuar da accao humana. Umas vezes é o espírito conservador que domina outras vezes é o espírito progressista, numa competição que dá forma à vida.

O guerreiro-estratega Maomé teve o mérito de unir as tribos da região sob uma língua comum e de lhes dar um livro sagrado (o Corão) que lhe possibilitasse a unidade; para o efeito imitou os povos da Bíblia (judeus e cristãos), adaptando a Bíblia em função do seu projecto – o livro (Corão) a criar para os seus destinatários, os clãs árabes.

Maomé, a princípio, tinha-se entusiasmado com a espiritualidade e com a superioridade dos povos do livro (Bíblia) como revelam os escritos do seu tempo espiritual de Meca. No contacto com a masculinidade excessiva dos clãs árabes, que não reconheciam os seus ensinamentos, chega à conclusão que, para os dominar, terá de usar da brutalidade e da violência que então passa a legitimar com as suras de Medina no Corão (Com a mudança de Maomé de Meca para Media, Alá mudou de opinião, abandonando, o espírito poético,  o seu caracter espiritual feminino. Comparando as suras de Meca com as de Medina chega-se à conclusão que Deus mudou de opinião; abandonou o espírito mais próximo do NT para afirmar o AT: um Deus conciliador e pacífico passa a ser um Deus guerreiro!). O problema da interpretação do Corão vem também do facto de os imãs receberem a orientação de seguirem e pregarem nas mesquitas as suras de Medina (A feminilidade é subjugada à Umma)!

No islão, a falta de equilíbrio entre a polaridade da masculinidade e da feminilidade ainda é mais acentuada e perturbada que noutras culturas; nele sobressai uma relação revolta com o feminino, com o princípio da feminilidade, que é relegado para o plano meramente particular e privado e para as fantasias masculinas do Harém e das virgens no paraíso (paraíso em função do homem). Esta evasão no sentido de satisfazer as necessidades de prazer do homem conduz a uma vivência extrema da polaridade masculina em desperdício da feminilidade contida na mulher real. Para a vida real reserva-se a funcionalidade! A afirmação exacerbada das energias da masculinidade sobre as energias da feminidade (do princípio masculino sobre o feminino), que se encontra de forma sistemática e coerente no islamismo, tem criado um certo fascínio em pessoas, instituições e ideologia de matriz acentuadamente masculina. A confissão dos Alevitas, embora muçulmana, consegue salvar a feminilidade da espiritualidade religiosa refugiam-se na mística, interpretando para isso o Corão alegoricamente, não o seguindo à letra.

As religiões, em geral, têm um caracter feminino (a espiritualidade) enquanto a política é de caracter masculino e o princípio da masculinidade política tem-se revelado como o princípio dominador no exercício do poder de modelo patriarcal.

Em Medina, Maomé redirecionou as revelações, deixando o carácter mais feminino e poético das suras de Meca, em serviço de uma masculinidade política de confronto e de oportunismo (hommo religiosus é transformado em homo politicus). A partir de Medina (622) já não domina a espiritualidade, mas sim o mero interesse político: o código, a lei. onde se manifesta a agressividade politica sem qualquer espírito feminino nem qualquer tempero de uma religiosidade integradora dos polos. A religião é masculinizada e empregada no sentido do poder político e da subjugação individual e social; as próprias orações assumem um caracter meramente ritual diário que serviam também para poder controlar (através da presença na oração) o grau de fidelidade política a Maomé. Por isso se pergunta com razão, ao ler-se o Corão; como é que Deus mudou de opinião passando de uma mensagem ainda pacifica em Meca para uma revelação guerreira e agressiva em Medina?

Maomé entendeu mal o Novo e o Antigo Testamento ao tentar adaptá-los ao seu projecto político e militar de unificar os clãs árabes através do Corão. Com o Corão, a Sharia e a Suna, efectua-se um retrocesso histórico do desenvolvimento antropológico e sociológico em relação à História (da filosofia espiritual) do tempo, ao retroceder para o patriarcalismo do AT sem contemplar o desenvolvimento deste, entretanto operado pelos judeus nos seus comentários. Este atraso foi o preço a pagar pela unificação dos povos árabes.

O cristianismo, embora existisse numa sociedade de matriz masculina, conseguiu, de certa maneira, defender a mulher e deste modo colocar a feminilidade na ordem do dia ao individualizar a espiritualidade e ao impor a monogamia ao homem; a indissolubilidade do casamento tornou-se num grande passo também pedagógico em defesa da feminidade. Naturalmente, povos com matriz vincadamente patriarcalista, apesar do equilíbrio da feminidade e masculinidade em Jesus, continuaram a fazer sobrepor a masculinidade à feminidade nas instituições e na política.

(De não esquecer o caracter dinâmico e de desenvolvimento inerente a uma certa disputa dos dois princípios/energias – masculinidade e feminilidade: o equilíbrio dos dois princípios/energias suporia uma sociedade altamente desenvolvida na vivência da solidariedade e irmandade em que o princípio motivador de desenvolvimento externo deixaria de ser o princípio do poder para se tornar no princípio do amor).

O meio em que Maomé atuava era rude e ele estava muito preocupado com a união dos clãs árabes sob um mesmo tecto cultural (religião e língua); neste sentido não podia incluir no seu ideário o caracter revolucionário da filosofia Jesuína que era de caracter muito feminino e como tal crítico em relação à instituição; o seu plano era outro.  Por isso, para impedir a complicação que reinava na cristandade e nas lutas entre o império romano do ocidente e o império bizantino, onde o poder secular e o poder religioso não eram inequívocos, ele cria uma religião – o islamismo – onde poder político e poder religioso se identificam. Deste modo a identificação individual, política e religiosa torna-se clara; não interessa a multicultura secular e religiosa, o que importa é instalar um só latifundiário, à maneira do deserto sem grandes altos nem baixos. Para isso a rasoura da obediência e da submissão tornam-se em meios eficazes para uma estratégia de guerra (Jihad) e consequente economia do saque e da escravização que a apoie.

Maomé estava interessado numa língua do poder (mensagem político-religiosa) com lugar para a violência e para a ambivalência; por isso reduz a espiritualidade a rastos de feminilidade visível na forma poética da expressão. Esta lírica é usada como casca para envolver o Jihad e no sentido de fortalecer a sua narração meramente masculina (de poder).

Além das razões políticas que Maomé tinha para afirmar a brutalidade masculina, ele tinha sido abandonado pela mãe que odiava. Casou com Chadidscha judia/cristã muito mais velha que ele e que poderia ser considerada a mãe do Islão (Maomé duvidava dele mesmo e das visões que tinha, mas Chadidscha apaziguava-o e encorajava-o no sentido de construir uma espiritualidade, que com a sua morte sofreu). Quando Chadidscha morreu (619), antes da Egira para Medina, Maomé tornou-se mais agressivo. Segundo o autor islâmico Hamed Abdel-Samad, no seu livro “Maomé” o mundo árabe revive a doença de Maomé.

Acentua o polo da masculinidade e com a tradição social e mina a revolução operada por Jesus Cristo (Novo Testamento) que em parte se tinha distanciado da instituição farisaica do Templo (poder da instituição) e introduzido uma nova compreensão e consciência de pessoa que se tempera em termos da feminilidade e da masculinidade, numa relação equilibrada entre indivíduo-instituição, indivíduo-comunidade. Jesus introduz o princípio da domação da masculinidade patriarcal desenfreada (domínio do mais forte) apresentando a vivência de uma divindade que já não se define em termos de instituição nem de poder violento; ao contrário de Alá, o Deus de Jesus Cristo, embora tenha sido muitas vezes abusado,  não é definido em termos nem em função de uma raça ou cultura (embora não tenha faltado tentativas de o funcionalizar!); de facto Jesus – o filho do Homem – apresenta toda a humanidade como filha de um só Deus, independentemente da sua origem, confissão e cultura; deste modo provoca a desfuncionalização do divino, uma certa desinstitucionalização de Deus, que não é reduzível a uma mera instituição externa ou cultural nem a uma só interpretação sua, mas acentuando nele o caracter pessoal e comunitário; privatiza (familiariza) Deus a quem chama Pai (independentemente da sua instituição ou cultura) de maneira a Deus poder ser encontrado no íntimo do coração de cada um e ser experimentado também em comunidade (“onde dois ou três se encontram em meu nome lá está Deus”). Jesus Cristo, homem-Deus, é o protótipo do Homem e da humanidade.

O que faz da Cristandade cristianismo é o amor pela pessoa, pelo povo, por todos os animais, pela criação; amor que Jesus Cristo personificou e através dele experimentado, e intuído, na fórmula da Trindade, onde o amor divino está presente em tudo, até ao último átomo (na tridimensionalidade formulada em Deus Pai-Filho-Espírito Santo que supera a visão patriarcal da bidimensionalidade Céu/Terra, Todo-Poderoso/escravo, homem/mulher, quando a visão de um Deus uno e trino possibilita a ponte entre o criador e o criado através da filiação). O criado traz em si a semente, o gene divino (filiação) que se encontra já preanunciada no génesis na maçã da árvore da vida e na relação ente Adão e Eva que depois se matura no novo Adão (JC). Deus Pai cria, os frutos da vida, acto esse que se repete no dar à luz.

 

A fantasia dos Haréns dá asas à masculinidade

São conhecidos os Haréns muçulmanos onde o Senhor pode ter 4 mulheres e quantas escravas/concubinas quiser. Harém é também o lugar reservado do palácio onde vivia a mãe do sultão, as irmãs e outros parentes do sexo feminino, as suas quatro esposas (kadın), as concubinas.

No Império Otomano as concubinas do harém eram quase exclusivamente não-muçulmanas; eram provenientes de muitos países dado ser proibido escravizar muçulmanas, o que levava ao corso. Este costume fazia parte da economia de costume muçulmano. A europa foi fustigada durante séculos pela pirataria e corso praticado especialmente pelos povos vizinhos muçulmanos.

O Palácio de Topkap em Constantinopla (Istambul), construído aquando da conquista de Constantinopla pelos muçulmanos em 1453, era a residência dos sultões, com 300 salas para o Harém do sultão, onde chegaram a  viver 2.000 mulheres.  Em 1633 estavam mais de 800 mulheres à disposição do sultão; o Harém não era apenas um lugar de prazer sexual para o sultão, era mais um lugar de reprodução dinástica ao serviço da política imperial. Os haréns estavam sob a guarda e instrução de eunucos pretos (escravos castrados na adolescência). A população pobre era monogâmica.

O Professor Robert Davis, da Universidade de Ohio, no seu novo livro, ”Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos: Escravidão Branca no Mediterrâneo, Costa Bárbara e Itália, 1500-1800”,  conclui que de um milhão a 1,25 milhão de cristãos foram escravizados por piratas e corsários muçulmanos, nesse espaço de tempo em que  saqueavam tudo o que encontravam (navios, cidades, etc.), reduzindo as populações à escravatura, e obtendo também enormes lucros com o regaste de cristãos. Usavam os escravos para venda, como remadores de galeras, trabalhadores braçais e concubinas de senhores muçulmanos, também para os Haréns.

Durante séculos, numa sociedade também ela de matriz masculina, os Haréns fascinaram a fantasia dos homens europeus que à vista da perspetiva de um Harém, com tantas mulheres e com cada uma à espera ansiosa da sua vez, criou uma literatura europeia própria. O Harém e toda a poesia nele esgotada era o paraíso terrestre como antecâmara do céu onde os folguedos se multiplicavam. Esta literatura cometeu, em grande parte, o mesmo erro da historiografia muçulmana: não dizer nada sobre a vida real das mulheres. Uns e outros reservam o seu melhor lugar para a fantasia. E a fantasia do homem ainda é o céu onde as mulheres por alguns instantes são deusas!

A economia do harém é uma humilhação para as mulheres. Em vez de ser criticada pela história, é aproveitada pela literatura europeia para excitar a fantasia de povos que se deliciam do que acontece fora e assim se desculpam da discriminação da mulher que acontece também dentro.

As amazonas, rainhas da imaginação masculina, tornam-se no lugar onde o homem procura a vida e esquece que o faz à custa da grande massa das mulheres que passam uma vida real de “mendigas”. (Sura 4, versículo 38) afirma: “Os homens são superiores às mulheres” pela ordem dada por Deus na terra e pelo facto de as alimentar. No Corão também se encontram versículos em que se recomenda ao homem moderação e generosidade.

Mustafá Kemal Atatürk fundador da Turquia moderna (1923) proibiu a poligamia, o mesmo fez a Tunísia. Noutros países muçulmanos é permitida.

A obra de Kemal Atatürk encontra-se a ser sistematicamente destruída pelo presidente Erdogan. Ele consegue fazê-lo porque embora o Ocidente declare com os lábios que é defensor da feminidade, de facto encontramo-nos num período extremamente masculinizante, apesar de alguns salamaleques em relação à mulher. A grande obra para mulheres e homens de boa vontade será conseguir uma melhor complementaridade de masculinidade e feminidade. (Um dia, se leitores interessados desejarem publicarei livro em que refletirei sobre a riqueza da feminilidade e da masculinidade num balance equilibrado).

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (história e português)

Pegadas do Espírito no Tempo,

  • (1) “E combatei-os até que  não  haja  nenhuma  perseguição  e religião  que  não  seja  inteiramente  por  Alá.  Mas  se  eles desistirem,  então  por  certo  Alá  está  vigilante  ao  que  eles fazem.”—Sura 8:40 “Oh  Profeta,  insta  com  os  crentes  para  que    Se houver vinte  de  vós  que  sejam  constantes,  eles  vencerão duzentos  e  se  houver  uma  centena  de  vós  que  sejam constantes,  eles  vencerão  um  milhar  dos  que  descrêem, porque eles são um povo que não compreende” Sura 8:66 “Matai os Mushrikun [idólatras] onde quer que os encontreis e fazei-os prisioneiros e sitiai-os e ponde-vos à espera deles em toda o lugar de emboscada. Mas se eles se arrependerem e observarem As-Salat [a oração] e pagarem o Zakat [imposto de caridade], então deixai livre o seu caminho.”Sura  9:5 “Combatei aqueles dentre o povo do Livro [Judeus e Cristãos] que [1] não crêem em Alá, [2] nem no Último Dia,[3] nem consideram como ilegítimo o que Alá e o Seu Mensageiro [Maomé] declararam ser ilegítimo [4] nem seguem a verdadeira religião [i.e. o Islão], até que eles paguem a Jizyah [imposto] com a sua própria mão e reconheçam o seu estado de sujeição.“Sura 9:29
  • (2) Maomé na sua despedida relatada pela sua história no discurso do monte Arafat, confirma que a economia islámica se baseie na espada contra o não islâmico:
    “Hoje, a vossa religião está concluída e a graça de Deus realizada na vossa vida. E dou testemunho de que o Islão é a vossa religião. Oh povo muçulmano, estais proibidos de derramar sangue entre vós ou de vos roubardes uns aos outros ou de vos aproveitardes uns dos outros ou de roubardes as mulheres ou as esposas de outros Muçulmanos. A partir de hoje, não haverá duas religiões na Arábia. Eu desci em nome de Alá com a espada na minha mão e a minha riqueza surgirá da sombra da minha espada. E quem discordar de mim será humilhado e perseguido”. Também quem morre no Jihad vai directamente para o Céu sem ter de esperar pelo juízo final, como interpretam a Sura 61:11-14. Maomé é o Mensageiro de Alá, E os que estão com ele são rigorosos contra os descrentes e afectuosos entre si próprios. —Sura 48:30
  • (3) Antes de rezar: quem se tornou impuro (por usar os sanitários ou por tocar numa mulher ou num cão, por exemplo) deve purificar-se. (Sura 49:11) O Corão diz que é preciso o testemunho de duas mulheres para se equiparar ao de um só homem: “E chamai duas testemunhas de entre os vossos homens; e se não houver dois homens disponíveis, então um homem e duas mulheres, de que vós gosteis para testemunhas, de modo que se uma das duas mulheres se enganasse por falta de memória, então uma pudesse recordar à outra. —SURA 2:283 Na Suna lê-se que Maomé explicou assim a razão desse ensino: O Profeta disse: “Não é o testemunho de uma mulher igual à metade do de um homem?” As mulheres disseram: “Sim”. Ele afirmou: “Isso é por causa da deficiência da mente da mulher” Noutra Hadith: É permissível ter relações sexuais com uma cativa depois de ela estar purificada (da menstruação ou do parto). No caso de ter marido, o seu casamento é anulado depois de ser feita cativa.

 

 

PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA ALEMANHA PADRINHO DE HONRA DE 2.711 CRIANÇAS

O Estado alemão cultiva a relação humana com os seus cidadãos

António Justo

Na Alemanha é tradição os presidentes da República apadrinharem crianças de famílias numerosas a partir do sétimo filho. O Presidente cessante Joachim Gauck tornou-se padrinho de honra de 2.711 crianças, durante o seu mandato. Trata-se de um apadrinhamento honorário tradicional que não implica automaticamente uma ajuda direta à criança ou à família.

 

A ajuda pode consistir na mediação entre os organismos competentes e a família numerosa. O Presidente assina um documento de apadrinhamento da criança, que é enviado à família, tal como acontece com os casais que celebram o 60° aniversário de casados.

 

Uma das últimas acções no cargo do Presidente foi o assumir o apadrinhamento de uma criança de dez meses de idade, de Fuldatal. Neste caso o presidente da Câmara de Fuldatal entregou o documento assinado pelo presidente e entregou 500€ para apoio de despesas no jardim infantil.

Os eventos são referidos na imprensa local. Deste modo a sociedade alemã presta homenagem aos eventos, à família e às crianças. Em tais circunstâncias a imprensa aproveita para referir problemas específicos, por exemplo: o problema da habitação, alojamentos e outras necessidades de famílias numerosas.

 

 A relação Estado-cidadão não se extingue no contribuinte-votante

 

Como se vê e noutros casos parecidos, o Estado alemão está a atento mesmo ao pormenor e interessado em manter o elo de ligação familiar entre a instituição Estado e o povo. Veja-se neste sentido também: “Os Municípios alemães empenham-se no Cultivo da Cidadania” https://antonio-justo.eu/?p=2317

 

A Alemanha revela, a nível institucional, uma responsabilidade e empenho que constitui exemplo para outros países.

 

Deixa-se orientar por valores fundamentais e costumes tradicionais que lhe conferem humanismo e consistência. Outros países, perderam certas tradições, por um lado, por inconsciência e por outro, por se terem aninhado nas suas estruturas estatais, forças ideológicas sem consciência do que é um Estado orgânico. Mais que um organismo funcional, é um organismo vivo, com funcionários pessoais. com instituições orgânicas e tradições, inseridas no povo que lhe dão personalidade natural e mítica.

 

A Alemanha, com a exceção da época nazista, sempre se orientou por vistas largas, realismo e acção que a coloca na vanguarda dos povos.  Consegue fazer uma união eficiente da consciência individual com a consciência social e da razão com o coração.

O Estado honra, se quer ser honrado!

António da Cunha Duarte Justo

In Pegadas do Espírito no Tempo