BENTO XVI – UM LUZEIRO DA TEOLOGIA E DA EUROPA NO HORIZONTE

Joseph Ratzinger ao Lado de S. Tomás de Aquino

O Cardeal Joseph Ratzinger, cuja vocação era a teologia, foi o 265º Papa da Igreja Católica e o primeiro papa alemão depois de 480 anos; demitiu-se em fevereiro de 2013, por razões de saúde sendo o primeiro em 700 anos a fazê-lo (um acto revolucionário de desmitologização), o que corresponde a uma certa orientação secular do cargo.

Joseph Ratzinger nasceu na Alta Baviera e foi eleito Papa a 19 de abril de 2005, sucedendo a João Paulo II. Morreu em 31.12 no mosteiro Ecclesiae, no Vaticano. A sua vida resumiu-se, a ser um “servo fiel do Evangelho e da Igreja”, como disse o Papa Francisco!

O mundo está a perder uma “figura formadora”, como disse o chanceler alemão. A Igreja católica está de luto por uma personalidade que não será fácil de encontrar no futuro. O Secretário-Geral da ONU, A. Guterres, descreveu o Papa como um “humilde homem de oração e estudo”. Os progressistas vêem-no como um líder da igreja voltado para o passado e os outros consideram-no um papa exemplar à altura dos tempos. As suas últimas palavras foram “Senhor, eu amo-te”. Na Baviera, ouviu-se a aclamação popular, “Nós somos papa”, aquando da eleição e tocaram os sinos três vezes ao dia em igrejas da Alemanha, desde a sua morte até ao seu enterro.

Ratzinger nasceu em 16.04.1927, o seu pai era um gendarme e a sua mãe uma cozinheira; a família também era unida na sua rejeição da ideologia nazi. Teve dois irmãos mais velhos (Maria e Georg). Ainda criança foi forçado a entrar na Juventude hitleriana. Foi ordenado padre em 1951. Em 1958, com 31 anos de idade tornou-se professor de dogmática e teologia fundamental. Ratzinger foi conselheiro do Concílio Vaticano II e sofreu um ponto de viragem quando a vaga marxista (68) marchava pelos salões de aulas universitárias. Assustado, retirou-se para Regensburg (cf. HNA 2 de janeiro de 2023) na intenção de se afirmar como autor de livros teológicos refutadores da onda marxista materialista; não aceita que a vida intelectual tenha de ser determinada apenas sob o ponto de vista democrático, o que realmente significaria um encurtamento da mente. O Vaticano cruzou os seus planos consagrando-o de bispo de Munique e Freising.

Bento XVI não era um homem do poder nem tão-pouco da administração, reconhecendo: “O governo prático não é realmente o meu forte”.

Como bom observador do desenvolvimento da sociedade deixou o seguinte aviso: “Ter uma fé clara é frequentemente rotulado como fundamentalismo. Surge uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como definitivo e, como último recurso, só aceita o próprio ego e suas concupiscências”, citam Christoph Driessen e Manuel Schwarz.

Ele foi um verdadeiro bávaro conseguindo unir a cabeça alemã do Norte ao coração do Sul. Permaneceu em contacto com o mundo sem que a doutrina católica (sua vivência divina) deixasse o seu coração. Aquele que tinha sido um promotor teológico do Concílio Vaticano II, defendendo mudanças na Igreja, tornou-se mais cauteloso enquanto Papa, também porque a perspectiva da Igreja universal com níveis de consciência tão diferentes nas suas várias regiões exige pastorais distintas da perspectiva intelectual da teologia científica e da mentalidade europeia ; respeitar os pontos de vista das diferentes culturas, como é tarefa de uma Igreja universal, conduz necessariamente à ambivalência porque não pode assumir em todas as regiões do mundo a mentalidade ou maneira de ver da região europeia ou de elites transnacionais. Por outro lado, a Igreja não pode concentrar-se de maneira exclusiva no espírito do tempo actual sem ter de apontar caminho e alertar para os sinais dos tempos. A mentalidade política contemporânea não pode ser aplicada directamente à religião; são campos diversos: de um lado o poder na luta de interesses e do outro o serviço à pessoa e humanidade em geral. Com as condenações doutrinárias de teólogos como Leonardo Boff (a quem impôs um ano de silêncio penitencial por suas críticas à igreja) e Hans Küng, houve incertezas na igreja e causou um atraso de certas reformas na igreja. O decorrer da História costuma revalidar posteriormente os seus críticos.

Como teólogo excepcional moldou o século XX e o início do XXI constituindo uma grande perda para a comunidade científica e para a igreja onde colocou acentos pioneiros na teologia. A prestigiosa revista alemã de tendência esquerda “Der Spiegel” categorizou-o como o “mais talentoso teólogo alemão da reforma”.

Numa época em que a filosofia já não é a “serva da teologia” Bento soube justificar de maneira exemplar a razão e a fé na qualidade de irmãs. Até o conhecido filósofo Jürgen Habermas, que joga noutra liga, elogiou a erudição de Bento XVI. Ele disse que os dois partiam de bases diferentes, mas concordam nas “actividades operacionais”. Habermas disse ainda que compartilham a crítica da “modernidade desenfreada”, embora dissesse ser “religiosamente não musical”. Como teólogo preocupado em fraternizar a filosofia com a  teologia, Ratzinger permanecerá certamente, na comunidade científica, ao lado de S. Tomás de Aquino (1).

Fui também estudante de teologia no seu país natal, tendo sido um estudante assíduo e admirador da sua teologia que enquadrava com a de Rahner, Johann Baptist Metz, Küng, Schielebeks, Boff, Chardin, Karl Barth, etc….

Enquanto Bento XVI tornava o passado vivo também no presente, Francisco vive o presente sem se tornar infiel ao passado; esta pequena diferença leva muitos a colocá-los num plano de contra modelos.

Num mundo em rápida mudança não é fácil afirmar-se, por isso, penso que Ratzinger depois de uma época em que sobretudo o politicamente correcto e a corrente do mainstream são validadas na tela do relativismo em moda, um dia, ele receberá também na praça pública o reconhecimento teológico e pessoal que bem merece; certamente será canonizado. Ele era pela renovação, mas com muito respeito pela tradição.

Foi um momento histórico quando Bento XVI inesperadamente teve coragem para quebrar com as correntes da tradição perante a assembleia dos cardeais em 11.02.2013 declarando que “renunciaria ao cargo de sucessor de Pedro”.  Os cardeais ficaram, a princípio, perplexos perante o que ouviam. Os tradicionalistas acusaram-no de desacreditar o cargo com a sua demissão. Pelo contrário, hoje a sua atitude é avaliada como um acto positivo.

O escândalo de abusos sexuais no seio do clero abalou a igreja e Bento apertou o código penal eclesiástico, pedindo perdão e defendendo a igreja como um todo.

No dia da sua morte, foi publicado o seu testamento espiritual onde se dirige explicitamente aos seus concidadãos alemães dizendo: “Não vos deixeis dissuadir da fé”.

Beto XVI tornou o ministério petrino mais humano e conseguiu afirmar a sua importância apesar da pressão da individualização e da secularização no mundo ocidental. Por outro lado, os dez anos com dois papas foram certamente um desafio. Agora Francisco pode mais facilmente exercer o cargo. Com a experiência de dois papas, Francisco será mais capaz de lidar com uma tal situação no futuro.

As suas exéquias não foram uma despedida papal porque se encontrava já emérito; foi uma cerimónia muito digna liderada pelo Papa Francisco; o facto de só ter havido convidados oficiais da Itália e da Alemanha é compreensível: o papa não morreu em exercício de funções.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) S. Tomás de Aquino foi o mais importante proponente clássico da teologia natural e o pai do tomismo. A base de seu pensamento é a união entre fé e razão, criando uma ponte entre Filosofia e Teologia, entre a lógica aristotélica e a fé cristã, unindo pensamento platônico ao misticismo agostiniano. Razão e fé são duas companheiras na busca da verdade.

Também Ratzinger estabelece a correlacionalidade entre fé e razão: “Pois não podemos acreditar se não tivermos almas racionais. Se, então, é um ditame da razão que, em certas coisas sublimes que ainda não podemos compreender, a fé deve preceder a razão, não há dúvida de que um pouco de razão ao nos ensinar essas coisas precede a fé”.

Ratzinger também se expressou sobre os fundamentos culturais, políticos e religiosos da sociedade europeia! A grande quantidade de livros e temas estabelecem análises e impulsos para o sucesso da sociedade entre a globalização e a questão dos valores.

Para Aquino, o mal não tem perfeição nem ser, pelo que significa a ausência do bem e do ser; de facto, o ser, enquanto ser, é um bem.

 

DE “SERVOS DA BURGUESIA” PARA “SERVOS DA POLÍTICA”?

Uma Caminhada ao longo dos Tempos entre Fracasso e Salvação

Em tempos passados vivia-se dos servos da terra; hoje, em sociedade avançadas, refinou-se o processo vivendo-se mais dos servos da mente.

As capacidades mentais e espirituais encontram-se em perigo de virem a ser subjugadas a princípios, agendas, ideologias e assim serem unilateralmente direcionadas para a defesa de grupos de interesses estabelecidos, de minorias ou reivindicativos, fora do contexto comum, enfim, uma inteligência mais orientada para a compreensão e expressão utilitária e menos para a sabedoria empática.

O saber e a ciência (universidades) não se devem tornar em servos da política, um sector profícuo em produzir os servos de hoje. A política, que deveria procurar a verdade e o bem comum, deixou de ser apelada pela Verdade integral para se servir do suborno e assim conseguir convencer, para os seus fins, a maioria dos cidadãos (uma estratégia democrática). (Observe-se a corrupção sistémica no Estado português, situação crónica que mereceria um estudo sério sobre o assunto, a nível de universidades.)

 O facto de vivermos em democracia e esta assumir uma forma de vida equacionada e expressa por partidos, que pretendem possuir a Verdade toda (ou a verdade variável), não nos pode desobrigar de procurar a Verdade para além daquilo que nos querem fazer querer (Verdade muitas vezes negada ou diluída no politeísmo ideológico-político) porque só assim nos livramos do jugo que pretendem impor-nos de maneira alienante; de facto, o sistema democrático, ao tornar-se cada vez mais autoritário e controlador  global, é tentado a contentar-se a que a Verdade fique reduzida às verdades relativas de partidos ou ordenanças sob a alçada do poder. Quanto mais o poder partidário estatal aumenta mais oportuna se torna a instituição cristã e moral acompanhada de desobediência cívica, uma vez que a política se mantem mais centrada nos interesses concorrentes da vida social terrena e a religião mais no sentido da vida e do bem da pessoa. Enquanto a política se fica por conceitos abstratos e leis (sem atitude virtuosa), a religião alia à ideia (à ideologia) a vida boa e exemplar! Não se pode criar uma nova base moral baseada apenas em princípios de igualdade jurídica e abstracta.

A verdade não pode ser de ordem democrática porque não é reduzível a um consenso. O consenso é uma ótima maneira de resolver pacificamente conflitos de interesses em democracia: revela-se, muitas vezes, como um método para o bom viver, mas que não substitui o seu sentido; a verdade na qualidade de dado sociológico, seria reduzida a um mero acto mental ou de número, a uma acção cerebral impossível de ser conciliada mesmo em democracia. Há ainda o perigo de muita gente considerar resultados estatísticos maioritários como sendo a verdade ou como dados orientadores da vida pessoal. A procura da Verdade a nada pode excluir e a nada se pode submeter e por isso permanecerá sempre uma actividade profética.

A Verdade não se deixa condicionar a actos de poder; como Deus, ela não escraviza e deixa sempre a tua consciência como última instância, como é praxe da ética cristã da justiça e do amor.

A Instituição eclesial ou secular e o indivíduo vivem um do outro, seguindo o chamamento de Deus (do bem comum) de forma mais ou menos consciente; portanto, cada crente, cada cidadão e cada época vive da intuição entre o fracasso e a redenção, muito embora expressos de forma religiosa ou de forma secular. Importante, para todos será centrar-se na caminhada e não se perder a olhar para a maneira do caminhar dos outros.

Encontramo-nos a caminho da libertação e a sociedade vai-se melhorando. Os valores vão-se afirmando e à medida que se alcançam e aperfeiçoam alguns, vão-se descobrindo outros. Para não nos refugiarmos em discursos sobre os malefícios do passado importaria reflectir mais no que se esconde e encontra por trás das nossas condições económicas, social e individualmente. Numa realidade em que tudo é relação e em que tudo está em relação seria anti natural querer-se abstrair da lei da complementaridade (onde fenómenos que aparentemente se excluem na realidade  se complementam e fazem parte da mesma realidade) como se fosse possível criar realidade/verdade autónoma emancipada da relação vital (1).

Todo o esforço por sair da demasiada dependência pessoal, legal, económica e mental é um serviço ao desenvolvimento pessoal e à humanidade. Estamos todos chamados a viver a liberdade de filhos de Deus.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Uma cultura da paz implica a implementação do princípio da complementaridade em geral como englobante da tolerância. Assim se manifesta também a compatibilidade do amor e omnipotência de Deus com a existência do mal no mundo (teodiceia) e na determinação da relação com a ciência natural (e teologia) também expressa na natureza humano-divina de Jesus Cristo. Também no mistério da Santíssima Trindade as entidades relacionais Pai-Filho geram uma terceira identidade – o Espírito Santo – que ao mesmo tempo pertence à realidade divina como complemento.

Quanto à emancipação pessoal é importante desde que a autodefinição não estabelecer a comunidade como fronteira. Indivíduo e instituição pressupõem uma certa dinâmica de concorrência em contínuo processo de transformação mútua. Esta seria reduzida a uma mudança de perspectivas se se colocasse a emancipação e objetivo de qualquer desenvolvimento do indivíduo no seu caracter funcional, ou seja, como libertação do patronato, da casa, das normas e objetivos dos pais. O passo consequente seria a emancipação do Estado e das leis. A redução da dependência no sentido de uma auto-libertação responsável implicaria também um certo distanciamento de uma psicologia que apenas aposta na emancipação pela emancipação (individualismo puro), levando o cliente a não se sentir responsável por suas próprias acções, chegando muitas vezes a culpar até os pais por existências fracassadas. O mesmo se diga da alienação da autorresponsabilidade no próprio partido ou da tendência para a diluição da responsabilidade do partido atribuída ao povo. Como seres e instituições frutos da relação, estamos todos comprometidos e interligados numa complementaridade que a todos compromete e corresponsabiliza; certamente a fonte dela encontra-se na pessoa que se define a partir de um nós. Mais que independentes somos seres sempre na pendência de algo ou de alguém, com o potencial da liberdade que nos quer mais iguais!

 

O “DIA DOS REIS MAGOS” PÔS EM ACÇÃO 500.000 CRIANÇAS E JOVENS NA ALEMANA

A tradição dos “Cantores da Estrela” (Sternsinger) faz parte do Património cultural imaterial da Alemanha e mantem viva a Simbologia dos Reis magos

Na época natalícia até à Festa da Epifania, 6 de janeiro, mais de 500.000 crianças e jovens (acólitos católicos) vestidos à maneira dos Três Reis Magos vão de casa em casa com uma estrela na mão e cantam uma música ou recitam um poema, à porta das casas e dizemDeus abençoe esta casa” (em latimChristus Mansionem Benedicat”). Com um giz abençoado escrevem na porta da entrada ou na sua moldura a tradicional bênção “C+M+B” (abreviatura do latim que também recorda os reis magos “Caspar, Melchior et Baltassar”) a que acrescentam o ano; assim é natural ver-se em muitas casas alemãs a inscrição 20C+M+B23.  A  bênção pode ser feita com inscrição a giz na porta ou com um adesivo de bênção (1).

Segundo a tradição natalícia os três reis trouxeram como presentes ouro, incenso e mirra! Por trás destas ofertas esconde-se uma simbologia rica e que chegou a ter diferentes interpretações ao longo da História. A nível teológico ouro, incenso e mirra estão para a afirmação da tríplice dignidade de Cristo como Deus, Rei e Médico (salvador) ou como símbolos de morte, ressurreição e redenção e também como símbolo do poder sobre a morte e da cura. Na oferta do ouro os reis reconhecem a realeza de Jesus; o ouro sempre foi usado para glorificar reis e deuses. Por seu lado as resinas “incenso” e “mirra”(originárias da Península arábica e da Etiópia e também queimadas como incenso) eram usadas como desinfetantes do meio ambiente e para embalsamento e na medicina em geral. Usavam-se também como meios de relaxamento da mente e do corpo e como promotoras da meditação e da purificação. A iconografia religiosa consagrou assim Balthasar como sendo africano. Na paixão de Cristo é misturada mirra com vinho para lhe aliviar as dores e Nicodemos utiliza a mirra para envolver o corpo de Jesus depois de morto.

A tradição alemã é muito oportuna e rica. As crianças são mensageiras da bênção de Deus sendo ao mesmo tempo expressão de uma consciência social e comunitária; elas recolhem, em contrapartida dádivas para crianças mais necessitadas no mundo; com o produto da colecta são financiados 1.300 projetos de ajuda a crianças em todo o mundo! A campanha Cantores da Estrela 2023 tem o lema “Fortaleça as crianças, proteja as crianças – na Indonésia e no mundo”. Em 2022, apesar das restrições Corona, os „Cantores da Estrela” arrecadaram mais de 38,56 milhões de euros em donativos. Em 2005 tinham recolhido 47 milhões de euros.

Os três magos são vistos como símbolos dos povos do mundo e a tradição é ancorada na menção dos sábios ou astrólogos em Mateus 2:1. Já no século VIII segundo o venerável Bede os três reis simbolizavam os três continentes então conhecidos (Ásia, Europa e África).

Esta é uma tradição rica digna de ser propagada pelos párocos também em Portugal porque fala ao coração e é uma oportunidade para também os jovens, a seu modo, levarem a mensagem cristã aos lares (e de uma maneira simbólica e lúdica que se espera não venha a ser apagada por uma razão desértica). Tais tradições são expressão de riqueza cultural e um meio moderno de se fomentar o convívio fraterno.

Na Alemanha, a tradição está muito viva e é referida nos noticiários e o próprio presidente da república e o primeiro ministro abrem as portas da sua residência para receberem os reis magos. Em 2015, esta tradição foi incluída na lista de património cultural imaterial da Alemanha (2).

Em Portugal é tradição grupos de pessoas juntarem-se e cantarem músicas pelas ruas anunciando o nascimento de Jesus e desejando um feliz ano novo (3).

No céu estrelado uma estrela mais forte brilhava para todos, para todos ela cintilava no céu de Belém.

No silêncio da noite há sempre uma estrela que brilha no céu e no interior de cada um.

Em nota (4) a bênção das casas no ritual romano.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Os Sternsinger “Cantores da Estrela” ou “Cantores de Natal”, como são chamados na Alemanha, são enviados pela respectiva paróquia e levam as bênçãos de casa em casa. Em áreas com menos católicos, apenas aqueles que encomendam os “Cantores da Estrela” recebem a visita deles. Com o coração batendo forte, as crianças (reis magos) recitam seus ditos um após o outro e depois cantam “Estrela sobre Belém”. Outras crianças acompanham os três reis na trajecto de bênção.

(2)  https://dewiki.de/Lexikon/Sternsinger e https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=Dreik%C3%B6nigstradition+in+Deutschland+-

(3) https://pt.wikipedia.org/wiki/Janeiras Tradições do Reis Magos em Portugal:

http://www.youtube.com/watch?v=PT5OFQCHoMQ  ; http://www.youtube.com/watch?v=PHp4d5_n2cc ;

http://www.youtube.com/watch?v=DdJM3IEvttQ

(4) BENÇÃO DAS CASAS NO RITUA ROMANO:
Ex Rituale Romanum – Benedictio domorum  – In Festo Epiphaniae

V. Pax huic dómui.
R. Et omnibus habitántibus in ea.

Antiphona. Ab Oriénte venérunt Magi in Béthlehem, adoráre Dóminum: et, apertis thesáuris suis, pretiósa múnera obtulérunt, auri Regi magno, thus Deo vero, myrrham sepultúrae ejus. Alleluja.

Canticum Beatae Mariae Virginis

Magnificat * anima mea Dominum ;
Et exsultavit spiritus meus * in Deo salutari meo.
Quia respexit humilitatem ancillae suae: * ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes.
Quia fecit mihi magna qui potens est: * et sanctum nomen ejus,
et misericordia ejus a progenie in progenies * timentibus eum.
Fecit potentiam in brachio suo, * dispersit superbos mente cordis sui,
deposuit potentes de sede, * et exaltavit humiles,
esurientes implevit bonis, * et divites dimisit inanes.
Suscepit Israel puerum suum, * recordatus misericordiae suae,
sicut locutus est ad patres nostros, * Abraham et semini ejus in saecula.
Gloria Patri, et Filio, * et Spíritui Sancto.
Sixut erat in principio, et nunc et semper, * et in saecula saeculorum. Amen.

Interea aspergitur et incensatur domus, et in fine repetitur Antiphona : Ab Oriénte venérunt, etc.

Pater noster secreto usque ad

V. Et ne nos indúcas in tentatiónem.
R. Sed líbera nos a malo.
V. Omnes de Saba vénient.
R. Aurum et thus deferéntes.
V. Dómine, exáudi oratiónem meam.
R. Et clamor meus ad te véniat.
V. Dóminus vobiscum.
R. Et cum spíritu tuo.

Oratio

Orémus. Deus qui hodiérna die Unigénitum tuum géntibus stella duce revelásti concéde propítius ut qui iam Te ex fide cognóvimus usque ad contemplándam spéciem tuae celsitúdinis perducámur. Per eúmdem Dóminum nostrum Jesum Christum, qui tecum vivit et regnat in unitáte Spíritu Sancti Deus per ómnia saécula saeculórum. R. Amen.

Responsorium. Illumináre, illumináre, Jerúsalem, quia vénit lux tua : et glória Dómini super te orta est, Jesus Christus ex María Vírgine.

V. Et ambulábunt Gentes in lúmine tuo : et reges in splendóre ortus tui.
R. Et glória Dómini super te orta est.

Oratio

Oremus. Béne+dic, Dómine, Deus omnípotens, locum istum (vel domum istam) : ut sit in eo (ea) sánitas, cástitas, victóriae virtus, humílitas, bónitas et mansuetúdo, plenitúdo legis et gratiárum áctio Deo Patri, et Fílio, et Spíritui Sancto ; et haec benedíctio máneat super hunc locum (vel hanc domum), et super habitántes in eo (ea). Per Christum Dóminum nostrum. R. Amen.

 

A PIEDADE POPULAR: https://www.academia.edu/27724077/A_PIEDADE_POPULAR_E_A_LITURGIA_A_PARTIR_DAS_NOVAS_DIRETRIZES_DA_IGREJA_NO_BRASIL  e também de interesse: Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos: https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccdds/index_po.htm

MORREU O PAPA “EUROPEU” EMÉRITO BENTO XVI

Uma Era chega ao Fim

Em 2022 morreram os dois maiores símbolos de uma sociedade em vias de grandes mudanças: o Papa Bento XVI com 95 anos e a Rainha Elisabeth, monarca do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, com 96 anos.

Neste mundo em crise de mudança debatem-se dois tipos de sociedade de maneira facciosa. O ano 2023 talvez consiga tornar-se em fundamento para uma nova era de paz em que se inicie uma estratégia de vida não fundamentada em vencedores e vencidos nem na fixação de posições maniqueias.

O emérito Papa, de perfil claro, revelou-se sempre contra a arbitrariedade e o relativismo dominante do pensar politicamente correcto do espírito do tempo. Ele anunciou o evangelho em tempo oportuno e inoportuno. Como guardião da fé e do ensino da igreja nem sempre correspondeu a exigências de mudança principalmente em questões de moral sexual. Fica para o Papa Francisco a missão de mudar algumas estruturas na Igreja. Quanto ao problema de abusos sexuais dentro da Igreja pediu perdão por eles, mas não assumiu responsabilidade pessoal. No parecer das forças mais progressistas especialmente activistas na Alemanha, Bento XVI seguiu o espírito do papa João Paulo II na missão de adiar o Concílio Vaticano II. Bento XVI reabilitou em parte Lutero, mas não considerou a igreja evangélica como Igreja. Defendia a união em aspectos confessionais (para-liturgias em comum, etc.)  mas afirmava as diferenças de doutrina e por isso a não celebração em comum da eucaristia.

Na discussão atual há que estar-se atento para que uma igreja alemã mais centrada no racional não perca o outro aspecto essencial que é o caracter espiritual-místico da Igreja.

A sua iniciativa de abdicar do pontificado nos últimos dez anos ficará na História como uma cesura por, em parte, ter dessacralizado o papado, o que servirá de guia para outros papas.

Bento XVI foi um grande teólogo e um dos maiores intelectuais da Europa atual. Como grande erudito, também dominava oito línguas. Os seus livros são de recomendar pela oportunidade dos temas e pela clareza da sua linguagem que contribui para pessoas sem formação teológica poderem, mais facilmente, entrar no aspecto filosófico-místico e espiritual do catolicismo.

A liturgia da despedida será no dia 5 de janeiro onde se reunirão representantes de Estados de todo o mundo. Bento XVI é enterrado na galeria ao lado do papa João Paulo de II.

Conseguiu chamar a atenção para o núcleo da Boa Nova cristã: o amor e a fé, como mostrou a sua primeira encíclica “Deus é amor” (1).

Foi célebre o seu discurso no parlamento alemão (2) onde mostra os pilares da civilização ocidental e ao mesmo tempo se insurge contra o espírito político do tempo dizendo que o homem não é apenas uma liberdade que se cria por si própria; o homem não se cria a si mesmo; ele é espírito e vontade, mas é também natureza.

Na sua palestra científica na universidade de Ratisbona (3), Bento XVI revelou-se, na qualidade de pessoa entre as destacadas, como a personalidade mais corajosa da Europa.  Da reacção emotiva do mundo árabe à sua lição de Ratisbona em que também disse que “O sangue não agrada a Deus”, o Papa aprendeu que o seu cargo mais que científico é político. Soube, porém, manter-se firme sem desculpas, apesar da praxis hesitante dos que se orientam apenas pelo politicamente correcto, e encorajando os cientistas a não abdicarem perante o medo. Ele tem sido um exemplo de coragem e empenho também para a política.

Bento XVI manteve-se fiel ao seu conservadorismo não correspondendo ainda a muitas esperanças postas nele ao procurar defender a impermeabilidade da religião em relação ao espírito político do tempo.

Vivemos tempos muito ricos em que visões tradicionais e novas se devem complementar sem necessidade de se combaterem umas às outras. O novo não existe sem o velho.

A despedida do ano velho mostra que a visão da história permanecerá dividida!

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo

Pegadas do Tempo

 

(1) Encíclica em português: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est.html

(2) Um Dia Santo para a Natureza para os Animais e Plantas: https://antonio-justo.eu/?p=1945; Papa Bento XVI e os Sinais dos Tempos: https://antonio-justo.eu/?p=2442

(3) Em Ratisbona Bento XVI revelou-se o homem exposto mais corajoso da Europa: http://blog.comunidades.net/justo

BOM ANO 2023

Vamos todos investir no produto bruto interno da felicidade

Tantos desejos de boas festas e felicidades são o melhor indicativo da importância da felicidade de cada um. Neste sentido em 2023 vou pessoalmente fazer por ser feliz e substituir cada ideia negativa por uma ideia positiva de modo a não ficar no “ralenti” da sombra da vida (só com o motor a trabalhar) a vê-la passar de forma vertiginosa. Há coisas que não posso mudar fora mas talvez possa mudar dentro de mim procurando para isso experimentar um outro ângulo de visão.

Vou procurar sorrir mesmo quando apetece chorar; isto na esperança que o sorriso mesmo mecânico funcione como interruptor do centro emocional do cérebro activado positivamente pelos músculos faciais.

Vou tentar deixar as crises balançarem numa atitude otimista perante a vida, apesar de tudo, no sentido de um convívio de paz sem vencedores nem vencidos e sem qualquer estresse no sentido do positivo ou do negativo. Sei que caminhando com Deus vale a pena a caminhada mesmo quando ele pareça ausente.

Passo a referir o caso do “produto bruto da felicidade” como objectivo individual e nacional digno de ser atingido. No estado do Butão, no Himalaia, em vez do produto nacional interno bruto, é usada a felicidade nacional bruta como medida do sucesso do país.

No Butão o bem-estar da população, o produto bruto da felicidade é investigado e verificado por uma comissão de felicidade instituída.

A felicidade como produto interno é um objectivo pacífico que vale a pena pôr no orçamento individual e do Estado.

Desejo a todos a soberania da felicidade, aquela que nos coloca num estado de alegria comunicativa!

Um feliz 2023 à medida dos vossos sonhos e projectos com um produto bruto da felicidade muito elevado!

Um sorriso para todos!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo